Se eu gostava de estar ali? Definitivamente não, mas ela era a melhor pessoa a quem eu poderia recorrer. Por algum motivo ela sabia acontecimentos que eu duvido até que Sebastian saiba. A mansão tinha um cheiro estranho, estava totalmente limpa, mas o cheiro te dava uma sensação de estar mexendo em caixas de porão.

Para minha alegria, Kokoa havia calado a boca. Não estava com vontade de atrair mais criaturas, aquilo era desgastante. Chegamos em frente a uma porta, Cantebury entrou silenciosamente e fechou a porta. Segundos depois ele abriu a porta para nós. O quarto era de um tamanho médio, estava mal iluminado, tinha algumas velas espalhadas. Nas paredes alguns quadros que mal se enxergava, e uma estante quase vazia. No meio da sala tinha um divã, e lá estava ela, com os mesmos cabelos claros, as marcas negras no rosto, o corpete, a cinta de liga preta. Hannah não mudara nada nestes últimos anos, nenhum de nós mudou. Entretanto, o mais peculiar ficava na parede atrás dela. Pendurado em uma teia, aquilo chegava a ser irônico, estava o corpo morto de Claude. Ela havia arranjado um jeito de fazer com que ele não apodrecesse, ele continuava com a roupa de mordomo, parece que ela realmente queria imortalizar aquela família.

– Ora ora ora, Bocchan. Suspirei. Ela ainda me chamava daquele jeito. Parece que você anda bem acompanhado.

– Não estou aqui para isso. E pare de fazer suposições do tipo.

Ela riu consigo baixinho.

– Eu imagino. Ela fez um gesto para que eu sentasse ao lado dela. Venha aqui. Garotas podem se sentar. Hannah gesticulou para as poltronas ligeiramente empoeiradas no canto da sala. Conte tudo Bocchan.

Enquanto contava o que havia acontecido, foi servido chá para as garotas. Teve alguns momentos em que tive que me segurar para não rir das garotas encarando Claude.

– Eu achei que você pudesse nos dar alguma informação. Eu terminei de explicar tudo a ela.

Nessa altura eu já estava sentado no colo dela. Se antes algumas pessoas me olhavam como um ursinho de pelúcia, de uns tempos pra cá algumas me tratavam assim. Algumas poucas, e Hannah era uma delas.

– Bem, que eu saiba alguns youkais andam bem sumidos. Alguns perigosos.

– Como por exemplo?

– Hum... alguns súcubos, tinha uma bagunça com cães infernais, até pensei que seu cachorrinho estava no meio. Ah... algumas pessoas falaram que viram aquele bruxo... Qual mesmo o nome dele? Hector... Hector... Ah sim. Hector Folter.

Assim que ela falou aquele nome, ouvimos um barulho de porcelana quebrando. Kokoa estava de pé, a xicara no chão a sua frente, em pedaços. O olhar dela era um misto de preocupação, pavor e raiva. Ela estava com a mão perto de Kou, a mão dela tremia, como se ela estivesse se segurando para não pegar o morcego e descarregar a raiva em alguém. Ririchiyo estava totalmente assustada ao lado dela.

– Kokoa? Ela perguntou.

– Repita esse nome. Kokoa falava ligeiramente baixo. Mas logo estava gritando. Repita esse nome.

– Hector Folter. Hannah falou com a maior naturalidade.

Ririchiyo se recompôs do susto e se levantou. Ela ficou de frente para Kokoa, baixou a mão dela levemente e colocou uma das mãos no ombro dela. Ririchiyo olhava de modo firme para Kokoa, até agora não tinha visto ela ficar tão séria.

– Kokoa, você o conhece?

A vampira ficou calada, seus olhos não focavam em nada, encaravam vazio.

– Kokoa. Ririchiyo impôs a voz dela e sacudiu um pouco os ombros da outra.

– Onee-sama. Minha onee-sama.

– Kokoa, se você não ajudar não conseguiremos ajudar sua irmã. Seja um pouco útil. Você conhece esse bruxo?

A ruiva piscou algumas vezes. Voltou a ter aquela postura arrogante, apoiando o peso do corpo sobre a perna esquerda, mão direita na cintura, ela tirou a mão da morena de seu ombro.

– Se eu conheço Hector Folter. O último descendentes dos Folters? A família de bruxos que caiu em desgraça e pos a culpa na minha? A família que por diversas gerações tentou assassinar membros da minha? Talvez eu conheça os Folter.

Ririchiyo suspirou e revirou os olhos. Então um bruxo com sede de vingança conseguiu de certo modo capturar três criaturas muito poderosas. Só precisávamos descobrir onde ele estava, qual feitiço ele usaria, e tentar saber quanto tempo ainda tínhamos.