Weiß Dämon escrita por AneenaSevla


Capítulo 1
Andeir Chega à Impedimenta


Notas iniciais do capítulo

Desculpe ter ficado um pouco longo e maçante, mas esse capítulo eu conto como uma ambientação do mundo e do universo no qual a história se passa, além da descrição de Andeir.Divirtam-se e não esqueçam de comentar! Adorarei responder!



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Vila de Impedimenta, Orla da Floresta Weiß Dämon, Século XI

A vila de Impedimenta era antiga, pelo menos uns quinhentos anos de idade. As casas eram de pedra, total e firmemente encaixadas e unidas com o tempo. Algumas chaminés soltavam uma tenra fumaça, indicando sua habitação. Era início de inverno, e todos os telhados e chão já estavam cobertos com uma fina camada de neve.

Porém, havia algo de diferente nessa vila, e somente um visitante religioso, seguidor das religiões teístas, saberia ver. Em cima de todas as portas de todas as casas, na parte em que chamavam “bandeira”, havia um pequeno símbolo feito de metal – ferro em sua maioria – no formado de um círculo com um “x” inscrito nele, as pontas saindo de forma irregular – um símbolo pagão, que significava “Impedimento”. Mas o que raios esse símbolo significa? O que eles queriam impedir? Poucos saberiam responder, ainda mais a um estranho.

Ainda era plena tarde, mas os habitantes já estavam aprontando todas as suas coisas, colocando mantimentos, sacos, carroças, rodas e animais para dentro dos celeiros e estábulos. Pareciam apressados, mesmo naquele horário.

Andeir Sulaveik acabara de chegar à cidade, dentro de uma carruagem, vestida com as roupas que sua dama de companhia, Bartambu, carinhosamente chamada de Babu, lhe dera. Ela disse-lhe que eram da cor branca, mas Andeir não tinha como confirmar se ela falava a verdade ou não.

Ela era cega.

Mas ela sabia, segundo seus tutores, de que ela era uma Weiß Fraünlein, uma Donzela Branca. Eles sempre diziam que sua pele e cabelos eram da tonalidade da neve fresca ao acabar de chegar dos céus de Deus. Tudo era branco, exceto seus olhos e lábios, que eram de uma tonalidade próxima ao vermelho, o chamado “rosa”. Andeir não nascera cega, mas havia perdido a visão há tanto tempo que não conseguia mais se lembrar de que cor era essa. E ela não ligava muito, já havia se habituado.

Ela ouviu o cocheiro balbuciar alguma coisa e sentiu um leve solavanco e relinchos de cavalos. E ouviu uma respiração rápida, como quem acabara de acordar. Isto vinha de Babu, a velha e magra cuidadora de Andeir. A voz dela era ligeiramente fanha, mas agradável.

—Já chegamos? – perguntou a velha. Andeir apenas sorriu, erguendo os ombros. Ela ouviu uma vibração e a velha suspirou – é, chegamos. Pronta, Fraünlein?

A velha pegou as mãos da donzela. Andeir baixou a cabeça. Ela sabia que não tinha vindo à cidade para apenas passear ou visitar parentes. Pelo que ela sabia ela não tinha nenhum parente, a vida toda fora criada por tutoras e curandeiras de um convento, que lhe ensinaram tudo que precisava saber e tudo que ela, apesar de cega, poderia fazer; inclusive guiar-se nos locais sem esbarrar nas coisas. Ela suspirou, achando todo aquele treinamento inútil.

Ela era um sacrifício, não uma esposa.

Babu leu a expressão dela:

— Eu sei Fraünlein, é angustiante, mas seu esforço valerá a pena. Salvará a vida de todos da vila… - a velha tocou no rosto dela. Os olhos rosados dela estavam abertos, e eram sempre fora de foco. O cabelo da donzela era branco e ondulado, lindamente cuidado e preso numa elaborada trança.

Andeir suspirou; a respiração entrecortada. Babu beijou-lhe a testa. Quando a donzela levantou a cabeça, ela não chorava. Falou:

— Meu medo, Babu… - ela respirou, a voz dela era calorosa e doce como hidromel bebido diante de uma lareira depois de um cortante dia de inverno – é que eu não sei se realmente serei qualificada para tal…

Nem se atreva a dizer isso! — exclamou Babu, sua voz duas oitavas acima do normal, fazendo a donzela se encolher – Não existe Fraünlein mais perfeita para tal honra do que você! Tenho certeza que…

Babu ia dizer mais alguma coisa quando foi interrompida por batidas na porta da carruagem. Era o cocheiro, Hans. Andeir reconhecia seus sons em qualquer lugar.

