A noite de Londres era fria, não que isso fosse incomum, ou me incomodasse. Mas de algum modo essas noites sempre eram frias. Já fazia algum tempo que eu não visitava aquele ponto, mas meu corpo já estava em um estado de abstinência.

Não demorei muito para acha-las, duas garotas que, pelo modo como andavam depressa, elas deveriam estar voltando para casa de alguma festa que foram sem os pais saberem. Isso era tão comum entre os jovens de hoje. Ambas eram bem magras e baixas, elas usavam coturno, couro, cabelos coloridos, roupas rasgadas. Surpreendia-me o fato delas pagarem tanto por roupas rasgadas. Mas para todos os efeitos, eu estava vestido de forma parecida, o jeans preto, coturno, jaqueta de couro e meu tapa-olho preto.

Aproximei-me silenciosamente, tanto que cheguei a assustá-las um pouco.

- Com licença, vocês poderiam me ajudar. – Tudo era natural, meu olhar perdido, a voz de uma criança de treze anos, era tudo o que elas viam o que elas sempre viam. – Eu me perdi do meu irmão, e a bateria do meu celular acabou.

Quase que imediatamente elas concordaram, elas sempre concordavam. Andamos um pouco, ás vezes perguntava algo para elas, elas respondiam cegamente, e apenas me seguiam.

Chegamos à frente de um beco, e lá estava ele. Até ouvi as garotas suspirarem, como sempre faziam, mas era algo automático ao se fazer quando olhavam para ele. Éramos totalmente diferentes, mas possuíamos os mesmos olhos vermelhos, o mesmo cabelo preto e o mesmo tom hipnotizante na voz.

- Francamente – Ele disse com sua voz aveludada – Como pode ser tão fácil perder você? E ainda teve que importunar duas moças

- Me desculpe. Eu disse, fingindo estar envergonhado.

- N-Não foi nada. – uma das garotas falou. – Ele não incomodou ninguém.

- Acho que posso procurar uma forma de retribuir vocês. Seu olhar havia mudado de irmão preocupado para predador sedento.

A garota que até agora estava calada, percebeu que havia algo de errado, e agarrou o braço da amiga. Mas era tarde demais, elas mal tiveram tempo para gritar. Em poucos segundos havia um portal se abrindo aos meus pés. Elas sempre caiam em minha conversa, elas sempre se encantavam por ele, e facilmente suas almas eram devoradas.

- Vamos logo Sebastian. Temos mais o que fazer antes que aqueles seres irritantes venham atrás de nós.

- Yes my Lord. Ele disse como sempre.

As noites que saia para caçar eram sempre monótonas, as respostas de Sebastian eram sempre as mesmas, a eternidade pode parecer um sonho, mas também carrega uma maldição. De qualquer modo, eu nunca iria adivinhar que, a partir daquele dia, eu iria desejar tanto minha vida monótona de volta.