Amar-te em Segredo escrita por Madame Bjorgman


Capítulo 3
Nos Jardins Reais


Notas iniciais do capítulo

Olá a todas(os)! *-*
Peço desculpa pela demora :( (Nas notas finais eu explico.)
Espero que gostem e Boa Leitura :*



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Independentemente das circunstâncias em que possam ocorrer, a memória de um primeiro beijo deixará, de forma irremediável, a sua marca na alma de quem o partilha… mas quem já passou por tal, saberá distinguir perfeitamente de que há apenas dois caminhos em que este momento tão arrebatador, para qualquer comum mortal, poderá culminar: numa boa ou má recordação.

Para Anna o seu primeiro beijo tinha, de alguma forma inexplicável, enveredado por ambos os caminhos, e por mais que tentasse não o conseguia justificar. Aquele beijo tinha começado no bom caminho, para depois acabar por tomar um estranho atalho e terminar em algo semelhante ao desastre. Tomara-o inconscientemente, isso era uma certeza, mas Anna não conseguia de todo aceitar que o tivesse percorrido sem que a sua vontade assim o desejasse realmente.

Sabia que depois daquele dia no cais do porto de Arendelle, o primeiro de todos após o fim do Inverno Eterno, invocado involuntariamente pela Rainha, jamais conseguira parar de meditar, vez após vez, naqueles momentos, sem que encontrasse realmente forças para conseguir interrompe-los na sua mente. Havia sempre aquela mesma questão, que clamava por uma resposta, não só que fosse breve e rápida, mas também que satisfizesse totalmente todas a exigências que, naturalmente surgiam…

Como seria possível que aquele simples beijo (simples, mas no entanto capaz de fazer estremecer todo um mundo.) tivesse adquirido a capacidade de conseguir desvanecer aquele presente que, consequentemente afectava um futuro que lhe sussurrara outrora promessas seguras de um amor feliz?

Anna queria, tentava compreender o que poderia ter feito de mal, mas os seus esforços mentais revelavam-se inúteis, o que não conseguia deixar de produzir uma tremenda tristeza que lhe penetrava o coração de uma forma cruel...

Mais uma vez, aquela insegurança, que sempre renascia com uma força incrível quando os seus pensamentos recaíam sobre aquele beijo, que aparentemente crescia de cada vez que Anna permitia dar-lhe espaço, provocando danos de tal dimensão que a Princesa mais nova da família Real sentia que aquela mesma fortaleza de muralhas austeras, que se vira obrigada a construir na sua infância, com o objectivo de, primeiro: a fazer adquirir a capacidade de se defender da sua separação forçada de Elsa e, segundo: a instruir a lidar com a perda posterior dos seus queridos e amados pais na morte… essa mesma que lhe permitia conservar aquele espírito inconformista que lhe dava a capacidade de jamais desistir, dando-lhe o benefício de achar sempre as forças onde poderia ser menos provável e de que tanto necessitava, mesmo na desgraça, começavam a revelar fortes sinais de que queriam ruir. Sim, estas mesmas paredes davam agora a revelar enormes fissuras, rachas que tinham tomado proporções assustadoras… e tudo por causa daquele beijo, um simples gesto nascido do mais belo e angustiante dos sentimentos humanos, com o poder de criar ou destruir sonhos… o amor.

Como seriam os dias no seu futuro? Onde encaixaria o Kristoff na sua vida? Teria a estranha reacção de Kristoff, após aquele beijo, o poder suficiente para conseguir, por fim, desmoronar toda a sua fortaleza?!

Não seria algo que produzisse grande surpresa no espírito agitado da Princesa. Havia um outro episódio, ainda demasiado recente, que só contribuiria, generosamente, para a sua queda… na verdade seria de admirar se as paredes deste mesmo refúgio mental fortificado não tivessem sofrido qualquer dano depois de enfrentarem uma revelação tão inesperada como a que o Príncipe Hans lhe tinha sussurrado naquele dia terrivelmente gelado, no interior mergulhado pelas sombras da Biblioteca Real do Palácio, fixando com frieza o olhar de Anna e segurando-lhe com uma delicadeza estudada no queixo. Um desprezo surgira-lhe no rosto belo, que se tornara instantaneamente demasiado grande para continuar a permanecer ocultado por muito mais tempo. Finalmente, a máscara do grande vilão tinha saído do seu lugar…

Ohh Anna… Se houvesse alguém por aí que te amasse.