— Senhoras, temos de de descer, o anoitecer vai chegar a qualquer momento…

— Já vamos! – disse Babu, depois se virou pra Andeir – Vamos, Fraünlein. Temos de aprontá-la para a cerimônia.

E elas desceram, Babu ajudada pelo cocheiro e Andeir, pelos dois. Assim que ela tocou o chão úmido pela neve, Andeir sentiu calafrios pelo choque térmico. Tremeu, mas logo voltou a caminhar, sendo conduzida por Babu e o cocheiro trazia a bagagem da velha: apenas um pequeno baú.

Andeir sentia o ar quente saindo de sua boca, e embora suas roupas fossem quentes, o frio em suas mãos já começava a se manifestar. Quando de fato começou a tremer, sentiu uma estrada de pedra em seus pés delicadamente calçados, e logo uma plataforma de madeira e então ouviu uma batida numa porta. Pela vibração que se formou no chão, ela pôde sentir que se tratava de uma casa grande com vigas de madeira. A porta se abriu e Andeir cheirou o ar: carne cozida com batatas. Uma movimentação rápida dos seus condutores alguns momentos depois ela já estava dentro da casa, sendo conduzida até uma cadeira.

Logo que entrou, sentiu o calor e o conforto. Suspirou de alívio, não que não gostasse da neve, mas naquela hora, do jeito que estava qualquer sensação confortável era um alívio.

Esquentou as mãos com o próprio hálito, e então pôde ouvir uma conversa do outro lado do cômodo. Pelas vozes, eram Bartambu e outra mulher:

— Então é ela? – perguntou a mulher. A voz era grossa e forte, típico de uma gorda senhora de meia-idade.

— Sim, Damien Dagur – disse Babu – Essa é a nossa Weiß Fraünlein…

— Um pouco magra demais – disse Damien Dagur – deveríamos engordá-la um pouco mais antes, não?

— Creio não ser possível, Damien— Interrompeu Babu – o tempo para a cerimônia está próximo e não temos mais tempo. O inverno logo ficará rigoroso e precisaremos do Espírito calmo, para que “Ele” não nos mate…

Andeir conseguiu ouvir as duas tremerem, ela também fez o mesmo, ainda assim sem saber quem era “Ele”. Damien Dagur logo foi tratar de terminar o jantar e Babu foi ajudar o cocheiro, e Andeir ficou sozinha, sentada na cadeira com seus pensamentos.

O silêncio a incomodou, mesmo ouvindo a lareira e os passos da Damien dentro da cozinha. Ela sabia o que a esperava, mas não sabia como a cerimônia seria. O desconforto que ela sentia era grande, então ela começou a cantarolar para si mesma:

“Come Little Children, I’ll take thee away

Into a land of Enchantment

Come Little Children, It’s time, come to play

Here in my garden of Shadows…”

Então ela parou. De repente sentiu-se estranha, como se estivesse sendo observada.

—A-alô? – ela gaguejou. Nâo houve resposta. Ela estava começando a ficar com medo quando algo pulou em seu colo. Andeir suprimiu um grito violento, tremendo, até que ela acabou percebendo que era apenas um gato. Ela respirou aliviada, e acariciou o pelo do animal.

— Olá querido, você me assustou sabia? – ela disse pro bichano, que miou e ronronou com o toque dela. Logo depois ela ouviu os passos pesados de Damien Dagur – ela conseguia reconhecer as pessoas pelos passos – e então um barulho de algo como uma tigela sendo posto à sua frente, numa mesa. Ah, uma mesa, ela pensou, percebendo agora onde estava.

— Hmm, cheiro bom… - Andeir sorriu, a carne estava cozida no ponto. Ela ouviu Dagur bufar um sorriso de satisfação.

— Obrigada, agora coma, Fraünlein— a mulher empurrou o prato na direção da donzela, e colocou uma colher na mão dela – consegue comer sozinha?

— Ah, sim Damien— Andeir assentiu, tateando e pondo o prato na posição certa – consigo fazer muita coisa sozinha também.

