Emma estava no pavilhão leste quando Regina veio falar com ela pela primeira vez, dois dias já tinham se passado desde o baile e o castelo era muito grande para que seus caminhos se encontrassem por engano. A manha estava cinzenta e fria, nuvens carregadas cobriam o céu e escondiam o sol. Emma treinava com alguns guardas do castelo, os boatos corriam de que se sentiam ofendidos pelo rei ter chamado uma mulher para fazer o trabalho de matar o lobo, mas a maioria dos boatos também dizia que nenhum homem se apresentou para fazer o serviço nem mesmo quando o rei dobrou a recompensa. Ela não se incomodava com isso, era melhor que todos eles com uma espada na mão, mas sua melhor habilidade era em rastrear e era por isso que o rei a havia chamado.

Emma acabava de derrubar mais um quando avistou a princesa, ela caminhava com uma postura elegante, mas tinha um leve sorriso no rosto o que fazia com que ela não parecesse arrogante como outras princesas que Emma conheceu. Uma vez quando viajava além das terras ocidentais conheceu uma guerreira chamada Mulan e juntas derrubaram um gigante de quase cinco metros que ameaçava espalhar feijões mágicos pelo reino e trazer um exercito de seus irmãos para terra a fim de governar os homens comuns. Não foi difícil matá-lo, é claro. Acontece que Mulan era grande amiga da princesa daquele reino, Aurora, uma garota bonita, mas com um jeito arrogante, mimado e prepotente que diminuíam a beleza de seu rosto, Mulan, porém era fascinada pela garota, o que Emma não entendia, pois a guerreira era uma das pessoas mais boas e gentis que já conheceu.

Regina se aproximou com um sorriso divertido e Emma não pode deixar de sorrir também, aquela garota a contagiava. Um dos guardas limpou a garganta tentando chamar a atenção de Emma e quando ela viu todos eles estavam curvados diante a princesa, Emma, porém apenas sorriu e guardou a espada.

– Você não quer que eu... ? – Perguntou apontando para os guardas, Emma não era do tipo que se curvava para reis e nem mesmo pertencia aquele reino.

– Não ah necessidade. – Ela começou a caminhar e fez sinal para que Emma a acompanhasse. – Quando eu soube que meu pai tinha chamado alguém de longe para matar a fera imaginei que fosse um cavaleiro e não uma mulher. Fiquei surpresa, é claro, mas tantos homens já tentaram e fracassaram que talvez tudo o que precisávamos fazer o tempo todo era chamar uma mulher.

Emma se xingou mentalmente ao sentir suas bochechas esquentarem, provavelmente tinha ficado vermelha e desejou que a princesa não percebesse. Tinha que pelo menos parecer forte e não uma abestada que estava ali pra brincar de guerreira. Tinha que ser séria ou nunca receberia o respeito que merecia. Mas aquela garota, Regina, por algum motivo tirava de Emma todo seu autocontrole e ela sabia que não era só pela beleza dela.

– Vou tomar isso como um elogio.

– E deve mesmo. Você já tem um plano? – Emma tinha um plano, mas compartilha-lho não era algo que desejava. No dia anterior Emma havia ido ao centro de comercio do reino, sabia que lugares assim eram sempre lotados de pessoas de todas as partes, ela conversou com varias pessoas e nenhuma delas ao menos conhecia alguém que tivesse de fato visto o lobo ou lobisomem. Enquanto não pesquisasse mais a fundo ou entrasse na floresta não pretendia dizer à princesa que achava que o rei estava enganado.

– Sim, já estou pondo tudo em pratica, preferia fazer isso na lua cheia, mas acho que até lá vou considerar esse tempo um bônus pra me preparar pra o que der e vier. – Falou com tanta segurança que até mesmo se surpreendeu depois.

– Ótimo. Quanto antes isso acabar melhor para o meu povo. Por aqui. – Ela guiou Emma por entre os pavilhões cheios de guardas, caminharam em silêncio por alguns minutos virando em lugares que Emma ainda não tinha visto, passando por portões grandes e pouco ocupados até chegarem a um grande salão descoberto. Um jardim sem plantas, sem flores, mas ainda assim um jardim. No outro lado havia um portão que dava direto para o castelo, mas tirando isso o lugar era completamente cercado por uma grande parede que ia até uns quatro metros de altura e lá acabava. Uma única árvore coberta por frutos tornava aquele lugar tão mágico como Emma jamais imaginou que uma árvore pudesse fazer. Seus galhos pareciam desenhados a mão, seu tronco era forte e resistível e os frutos, maçãs, eram perfeitamente vermelhos. Vermelhos como os lábios da princesa. Emma abriu a boca duas ou três vezes querendo dizer algo, mas não sabia o que e também não sabia o motivo de estar ali, mas achou que perguntar seria errado, afinal, conhecer um lugar como aquele deveria ser uma honra.

– Poucas pessoas conhecem esse lugar. – Ela deu a volta na árvore e pegou uma maçã. – E as que conhecem não vêm aqui sem minha permissão, por isso podemos falar sem sermos interrompidas ou ouvidas, todas as curvas desse castelo possuem ouvidos e não desejo que os assuntos que tratar com você saiam desse lugar.