O sorriso sínico do Príncipe só conseguiu reforçar o quanto ele falara a sério, levando-o a afastar-se depois. E Anna, na sua voz vacilante devido ao frio que se apoderara do seu corpo aos poucos, suplicara por uma explicação digna daquela atitude tão maquiavélica da parte do homem que julgara amar profundamente. As chamas tremeluzentes da enorme lareira esculpida na pedra mármore conseguiram iluminar parte do enorme espanto arrebatador que o rosto da Princesa revelara. Um forte abalo assolara naquele momento o coração esperançoso de Anna, que até ali encontrara-se demasiado assustado com o dilema que se impunha… receber o beijo do verdadeiro amor ou acolher a morte nos seus braços. Fora como um terrível terramoto, as paredes da sua fortaleza atravessaram o assombroso perigo de caírem por terra com aquelas palavras cruéis, impiedosas, somente igualáveis um veneno mortal que saíram dos mesmos lábios que, dias antes, tinham-na pedido em casamento. Mas por alguma razão as paredes da fortaleza mantiveram-se de pé, oscilando sim, mas nunca se desmoronando.

Anna apenas sentira que a sua esperança esmorecera a olhos vistos e apagara-se por fim, juntamente com as chamas da lareira onde Hans derramara propositadamente a água do grande jarro que outrora repousava pacatamente sobre a pequena mesa de mogno. No lugar da esperança surgira uma raiva, que apenas conseguia proporcionar uma enorme dor no peito de Anna e que crescera rapidamente, à medida que Hans ia revelando os seus planos de ascender ao trono num outro Reino que não fosse o seu… nem que isso custasse a morte de quem estivesse no seu caminho sob a forma de obstáculo. Fora um estratagema que adoptara desde o princípio, este mesmo tivera o seu início como um simples desejo… o desejo inocente de ter um Reino só para si, onde pudesse ser o grande pilar para todos os seus súbditos, imaginando-se feliz e bem casado ao lado de umas das Princesas, independentemente se fosse com a Princesa que herdaria o trono no dia da coroação ou a Princesa que ficaria a um passo dele. Mas Hans acabou por almejar um desejo muito maior do que planeara… Assim que testemunhara com os seus próprios olhos o poder e a grandeza do Reino, rapidamente começou a alimentar os seus desejos mais egoístas. Tudo o que queria era ser aclamado, adorado… e depois de a Rainha ter lançado o Inverno Eterno sobre todos, queria ser amado como um herói, que arrancara Arendelle das garras do trágico destino a que estava condenada... Rapidamente convertera-se numa forte intenção que jamais o abandonara desde o primeiro momento em que colocara os pés em Arendelle. Felizmente que, o jovem Príncipe das Ilhas do Sul não conseguiu alcançar o seu objectivo final, recebendo como recompensa pelos seus actos, a clausura que a prisão proporciona a qualquer desprezível criminoso…

Mais uma vez, Anna apercebeu-se de que meditara naquele episódio angustiante e sabia que ao fazê-lo acabava sempre por abstrair-se de tudo o que a rodeava. E foi o que aconteceu, não ouvira uma única palavra daquela breve conversa que se desenrolava calmamente à sua frente entre Elsa e Kai, que agora era o novo Embaixador. O seu olhar acompanhava cada movimento das suas silhuetas, mas não prestou a mínima atenção às palavras que os lábios de ambos exprimiam… deixou-se encostar calmamente à balaustrada da elegante varanda de mármore branco, mantendo-se de costas para toda aquela magnificência que só os Jardins Reais poderiam possuir, como se tal beleza já não constituísse qualquer interesse e entusiasmo. Não que fosse esse o caso, na verdade, ela estava muito longe dali, imaginando como seria o desfecho final de toda aquela história que envolvia Hans, que agora tomava tais contornos que só punham em evidência o desenrolar de um julgamento. Apenas restaria saber onde esse mesmo julgamento se iria realizar… e era precisamente o grande receio de Anna. Jamais desejava que este acontecesse no seu Reino, pois isso implicaria o desenrolar de uma série de encontros no Grande Salão onde ocorreria o julgamento, (Sendo irmã da Rainha, e de acordo com o Protocolo Real, era obrigatório que Anna marcasse a sua presença em ocasiões como aquelas.) em que teria de olhar mais uma vez para o rosto daquele que em inúmeras ocasiões, na noite da coroação de Elsa, tanto admirara, de forma tão doce e ingénua.