— Bom… bom… - a Damien assentiu, sem muito interesse. Os passos dela se distanciaram, e o gato saiu do colo dela, deixando-a mais uma vez sozinha. Que rude! Pensou Andeir, começando a comer. O caldo era grosso e escaldava sua boca, mas isso não diminuía nem um pouco o sabor.

Terminado o jantar, Andeir logo sentiu-se cansada. E, bem na hora, os passos de Babu a alertaram da chegada da velha, que fez um som de sorriso ao vê-la. A donzala sorriu, e a velha disse:

— Tudo pronto, Fraünlein. Cansada?

— Um pouco – respondeu a donzela – a viagem foi deveras cansativa, mas agora me sinto um pouco melhor.

— Que bom – Babu sorriu – agora vamos tomar um banho e trocar essa roupa. Você precisa de uma boa noite de sono, querida.

Babu conduziu Andeir para um cômodo no andar térreo, onde ela pôde ouvir o som de água sendo despejada em uma tina. Pelo calor, pôde sentir que ali era o lugar mais quente da casa. Despiram-na e deram-lhe um tenro banho quente, e colocaram-na num vestido leve, e um casaco de pele por cima dele. Ela sempre perguntava a cor de suas roupas, e lhe disseram que era branco, como sempre.

Então a levaram para um quarto no andar térreo, o que deixou Andeir aliviada: ela não gostava muito de ter de subir e descer escadas o tempo todo. E a ela foi indicada a direção da cama, onde ela se sentou, testando a maciez. Babu, que há pouco havia saído, voltou com algo nas mãos, pelo barulho a donzela logo reconheceu que se tratava de um jogo de chá.

— Trouxe um pouco de leite para você, Fraünlein— disse a velha – para acalmar-te…

Andeir agradeceu e sorriu quando Babu lhe deu a xícara. A donzela assoprou o líquido antes de bebericar. Depois de um tempo, ela bebido o leite, Babu suspirou.

— Muito bem – ela disse, deixando a xícara de lado – E agora, Fraünlein, devo te dar as instruções.

Andeir se sentiu um pouco tensa, mas suspirou e assentiu.

— Minha querida… quando estiver lá, no mundo dos espíritos… clame por misericórdia, dige-lhe as palavras que lhe ensinei… E tome – ela entrega um pergaminho para a donzela – Entregue isso a “Ele”.

A garota pegou. Era um pergaminho selado. Ela ficou segurando no colo e ficou reflexiva, e então olhou pra frente e se lembrou da conversa que as duas mulheres tiveram mais cedo. Perguntou:

— Babu… quem é “Ele”?

A velha não respondeu de imediato, Andeir ficou um pouco aflita com o fato de que pudesse estar dizendo uma coisa ruim, e logo tratou de tentar se desculpar, mas a velha a impediu:

— Tudo bem, Fraünlein, estávamos realmente falando alto – Babu suspirou de novo – Mas “Ele” é o grande espírito da floresta, a quem você será…

— Ah, tudo bem, Babu, eu já entendi – ela não queria ouvir mais nada. Babu sorriu e lhe deu um beijo na testa, em seguida arrumou as coisas e saiu do quarto. Andeir se deitou na cama, achando que não conseguiria fechar os olhos, mas mal sentiu o colchão, foi como se todo o mundo tivesse parado apenas para ela.

Um sono sem sonhos, sem cores, ou formas ou sons. Tudo estava mais escuro do que a sua falta de visão lhe proporcionava.


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Notas finais do capítulo

Para ajuda vocês, um mini-glossário alemão/português:

Weiß - (lê-se Váiss) Branco
Fraünlein - (lê-se frroenláin) Donzela. Na tradução original é "mulher adulta ainda não casada", o que dá no mesmo pra gente.
Dämon (lê-se Dimon) - Demônio (duh)
Damien - Pronome de tratamento. Significa "Senhora"

Uma música boa pra ouvir enquanto lê a história (ambienta muito bem ao clima):http://www.youtube.com/watch?v=NjzLmA3ryGk

A música que Andeir cantou é a música "come little children" autor desconhecido. Eis o vídeo da música:
http://www.youtube.com/watch?v=1t8-_pI1-9Q

Nota a última atualização (06/04/2014): Desculpe se o desenho ficou um pouco sujo ou mal-feito, eu fiz ele hoje e meio que estava com muita pressa... ^^'