Emma a olhou por entre as folhas. Era provável que todos os homens do mundo desejassem aquela mulher e nenhum deles se preocupava em esconder tal devoção, mas Emma era diferente. Tinha mais de mil motivos pra esconder seus desejos pela princesa, começando pelo fato de também ser uma mulher, mas ficava ainda mais complicado que isso. Regina nunca olharia para ela de outra maneira, mesmo que fosse um homem. Podia escolher qualquer homem do mundo e certamente estava destinada a se casar com um príncipe ou um grande guerreiro ou um lorde, não Emma a caçadora de recompensas, não.

– E que assuntos são esses? Eu posso saber?

– Senhorita Swan... Eu quero... Eu vou com você. – Regina tentava ser firme e autoritária, mas só o que conseguia era ser fofa e bela. Emma não pode deixar de sorrir para a tentativa falha da princesa de dar uma ordem a ela.

– Vai comigo aonde exatamente? – Emma caminhou até ela dando a volta na árvore sem desgrudar seus olhos dos dela. Regina não se mexeu e também não quebrou o contato visual, era como um desafio de qual das duas conseguia manter a pose por mais tempo. – Senhorita Princesa.

– Caçar o lobo, é claro.

Emma deu uma longa gargalhada que irritou a princesa.

– E o que você pretende fazer? Jogar seu charme nele e esperar que se apaixone por você? – Ela riu novamente e Regina a encarou com os olhos cerrados.

– Eu não estou pedindo a sua permissão, estou te dando uma ordem real. – A princesa bateu o pé no chão como uma criança mimada que Emma não duvidava que ela fosse. Qualquer outra coisa que Regina tivesse pedido a Emma ela não hesitaria em lhe conceder, mas não isso. Isso era perigoso de mais, ainda mais para uma princesa criada em um castelo e que provavelmente nunca tivera posto a mão em uma espada na vida, não, Emma não poderia ariscar a vida dela desse jeito.

Aproximou-se dela agora com um olhar desafiador.

– E o que o seu pai, o rei, acha disso ein? Ele sabe que você esta querendo se suicidar? A filhinha querida dele, o bem mais precioso que ele possui. Você acha mesmo que eu vou levar você comigo pra dentro da floresta atrás de um lobo que já matou todos os guerreiros treinados que foram lá atrás dele? Seu pai mandaria arrancar a minha cabeça e espetá-la em um mastro na entrada do castelo.

Emma deu as costas a ela e começou a caminhar em direção a saída, mas a princesa era bastante persistente e foi atrás dela. Quando a alcançou a segurou pelo braço a fazendo parar. Um choque percorreu o corpo de Emma arrepiando todos os pelos de seu corpo, ela tentou puxar o braço, mas a princesa o apertava com força. Estavam a centímetros de distancia e o perfume da morena invadia toda a mente de Emma a hipnotizando. Parecia impossível que ela ficasse mais linda, porém Emma estava tão perto dela que nada mais no mundo parecia impossível, inclusive uma princesa se apaixonar por uma caçadora de recompensas crescida em uma fazenda. Naquele momento somente, Emma chegou a pensar que poderia acontecer que elas não estavam tão distantes assim, mas foi somente naquele momento.

– Meu pai está velho Swan, ele esta morrendo e acha que eu não sei, mas eu sei. Em breve eu serei rainha e sei que me chama por ai de a ‘Rainha da Beleza’, mas eu não quero ser só isso. Preciso que me ensine a ser forte como você para que eu possa proteger o meu povo pra que eu possa ser uma rainha melhor. Nenhum homem entenderia o que eu digo, mas você entende você é uma mulher também. Quando a hora chegar eu preciso estar pronta para governar e sei que ainda não estou, sei que não estou pronta para ser rainha. – O coração de Emma deu um salto e quase sai pela sua garganta. É claro que ela entendia o que Regina queria só que era perigoso de mais. Achou que não seria forte o suficiente para se controlar quando a princesa aproximou seus lábios do ouvido de Emma e sussurrou. – Por favor, Emma.

– Certo. – Disse sem conseguir raciocinar. A ultima frase foi só um murmúrio saindo dos lábios dela. – O que você quiser.

Regina sorriu e a soltou. Entregou a maçã que tinha na mão a ela e saiu caminhando como uma verdadeira majestade. Meio caminhando, meio dançando. Emma encarou a maçã sentindo um vazio inexplicável dentro de si, queria tê-la abraçado e sabe se lá Deus o que mais. Deu uma mordida desanimada e suspirou ao imaginar se os lábios da princesa teriam o mesmo gosto. Provavelmente são melhores, pensou enquanto voltava ao pavilhão de treinamento. A cada passo que dava mais sentia falta da garota perto de si, a brisa que passava calma por ela só fazia com que se lamentasse por estar tão longe de casa. Tinha vontade de se enfiar em baixo de algumas cobertas e desaparecer, mas não podia, pois se precisasse defender a princesa na floresta precisava treinar e foi isso o que ela foi fazer. Enquanto acertava alguns guardinhas com sua espada tudo o que conseguia pensar era em como aquela mulher usava a beleza para conseguir tudo o que queria e em como ela havia caído rapidinho no charme da princesa.