A Herdeira de Hécate escrita por Rocker


Capítulo 12
Capítulo 11 - Daydreaming




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/491260/chapter/12

A Herdeira de Hécate

Living in a city of sleepless people

Who all know the limits and won't go too far outside the lines

Cause they're' out of their minds

I wanna get out and build my own home

On a street where reality

Is not much different from dreams I've had

A dream is all I have

Capítulo 11 - Daydreaming (Paramore)

Acontece que não conseguimos chegar ao chalé de Hermes, como esperávamos. Mal tínhamos chegado na área dos chalés quando vejo uma cena que não me alegrou nem um pouco. Na verdade, me colocou ainda mais no fundo do poço. Porque não bastava Nico simplesmente ter jogado na minha cara que não me queria com laço algum, ainda tinha que sair uma menina morena purpurinizada de seu chalé. Como eu sabia que chalé era? Bem, era o único que era completamente preto e rodeado por caveiras. Além disso, Nico sair de lá logo depois foi uma dica bem útil também.

E não, essa não foi a pior parte. A pior parte foi ele entrar novamente e a garota se virar para mim com um sorriso maníaco, como se realmente me conhecesse. E depois vir em nossa direção.

– Se não a tão famosa protegida de Zeus e minha mãe. - disse a versão de barbie falsificada, naquela voz própria de patricinha com diarréia.

– Fica longe dela, Drew. - disse Paige ao meu lado, tomando uma atitude bem mais bruta que a que teve comigo minutos antes. - Como você mesma disse, ela é protegida.

– Não por muito tempo. - ela disse, olhando-me cima abaixo com visível desprezo. Se eu não tivesse mais o que fazer já teria dado uma na cara dela.

– Olha aqui, eu não tenho ideia de quem você é, barbie danificada, então é bom não me torrar a paciência. - ameacei, já no meu auge de estresse.

– Ah, e o que pretende fazer? - ela desafiou e eu senti uma vontade insana de tirar aquele sorrisinho da cara dela.

Abri meu melhor sorriso cínico, que até a fez engolir em seco. - Ainda não sei, mas pode ter certeza que posso garantir que envolva tesoura, gasolina, fogo, suas roupas de puta rasgada e seu cabelo queimado.

Drew se afastou um pouco e quase deu um passo em falso. - Ora, sua... - ela começou, pousando a mão sobre a espada em seu cinto, mas antes mesmo de desembainhá-la, um trovão se ressoou no céu, assustando até a mim.

– É, parece que você realmente não vai poder encostar um dedo nela. - Paige riu debochadamente.

Drew lançou um olhar raivoso a Paige, antes de se dirigir a mim.

– Isso ainda não acabou. E fique longe do Niquinho. - ela ameaçou, antes de se virar e andar rebolando como se estivesse numa passarela.

– Niquinho?! - perguntei, ultrajada.

Paige riu como se nunca tivesse se divertindo na vida.

– Do que está rindo, sua louca? - perguntei, tentando parecer irritada, mas falhando miseravelmente quando comecei a rir também.

– Acredite, a cara de bosta da Drew não tem preço. - ela disse, ainda rindo, e me puxou em direção a um chalé que parecia o mais comum dali.

Porém algo me distraiu. Um chalé, na verdade. Ele era alto, bem alto, e largo. Uma porta dupla de metal roxo e as paredes eram de cristais das cores preto, roxo e laranja - cores que antigamente eram associadas à bruxas. Tinha uma imagem de Lua Nova sobre a porta, com uma bola de cristal logo ao lado e um número 20 entalhado como duas cobras logo abaixo. Algo pulsou dentro de mim, como se eu soubesse que lugar era aquele, mas apenas não o reconhecia. E um caleidoscópio de cores girava pela íris dos meus olhos por baixo da lente, deixando-me ainda mais agitada.

– De quem é esse chalé? - perguntei, ainda encantada e hipnotizada por ele, como se aquelas portas me chamassem a ultrapassá-las.

Mas pude ver que Paige teve uma reação completamente diferente.

– Hécate. - ela respondeu, estremecendo. - Acho que às vezes esse chalé dá mais medo que o de Hades ou o de Ares. Ainda mais por ser vazio.

– Por quê ele é vazio? - perguntei, finalmente me livrando do encanto e encarando-a.

Paige deu de ombros. - Hécate não é uma deusa casta, mas, por algum motivo, nunca teve filhos com mortais.

Eu realmente queria poder dar mais uma olhada naquele chalé. Não sei explicar, era como se uma força mística me puxasse em direção a ele. Mas como dizem, tudo o que bom dura pouco. A nossa ida até o chalé de Hermes custou também uma ínfima parte do tour que eu deveria fazer naquele acampamento e Paige aproveitou e me ditou qual chalé era de qual deus ou deusa. Não que eu tenha decorado todos - aliás, já nem lembrava qual era o de Nico. Assim que chegamos ao chalé que parecia o mais normal de todos, Paige se adiantou pelas escadas e estava quase batendo à porta quando ela abriu sozinha.

