O Amante escrita por Allie Blake


Capítulo 2
A carta part.1




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Mesmo quebrando seu juramento de jamais voltar a entrar no quarto dela, Sasuke depositou-a sobre o leito. Ao fazê-lo, o suave e familiar perfume de rosas que havia nas cobertas atingiu-lhe as narinas, desencadeando uma onda de recordações que foram como uma tortura para todos os seus sentidos. Mas, controlado como sabia que precisava ser, afastou-se a olhando, atento, considerando que a ultima vez que sentira aquela vontade enorme de beija-la, e o fizera, tinha sido a ultima, embora nem mesmo soubesse...

Por um indelével momento, toda sua paixão por Sakura obscureceu-lhe a razão, inclusive o fazendo esquecer a preocupação com a irmã, que fora o que o trouxera até ali. O perfume continuava tentador, suave e envolvente. Sabia que, se fosse dominado mais uma vez por seus sentidos, não conseguiria mais deixar aquela casa, não com sua dignidade intacta.

Deveria saber que desde a primeira vez que Sakura, suave e meiga, lhe revelara a vontade de ser sua amante, ela cometera um grande erro. Porque uma mulher como Sakura, fina, elegante, bem nascida, não tinha afinidade nenhuma, nem poderia ter, com um sujeito comum, sem dinheiro, como ele. Tipicamente simples com uma mente normal, sem ser brilhante e sem pretensão alguma de ser charmoso e irresistível, Sasuke apenas se deixara levar pela situação. Não era um homem nem que pudesse ser considerado bonito, avaliava-se. No entanto não era feio. Tinha responsabilidades familiares e obrigações financeiras e não poderia jamais cobrir Sakura com todos os presentes que gostaria de poder lhe dar, também não podia oferecer-lhe uma posição definida, segura na sociedade.

No entanto, mesmo assim, ela o escolhera. E pela primeira vez em sua vida correta, honrada, Sasuke Uchiha fizera algo que podia ser considerado abaixo do respeitoso. Algo furtivo, escandaloso até. Mas algo tão maravilhoso que nem podia acreditar que estivesse lhe acontecendo.

Sakura Haruno lhe oferecera um banquete de frutas proibidas. E mesmo servindo-se a vontade, sentia que não estava nunca saciado, jamais poderia ter o suficiente do que mais adorava na vida.

Tinham concordado que seu tempo juntos estaria limitada aquela temporada em Bath. E, com algumas semanas da mais pura felicidade ainda adiante de si, ele se via frustrado pelo recebimento daquela carta que terminara com tudo entre ambos.

Como Sasuke já devia saber de antemão, ela se cansara de sua presença, de sua companhia, analisava. Talvez tivesse encontrado um substituto com mais estilo, mais classe...

Passou os olhos ao redor, percebendo que, naquela noite, ela estava sozinha. E ficou satisfeito. Mas sabia que devia banir de seus pensamentos ideias tão egoístas. Havia se zangado pela forma simples com que ela o dispensara, essa era a verdade. Ficara magoado, chocado, surpreso. Mesmo assim, não tinha o direito de entrar naquela casa, aquela hora da noite, e levar Sakura a um choque tão grande que a fizesse desfalecer porque acusara seu sobrinho com suspeitas agressivas.

– Sakura?- chamou baixinho segurando-lhe as mãos. – Acorde, por favor. Lamento ter lhe dado a noticia de forma rude. Eu deveria saber que seria um choque para você...

Sasuke respirou fundo, começando sentir-se alarmado porque ela não despertava. Pressionou os dedos na base de sua garganta para sentir-lhe a pulsação, e ficou mais tranquilo, embora ainda estivesse tenso.

– Sasuke?- Sakura murmurou, entreabrindo os olhos. Pronunciou seu nome com a suavidade peculiar a afeição que dizia sentir antes, e sorriu muito de leve. – O que houve? Onde estou querido?

Sasuke engoliu em seco. Sentiu seu peito apertar. Lembrou-se mais uma vez da carta e chegou a considerar se teria entendido mal seu conteúdo. Talvez ela ainda o quisesse, pelo menos por mais algumas semanas. Sentiu-se invadido por uma estranha onda de esperança que, ao mesmo tempo, o animava e frustrava.

Talvez tivesse colocado poder demais sobre sua felicidade nas mãos de Sakura, avaliou com tristeza. E, como para atestar tal fato, ela abriu os belos olhos verdes e estremeceu. E só então se afastou dele, parecendo tomada por uma aversão imediata.

– O que esta fazendo aqui?- Sakura perguntou rude.

Se ela tivesse atingido com uma bofetada, não teria ferido tanto. A frieza em sua voz o machucava demais. Sasuke levantou-se, deixando o lado da cama em que sentara para ampara-la, e olhou-a, tentando voltar à realidade. Ambos sabiam por que ele estava ali, ambos sabiam que precisavam permanecer afastados um do outro.

