Mais um treino rotineiro de Touou Gakuen e novamente, o moreno não estava presente. Não era uma surpresa o fato de Aomine Daiki não comparecer aos compromissos da equipe, senão aos jogos que o interessavam, mas a gerente sentia falta de vê-lo jogando com paixão e um sorriso no rosto. Só que o Ás era uma pessoa completamente diferente agora, toda excitação que sentia pelo basquete havia se esvaído uma vez que ele não encontrava o que mais procurava: um oponente a sua altura, que fosse um desafio – quanto mais habilidoso era o adversário, mais forte o camisa cinco se tornava. Mas isso não acontecia. Quando sabiam que o moreno iria participar da partida, os jogadores esmoreciam. E por sempre vencer, o jogo que ele mais amava se tornou chato e tedioso.

O único que pode me derrotar... Sou eu mesmo.

E aquela era verdade absoluta dele, e por isso não podia ser contrariado. E por ser o melhor jogador, suas exigências eram cumpridas no clube de basquete da academia. E uma delas era não ser obrigado a treinar. Momoi não concordava com isso, mas quem comandava o time era Harasawa Katsunori e se ele tinha aceitado, não havia nada que ela poderia fazer – senão acatar também. Achava um verdadeiro desperdício o fato dele não interagir com os outros ou se exercitar, mas já tinha a resposta do moreno decorada em sua mente; se ele treinasse, se tornaria ainda mais forte e seu poder ainda mais esmagador.

Porque ele era o marcador imparável, dono de um estilo livre de basquete e possuía instinto animal despertado pela Zone Play.

De todos os milagres, Aomine era o único cuja habilidade não tinha limites. Sua limitação era apenas o preparo físico que ainda não estava pronto para todo o poderio que ele tinha para mostrar. Sem contar que ele nunca havia jogado no auge de seus 100%. E era alvo constante das análises críticas de Satsuki que sempre se surpreendia com os dados que recolhia do moreno.

Ele era implacável, insuperável e quase perfeito.

Perdida em pensamentos acerca do potencial do Ás de sua equipe, a rosada retornava para sua sala após o treino que sempre ocorria após as aulas e se assustou ao vê-lo debruçado sobre uma das mesas de sua classe; se aproximou lentamente da cadeira onde ele estava e se deparou com as feições tranqüilas do amigo de infância. Com os braços cruzados sobre a mesa e cabeça apoiada sobre eles, ele ressonava suavemente – aparentemente cochilou enquanto a esperava, já que sempre voltavam para casa juntos.

Um sorriso gracioso adornou os lábios carnudos da gerente, que o admirava de perto. Parecia em paz enquanto dormia, tão sereno que se lembrou de como ele era gentil na infância; uma pessoa completamente diferente de quem era agora. Viu-se movendo uma das mãos involuntariamente e ousou tocá-lo na bagunça azulada que eram os fios alheios. Os sentia tão macios como sempre foram, quando ele era mais novo e ela era mais alta do que ele e sempre mexia em seus cabelos. Agora ele era mais de trinta centímetros mais alto que ela e Satsuki não conseguia fazer carinho algum nele.

Enquanto emaranhava os dedos finos e delicados nos fios alheios, ela observava a expressão calma do moreno que ainda dormia profundamente. Novamente levada por um ímpeto mais forte do que ela conseguia suportar, levou os lábios até a lateral do rosto de Aomine e fechou os olhos brevemente para beijá-lo ali. E seus lábios tocaram algo macio e quente, de sabor desconhecido. Um contato extremamente terno, que durou menos que o moreno esperava – que foi o momento que Satsuki abriu os olhos e viu que seus lábios estavam selados aos de Daiki. Num misto de surpresa e choque, ela afastou os lábios dos dele.

- A-A-Aomine-kun! – gritou, em seguida cobriu os lábios com uma das mãos.

O ala-pivô sorriu, um sorriso bem atrevido daqueles que só ele conseguia dar. Estava fingindo que estava dormindo apenas para ver o que ela faria e quando ela se aproximou de tal forma, ele não conseguiu se controlar e virou o rosto, foi aí que seus lábios se encontraram pela primeira vez. A gerente ainda parecia horrorizada e atônita com o ocorrido, e o moreno se divertia com as feições dela.

- Não deve abaixar a guarda assim perto de um homem, Satsuki.

Ergueu a cabeça e os braços, esticando-os enquanto a encarava e via um misto de expressões no rosto dela. Constrangimento, embaraço, choque, e raiva – o pior deles; ela o fitou com um olhar cortante e ameaçador, e ele só quis rir.

- Aomine-kun, seu idiota! – o encheu de socos, enquanto ele tentava se defender inutilmente.

A pancadaria cessou quando ele, já de pé, segurou ambas as mãos da gerente e a puxou para si, deixando-a sem palavras devido ao ato. Entrelaçou os dedos grandes e esguios nos dedos finos dela e sem soltá-los, a abraçou pela cintura; ela olhou para cima para fitá-lo, e ele curvou o corpo para baixo e inclinou o rosto, aproximando-se do dela novamente e tocou seus lábios outra vez.

E dessa vez o toque não foi apenas terno, mas exigente também. Enquanto seus lábios cobriam os delas, a língua pediu passagem com uma urgência que nem mesmo Aomine conseguia explicar. Esse beijo foi mais sôfrego que o primeiro, enquanto suas línguas se envolviam com paixão e eles sorviam de seus sabores misturados, aquela mistura perfeita que eram os dois, com personalidades tão diferentes e ao mesmo tempo, tão iguais.

O beijo foi finalizado quando o ar se esvaiu de seus pulmões e o moreno deu um daqueles sorrisos dos quais ela tanto sentia falta, e a desvencilhou de seus braços. A deixou ali enquanto deu as costas para a gerente.

- Isso me deixou com fome, Satsuki. – proferiu, sem sequer olhar para trás. - Anda logo, vou te pagar um teriyaki burger.

Momoi estava intrigada. Ele estava lhe convidando para sair? Constatou que sim, afinal, nada era convencional quando se tratava do complexo e simples ás de Touou. Sorriu, sentindo as bochechas arderem pela repentina timidez. Pegou a própria mochila e correu atrás dele.

- Eeei, me espera! – Aomine não lhe deu ouvidos e continuou andando em passos largos. – Eu disse pra esperar, Dai-chan!

Assim que o alcançou e se colocou ao lado dele, entrelaçou o braço ao dele já que ele estava com a mão no bolso. O moreno estranhou a atitude feminina, mas ao contemplar o gracioso sorriso nos lábios dela, não quis saber de mais nada.

- O que você está fazendo?

- Cala a boca, Dai-chan idiota! – se aproximou ainda mais do corpo dele. – E eu quero sorvete!

- O-oe, ta me achando com cara de banco? – a pergunta lhe custou um soco no estômago.

Ambos riram e andaram sem medo pelos arredores da escola, afinal, o horário letivo já tinha terminado horas atrás e Aomine estava disposto a agitar um pouco mais depois da escola e desfrutar da companhia de Satsuki de um jeito diferente do usual.