Esperança escrita por EmilyCarter


Capítulo 3
Fragmentos de Memória




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A garota abriu os olhos e esfregou-os enquanto respirava fundo. Sentia-se bem fisicamente, mas também sentia uma pequena perturbação, um sentimento de que havia algo errado. Ao olhar ao redor, percebeu estar envolvida em aparelhos que desconhecia. Se tratando de um quarto de hospital, era provável que os objetos a ajudaram em algum momento a sobreviver.

Não entendia por que a última coisa da qual se lembrava era neve, muita neve.

Talvez gostasse de neve.

Tudo parecia tão novo para ela, haviam alguns instrumentos no quarto que sequer tinha visto na vida. Apesar de uma terrível enxaqueca que começava aos poucos a aparecer, estava ansiosa para ver o que era aquilo tudo.

Uma enfermeira entrou no quarto e se sobressaltou ao ver a paciente sentada na maca, olhando para tudo com extrema curiosidade. Saiu gritando alguma coisa sobre aquilo ser um milagre, deixando Emily ainda mais confusa.

– Emily! - A Sra. Wright entrou no quarto chorando. Jogou a bolsa a um canto e abraçou a filha com o máximo de força possível. Seu pai chegou logo em seguida, apesar de seu abraço não ser tão sentimental quanto o anterior. A paciente olhava tudo com uma sutil surpresa, sem entender de fato o que estava acontecendo. - achamos que nunca mais veríamos você abrir os olhos outra vez!

– Eu não entendo... - Emily olhou para baixo e deixou que as mãos caíssem sobre o colo. - O que aconteceu?

Seus pais se entreolharam com certa decepção e em seguida, a enfermeira tomou seu lugar o lado deles. "Você sofreu um acidente, querida.", disse ela em tom melancólico e tristonho. - e agora está aqui, se recuperando.

– Acidente? - Deveria ter ocorrido algum engano. Não poderia ter sofrido um acidente, do contrário se lembraria. - Como assim, um acidente? - seus músculos começaram a ficar mais rígidos e sua respiração, mais exaltada. A enfermeira logo se aproximou, tentando confortá-la. "Fique calma, querida.", disse, mas ela não obedeceu. - Me solta, eu não quero ficar aqui! SAI!!!

Sua mãe chorou mais ainda, afundando o rosto no peito do marido para não ter de ver a filha relutar ainda mais.

O garoto estava na sala de espera desde que os primeiros raios de sol começaram a aparecer. Como em todos os dias anteriores, ele ficava sentado ao lado da primeira cadeira, próximo ao quarto 221. E ficava lá até anoitecer, rezando e imaginando o que faria se um dia sua amiga acordasse.

Nunca esquecera a noite em que sofreram o acidente; a quantidade de sangue que escorrera pela neve acinzentada, o cheiro de fumaça que o sufocava cada vez mais, o vento gelado que sentiu bater no rosto enquanto caía. O que mais desejava era poder voltar no tempo, pois assim, aquilo nunca teria acontecido. Pensava que poderia ter passado por aquilo sozinho, mas estava com Emily. Justo com ela, uma garotinha tão vivaz e inocente, que de maneira alguma merecia ter passado por tudo aquilo. Após sair do hospital, uma semana depois, Colin chegara a passar quatro dias na sala de espera, enquanto Emily ainda estava na ICU, recebendo dos mais variados tratamentos. Pelo que ouviu, o caso dela era bem sério. Como tinha apenas nove anos, não entendia o que os médicos queriam dizer com “lesão em parte do lobo temporal medial”, mas aos poucos foi percebendo que isso, fosse o que fosse, não era nada bom.

– Como ela está? - Colin perguntou assim que o Sr. e a Sra. Wright chegaram na sala de espera.

– Ela estava muito nervosa. – disse o pai. A mãe de Emily não parava de chorar e tremer, e teve de se sentar para se acalmar um pouco. - Tiveram de lhe dar calmantes.

– Ah. – ele baixou os olhos, tristonho. – Deve estar sendo difícil pra ela, tanto quanto foi pra mim. – seus olhos começaram a lacrimejar, mas ele logo ergueu a cabeça para não deixar que nenhuma lágrima caísse.

– Tenha calma, Colin. – disse a Sra. Wright que enfim, parara de chorar. – Ninguém iria acreditar se disséssemos que a nossa filha acordou hoje. Ela não tinha nenhuma chance, é um milagre o que presenciamos aqui.

– Eu estou com medo. – ele confessou. – E se ela não gostar de me ver assim?

As lágrimas encheram os olhos da mulher mais uma vez.


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Notas finais do capítulo

Explicando os fatos em suas respectivas datas:
—> Colin e Emily se conheceram no ano de 1995.
—> O incêndio na casa na árvore acontecera em 1998.
—> O capítulo 3 (este aqui) se passa nove anos após o acidente, no ano de 2007.
*ICU = "Intensive Care Unit". UTI, em português.



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