– O quê ? -eu digo- Mas, esse não era o acordo, o combinado era um ano Tom, isso não pode acontecer. Eu tenho uma vida...

– Você me parece muito irritada Larissa -ele diz- Quer dizer, eu também fiquei muito irritado quando descobri, mas não tanto, não tive essa reação... Não consigo entender o por que essa reação. É tão ruim assim ficar mais um ano comigo, Larissa ?

Ele parecia realmente magoado comigo, tentei revisar minhas próprias palavras pra saber se havia dito algo de errado ou que poderia o deixar com tanta raiva, mas eu não consegui encontrar nada que o magoaria nesse ponto. Ou algo que não me magoaria, afinal, eu estava vendo do meu ponto de vista, não do dele, não sei até onde é o seu limite.

–Essa não é a questão principal, Tom -eu digo- Eu tenho uma vida, quero fazer uma faculdade...

–Eu não a impediria de fazer a sua faculdade, sei que você tem seus sonhos, assim como eu tenho os meus -ele diz- Eu só espero não estar dando a aparência que vou te impedir de viver a sua própria vida. Afinal, sei que você é independente. Eu apoio que você faça a sua faculdade, vai ser bom pra você não passar o tempo aqui, nessa casa enorme e sozinha, acabaria ficando entediada. Sei que é tão complicado pra você quanto é pra mim, e sei também que você sabe que não precisa da minha permissão pra fazer as suas coisas.

Perfeito, agora eu definitivamente me sinto uma idiota, eu só estava procrastinado e agora meu marido pensa que sou completamente submissa e que vou esperá-lo pra tudo. Definitivamente, Tom deve me achar uma adolescente idiota.

–Não Tom, não é isso -eu digo- Sabe, eu ainda estou procurando uma boa faculdade. Não se preocupe, eu não sou desse tipo de mulher que espera que o marido mande uma autorização pra tudo que queira fazer. Esse não faz eu meu tipo.

–Eu sei que não faz -ele sorri- Inclusive, eu achei que esse seria uma das suas características antes que o casamento acontecesse.

Olho pra ele, acabo de descobrir que meu marido também imaginava como eu seria antes do casamento e depois dessa pista, ele também deveria me imaginar como uma louca desesperada pra casar.

–Ah Tom -eu sorrio- Ainda temos muito pra conversar sobre o que pensávamos um sobre o outro antes do casamento.

Nós gargalhamos. É tão bom ouvir sua gargalhada, é melodiosa, me lembra da casa que eu idealizava. É lindo. É bom de se ouvir.

–Afinal -ele diz- Suponho que você queira saber o por que do aumento do contrato ?

–Ah -eu digo- Sim, me fale.

–O fato é que, suponho que você saiba que nosso casamento ocorreu para aumentar a riqueza da nossa família ?

Eu assinto

–Então -ele diz- Para conseguirmos o que queremos, no caso, o aumento do patrimônio das duas famílias precisamos de mais um pouco de tempo, e as nossa famílias perceberam isso um pouco tarde demais, ou não, afinal eles podiam muito bem só ter nos falado sobre isso agora, pois sabiam que dois anos é muito tempo. Mas isso não vem ao caso agora. Assim, os nossos pais assinaram um novo acordo que determinava mais um ano no nosso casamento.

Outro ponto em que somos parecidos. Tom também sabe do que nossos pais são capazes. Eles sabem que eles podem nos manipular, como estão fazendo agora.

–Confuso- eu digo- Mas é a cara da minha família fazer isso.

–Acredite -ele diz, sorrindo- Também combina com a minha.

Nós gargalhamos mais um pouco.

–Afinal -eu digo- Parece que elas se completam.

Ele sorri

–Está ótima essa nossa conversa Larissa -ele diz- Mas eu preciso voltar para o meu escritório.

Eu assinto

–Eu vou pro meu quarto -eu digo- Caso precise de mim, já sabe onde me procurar.

E dizendo isso, eu subo.

Conheci muito mais sobre meu marido nesses minutos de conversa do que nesse tempo que o imaginei. Sei que ele sabe sobre os escrúpulos dos nossos pais e isso me deixa muito feliz. Significa que ele deve ter algum desprezo sobre o modo como nos tratam e mesmo que não tenha, ele sabe do que são capazes. Além, que finalmente terei alguém pra compartilhar a raiva.

Agora, também sei que ele me imaginava antes de nos casarmos. E surge a dúvida, como ele me imaginava ? Será que me imaginava tão ruim quanto eu o imaginava ? As possibilidades são imensas e nem uma me parece boa, afinal ele já confessou que achava que eu seria dependente.

Tom, que cada vez mais me surpreende com suas atitudes e suas belas gargalhadas, sem falar nesse corpo... Por que é impossível não notar o corpo de um homem daqueles... Ah Larissa, belos pensamentos, mas não deixe eles invadirem a sua cabeça, você tem foco.

Ouço baterem na porta e me pergunto quem seria, afinal, nesse tempo todo na casa, ainda não bateram na porta do meu quarto.

–Pode entrar !

Abrem a pota e vejo Tom colocar a cabeça dentro do meu quarto.

–Quer jantar comigo hoje à noite ?