Questões e mais questões, todas elas surgiam ao mesmo tempo e nenhuma encontrava a resposta a que pertenciam, estas agitavam o interior de Anna como uma violenta tempestade no mar, que impiedosamente sempre arrasta os mais infelizes que se vêem obrigados a enfrenta-la, sabendo que será a única forma de chegarem a bom porto.

– Irás desculpar-me Anna, mas…

Subitamente a voz de Elsa pareceu penetrar naquele turbilhão confuso que era a sua mente e parecia querer, a qualquer custo, arrancá-la dali, para grande alívio de Anna que despertou por completo do seu torpor momentâneo, finalmente reencontrando a sua consciência e vendo que Kai já não estava ali junto a elas, supondo que este só poderia ter-se recolhido no interior do Palácio a caminho das suas outras tarefas diplomáticas.

O seu olhar focalizou-se numa Elsa que lhe sorria, mas Anna apercebeu-se de era um sorriso que não deixava transparecer genuína alegria. Sinceramente parecia-lhe mais que se assemelhava a um sorriso de preocupação. E não seria por menos… Elsa tinha agora nas mãos o destino do homem que não hesitara em querer tirar-lhe a vida, somente com o objectivo de ficar no seu lugar no trono. Uma pesada responsabilidade que implicaria medidas bem ponderadas e justas… não seria fácil encontrar uma punição que tivesse o peso equivalente ao acto de alta traição que o Príncipe cometera de forma tão insensata, e Elsa sabia disso. A sua linguagem corporal demonstrava o quanto o seu espírito estava ansioso, o quanto aguardava com algum receio, aquele momento que se aproximava cada vez mais de si, regredindo de minuto a minuto…

A irmã mais nova da Rainha negou repetidas vezes, permitindo que os seus lábios desenhassem um pequeno sorriso, apesar de este não encaixar de todo no seu estado de espírito. Sentiu que era apenas um fraco esboço que só com grande esforço da sua parte conseguia manter, porque na verdade, naquele momento, não lhe apetecia de todo sorrir... Mas fez os possíveis para que isso não transparecesse de forma nenhuma, para que a sua querida irmã mais velha não notasse que a sua condição era muito pior do que dava realmente a conhecer. Tentou convencê-la de que era completamente dispensável permanecer ali por muito mais tempo ao seu lado, relembrando-a de que tinha uma difícil tarefa á sua espera. E desta vez Elsa pareceu esboçar um sorriso totalmente diferente do anterior, este nasceu livre de sombras… Era muito mais natural, doce, meigo, fraternal, de um enorme amor que Anna sabia ser dirigido a si, porque era esse mesmo amor de irmã que sentia por Elsa. Apercebeu-se de que os braços da Rainha a cercavam mais uma vez, num abraço caloroso mas rápido que a própria pressa assim determinava e saiu silenciosamente da varanda para o interior do Palácio, perdendo-se aos poucos o som dos seus passos ritmados sobre o soalho e a figura vaporosa e elegante de Elsa foi-se desvanecendo á medida que se afastava.