E com ela veio uma visão dos deuses (sem trotes).

E com isso quero dizer dois loiros de olhos azuis praticamente idênticos. Ai, deuses, eu morri e não estou sabendo?

– Ora, Willians, a que devo a sua magnífica visita?! - perguntou um deles sarcasticamente, com um sorriso que quase me fazia querer checar os bolsos.

Aquele, com certeza, não era um indeterminado.

Paige revirou os olhos. - Sem gracinhas, Travis. Trouxe uma indeterminada pra vocês. Vocês, pelo visto, já vão aprontar mais uma.

Só então eu percebi que eles seguravam alguns baldes de algo que eu não consegui identificar o que era e uma mochila aparentemente lotada. Não sabia de que também.

– Indeterminada?! - perguntou o outro garoto, quase idêntico ao primeiro. Só não me pergunte como diferenciar. Ele me olhou de cima a baixo com um sorriso cafajeste, mas podia ver em seus olhos que estava surpreso. - Não temos uma indeterminada mais velha desde que Percy fez aquele pedido a Zeus.

Paige deu de ombros, mas parecia tão inquieta quanto antes, quando tocamos nesse assunto na praia.

– Bem, ao que parece ela é a semideusa da profecia de Nico. Ah, garotos, essa é Cristal D'Cleir. Esses são Connor e Travis Stoll, filhos de Hermes. - ela nos apresentou e se aproximou mais de mim para sussurrar em meu ouvido: - Cuidado com suas coisas, esses dois são os mais experientes nas artimanhas e roubos por aqui.

Eu ri baixinho, sem deixar que eles percebessem. - Oi.

Os dois trocaram um olhar cúmplice que não me passou despercebido. Um deles - Travis, pelo que que Paige apontou - soltou o balde que segurava e veio para o meu lado.

– Olha, baixinha, você é novata, mas já é famosa antes mesmo de ter chegado! - ele disse, passando o braço por meu ombro.

E então eu senti sua mão remexendo o zíper da mochila, mesmo tendo certeza que muitos não perceberiam. Posso ter ido com a cara dele, mas não quer dizer que aceitarei de boa ser roubada.

– Se ainda quiser sua mão inteira e junto do pulso - ameacei, minha voz saindo mais sombria e assustadora do que eu um dia podia sequer imaginar -, sugiro que a mantenha longe das minhas coisas.

Travis deu um passo atrás, surpreso, Connor arregalou os olhos e Paige começou a rir.

– Uau! - foi tudo o que ela exclamou.

– Gostei de você, hein, baixinha. - disse Travis, rindo e bagunçando meu cabelos ruivos.

– Meu cabelo não... - resmunguei, ajeitando meu cabelo enquanto os três riam. - Afinal, pra que esses baldes?!

– Não bastava o lodo no chalé de Apolo na semana passada, não?! - perguntou Paige, pretendendo dar uma de responsável, mas eu podia ver o sorriso traiçoeiro se formando em seus lábios.

– Ah, dessa vez será o chalé de Afrodite! - disse Travis, com um sorriso digno de Hermes nos lábios. - Precisamos dar uma lição naquelas patricinhas.

– Mas vocês vivem pegando elas! - exclamou Paige, e mesmo que estivesse rindo levemente, podia ver um brilho diferente em seus olhos. Como se estivesse... Ultrajada?

– Isso não quer dizer que não são patricinhas. - disse Connor.

– Espera, o chalé de Afrodite é o daquela barbie danificada que atende pelo nome de Drew? - perguntei e Paige assentiu. Então me virei para os irmãos Stoll, esperançosa. - Posso ajudar?!

Eles arregalaram os olhos, trocaram olhares cúmplices e depois se viraram para mim, sorrindo.

– Sabe jogar tinta? - Connor perguntou.

– Sei pintar, pichar e fazer qualquer coisa que envolva tintas, pincéis e sprays. - eu disse, recordando dos quadros que eu pintava em Nova York.

O sorriso deles se alargaram. - Bem-vinda ao chalé de Hermes, caloura!

– E você, Willians? - perguntou Travis a Paige.

Mesmo sorrindo, ela levantou as mãos em rendição.

– Me deixem fora dessas armações, ainda vão se dar mal. Mas estarei torcendo. Agora deixo a Cristal com vocês, nada de armadilhas para ela. - e ela se virou e foi embora.

– Vamos, baixinha. - disse Travis, passando o braço por meu ombro novamente. Mas dessa vez ele quis manter a mão inteira. - Como você irá participar, terá uma espécie de alforria. Deixe suas coisas perto das nossas e ninguém do chalé irá roubar.

E então eles me levaram para dentro. Posso dizer que eles eram mais legais do que eu esperava para filhos de Hermes. Minha estadia seria mais interessante do que eu imaginava.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!