— Você ficou louco? — Lily apertou o pano úmido com mais força no machucado que sangrava na testa de Nico. Ele gemeu de dor, mas ela continuou. — Onde estava com a cabeça?

Desde que chegaram ao apartamento de Nico, o garoto não havia falado nenhuma palavra. Parecia estar em transe, e apenas obedecia o que Olivia o mandava fazer. Ele estava sentado sobre a bancada da cozinha enquanto Lily cuidava de seus ferimentos no rosto. Ela estava entre as pernas do garoto, de modo que seus corpos ficavam muito próximos.

— Que parte do não arrume confusão você não entendeu?

Nico abaixou o olhar e suspirou. Seus cabelos ainda estavam molhados de suor. A camiseta preta do garoto estava colada ao corpo. Lily se sentia desconcertada perante ele daquela forma. Ele estava extremamente sexy.

Ela terminou de limpar o machucado da testa em silêncio. Nico a encarava concentrado, mas parecia estar distante. Ele olhava cada detalhe do rosto dela, o que só estava a deixando mais envergonhada.

— Você me deixou preocupada — ela disse, passando o pano delicadamente sobre o ferimento no canto direito do lábio inferior dele. Sua boca estava inchada e rosada.

— Não achou que eu fosse perder para aquele idiota, achou? — Seus lábios se contorceram em um pequeno sorriso dolorido. Era a primeira vez que ele falava.

— Eu achei que você fosse matá-lo, Nico — ela abaixou o pano, o encarando, séria. — Você estava descontrolado. Se tivesse acontecido algo mais grave, eu... — ela parou de falar, estremecendo ao pensar na hipótese. Desviou o olhar para suas mãos, que ainda tremiam um pouco.

Nico segurou delicadamente seu queixo, obrigando-a a olhar para ele.

— Tudo o que eu fiz, eu fiz por você — ele sorriu. Seus rostos estavam muito próximos. — Quando Matthew me viu, começou a me ameaçar. Quando eu falei que estávamos no acampamento para pegar suas coisas, ele surtou. Disse que não deixaria você ir, e que iria convencê-la a ficar. Disse mais um monte de baboseiras que eu não dei a mínima. Mas quando ele disse que você era dele, eu não aguentei.

Lily se afastou, sentindo a raiva crescer em seu peito. Raiva de Matthew por achar que ele ainda tinha alguma autoridade sobre ela e raiva de Nico por achar que ela não sabia se cuidar. Aquela luta havia sido ridiculamente desnecessária.

— E o que você achou? — Ela jogou o pano no peito do garoto, que a encarou assustado, sem entender. — Que eu seria o prêmio? Quem ganhar a luta fica a donzela indefesa! — Ela berrou, fazendo uma voz engraçada. Quando disse "donzela indefesa" fez uma pequena reverência com um vestido imaginário. Sentia seus olhos marejarem de raiva.

— Olivia, para! — Nico gritou, indignado, levantando da bancada e a segurando pelos ombros. — Eu estava apenas te defendendo!

— Eu não preciso que me defendam, di Angelo — ela falou pausadamente, mas ainda berrando. — Quando você vai entender isso?

Lily mexeu os braços fazendo com que Nico a soltasse. Passou por ele batendo seus ombros e caminhou com passos pesados em direção ao quarto.

Ela abriu o guarda roupa e jogou uma toalha branca para Nico, que estava na porta, a olhando indignado.

— Olivia Smith! Você entendeu tudo errado! — Ele gritou, balançando freneticamente as mãos.

— Eu ouvi muito bem você dizendo “ela é minha” enquanto vocês brigavam, Nico! — Ela gritou, tão alto quanto ele. — Eu não sou sua propriedade!

— Eu nunca disse que era! — Ele arregalou os olhos.

— Ah, não — Olivia riu ironicamente. — Não se faça de idiota!

— Eu só queria te defender! E ele estava merecendo aquilo!