Anna deixou-se tomar pelo fôlego de um longo suspiro. Finalmente e pela primeira vez estava sozinha, desde que se dera a alvorada daquela manhã ensolarada de Verão, e surpreendeu-se por conseguir encontrar naquela breve solidão o conforto que ansiava a largos minutos atrás. Deixou que o sorriso, o mesmo que se esforçara tanto para manter, se apaga-se aos poucos fazendo com que este deixasse um lugar vago, suficientemente amplo para que se conseguisse instalar aquela pequena e fina ruga de preocupação sobre a sua testa que só se conseguia igualar à melancolia, ambas suas companheiras fiéis, desde os acontecimentos passados no cais do porto de Arendelle. Ela sabia que era inútil tentar camuflar aqueles sentimentos, que apenas conseguiam espelhar confusão e fragilidade que praticamente eram impossíveis de esconder. Anna tinha quase a certeza de que a sua irmã encontrava-se consciente da sua condição actual, pois sabia que caíra na própria insensatez de se deixar denunciar assim que Elsa lhe perguntara se não deveria falar com o Kristoff, revelando mais do que gostaria e agora via-se na eminência de assumir abertamente os seus sentimentos influenciados por aquele estado de espírito opressor que a vergava de forma tão insensível. Mas como conseguiria explicar a Elsa que Kristoff não parecia estar inclinado a ama-la da mesma forma que ela o amava?

Anna virou-se novamente, ignorando deliberadamente o ambiente que fervilhava de vida nos corredores, nas ante-câmaras e em alguns aposentos reais. O som das vozes de todos os súbditos e cortesãos que davam a manifestar a sua presença naquela manhã no Palácio preenchia o ar com gargalhadas, conversas animadas e exclamações suficientemente audíveis que dava para entender perfeitamente que se referiam a todas as riquezas e obras de Arte que o Palácio de Arendelle, durante todos estes anos, tinha albergado. Obras maravilhosas e de enorme esplendor, possuidoras de um luxo tal que qualquer amante da beleza, no seu estado mais puro e elegância, acharia um crime perpétuo que todas estas obras não pudessem ver a luz do dia e receber todos os louvores a que tinham naturalmente direito.

Quantas vezes Anna ansiara por aqueles momentos, sonhando acordada ao imaginar as conversas que teria com todos aqueles que conheceria assim que os grandes portões fossem abertos, recebendo tudo o que o mundo exterior teria de excitante e maravilhoso para oferecer. Mas agora que estes mesmos acontecimentos tinham chegado, era quando ela, mais do que nunca, desejava afastar-se...

Inclinou-se sobre a varanda, apoiando firmemente os dois cotovelos sobre a superfície lisa e fria, dando por si a tentar imaginar como seria aquele momento que agora vivia se tudo entre si e o Kristoff não tivesse acontecido.

E se o barco onde os seus pais seguiam nunca tivesse sido engolido pelas ondas enormes e violentas que golpeavam o mar naquela noite agitada de tempestade? E se Elsa nunca tivesse subido ao trono de Arendelle? E se o Príncipe Hans nunca se tivesse deixado arrastar pelo seu desejo egoísta de possuir aquilo que não lhe pertencia? E se ela própria nunca tivesse ido atrás da sua irmã quando esta fugira, completamente em pânico, depois de um segundo entregue ao descontrolo e fazer-se descobrir o seu segredo em frente de muitos? E se o seu caminho nunca se tivesse cruzado com o de Kristoff na loja de Oaken?

Anna tentava visualizar o lado oposto de tudo o que já tinha decorrido até agora. Se nada disto se tivesse passado, será que estaria naquele preciso momento, debruçada sobre a balaustrada da grande varanda em frente dos Jardins Reais, consumindo-se em preocupação e angústia pela inofensiva capacidade de não conseguir descodificar reacções humanas? A Princesa levou as mãos ao rosto e suspirou mais uma vez, deixando-se mergulhar novamente na incerteza e na impotência de nada poder fazer para regredir no tempo e mudar tudo aquilo que não a fazia feliz no presente.

– Porque é que as coisas têm de ser tão complicadas?! – Murmurou para si mesma. – Seria tudo mais fácil se os sentimentos puros como a alegria, ou mesmo o amor se manifestassem de forma tão natural e simples como acontece com o processo que nos leva a respirar, a sorrir, a chorar…

Porque não poderia o amor ser simplesmente moldado conforme a vontade ardente de cada indivíduo?! Um amor sem quaisquer restrições negativas, crescendo livremente, galopando sem censuras, sem impedimentos, sem tristezas no coração de quem o alimenta fervorosamente dia após dia, esperando que este mesmo amor devolva em dobro o carinho e a atenção depositada sobre si mesmo, fazendo jorrar a alegria efusiva própria de alguém que se encontra apanhado nas teias de uma paixão arrebatadora…

Anna queria que o seu amor fosse assim, que a fizesse perder-se e sentir que valeria a pena vivenciar tal experiência com forte intensidade… Achara que Kristoff poderia ser a fonte de todas suas ânsias, dos seus suspiros libertados num abraço apertado, dos seus desejos que pediam silenciosamente um beijo sensual levando-a ao ténue limite que separava a plena consciência racional da loucura embriagante da paixão, mas agora… não tinha tanta certeza.

