A musica da vez era Hey Brother.

Eu segurei a sua mão e ele me puxou do sofá. Entramos na multidão, ele me guiando no meio de toda aquela gente até onde eu achei ser o meio da pista. Reparei que ele tinha alguns cordões pretos amarrados nos pulsos, um anel prateado com uma caveira que cobria todo o dedo anelar e um ou dois piercings na orelha.

Problema: Eu não sei dançar. Todas as pessoas estavam muito juntas, dançando entre si ou não. Musica alta. As luzes piscavam no ritmo, em rápidos tons de violeta e roxo, e ás vezes tudo ficava escuro e eu não sabia onde ele estava. Solução: Deixa levar.

Eu gostava de música, mas não de dançar. Eu fechei os olhos e ouvi a melodia. Era ritmada, e eu sentia a emoção da batida dentro do meu corpo. Aos poucos, comecei a me soltar. Abri os olhos, ele estava na minha frente, dançando agitado, mas com os olhos fixos nos meus. Eram lindos orbes completamente negros, emoldurados por fortes olheiras. Me arrepiei. Ele tinha um sorriso largo no rosto. Pegou a minha mão e o pulso, dançando próximo a mim, me ajudando a entrar no ritmo.

Depois disso, eu não tinha mais controle do meu corpo. Nós pulávamos, jogando as mãos pro alto, mas tudo estava em câmera lenta. Estávamos muito perto das outras pessoas e um do outro. Entre uma piscada e outra das luzes, eu podia ver seus movimento.

Nossas pernas se tocaram assim que ele passou os braços pelos meus ombros, e eu levei os meus até sua cintura.

Achei ter ouvido alguns trechos de Wake Me Up, mas eu não tinha certeza de nada. Continuamos nisso por mais uma musica ou duas, e a essas horas já estávamos praticamente colados.

Perto... Muito perto...

As mãos passeavam livres como se nos conhecemos há muito tempo. Cantávamos alto. Entre um olhar e outro, com as luzes deixando tudo confuso, eu via o mesmo sorriso na sua boca entreaberta e rosada. As bochechas, antes pálidas, agora estavam vermelhas e afogueadas. O cabelo lhe caia sobre os olhos, e eram retirados por mais uma virada de cabeça. Os olhos ainda fixos em mim.

É lindo...

Era perfeito, como se eu pudesse acordar quando a próxima luz piscasse. Podia ser só mais um devaneio, mas se mostrou real quando ele puxou meu pescoço pra baixo e selou nossos lábios. Continuamos nos mexendo, já que parar de dançar estava fora de cogitação. Eu só sabia das mãos na minha nuca e dos lábios doces nos meus.

E de novo: porque não?

Minha língua pediu passagem e ele cedeu. Não chamamos atenção, tenho certeza, pois nós não éramos os únicos. Nossas línguas se acariciavam, explorando as bocas e os corpos, ambos no ritmo, assim como as provocações. Ele sugava minha língua, eu mordia seu lábio. Era assim. Tudo dançava, para não quebrar o contato, e nos conhecermos melhor.

E eu estava gostando. Mesmo de olhos fechados, ainda sentia o calor do seu corpo ali, e sabia que as luzes estavam piscando e as pessoas estavam dançando. Minhas mãos já estavam em seus quadris quando tivemos que nos separar. Quando olhei pra ele, ele estava rindo. Desculpe, gargalhando é a palavra certa.

Soava Fade Into Darkness, então voltamos a dançar, sorrindo, ainda mais próximos, se possível. Claro, com alguns beijos sendo acrescentados aos passos abstratos da música.

Exaustos, tivemos que parar, então nos sentamos no mesmo sofá onde ele estava antes. Como se eu tivesse reparado.

Como se tira os olhos dele?

Ofegante, ele tirou a jaqueta, deixando aparecer a pele branca, com músculos levemente definidos. Ele jogou o braço no meu pescoço, me sacudindo. Sorrimos um para o outro. Beijou minha bochecha.

