A Herdeira de Hécate escrita por Rocker


Capítulo 20
Capítulo 19 - The Only Exception




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A Herdeira de Hécate

When I was younger
I saw my daddy cry
And curse at the wind
He broke his own heart
And I watched
As he tried to reassemble it
And my momma swore that
She would never let herself forget

Capítulo 19 - The Only Exception (Paramore)

Acordei com uma batida na porta e levei alguns segundos a mais para me situar de onde eu estava. E finalmente me recordei que havia dormido no chalé de Hades. Levantei a cabeça do peito de Nico e percebi que ele também estava acordando.

– Você pode atender? - Nico perguntou com a voz um pouco grogue, deitado confortavelmente na cama.

Eu tinha medo de ser pega ali, mas ele provavelmente estaria sentindo dor - e eu não podia forçá-lo a se levantar. Então levantei-me e fui até a porta. Assim que a abri, dei de cara com um homem loiro de olhos azuis, vestido como um entregador de correio. Eu não sabia como, mas ele me lembrava alguém.

– Cristal D'Cleir? - ele perguntou, e eu arqueei uma sobrancelha.

– Hermes?! - perguntou Nico, ajeitando-se na cama para observá-lo melhor.

– Você é o deus Hermes? - perguntei, surpresa. O homem sorriu, confirmando. - Agora entendi porque o senhor me pareceu familiar.

– Ah, sim! Sua amizade com Travis. - ele disse, sorrindo marotamente, e eu corei.

– Como sabia que eu estava aqui? - perguntei, tentando não deixar transparecer meu desconforto ao sentir o olhar se Nico pesando em minhas costas.

– Sou o deus mensageiro, preciso saber onde todos estão. - disse Hermes. - Ah, sua entrega! - pegou uma caixa relativamente grande e normal, e me entregou.

Hermes começou a brilha, e eu fechei os olhos num impulso. Quando os abri novamente, ele não estava mais lá. Fechei a porta e voltei para a cama. Nico me deu espaço para colocar a caixa entre nós dois e eu me sentei à sua frente. Analisei a caixa de papelão simples, até encontrar um papel preso em uma das dobras. Peguei -o e o desembrulhei.

No lugar de remetente, eu podia ler uma caligrafia deitada e elegante.

Mansão de Hécate

Próxima aos Campos Elísios

Mundo Inferior

Los Angeles

Califórnia

Estados Unidos

E, no destinatário, algo que me fez corar violentamente.

Cama de casal

Ao lado de Nico di Angelo

Chalé de Hades

Acampamento Meio-Sangue

Long Island

Estados Unidos

– Uau! - exclamei, impressionada. - Deuses são bem detalhistas!

Nico riu, pegando a folha em minha mão e o lendo silenciosamente.

– Mansão de Hécate? - ele perguntou a si mesmo e levantou seu olhar para mim. - Já passei lá em frente e é tão grande quanto o castelo do meu pai.

– Minha mãe?! - olhei atônita para a caixa, desesperada para saber o que ela me mandara, mas ao mesmo tempo indecisa e receosa.

– Abra. - disse Nico, confiante. Olhei-o, receosa. - Vamos, eu sei que você quer ver.

Suspirei derrotadamente, sabendo que ele estava certo. E finalmente acabei com o suspense. Mas encontrei algo que eu realmente não esperava. Um pano escuro e levemente transparante, com alguns tons diferentes de negro e azul celeste, com pontinho brilhantes, como se imitasse a noite. E, por cima, uma varinha. Uma varinha de madeira vermelha e com uma pequena bolinha de cristal por cima.

– Uma varinha? - perguntei, atordoada, pegando a varinha e mostrando a um Nico tão confuso quanto eu. - Isso é só uma varinha!

– Pode até ser. - concordou Nico, pegando a varinha e a analisando detalhadamente. - Mas Hécate é a divindade dos feitiços e encantamentos, talvez possa servir para alguma coisa.

Dei de ombros, sem concordar e nem discordar, enquanto pegava o pano que imitava a noite. Me surpreendi ainda mais quando a levantei e percebi que não era apenas um pedaço de pano, mas uma capa completa, com direito, inclusive, a um capuz largo e tão escuro e transparente quanto o resto.

– Isso é...? - comecei, confusa, mas Nico logo me interrompeu.

– Isso é a Capa das Sombras de Nix! - disse ele, arregalando os olhos. - É como uma capa da invisibilidade e permite a ela que ande em meio às sombras sem ser notada.

– O que será que significa isso tudo? - perguntei, mais a mim mesma do que a Nico, observando a capa e a varinha sobre a cama.

Milhões de perguntas invadiam minha mente e eu não chegava a nenhuma conclusão. Fora as questões básicas de uma adolescente em crise amorosa, ainda queria saber mais sobre a profecia que certamente me envolvia, e o significado dos presentes de Hécate e Nix.

– Eu não sei. - respondeu Nico em voz baixa.

Mas eu sabia que ele estava me escondendo alguma coisa.