Olivia o olhou com raiva. Não queria que Nico tivesse arrumado uma briga, por mais que Matthew houvesse provocado aquilo. Ela respirou fundo e segurou Nico pelos ombros, o obrigando a se virar e empurrando-o para fora do quarto.

— Vá tomar um banho — ela o empurrou até o banheiro. Ele não protestou.

Eles pararam em frente ao espelho, e um momento de silêncio se passou. Lily ainda segurava os braços do garoto enquanto eles se encaravam através do espelho. Ao lado dele, ela era pequena. Pelo menos 10 centímetros mais baixa. Ele estava com a aparência cansada, e seu olhar penetrante estava sobre o rosto de Lily, que não estava muito melhor, com os cabelos desgrenhados como um ninho de passarinhos.

Quando Lily finalmente conseguiu sair de seu transe, se afastou de Nico desviando o olhar. Sentiu seus dedos da mão direita molhados. Quando os olhou, viu um líquido vermelho e pegajoso se espalhando por sua mão. Levantou o olhar para Nico, assustada.

— O que é isso?

— Não é nada — Nico suspirou. — Apenas um machucado de batalha — forçou um sorriso.

— Deixe-me ver — ela pediu, cruzando os braços.

— Olivia…

— Deixe-me ver — ela o interrompeu, repetindo com mais dureza. Tinha muito sangue, ela precisava examinar.

Nico tirou a camiseta preta, exibindo seu corpo. Não era a primeira vez que Lily o via sem camisa, mas não conseguia deixar de ficar desconcertada. Seu corpo era definido, mas não exageradamente, o que Lily achava perfeito. Ela mordeu o lábio inferior, tentando conter seus pensamentos indecentes. Nico percebeu, pois sorriu. Se virou e ficou de frente para ela. Estavam muito próximos. Olivia sabia que estava com a boca entreaberta, quase babando, mas não conseguia evitar. Ela passou os dedos delicadamente pelo machucado dele. Era um corte profundo, feito pela lâmina afiada uma espada. Ela franziu o cenho, sentindo raiva de Matt no mesmo momento.

— Temos que cuidar disso — ela o olhou, a voz soando preocupada. — Pode infeccionar.

— Eu estou bem — Nico fez careta.

— Nico di Angelo — Olivia o puxou pela mão de volta a cozinha, o obrigando a sentar novamente na bancada. Ele tentou protestar, mas ela não deu ouvidos.

— Eu posso comer ambrósia. Tenho um pequeno estoque no armário. Não precisa se preocupar — ele a olhou, tentando convencê-la a deixar aquilo para lá. Mas ela não iria deixar.

— Não precisa gastar sua ambrósia com isso, Nico — ela sorriu, enquanto limpava delicadamente o machucado com o pano úmido. — Ambrósia é apenas para casos graves.

Nico revirou os olhos. Lily se concentrou no corte, mordendo o lábio. Ela podia sentir o olhar do filho de Hades sobre ela. De vez em quando ela desviava sem querer o olhar para o corpo dele, mas logo retomava a atenção para o ferimento.

Quando terminou de limpar o sangue, Lily amarrou o pano com força sobre o machucado, e Nico fez uma careta de dor.

— Para quê isso? — Ele perguntou sem entender o motivo pelo qual ela amarrara o pano no braço dele. Lily sorriu, divertida com a curiosidade do garoto.

— Sabe, os filhos de Apolo não são tão inúteis quanto parecem. — Nico fez uma careta pelo mistério que Olivia estava fazendo. — Agora feche os olhos.

Ele ergueu uma sobrancelha, desconfiado. Quando Lily repetiu o comando pela segunda vez, ele obedeceu. Ela também fechou os olhos e se concentrou, visualizando mentalmente o corte. Fez uma careta com o pensamento; era um corte profundo. Pôs uma mão sobre o pano e recitou algumas palavras em grego. Ela sabia que Nico estava espiando, mas não se importou. Sentiu um puxão no pé da barriga, perto de seu estômago. Seus poderes de filha de Apolo estavam entrando em ação.

