Long shot escrita por Giovanna


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo, foi escrito com muito amor pra vocês



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Eu mexia nos cogumelos do meu prato, colocando-os de um lado para o outro, com certeza isso era mais interessante do que olhar para os rostos pálidos e calados ali presentes. Eu conseguia ouvir a mastigação de Megan, minha irmã mais nova, e sua respiração pesada ao beber o suco de morango em seu copinho de plástico. Olhei para o rapaz do seu lado, ele mastigada um pedaço de carne e olhava pro horizonte como se estivesse lembrando de algo, voltou seu olhar pra mim e então eu desviei para os cogumelos, eu odeio cogumelos.

– Como foi a escola Beatrice? - Eli, minha madrasta, perguntou sem tirar os olhos do prato.

–Tris - corrigi - foi tedioso.

Ela me direcionou um sorriso sem mostrar os dentes e continuou comendo. Na verdade, a escola foi até que legal, tivemos aula de artes e aprendi a fazer um aviãozinho de papel, mas eu não queria comentar sobre isso, papai com certeza iria reclamar que na aula de artes teríamos que aprender sobre a história de Van Gogh e não esse tipo de tolices.

– Com isto, creio que quis dizer que aprendeu coisas novas, não é? - papai afirmou, praticamente, olhando para mim.

Revirei os olhos e bebi um gole de suco antes de me virar e dizer:

– Estou satisfeita, posso me retirar? - perguntei com um sorriso inocente.

– Claro - Eli respondeu recebendo um olhar reprovador de papai.

Virei-me ignorando a a expressão furiosa do meu pai, sei que deveria obedece-lo, mas ultimamente essa tem sido minha última vontade. Assim que subi os três primeiros degraus da enorme escada, ouvi- o dizer.

– Que essa seja a ultima vez.

Continuei subindo as escadas sem responder uma só palavra, para muitas pessoas a frase não teria sentido, nem mesmo pra Eli. Mas quando eu era menor, meu pai dizia que o único que poderia autorizar a nossa retirada da mesa, seria ele. E eu o desobedeci.

O relógio apontava 8 horas em ponto. O dia passou tão rápido que eu nem prestei atenção. Levantei da cama indo em direção ao banheiro, minhas olheiras estavam mais fundas e anoxiadas do que o normal, abri a torneira e coloquei minhas mãos na água gelada, formei uma concha com elas, esperei até encher de água e em um gesto automático joguei contra o meu rosto, cada gota que escorria era um pedaço de impaciência guardado em mim que saia pelos meus poros e caia na pia, enxuguei meu rosto na toalha e me olhei novamente no espelho, bem melhor. Escovei os dentes rapidamente e voltei para o quarto. Minha camisola estava pendurada atras da porta do quarto, obriguei minhas pernas a andar até lá, troquei-me e sentei novamente na cama.Meu celular vibrava sem parar, formando uma irritante sinfonia de ruídos. Peguei o aparelho e atendi, a voz do outro lado da linha era grossa, e logo reconheci.

– Beatrice - começou a dizer - preciso de um favor seu.

– Diga Tobias - respondi revirando os olhos.

– Eu bati o carro e...

– Você fez o que? - o interrompi - seu irresponsável, cabeça dura, o que você vai dizer pro papai? E pra Eli? "Olha eu fui buscar umas putas e detonei a sua Ferrari, mas fiquem calmos porque eu vou pagar tudo, com o dinheiro de vocês,obviamente".

– Cala a boca, careta. - grunhiu entre os dentes, eu pude imaginar sua expressão de fúria- Só escuta, já levei o carro para a oficina, o problema é que não passa nenhum táxi nesse fim de mundo, então manda um táxi para cá.

– Que merda, Tobias! - bufei indo até a minha escrivaninha, peguei um papel e uma caneta - fala o endereço, antes que eu me arrependa.

Ele me passou o endereço, e eu liguei para o táxi, mas tinha um problema, o motorista não quis ir até o endereço pois era um lugar afastado da cidade, onde várias vezes os taxistas eram atraídos até lá e roubados, então eu tive que me arrumar e ir com ele. Ele me pegou em casa, tive que sair pelos fundos para nenhum funcionário da casa me ver, nem Eli, que estava em casa.Assim que chegamos perto do nosso destino, vi Tobias e sua camisa branca de cetim, aquela camisa marcava seus músculos perfeitamente, e eu quase não consegui controlar o sorriso malicioso que começou a aparecer no meu rosto.