Deixou-se levar novamente pelo seu olhar azul e de natureza curiosa, que se focou sobre os enormes Jardins, estendendo-se amplamente na sua frente. Como estavam belos naquele dia de Verão… mas onde estaria a grande alegria que sentira cedo pela manhã assim que acordara e espreitara através das grandes janelas dos seus aposentos?!

Afastou-se por fim da balaustrada, rodeando o próprio corpo com os seus braços por breves segundos. E em passos vagarosos, desceu por uma das grandes escadarias laterais. Estas tinham sido construídas na forma de uma elegante curva em meia-lua, não muito acentuada, que ligavam a grande varanda aos Jardins Reais… ao descer todos aqueles degraus, era-se presenteado pela visão agradável de duas enormes e belas esculturas de mármore em cada ponta do corrimão das escadarias, moldadas sob a forma de mulheres com os seus cabelos esculpidos em penteados recheados de complexidade, revelando parcialmente a nudez dos seus corpos emaranhados em vestes transparentes que se colavam sensualmente às suas formas femininas, ali o Pathos dava o seu grito triunfante e reinava imperiosamente. Ambas as mulheres detinham por entre as mãos delicadas ânforas gregas de uma imponência impressionante, de onde brotavam as flores mais belas e raras que alguma vez Anna vira, caindo em fortes cascatas coloridas suspensas no ar, esperando para serem admiradas e dispostas a darem a provar o seu odor perfumado a quem por ali passasse.

Libertou-se daquele abraço solitário e elevando uma das mãos, foi tocando levemente com as pontas dos seus dedos sobre o corrimão á medida que ia descendo, degrau a degrau. Anna foi de encontro a uma das grandes alamedas em gravilha onde repousavam grandes bancos de pedra branca ornamentados com os mais belos e minuciosos pormenores, tornando assim bastante convidativo, a quem passasse por ali, que se sentasse para apreciar a vista panorâmica entregue ao olhar do seu visitante. Esta mesma grande alameda abria o seu caminho por entre os amplos parterres no estilo francês do século XVIII, com as suas sebes de buxos recortados e canteiros de flores geometrizados e bem cuidados, comandados pela engenhosa mão humana para que tomassem a forma de belos arabescos nos seus próprios pontos centrais.

Num passado longínquo, em 1662, um dos homens mais poderosos de toda a História da França, decidira escolher o local onde acolheria o Palácio dos seus sonhos, que se tornaria, posteriormente, no mais sumptuoso e maravilhoso de toda a Europa. Vendo que os seus arquitectos demonstravam forte oposição á sua vontade, negavam obedecer totalmente à própria vontade Rei, advertindo-o dos inconvenientes que poderiam surgir com a escolha daquele local pantanoso, este apenas mencionou: “A Natureza deve obedecer como os homens”. Haveria sempre quem achasse que o homem devia ser maior que a própria natureza, e a prova de que isso talvez fosse possível estava ali à sua frente. Não que achasse muito correcto que o ser humano chegasse ao ponto soberbo de tentar manipular totalmente a grandiosidade da natureza, (jamais alguém conseguiria fazê-lo sem receber as devidas consequências.) com o fim de criar maravilhas de tal dimensão, como eram os Jardins Reais do Reino exemplo disso… mas Anna amava tudo o que fosse belo aos seus olhos, por isso, não se importava de ser uma das grandes privilegiadas de ter aqueles Jardins como parte integrante do seu lar.