As próximas palavras de Sakura confirmaram quanto ela já estava consciente:

– Sua irmã e Oliver... Então, acha que fugiram para Gretna? Como pode ter certeza?

Sasuke viu-a sentar-se na cama e manteve-se calado, controlando-se para não lhe pedir que tivesse cuidado, caso ainda se sentisse tonta.

– Se eu tivesse certeza, não estaria perdendo meu tempo aqui, lady Haruno – ele respondeu frio. – Neste exato momento, estaria na estrada a caminho de Bristol, tentando alcança-los antes que prosseguissem nesse ato impensado.

– Deve estar enganado – ela rebateu, mas o seu tom de duvida acabava com a certeza que queria impor as suas palavras. – Tomei o desjejum com Oliver esta manhã. E ele não me parece nem um pouco excitado, como se estivesse preparando uma fuga com uma moça.

Sakura levantou-se, mas teve de se apoiar na mesinha de cabeceira para evitar outra tontura. Sasuke, mesmo contra sua vontade, acabou estendendo um dos braços para ajuda-la.

Ele sempre agira com sobriedade e equilíbrio em sua vida e orgulhava-se disso. Não estava acostumado a ser empurrado em direções opostas por sentimentos e sensações fora de controle e não apreciava a forma como se sentia agora.

Sakura apoiava-se em seu braço, e ele queria poder não gostar de tê-la assim tão próxima.

– Espero que esteja certa quanto a seu sobrinho – disse para desviar os pensamentos.

Mas as palavras saiam-lhe um tanto incertas, estranhas. Porque, se encontrassem Oliver Armitage recolhido em seu quarto, sozinho e tranquilo, ou então afundado em seus estudos no laboratório, então o desaparecimento de Emily tomaria uma aparência ainda mais sinistra.

– Poderia pelo menos, para me tranquilizar, conferir se ele esta em casa? – Sasuke insistiu.

– Esta bem. – Sakura tentou afastar a mão do braço dele, mas sentiu que precisava ainda de seu apoio. E foi mordaz: - Farei qualquer coisa que o tire desta casa rapidamente.

Com passos lentos e vacilantes, Sakura dirigiu-se a porta do quarto, tendo Sasuke ao seu lado, pronto para ampara-la, caso a vertigem a acometesse de novo.

Mas isso não aconteceu e, aos poucos, os passos de Sakura ganharam mais segurança, em especial quando saiu para o corredor e seguiu em direção ao estúdio do rapaz.

– Vou tentar aqui primeiro – avisou, parando diante da porta que ficava no final do corredor. – Oliver sempre se esquece do tempo quando esta absorto em seu trabalho.

Ela bateu com suavidade na porta, chamado pelo nome do sobrinho. Não houve resposta.

– Oliver? – insistiu girando a maçaneta e abrindo a porta devagar. – Você está aqui?

Um odor característico de livros velhos saiu do cômodo, misturado a um leve cheiro de soluções químicas. Mas tudo lá dentro estava escuro e silencioso. Oliver Armitage não se encontrava ali.

– Ele deve ter se recolhido ao seu quarto já há algum tempo – Sakura observou, mas sem muita certeza. E voltou-se para a porta que ficava logo a frente do estúdio do rapaz. Bateu agora com mais insistência e chamou-o em voz mais alta. – Oliver, acorde! É urgente! Preciso falar com você agora mesmo!

Não houve resposta.

– Ele tem sono profundo – Sakura tentou explicar. Mas ficou no ar a duvida se ela dizia isso para acalmar-se ou para confrontar a certeza que Sasuke tinha sobre o que viera fazer ali.

Repentinamente impaciente, ela abriu a porta dizendo:

– Oliver, vai ter que nos desculpar meu querido, mas o Sr.Uchiha veio até aqui para...

Sakura interrompeu as próprias palavras diante da absoluta escuridão do quarto. A única fraca luminosidade vinha de fora, do corredor, que também estava em penumbra, e mostrava apenas contornos de moveis e de uma cama que não fora desfeita.

– Bem... Ele deve ter saído – ela comentou contradizendo, sua afirmação anterior de que o sobrinho não tinha intenção alguma de deixar a cidade.

– Talvez – Sasuke confirmou seco.

Uma cor mais clara sobre as cobertas escuras de cama chamou-lhe a atenção. Passou por Sakura, baixou a mão e pegou uma folha de papel dobrada que fora deixada ali e lacrada com cera. Sasuke foi até a porta, onde podia ler melhor o que estava escrito do lado de fora do papel. Depois de fazê-lo, estendeu-o a Sakura, dizendo apenas:

– Esta endereçada a você.


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Notas finais do capítulo

Obrigada a quem comentou, favoritou ou quem esta acompanhando.
Love U's ♥♥♥
Bjius ^^