–Nico

–Jason

–Oi, Jason

Completamente normal...

Meu celular vibrou pela segunda vez na noite. Mensagem do Percy. “To aqui fora”.

–Ei, me espera aqui? Eu vou lá fora e já volto, ok?

–ok

Saí da boate e andei até o carro. Percy estava apoiado no capô. Leo dormia com a bochecha amassada no vidro e a boca aberta, no banco de trás.

–Como vai a sua sombra? – Riu ele. Virei pra trás e vi Nico atravessando a rua, arrumando o cabelo bagunçado e com a jaqueta pendurada no ombro.

–Hey, Percy.

–Hey, Nico - Deram um "toca aqui"

–Quem é essa pobre criatura?

–O Leo.

–Ah.

...

Preciso falar de como estava a minha cara?

–Espera ai! Porque não falou com ele antes?! Você me arrastou ate aqui pra nada?

–Mas assim ia estragar tudo – Percy entrou no carro.

–Eu não diria que foi pra “nada” – Disse Nico, sorrindo de lado. Segurou minha nuca e me beijou de novo.

Meus... Deuses...

–Te vejo no acampamento.

Fiquei feliz de ver que sua boca estava vermelha. Ele andou até a moto, colocando a jaqueta. Subiu nela e desapareceu na esquina.

Entrei no carro e fiquei em silencio, pensativo, até chegarmos no acampamento.

–Por que mesmo que você levou a gente la, Sr. Jackson? - Me virei para o Percy, enquanto um Leo sonolento entrava na casa grande e desabava num sofá.

–Ah, é que fazia tempo que eu não via o Nico, e é perigoso fora do acampamento. Só fiquei preocupado. Mas parece que ele esta bem, nao é?! - Me deu um sorriso sacana.

–Corre, Jackson...

–Que...?

–Mas corre muito...!

Ele obedeceu, e eu corri atrás dele. Mesmo tentando esconder um sorrisinho bobo.

–X-

Um ou dois dias depois, ainda não tinha nem sinal dele no acampamento. Era uma noite calma, com várias estrelas e nenhuma nuvem no céu. Eu já estava entrando no meu chalé, ate que:

–Você viu um tal de Jason por ai? - Me virei só pra ver um sorriso debochado e um cigarro naquela boca linda, enquanto ele estava encostado numa pilastra - Ele é alto, loiro e dança muito bem – Passou a língua pelos lábios.

Sorri – Eu sei, já dancei com ele – Puxei sua cintura, tirei o cigarro da boca dele e o beijei.

Ele é incrível.

–Você não deveria usar isso – Balançei o cigarro - Da para sentir o gosto dele.

–E não é bom ? - deu um selinho.

–Não é bom pra você.

–Diz isso para os Stolls.

–Como assim?

–O que você acha que eles levam pro chalé 11?

–Sei la. Eu só sei do que eu levo pro meu chalé - Encostei-o na pilastra, com as minhas mãos do lado da sua cabeça.

–Então, vai me convidar para entrar?

–Vou pensar no seu caso.

Ele passou os dedos pela pequena cicatriz no meu lábio superior. Subiu a mão, acariciando os meus cabelos. Deslizou ela pela minha nuca, pescoço e peito. Do nada, segurou a gola da mina camisa e puxou com tudo pra baixo, quase rasgando ela e fazendo eu me curvar até que meus lábios tocassem os seus. Abrimos as bocas e as línguas se saudaram ansiosas. Se enroscavam numa dança lenta. Mas ainda estávamos bem na frente do chalé.

–Não vai me convidar? Sem problema, podemos continuar aqui fora mesmo - Disse, displicente.

Chantagista...

–Gostaria de-- Nem consegui terminar, já que fui puxado aos beijos pra dentro do chalé.

Como eu sobrevivi os últimos dias sem aquela boca?