A Herdeira de Hécate

Yes I understand
that every life must end
as we sit alone
I know someday we must go

Capítulo 20 - Just Breathe (Pearl Jam)

Em dois meses, minhas habilidades melhoraram consideravelmente, como minha mãe havia pedido. De vez em quando, ela ou Nix me visitavam em sonhos para me orientar - e conhecer minha avó fora tão assustador quanto conhecer minha mãe. Elas me orientavam nos poderes e Percy e Nico me treinavam na varinha que, com certa dificuldade, consegui transformar em uma espada. Nico também fazia o possível para me ajudar no controle das sombras, apesar de ele mesmo só ter o controle das viagens. Eu não podia viajar por elas, mas nós acreditávamos que o princípio de concentração seria o mesmo.

E eu não podia deixar de me surpreender com minha crescente vida social. Não era lá essas coisas, mas era melhor do que jamais tive. Travis e Paige - além de Nico, claro - haviam se tornado meus melhores amigos. Annabeth, Percy e Leo também. Nico não gostava nada das provocações inocentes entre eu e Leo, mas como eu acreditava que ele não gostava de mim como eu gostava dele, nós apenas ignorávamos.

Claro, eram apenas brincadeiras, já que ambos concordamos que não ocorreria nada - aliás, descobri que Leo estava apaixonado por uma filha de Deméter. Eu tentava ajudá-lo, apesar de não aceitar sua ajuda. Leo insistia que Nico gostava de mim, ressaltando cada mudança que ocorreu nele desde que nos conhecemos, há quatro meses. Mas eu não queria me iludir e, graças aos deuses, Leo e Paige respeitaram isso.

Paige era outra que tinha problemas com a vida amorosa. Ou quase. Eu - e mais três quartos do acampamento - acreditava que as provocações e gritos dela e de Travis era amor reprimido. Não que esperamos que eles assumam tão cedo. E não que eu não tenha quase apanhado quando comentei isso com ela. Vai por mim, não queria ver a Willians brava.

Uma coisa que realmente me tirou o sono durante esse tempo foi a profecia. A droga da profecia que só Nico sabia completa! Uma droga de profecia que se referia a mim e que ele se recusava a me falar qualquer coisa ou dar qualquer dica. E isso era extremamente frustrante para a minha pessoa.

– O que foi? - perguntou Nico, arrancando-me dos meus pensamentos.

Estávamos sentados nos degraus do chalé de Hades, depois de outro dia cansativo. E ele tinha o dom de me chamar enquanto estava pensativa. Ele também sabia me fazer prender a respiração com a simples aproximação, mas isso não era assunto para o momento.

– Bem... - comecei, já decidida de que estava passando da hora de saber algo concreto. - Quero saber sobre a profecia.

Nico se enrijeceu ao meu lado e isso deixou claro que era um assunto que o incomodava.

– Ainda não é a hora, Anjo. - e essa foi sua resposta. Como em todas as outras vezes que eu lhe perguntava.

Bufei, tentando não parecer tão irritada. - Minha mãe me deu dois meses pra lutar. Estou quase partindo em missão e você ainda insiste em não me dizer nada!

– Você não entende... - ele balançou a cabeça, mas eu não soube o que aquele gesto significava. - É perigoso, ainda mais pra você! Enquanto não chegar a hora em que Quíron vier te procurar pra uma missão, o melhor é não saber.

Levantei-me num impulso, desesperada para saber algo mais sobre mim que Nico se recusava a dizer.

– Nico, por favor! - ele também se levantou e se dignou apenas a balançar a cabeça em negação. - Por quê? Me dê apenas um motivo pra que eu ainda não saiba sobre a profecia!

Eu, sinceramente, esperava uma reação um pouco mais... Agressiva. E não-fofa. Mas não. Nico simplesmente suspirou e deu mais um passo em minha direção, nossos corpos separados por míseros centímetros que eu faria de tudo para serem inexistentes. Prendi a respiração no momento em que ele alisou minha bochecha com o polegar. Meus olhos foram a lilás em questões de segundos, entregando o quanto eu estava nervosa. Mas as lentes ainda me protegiam - ainda não tive coragem para mostrar a ele a aberração que eu era.

– Porque profecias são perigosas, e essa fala sobre um sacrifício. - ele disse, olhando no fundo dos meus olhos, como se os analisasse atentamente. Meus coração estava descompassado, minha respiração irregular e minha mente lutando contra a insanidade. Será que ele não percebia o que me causava? - E eu não quero perder você, a única pessoa especial que me restou no mundo.

Minha reação àquela frase? Eu dei meia volta e saí correndo - e chorando - de volta para o meu chalé. Por quê ele tinha que causar tantos efeitos em mim? Por quê eu não podia simplesmente esquecê-lo? Será que se o beijo no meu quarto há alguns meses - que, no momento, pareciam éons atrás - nunca tivesse acontecido, as coisas seriam mais fáceis para mim?

Não tinha ideia de quanto tempo fiquei ali deitada na minha cama, chorando. Mas eu sei que depois que Paige apareceu, eu chorei novamente em seu colo, desabafando tudo o que ela já sabia.

– Não fique assim, Cris. - ela pediu, fazendo cafuné nos meus cabelos ruivos enquanto eu permanecia deitada em sua perna. - Você sabe que não há necessidade. Nico te ama, e você sabe bem disso.

– Não, Paige, eu não sei! - insisti, levantando a cabeça e me sentando. - Não é fácil confiar com a vida que eu tive. E depois do nosso beijo, ele nunca mais tocou no assunto!

Sim, ela sabia do beijo. Depois de algum tempinho, resolvi contar a ela. E, como já esperado, ela fizera um escândalo maior que o necessário.

– Cris! Você é a única que não vê o quanto ele mudou depois que te conheceu! Devia confiar mais e acreditar. - ela disse por fim, abraçando-me pelos ombros e acariciando meu braço.

Deitei a cabeça em seu ombro, chorosa, e murmurei. - Sabe o que eu realmente queria? - ela fez um resmungo para que continuasse, e eu completei. - Que ele me cantasse uma música romântica e se declarasse. Sei lá, até mesmo Kiss Me, que eu sou apaixonada! Mas não quero ser iludida... Quero ser amada.