~*~

Eu me lembro que depois daquilo, nós voltamos a dormir, do mesmo jeito que antes. Não me lembrava ao certo o momento em que preguei o olho. Mas sei que de repente eu me vi em um lugar completamente diferente. Estava em uma sala de estar enorme. Paredes decoradas da época medieval e renascentista, na cor negra, e telas a tinta e olho estava espalhado. De um lado, um pequeno ateliê. Do outro, sofás confortáveis variantes da cor preta, roxa e alaranjada. Aquele lugar irradiava poder, soberania, luxúria e era assustador. Mas, de alguma maneira, eu me senti extremamente confortável.

– Cristal. - ouvi meu nome ser dito por uma voz feminina e melodiosa.

Virei-me, e dei de cara com uma mulher ruiva. Alta, bonita e exoticamente familiar. Cabelos ruivos e longos, na mesma textura que os meus, os olhos multicoloridos idênticos à íris por baixo das minhas lentes. Era Hécate, minha mãe.

– Mãe? - eu disse, sem poder evitar.

– Finalmente, querida. - ela disse, sorrindo. Seu sorriso deveria ser assustador às outras pessoas, mas eu senti um afeto tão grande que não resistir a correr e me lançar em seus braços como uma garotinha de oito anos. - Oh, querida, você não tem ideia de como eu queria tê-la encontrado antes.

– Por quê não me reclamou antes? - perguntei, afastando-me levemente e enxugando as lágrimas.

– Eu não pude. - ela disse e eu percebi que a dor em sua voz era verdadeira. - Mesmo você sendo a única filha mortal que eu tive na história, as regras se aplicavam a mim tanto quanto aos outros.

– E meus treze anos?! - perguntei, exasperada.

Hécate suspirou e me conduziu até um dos meus sofás. Sentei-me ao seu lado e ela me puxou para ficar abraçada a mim. Percebi que ela precisava dessa aproximação tanto quanto eu precisava.

– Você é uma semideusa poderosa, Cristal. - ela começou. - A profecia do garoto de Hades se refere a você e, apesar de eu não poder te contar muito, você fará grandes feitos. Mas também será bem perseguida.

– Por quê sou protegida de Zeus e Afrodite? - perguntei.

Afinal, Hécate era uma ctônica, do mundo subterrâneo. Por quê eles iriam querer proteger a cria de uma deusa subterrânea?

– Aos poucos você entenderá. Por ora, saiba que Zeus te protege pois você será importante e não seria de grande ajuda morta.

– E Afrodite? - perguntei, atordoada.

Hécate sorriu marotamente. - Algo me diz que ela tem grandes planos para você e o menino de Hades.

Corei instantaneamente, e não soube mais o que dizer. Será que, se realmente acontecesse alguma coisa entre nós, minha mãe aprovaria? Acho que ela deve ter lido a minha mente, pois logo falou.

– Não se preocupe com isso. Uma coisa que eu prezo é o livre arbítrio. - ela disse sorrindo.

Sorri timidamente, e olhei para as telas, querendo mudar de assunto.

– Você também pinta? - perguntei, apontando para o pequeno ateliê.

– Não, aquilo é seu.

Arregalei os olhos, confusa e surpresa.

– Eu queria te fazer uma proposta, Cristal. - ela disse seriamente. - Agora que está reclamada, queria saber se você quer passar o ano inteiro aqui comigo na mansão e retornar ao Acampamento somente nas férias.

Eu ainda estava paralisada de choque.

– Sabe, algumas pessoas não te aceitarão por lá. E eu posso te ensinar magia aqui. - ela completou. - Poderá vir assim que terminar a missão.

Eu não teria mais aonde ir. Meu pai morto e ninguém da família para me criar. Talvez aprender magia com minha mãe divina no Mundo Inferior não fosse assim tão ruim.

– Eu adoraria. - respondi, sorrindo, e ela sorriu também. Até que me lembrei de algo importante. - Por quê os presentes?

– Você irá precisar. - ela disse. - A capa foi Nix, minha mãe, que te mandou. A varinha pode canalizar seu controle sobre feitiços e lançá-los com mais precisão. Ah, e gire a varinha na mão, mentalizando uma espada, e ela virará uma espada de ferro estígio. Será útil em alguns meses.

– O que isso quer dizer? - perguntei, meus sentidos enfraquecendo aos poucos.

Hécate olhou para cima, analisando algo que eu não tinha ideia do que era.

– Não temos muito tempo, logo você irá acordar. - ela disse, e se virou para mim com uma expressão séria e determinada. - Eu não queria te envolver nisso, mas a profecia já o fez. Você terá dois meses para treinar suas habilidades em magia e em luta. Depois, mais um mês para completar a missão.

Eu sentia as bordas da minha visão escurecendo, e meu corpo já não me controlava. A última coisa que ouvi, foi a voz fria e distante da minha mãe dizendo uma última frase.

– Espero que faça a escolha certa, filha. Confio em você.


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