Nathalie piscou várias vezes, antes de olhar o homem na poltrona. Nada conseguiu definir, pois sua visão estava embaçada, e, ali, nada se passava de um grande borrão colorido.

– Nathalie, ainda bem. - ouviu a voz do homem. Era doce, calma, mas ao mesmo tempo, firme e séria. Trazia sensação de alívio, mas também uma fraca sensação de medo. Mesmo assim, o medo falava mais alto.

Na esperança de fugir dali, - o que era impossível - ela sorriu. Esse movimento fez com que quase todos os seus múscukos faciais doessem.

– Quem... quem... é você? - Nathalie, cheia de medo na voz, perguntou ao homem.

– Zachary Honselt. Mas me chame de Zack ou Dr. Honselt.

– O que você é? - a visão de Nathalie entrou em foco. Vira um homem pálido, alto, forte, de olhos azuis, cabelos negros e que utilizava um jaleco branco e calças jeans.

– Responsável pela sanidade das mentes deste lugar. - tirou do longo jaleco uma prancheta. - Vamos lá, diga-me. O que tem acontecido nesta sua cabeça confusa?

Nathalie caminhou pela floresta. As estrelas davam, junto à lua, um brilho ao céu. Deveriam ser umas oito horas da noite. O som era de corujas e vozes, muitas vozes diferentes. Outro som irritou-lhe. Porcelana quebrando.

Checou suas roupas. Um vestido longo, azul, sapatos negros e um chapéu violeta azulado.

Havia uma mesa longa, de toalhas azuís. Pedaços de porcelana, cupcakes coloridos, chá derramado e bules e xícaras repletos de chá de camomila.

Na ponta direita, sentado na maior cadeira, havia um homem. Parecido com Zack, mas usava um chapéu enorme, cheio de rendas, cacos de porcelana e chá. Um casaco vermelho, como os casacos da Guarda Real de Londres, estava por cima de calças de marinheiro e camiseta de manga longa. Sua pele era azul, com unhas negras e longas, e sangue.

Ao lado esquerdo do Chapeleiro, uma lebre nua, mas que bebia chá demais. Uma pontada de loucura era vista em seus olhos arregalados, vermelhos, graças às noites mal dormidas, que rendiam chá.

A cadeira direita - que estava ao lado do Chapeleiro - estava vazia.

Ao lado da Lebre, havia Cheshire. E, seguindo, o Coelho. Todos os outros lugares estavam ocupados com bonecos de pano.

Menos o direito, no qual Nathalie se sentou por pedido do Chapeleiro.

No entanto, a Rainha de Copas apareceu e, apressada, tirou uma boneca e sentou ao lado de Nathalie.

– Desculpem. - Falou ela. - Mas eu vim avisá-los que o Nightmare está chegando.

Nathalie não sabia o que era Nightmare, mas se assustou ao ver que, rapidamente, todos corriam e escondiam o kit de porcelana.

A pobre menina viu um cavalo negro soltar um relincho assustador, ele tinha olhos prata, que pegavam fogo, e detalhes iluminados pela lua.

– Nathalie? - ouviu várias vezes. A voz era distorcida, assustadora. Nathalie, assustada, caiu, e tentou rastejar.

Tudo o que teve tempo de fazer foi abrir os olhos. Ele estava ali, chacoalhando-a.