— Ouch! — Nico disse, provavelmente sentindo um formigamento estranho em seu braço, seguido por uma queimação. Ele agarrou o pulso de Olivia, mas ela não se mexeu, sequer abriu seus olhos. Precisava continuar concentrada para terminar o trabalho.

Depois de alguns minutos recitando algumas palavras em grego, ela abriu os olhos. Nico a encarava de olhos arregalados. Ela sorriu e desamarrou o pano, revelando uma cicatriz clara onde antes havia um corte um profundo.

Lily sentiu os músculos de Nico ficarem rígidos. Ele estava assustado.

— Mas o quê...?

— Truque dos filhos de Apolo — ela sorriu, repetindo as exatas palavras que Nico havia dito quando ela perguntara como vieram parar em seu apartamento, no 4 de julho.

Nico sorriu olhando para seu braço. Ele parecia satisfeito, talvez orgulhoso.

— Isso ficou ótimo — ele balançou o braço. — Obrigado.

— Estava apenas retribuindo o favor — ela deu de ombros. Nico fechou o sorriso, sem entender.

— Do que está falando?

— Como você me encontrou? — Lily perguntou, respondendo a pergunta dele. — Você sabe… A empousa. Depois daquele dia, nós… Bem, nós apenas brigamos. As coisas não ficaram muito bem esclarecidas. Eu não te agradeci como deveria ter agradecido. Eu estava perdida. Eu não sei como, mas você me achou. Você… me salvou.

Nico sorriu. Ele envolveu a cintura de Olivia em seus braços, a obrigando a ficar mais perto dele entre as suas pernas. Ela sentiu uma corrente elétrica percorrer seu corpo desde onde as mãos do garoto a seguravam até o ultimo fio de cabelo dela. Sabia que deveria estar mais vermelha do que nunca. Nico tirou uma das mãos de sua cintura para tirar o cabelo de Olivia que caia em seu rosto. Ela não se moveu.

Ele segurou a nuca dela, colando suas testas. Olivia fechou os olhos e respirou fundo. Sua respiração soara trêmula.

Seus lábios se tocaram e, mais uma vez, Lily se sentiu fora de si. O beijo, lento e calmo, foi acelerando aos poucos, ficando cada vez mais intenso. Nico explorava a boca de Olivia com vontade, segurando e apertando os cabelos dela. Ela arranhava de leve as costas nuas dele.

Mas, quando Nico abaixou a mão que estava na cintura de Lily e a repousou no bolso da calça da garota apertando sua bunda de leve, ela tomou um choque de realidade, compreendendo o que ele queria. Se ela queria aquilo? No fundo, sabia que era o que mais queria. Mas aquilo a deixava nervosa. Não sabia se estava pronta. Ela se afastou, pegando a toalha branca que Nico havia largado na bancada e empurrando contra o peito dele, sem encará-lo.

— O quê? — Ele perguntou, olhando com uma expressão azeda para ela.

— Você devia ir tomar banho — Lily colocou uma mexa do cabelo atrás da orelha, tentando se recompor. Os lábios de Nico estavam ainda mais rosados por causa do beijo, o que o deixava ainda mais tentador. Mas Lily podia resistir. Ela tinha que resistir.

Ele se levantou da bancada, ainda muito próximo dela. Ela podia sentir o calor que o corpo dele emanava. Ele segurou o queixo dela a obrigando a olhar para ele. Ele aproximou seus rostos e Lily fechou os olhos, tentando ao máximo se controlar. Nico mordeu o lábio inferior dela, o puxando lentamente. Ela sentiu calafrios onde não deveria ter sentido e teve que se segurar para não voltar a beijá-lo. Ele sorriu e se afastou, sabendo o efeito que havia obtido nela. Era isso o que ele queria, provocá-la.

Lily ficou parada, tentando controlar seu próprio corpo, passando a língua de leve nos lábios sentindo o gosto da boca dele. Deuses, ela pensou, assim ele vai me enlouquecer cedo.

Ela ouviu o barulho do chuveiro e respirou fundo, recobrando consciência.