Pov Cato

Sentei-me no gramado da casa de Clove, vendo a garotinha soltar um suspiro.

- Isso não é justo. – Ela sussurrou, entre os soluços.

- Eu sei, pequena. Mas eu não posso fazer nada. – A abracei, e ela se aconchegou em meu peito. Deixando as lágrimas escorrerem.

Sempre considerei a ideia de que eu e Clove seríamos amigos pra sempre. Nos conhecemos quando eu tinha 6 anos. Ela estava com 4 anos na época. Nos tornamos amigos tão rápido que depois de algumas semanas já éramos inseparáveis. Agora estamos aqui, eu com 13 e ela com 11 anos, desesperados com a ideia de nos separarmos. Minha mãe recebeu uma proposta de emprego em Nova York, e não pensou duas vezes antes de dizer que sim. Considerando que moramos em San Diego, não vai ser fácil eu e Clove mantermos contato. Pelo menos não com o pai desprezível de Clove controlando cada passo dela. Sempre vi o pai da Clove como uma pessoa instável. Ainda mais quando ela aparecia na minha casa chorando e com o corpo machucado. Eu já bati de frente com ele inúmeras vezes, o que contribui pra que ele não deixe que Clove mantenha contato comigo. Clove nunca permitiu que eu contasse pra minha mãe, já que tinha medo do que o pai dela podia fazer. A mãe de Clove já não tem mais forças pra controlar o marido bêbado, tanto que já tentou se matar uma vez. Clove e eu chegamos a tempo e chamamos os paramédicos. Por causa da Clove que ela nunca mais tentou fazer isso.

Clove soltou meu corpo e me encarou, parecendo querer gravar cada detalhe do meu rosto.

- Eu tenho medo de te esquecer. – Clove sussurrou tão baixo que tive que me esforçar pra escutá-la. – Tenho medo de que eu não te veja de novo.

Uma lágrima desceu pelo rostinho pálido e eu me apressei em secá-la.

- Você não vai me esquecer, assim como eu nunca vou me esquecer de você, Clo. – Sorri pra ela, apesar de meu coração afundar no peito. Eu não posso dizer isso com toda a certeza. Ela vai arranjar novas amigas, e quem sabe até mesmo um namorado. Ela pode acabar me esquecendo.

Passei meus dedos por seus cabelos negros e sorri. É involuntário. Clove me faz bem.

- Como pode saber? Você vai conhecer outras pessoas, quem me garante que você não vai conhecer outra garota lá? – Apesar da voz chorosa, pude notar um leve timbre de irritação na voz da Clove. A conheço há muito tempo, reconheço todas as emoções dela.

- Ciúmes, Clo? – Ri de leve, apesar da tristeza. Vi Clove sorrir fraco. – Eu gosto muito de você, pequena. Não existe ninguém nesse mundo capaz de te substituir.

O sorriso de Clove aumentou e ela me abraçou de novo. Observei o caminhão da mudança chegando à frente da minha casa e senti Clove me apertar mais.

- Eu quero que você faça uma coisa pra mim. – Clove disse baixinho e corou.

- O que? Você sabe que qualquer coisa que me pedir eu vou fazer. – Ela me olhou, mas desviou o olhar pro chão. Vi ela respirar fundo.

- Eu quero que você me beije. – Clove corou mais ainda, e eu senti meu rosto queimar. Tentei encontrar seus olhos, mas ela os manteve encarando a grama. – Eu quero algo pra lembrar, Cato. Algo que eu sei que nunca vou esquecer.

Segurei em seu queixo e a fiz olhar pra mim. Eu sabia que a Clove nunca tinha beijado ninguém, e me surpreendi ao ver que ela queria que eu fosse o primeiro. Dei um sorriso e ela retribuiu, ainda de maneira envergonhada. Puxei seu rosto pra mais perto do meu e fechei os olhos, pressionando os lábios na boca macia de Clove.

Então é assim a sensação de borboletas no estomago que mamãe sempre disse que eu sentiria um dia? Puxo Clove pra mais perto e ela passa as mãos por trás do meu pescoço. Mas a solto quando sinto algo molhar meu rosto. Ela está chorando de novo.

- Eu não quero te perder Cato! – Clove exclamou entre as lágrimas, me soltando e escondendo o rosto entre os joelhos.

- Você não vai me perder, Clove. Eu já falei. – Minha voz se tornou macia e eu comecei a passar as mãos pelos cabelos da garota a minha frente.

- Ninguém pode me dizer que você não vai me esquecer Cato. Mas eu quero que me prometa uma coisa. – Ela me encarou com os olhos verdes profundos. Me vi prometendo seja lá o que for. Jamais poderia dizer não pra esses olhos. – Quero que prometa que se nos encontrarmos de novo um dia, não importa a situação, não vamos agir como se fossemos estranhos. Porque não consigo me imaginar passando por você na rua e te ignorando. Não consigo te ver como um estranho.

- Prometo. – disse de maneira decidida e Clove colou nossos lábios de novo.