Weiß Dämon escrita por AneenaSevla


Capítulo 18
Desfocado


Notas iniciais do capítulo

Isso mesmo, dois capítulos de uma vez. Eu tou decidida a terminar essa história =D



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Os dias passavam lentos e preguiçosos, exceto para Andeir e o demônio, que se ocupavam em suas tarefas da estação. O Shlanken, enquanto fazia uma leve caminhada pelo território, a ensinava como reconhecer cheiros e rastros pela floresta sem se perder do lugar original, e Andeir parecia cada vez mais confiante em seus pés, andando aos poucos cada vez mais rápido, e acompanhava-o sem maiores problemas. Mesmo ela se distraindo um pouco fácil, estava se acostumando a “abrir a mente” e detectar os caminhos entre as árvores.

Cada dia após o outro, ela também se recuperava dos efeitos do Andar Esguio cada vez mais rápido. Agora ficava só um pouco tonta, mas sem perder o equilíbrio. Desta vez, Andeir comemorava uma vitória pessoal: conseguira pegar cogumelos, cebolinhas e raízes comestíveis sozinha, e estava fazendo um ensopado com eles. O cheiro estava delicioso.

O demônio, porém, parecia inquieto. Ele andava de um lado para o outro, rosnando baixo, encarando o teto de sua casa subterrânea.

— Algo errado, senhor? - ela perguntou, estranhando seu comportamento.

Hnm? Ele para e a encara. Balança a cabeça e volta a andar. Não… nada ainda.

— O senhor está agitado. Alguma coisa o incomoda?

Sim. Mas é um problema meu, não seu. Seus tentáculos se agitam. É uma sensação… que tenho nessa época do ano. Quase sempre aparece, é… irritante.

Andeir ficou em silêncio por um momento, até que ela soltou um leve ‘oohh’, baixinho, mas muito audível para o demônio, que parou.

O que foi?

— Eu acho que já entendi. Tá se sentindo desfocado, agitado e… meio quente?

É… por aí. E também tenho um formigamento na nuca. Por que a pergunta?

Andeir ri baixo. É, ele nunca teve uma interação parecida, então é lógico que ele não saberia dizer o que é. O demônio ficou irritado com o riso dela.

Do que está rindo? Não tem graça…

— Desculpa, é que eu nunca pensei que você... bem, é meio lógico se parar pra pensar…

Pensar… no quê?

— Bem, acontece, a primavera todo mundo se sente assim. Bem, ao menos é o que os menestreis e bardos dizem - ela solta um risinho.

Ainda não entendi, desembucha, eu detesto esse segredinho.

— A primavera, senhor. Sentimentos e… todos os animais procuram isso nessa época.

O estalo veio na mente tão alto quanto os cliques que ela fazia para andar. E ele agitou os tentáculos em súbita agonia que ele transmitia no pensamento.

Não é isso! A voz no pensamento saiu quase como se ele tivesse falando agudo, se fosse um humano. Shlanken não têm cio! ARGH, não é isso.

— E o que seria, então?

Humanos. Sempre estão perambulando pelas terras nessa época. Procurando coisas. Este ano eles estão se mantendo na borda, nunca indo fundo ou derrubando as árvores… mas mesmo assim isso me irrita. Inclusive, em todos os anos que estive aqui, sempre tem um engraçadinho que se atreve a vir mais e mais fundo, para dentro, seja caça, seja outra coisa.

— Ah - ela então cora muito - p-perdão senhor. Eu realmente não sei nada sobre sua espécie, eu… só achei que seria engraçado fazer uma piadinha, eu não faço de novo.

Não, isso é completamente natural. Ele dá de ombros, é o que todos fazem, afinal… eu só não estou. 

Ele então fica parado, agitando os tentáculos. Ela já sabia que, quando ele estava se movendo assim, significava que estava também abrindo a mente, para vasculhar o lugar. Ela ainda estava com vergonha de ter assumido essas coisas dele, então ficou calada. Mas sua mente curiosa agora estava fervilhando de perguntas.

O pudor ainda era uma trava, então se impediu de perguntar. O demônio suspirou frustrado.

Urrgh, eles ainda perambulam pela borda da floresta… ele quase choraminga, eles prometeram…

— Senhor, se me permite uma palavra…

Diga…

A voz dele saiu tão sofrida que ela até hesitou. Mas seguiu.

— O senhor parece sobrecarregado… por que o senhor não relaxa um pouco? Se eles prometeram, com um contrato feito entre eles e o senhor, então eles sabem que não tem o direito de trespassar sem sua permissão. Eu daria ao menos um voto de confiança. Aí, depois, quando eu puder andar até lá, com essa cruz de prata que o senhor achou, eu vou reforçar isso a eles. Não vou deixar eles esquecerem.

