Meus estudos haviam voltado novamente. Meu pai era um bom professor, e eu não tinha dúvidas disso. O problema é que a matéria que ele estava ensinado hoje era muito, muito chata. Ele está me dando aula de história, e eu odeio história. Sei que devemos ter respeito pelos nossos antepassados, mas será mesmo que precisamos saber sobre eles?

– Isso é muito chato, pai! – retruquei, bufando. – Qual é a graça nisso tudo?

– História não precisa ter graça. Ela apenas precisa ser aprendida – respondeu ele, voltando-se para o livro. – Agora, se pudermos continuar...

– Por favor, podemos pular para outra matéria? Não sei, que tal matemática? – perguntei, sentindo-me surpresa comigo mesma. Eu odiava matemática, e de uma hora para outra, peço para aprender sobre todos aqueles números e letras misturadas com sinais de mais e menos?

– Mas você odeia matemática! – disse ele, dando uma ênfase na palavra ‘odeia’. – Nunca gostou, e acho que nunca gostará. Porque, de uma hora para outra, do nada, você quer aprender matemática?

– Porque matemática é mais legal que história – respondi. – Não querendo ofender nossos antepassados, que lutaram bravamente pelo nosso país, mas... Isso tudo é muito chato!

Ele não respondeu. Apenas voltou a ler mais um parágrafo do seu grosso livro de história, empoeirado pelo passar do tempo na enorme prateleira de livros que ficava em seu escritório.

Eu não conseguia me concentrar. Eu não conseguia parar de pensar em Leon. Ele havia ido embora há uma noite, e eu sentia que meu coração havia sido levado junto com ele para o outro lado do mundo. Connecticut não era exatamente do outro lado do mundo, mas, para mim, era o que estava parecendo. Ele não havia ligado, nem mandado mensagens dizendo que sua viagem havia sido tranqüilo e que todos haviam chegado bem em suas casas. Nem um telefone, torpedo, SMS. Nada. Nada além de um forte abraço e um incrível beijo de despedida em um aeroporto cheio de pessoas ao nosso redor, nos olhando e sorrindo como se aquilo fosse cena de filme. Desde a noite anterior, eu não havia escovado os dentes, com medo de parar de sentir o gosto de seus lábios. Sim, eu estava exagerando, e estava me iludindo. No que eu estava me transformando, afinal de contas?

– Violetta? – meu pai me chamava, talvez pela quinta vez. – Pelo jeito, seu corpo está aqui, mas você está em algum outro lugar, não é?

– Desculpe – falei, suspirando. – Eu sinto falta dele, pai. Não posso evitar isso.

– Mas vocês se conheceram há poucos dias, filha! Como pode sentir falta de algo que nem é seu?

Ele tinha razão. Eu sentia falta de algo – ou, para ser mais exata, de alguém – que não me pertencia. E isso era muito chato, esquisito, e tudo mais. Mas o que eu podia fazer? Eu sentia vontade de ligar para ele, mas eu não tinha seu número. E ele não tinha o meu! Arrg! Era por isso que ele não tinha me ligado. Ótimo! Você está gostando de um garoto que, para você, mora do outro lado do mundo e não se lembra nem de pedir o número do telefone dele! Arrg! Arrg! Porque, vida, porque?

– Eu não tenho o número do telefone dele, não tenho nada que me faça lembrar dele. O que posso fazer em relação a isso?

Ele me olhou com o canto dos olhos, abrindo um pequeno sorriso no canto de seus lábios.

– O quê é? – perguntei. Eu reconhecia esse sorriso. Era o sorriso que indicava que uma grande surpresa estava por vir.

– Eu não queria contar agora. Seria mais como um presente de ano novo e também um presente por seu bom comportamento atual.

– Então porque não fala logo? – perguntei, curiosa e animada. – O ano novo chegou, e eu estou me comportando tão bem que não estou reconhecendo a mim mesma. Posso acabar mudando com o tempo, então...

– O.K, O.K, lá vai... – ele supirou. – A mãe de Leon ligou hoje de manhã. Ela disse que todos eles chegaram bem de viagem e que estava tudo muito diferente sem a nossa companhia.

– Já imaginava isso – falei, sorrindo. – Certo, continue.

– Conversei com ela por mais algum tempo, e ela começou a falar sobre... O ocorrido de ontem a noite – obviamente, ele estava falando sobre o beijo. Meu pai não gostava de conversar sobre namorados comigo. Ele era daquele tipo de pai que quer que a filha namore depois dos 30, ou até mesmo mais. – Ela disse que estava muito feliz por tudo. Leon estava muito feliz, e não parou de sorrir durante o vôo inteiro. E ela perguntou se não podíamos, talvez em algum feriado ou um fim de semana qualquer, viajar até lá para uma visita rápida, porque Leon precisava ver você. E, bem, por algum motivo, eu concordei. Jade providenciará nossas passagens hoje. Viajaremos daqui duas semanas.

Um choque de surpresa misturado com alegria me atingiu de repente. Eu veria Leon dali a duas semanas. Novamente. E isso era incrível! Eu estava tão feliz que pulei em cima do meu pai – algo que nunca, em hipótese alguma, eu faria com dezesseis anos no papel de filha problemática em relação ao pai.

– Isso é incrível! – sorri para ele, beijando suas bochechas. – Obrigada, obrigada, obrigada!

– Mas é apenas por alguns dias, tudo bem? – disse ele, e eu concordei com a cabeça. – Não temos dinheiro para isso agora, e estamos fazendo isso por você.

– Estamos?

– Sim, estamos. Jade e eu. Tente se dar bem com ela, tudo bem? Ela está tentando de verdade ser legal com você. Dê um desconto a ela.

Pude perceber que Jade era uma pessoa legal. O problema sempre fui eu. Era eu que a evitava o tempo todo, e não ela. Quando cheguei aqui, ela tentou de todas as formas ser legal comigo, mas eu não tentei em momento algum. Essa era à hora de tentar resolver nossas diferenças e seguir em frente.