Para trás deixou a beleza estonteante das grandes escadarias e aproximou-se de um dos canteiros onde estavam plantadas as rosas que sempre foram da sua eleição…

As pétalas destas eram tingidas de vermelho escuro, que a fazia sempre lembrar-se dos grandes serões de Inverno, em que o seu pai sentava-se na grande poltrona de madeira embutida a folha de ouro e forrada com veludo verde musgo, e ela observava-o com tal admiração que dava por si a apreciar a forma como ele se perdia em pensamentos. O seu olhar fixo sobre o fogo crepitante da lareira, deixando que lhe bailasse por entre os dedos um copo de cristal italiano meio cheio do melhor vinho de Bourdoux… quando o seu pai se apercebia de que havia olhares fixos sobre si, interrompia aquela dança entre as suas mãos e o copo, sorrindo calorosamente para Anna, como só um pai poderia fazer para demonstrar que ama a sua filha. E por fim, levava o copo aos lábios silenciosamente sorvendo um pouco do Bourdoux, para pousa-lo depois sobre uma mesa e abrir os braços para receber a pequenina Princesa que dava gargalhadas de alegria...

Convencendo-se de que seria a melhor das formas de apaziguar todas as preocupações (ou pelo menos contrariando-as), a Princesa tentou encontrar parte da alegria matinal que perdera instantes antes, apreciando a delicadeza de cada rosa orvalhada e inalando o seu perfume delicado. Aproximando-se um pouco mais inclinou-se ligeiramente para que conseguisse tocar levemente com os dedos nas pétalas viçosas, mas assim que o fez uma nova visão do rosto tímido e sorridente de Kristoff veio-lhe aos pensamentos.

Anna deixou a sua mão estendida vacilar instantaneamente, sentindo-se afundar novamente naquela recordação. Qualquer objecto, qualquer palavra, qualquer acção… tudo conseguia ter a capacidade de a arrastar e de fazê-la reviver um milhão de sensações…

*Dias antes – No Cais do Porto de Arendelle*

Jamais julgara sentir-se viva daquela forma, jamais sonhara que poderia experienciar aquela sensação que lhe embrulhava o estômago, como se subitamente tivesse sido invadida por um batalhão de triliões de borboletas… As suas pernas fraquejaram, um derradeiro arrepio subiu-lhe pelas costas e por segundos (que lhe pareceram ser

eternos minutos) Anna sentiu-se completamente perdida naqueles braços musculados…

Sem qualquer pré-aviso, Kristoff beijou Anna nos lábios com ardente paixão.

Sentiu o toque suave daqueles lábios nos seus, que se movimentaram vagarosamente a princípio, como era próprio da sua natural timidez… como se tomasse um breve momento para que se encontrasse a si mesmo e se apercebesse da verdadeira dimensão do seu acto, que claramente tinha sido desencadeado pelo impulso.

Anna sentiu aqueles braços fortes estreitarem-na mais, levando-a de encontro ao corpo de Kristoff que clamava silenciosamente por uma maior proximidade. Rapidamente a urgência manifestou-se e os seus lábios sentiram a sede ardente dos dele, procurando alimentar o desejo que o consumia a olhos vistos. O beijo intensificou-se e a Princesa rodeou o pescoço dele com os seus braços, entregando-se de corpo e alma àquele acto de amor cego, que o fez percorrer com as mãos a feminilidade do seu corpo, levando-o a suspirar profundamente.

Então era aquilo a que chamavam de Amor… era indescritível, arrebatador, colossal!

O êxtase de Kristoff levou-o a mordiscar o lábio inferior de Anna num discreto atrevimento e volúpia que a surpreendeu, entregando-a à vontade de a fazer suplicar por mais e mais.

Mas assim como tinha começado, também terminou da mesma forma… inesperadamente. Kristoff libertou-se subitamente da embriaguez daquele beijo e afastou-se de Anna, deixando-a inexplicavelmente desamparada e confusa.

– Desculpa Anna… - Gaguejou Kristoff, passando as mãos pelos cabelos loiros, visivelmente nervoso, sendo incapaz de olhar para o rosto da Princesa. – Eu peço imensa desculpa, eu… eu não queria…

– Porque haveria a necessidade de pedires desculpa?! – Exclamou Anna, arregalando os seus olhos. – Nada do que acabámos de fazer… ou o que sentimos, deve ser desculpado Kristoff.