– Pode parar aqui por favor - pedi ao motorista - já volto, um minuto.

Saí do táxi indo em direção a Tobias, ele estava encostado no muro de uma casa, com os braços cruzados e aparência preocupada. Assim que cheguei perto ele me olhou com desprezo.

– Não precisava vir até aqui. - disse colocando as mãos no bolso e chutando uma pedrinha que estava na calçada.

– Eu não fazia questão, mas o motorista não quis vir até aqui sozinho, pensou que era trote ou algo assim. - comentei, coçando a testa - porque você estava aqui nesse fim de mundo?

– Não te devo explicações.

Ele seguiu até o táxi, abriu a porta e entrou. Fui atras e também entrei no veículo, do jeito que Tobias é, era bem capaz de me deixar ali sozinha.O caminho de volta foi repleto de silencio, Tobias olhava pela janela, e batia os dedos no vidro no ritmo da musica que tocava no radio. Seus olhos não tinham brilho, seus lábios estavam secos, e sua mandíbula travada. Ele engolia em seco e observava as casas do subúrbio se distanciarem e um mundo de riqueza e mansões aparecerem.

–Para de me olhar, careta - praticamente sussurrou com a voz rouca.

Desviei meus olhos para meu celular em minhas mãos, Bruna, minha melhor amiga, tinha me ligado vinte e oito vezes, e eu mal havia sentido o celular vibrar, retornei uma das ligações, e apoiei minha cabeça no vidro.

– Oi miguxa - ouvi sua voz alterada falar.

– Oi Bru, o que houve? - perguntei com um tom preocupado.

– Estou lhe convidado pra vir até aqui beber com a gente - Bruna gritou no telefone.

– Bruna! Você não tem idade para essas coisas - a reprendi.

– Cala a boca sua careta! - gritou novamente, e eu ouvi a risada presa de Tobias sair pelo nariz.- Vem pra cá logo, caralho.

Então ela desligou o telefone, eu fiquei com os olhos grudados na tela por alguns segundos.

– Você vai? - Tobias perguntou. Arqueei uma das sobrancelhas e respondi;- Não te devo informação. Ele deu de ombros e continuou a olhar pela janela.

– Obrigada - disse ao moço do táxi enquanto entregava o dinheiro a ele.

Entramos em casa pelos fundos, Tobias foi primeiro, e fechou a porta da cozinha na minha cara, abri a porta e vi Magan com um ponte de nutella e uma colher suja apontada pra Tobias.

– Você também mocinha! - disse com bravura - papai vai adorar saber que os dois saíram escondidos sem a permissão dele.

– Megan, eu prometo não contar pro papai que você ta comendo nutella, se você prometer que não vai contar que saímos escondidos - Tobias disse dando o dedo mindinho para a garota cruzar com o seu.

Ela olhou atenta ao pode de nutella e depois a Tobias. Colocou o dedo indicador no queixo, como se estivesse pensando na proposta.

– Fechado! - respondeu com cara de sapeca cruzando o seu dedo no dele.

– Agora deixa eu provar isso daí! - exclamou se agachando perto de Magan.

Ela enfiou o dedo indicador no pote, pegando uma boa quantia do doce e depois levou em direção a boca dele, ele sorriu sem mostrar os dentes e esfregou o nariz no da garotinha, dando um beijo de esquimó. Ele é extremamente carinhoso com Megan, não entendo porque ele é tão maldoso comigo, talvez porque eu odeio ele também.Ignorei aquela cena, e passei direto indo em direção da escada, subi degrau por degrau, com a preguiça invadindo meus músculos.Assim que cheguei no meu quarto, vi pela minha visão periférica Tobias subindo as escadas, enrolei um pouco pra abrir a porta, e antes que ele passasse por mim, me virei e parei em sua frente.

– Olha, eu livrei você dessa, mas eu não sou sua empregada, muito menos sua amiga, nem se quer sinto um afeto por você. Então aprenda a criar responsabilidade e se vire sozinho! - desabafei apontando o dedo contra seu peito e olhando no fundo de seus olhos.

– Careta - ele pegou meu dedo e torceu com força - não aponte esse dedo novamente pra mim, a não ser que você queira ter ele quebrado. E, saia da minha frente. Ele me empurrou contra a parede e minhas costas estralaram, vi seu vulto entrar no quarto, mas minha visão estava turva demais pra ver se ele olhou para trás.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, até o próximo capítulo. :*