Ainda fiquei uns cinco minutos com meus olhos depois de ter acordado, como se o que tivesse acontecido ainda fosse um sonho. Espreguicei-me lentamente e levantei da cama para acender a luz daquele quarto. O quarto era bem simples, apenas uma cama de solteiro, um criado-mudo e um guarda-roupa. Havia um pequeno quadro com um Labrador pintado, ri quando pensei que ele me lembrava do meu namorado. Ah sim, ele estava no quarto ao lado, estávamos de “férias” e simplesmente decidimos passar uns dias sozinhos. Claro que eu demorei uns dois dias para aceitar. Estávamos juntos há dois anos e eu ainda tinha dificuldades para me expressar de alguns modos.

Troquei minha roupa, colocando minha habitual camisa branca, o vestido preto como minhas meias e meus sapatos. Penteei meus cabelos e escovei meus dentes, quando abri a janela me assustei, o Sol já estava alto, e raramente eu ficava tanto tempo dormindo.

Saí do meu quarto e o tranquei, após verificar se estava tudo organizado. Fui até o quarto do Miketsukami-kun. Esperei alguns minutos para bater. Será que ele estava acordado? Será que ficou todo esse tempo me esperando? Será que ele já saiu por eu ainda não ter acordado? Balancei a cabeça, eu tinha que parar em pensar nessas coisas. Bati na porta algumas vezes, mas ele não respondia, foi quando percebi que a porta estava aberta. Eu girei a maçaneta, mas logo fui pega em minhas suposições de novo. E se ele estiver dormindo? Será que eu acordo ele? E se ele estiver sem camisa? O que eu faço? Devo ter ficado uns dois minutos só pensando em suposições aleatórias, antes de abrir a porta me assustar. O quarto estava destruído.

As paredes estavam marcadas com um vermelho escuro. Sangue seco? Uma das portas do guarda-roupa estava no chão, junto com os lençóis e boa parte do enchimento do colchão. Andei com cuidado pelo quarto, havia alguns cortes longos pelo quarto e logo reconheci o corte da espada do Miketsukami. Como tundo aquilo acontecera? Como eu não ouvira nada? Por impulso, peguei meu celular e tentei ligar para ele. Minhas esperançasse acabaram quando reconheci o aparelho, jogado no chão, e sujo de sangue.

– Mi- Miketsukami-kun? Eu chamei seu nome em vão. Mas o que será que tinha acontecido?

Fui correndo a recepção do hotel e perguntei pelo rapaz que me acompanhara na noite anterior. A atendente não soube responder se ele passara por ai ou não. Eu fui correndo para a rua, meu coração batia rápido. Só tinha certeza de duas coisas: Um monstro o levara, com toda a certeza. E eu iria encontra-lo.

Enquanto corria chamava pelo nome dele, sabia que era inútil, mas talvez ele não estivesse tão longe.

– Miketsukami-kun! Miketsukami-kun! Mike… Ai!

Acabei trombando com alguém. Apenas enxerguei um monte de cabelos ruivos, num tom escandaloso quase laranja.

– É tão difícil assim olhar por onde anda idiota! – A garota me disse e se virou. Parecia ter mais ou menos a minha idade. Ela tinha os cabelos presos dos lados, usava uma espécie de uniforme escolar e... Espera. Tinha um morcego no ombro dela. Antes que eu falasse algo ela simplesmente farejou o ar. – Você nem tenta esconder seu lado demoníaco não? – Ela me encarou com seus olhos verdes brilhantes.

No momento eu mal fazia ideia de quem era aquela pessoa. Mas algo me dizia que nosso encontro não fora por acaso.