Anna tentou aproximar-se novamente dele, mas este colocou as suas mãos á frente, num gesto de impedimento, demonstrando decididamente que não queria que a Princesa desse mais um passo que fosse na sua direcção. A confusão cresceu assustadoramente no espírito de Anna, não conseguia compreender o que se estava a desenrolar naquele momento. Kristoff continuou com o seu olhar fixo nas pedras da calçada do Cais do Porto.

– Nada disto deveria ter acontecido… - Respondeu-lhe. – Eu não… eu não deveria ter-te beijado.

– Kristoff… - Anna murmurou, apercebendo-se de que as suas palavras saíam num fio de voz e o seu rosto foi encoberto pelas sombras de uma tristeza vinda do próprio choque eminente que sofrera. – Tu beijaste-me e… eu julguei que… pudesses sentir algo…

– Não. – Interrompeu-a num gesto de negação. – Nada disto deveria ter acontecido, eu… precipitei-me só isso… Desculpa, eu não posso.

Kristoff saiu do Cais a correr, deixando para trás uma Anna que se afundara repentinamente em lágrimas silenciosas, devido á confusão e á insegura. Ela tinha a certeza de que algo muito errado tinha acabado de acontecer entre ambos.

*Presente - Nos Jardins Reais do Palácio*

Por maior que fosse insana esta perspectiva, pareceu-lhe que a grave situação pendente do Príncipe Hans assemelhava-se uma mera brincadeira de crianças, comparada com aquilo. Julgara que nada poderia ser pior do que morrer aos poucos, sabendo que a vida escorria-lhe por entre os dedos com tamanha destreza, numa contagem decrescente, tendo o seu ponto final quando o gelo retido no coração alastraria e ocuparia o resto do seu corpo para sempre.
Mas acabara por descobrir que havia algo bem pior do que morrer na forma de uma escultura de gelo… um Amor não correspondido.

Uma lágrima soltou-se discretamente, deslizando sobre o rosto… Anna amava, amava de uma forma intensa e viva, mas não sabia como tornar esse mesmo amor recíproco, não sabia como encontrar uma forma de fazer Kristoff voltar e explicar-lhe as razões que o levara a reagir de forma tão negativa ao beijo que tinham trocado pela derradeira primeira vez.

– Anna…

Quando ouviu aquela voz a chamar por si, a Princesa congelou ali mesmo. Conhecia bem demais a voz doce que solicitava naquele momento permissão pela sua atenção. Por segundos, o receio tomou conta de si, e se ela estivesse apenas a ouvir vozes, fruto da sua forte vontade de reencontrar o homem que se convertera no Príncipe do seu coração e dos seus sonhos?! Mas logo a sua curiosidade, que conseguia sempre ser maior em ocasiões como aquela, levou-a a virar-se, focando o seu olhar na direcção de onde tinha vindo a voz que tinha pronunciado o seu primeiro nome.

Assim que o fez sentiu que o seu coração deu um enorme salto, para depois bater freneticamente sobre o seu peito, dando por si a tremer na sua agitação e um enorme sorriso aflorar-lhe aos lábios sem que realmente desse por isso.

Era Kristoff, do outro lado oposto do parterre, que a chamava…


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Notas finais do capítulo

Uiiii! As emoções estão à flor da pele, o Kristoff apareceu sem que Anna estivesse à espera! E agora, o que será que irá acontecer?! (Será escusado dizer que eu fiz isto de propósito, não é? kkkkkkk) O que é que acharam? Por favor, deixem os vossos comentários (Aceito conselhos e criticas construtivas) :3
Bem a razão pela qual eu demorei tanto a postar este 2º capítulo foi porque eu tenho tido imensoooo trabalho, e por isso eu só tinha a oportunidade de escrever quando ficava com algum tempo livre. Mas não se preocupem, o meu entusiasmado pela Fic continua aqui bem presente. Quero agradecer pelos novos e maravilhosos comentários que a LUMINÁRIA, a AMORITA, o MAGUILASAN , a QUEEN e a DANYELLAROMANOFF, deixaram-me! (AMEI-OS! Obrigada!!!), acreditem, são motivos suficientes para me fazer ter mais empenho nesta Fic, tudo por vocês! Até ao próximo capítulo! :*



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