Ele grunhiu um pouco, mas pensativo.

Você acha mesmo…?

— Tenho certeza que as freiras e os monges que prepararam tudo isso não vão deixar eles esquecerem…

Hnm… ele pensa um pouco. Bem, se for isso que você diz, então dou o benefício da dúvida… mas se trespassarem um pouco mais…

— Aí não posso fazer nada a não ser deixar o senhor estripá-los e me fazer cozinhá-los de café da manhã na sua mesa.

O demônio pareceu ter sido pêgo de surpresa com as palavras dela. Andeir ainda não tinha entendido como ele não tinha se dado conta que ela realmente estava do lado dele, não dos humanos.

Você cozinharia um humano…? A voz saiu quase chocada.

— Se o senhor mandar… eu sou sua serva. Mas não espere que eu coma, por favor.

Ah sim, achei que fosse canibal.

— Não, não sou - ela diz quase rindo - E também, traga a carne já cortada e picada, eu não quero me dar conta de que estou cozinhando uma perna ou uma cabeça…

Ele levou um tempo para dizer… Okay. Parecia hesitante. Eu realmente não esperava isso.

— Ah, não? - ela pisca - Oh. Então o senhor não é tão… demoníaco assim, como eu pensei.

Eu agora fico em dúvida o que diabos vocês pensam de mim. Já notei que vocês têm uma mente muito mais diabólica que a minha. Aliás, as ações deles já mostram isso.

— Somos bons nisso. Adoramos contar histórias e aumentar elas. Mas o que seria diabólico para o senhor?

Bem, destruir todas as coisas de outrem somente para irritar o dono. Ou tomar demais emprestado e não devolver. Não cumprir o que promete, fazer jogo sujo. Definir regras e não seguí-las… oh, também enganar alguém dando um item feito de osso de cervo por um item feito da mais fina pele de urso, dizendo que valem a mesma coisa, quando não.

— Mas isso não é diabólico, é só… - ela pausa, caindo a ficha - coisas malvadas…

Pois é. Isso tudo vocês fazem todo dia. Meus ‘sinos’ que você fala, são fichinha comparado.

— Ah não, os sinos são tortura! Isso é maldade diabólica!

Mas não faço toda vez, só quando você me irrita. É justificado.

— Não é não! Isso doi e não dá pra resolver nada assim, você só faz isso como uma desculpa para eu me calar.

Prefere que eu a chicoteie com meus tentáculos? Te aviso logo que dói muito mais.

Ela cruza os braços, ela mesma rosnando dessa vez. Ele continuou.

Você é muito frágil fisicamente para eu fazer isso. Sua mente é mais resistente. Notei isso de imediato, quando te deixaram lá e você acordou.

Vindo de você, é quase um elogio, ela pensou.

Se a carapuça serve…

— Mas que tal você não fazer nem um nem outro? Eu não quero te fazer mal, já provei várias e várias vezes. Aliás, eu nem poderia se quisesse. Como disse, meu corpo é frágil. Não tenho nenhuma arma, e... eu fui criada pra te servir.

Notei. Eu não sou idiota. Por isso não mais usei os sinos. Você está mais tolerável.

— “Tolerável”...- ela enfatiza a palavra - Muito bem, senhor. Eu espero permanecer “tolerável” até quando o senhor não me quiser mais.

Ele bufou, agitando os sempre móveis braços extras em suas costas. Com o silêncio que se seguiu, tentou se lembrar o que estava fazendo antes, e então voltou a tentar se conectar com o território.

Estava difícil ele se concentrar naquele dia. Frustrado, ele bufa pesado e vai procurar o que fazer, guardando os próprios tentáculos encolhidos nas costas, para fechar-se para o mundo. Uma coisa ele tinha de admitir, ela tinha razão sobre ele estar sobrecarregado e estressado naqueles dias. A primavera era sempre época de muita atividade, tanto dele mesmo ajudando a reconstruir o que o inverno destruiu, quanto do barulho dos próprios animais dando conta de suas próprias vidas.

Se deu conta de que não tinha paciência para nada, então resolveu se desligar de vez. Não iria conseguir dormir com tanta coisa acontecendo, então apenas deitou-se e ficou observando a humana trabalhar nas suas coisas, como uma maneira de se distrair.

A vantagem era que, como ambos eram cegos, nenhum realmente notaria quem está observando quem. E ele não se importava que ela o fizesse.


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Notas finais do capítulo

Hihihih, Andeir finalmente está mostrando sua personalidade na íntegra. Espero que tenham gostado XD



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