Esperança escrita por EmilyCarter


Capítulo 2
Tempestade de Neve




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– O jantar está pronto! – anunciou a Sra. Campbell, trazendo uma travessa de brownies de chocolate e colocando-a com cuidado sobre a mesa. Alguns minutos depois, as pessoas começaram a se levantar e ir em direção à copa.

– Vamos, Emily. Tia Lorraine vai ficar chateada se demorarmos muito. – Colin disse, levantando a amiga, que havia se sentado no tapete para descansar.

– Acho que vou tomar um banho primeiro. – ela sorriu, cansada. – Não quero estar toda desarrumada, afinal, este é um jantar de família.

– Tudo bem. Eu guardo lugar pra você. – ele sorriu de volta. – Mas vê se não demora, senão eu vou comer todos os seus brownies. – Ela riu enquanto subia as escadas saltitando e em seguida, entrou na suíte para se banhar.

Voltou calçando um dos sapatos e sentou-se ao lado de Colin, seu melhor amigo desde os cinco anos de idade. A seu ver, ele sempre fora a melhor companhia para conversar sobre qualquer assunto e para brincar de coisas divertidas. Seus pais eram amigos de trabalho e, naturalmente, se encontravam de vez em quando para discutir sobre planilhas e reuniões. Enquanto isso, Colin e Emily costumavam descer até o parquinho do condomínio e ficavam lá até quase tarde da noite, quando a mãe de Emily chamava-os para jantar.

Em 28 de maio de 1995, quando se conheceram, nenhum dos dois imaginava que, brincando de quebra-cabeça (não havia muitas opções de brincadeiras, já que estava chovendo lá fora), iriam perceber que tinham bem mais em comum do que pensavam. Isso foi um fator primordial para que a amizade entre eles se consolidasse.

Voltando ao jantar, Emily e Colin ficaram conversando sobre o placar do último jogo de baseball e, quando todos já haviam terminado de comer e os assuntos já estavam escassos, ele inocentemente se atreveu a perguntar a quem quisesse ouvir contra qual time os Yankees iriam jogar na quinta-feira.

– Contra os Reds. É evidente que eles não têm chance. – disse o tio Monroe, já meio bêbado devido ao número de taças de vinho que ingerira nas últimas horas. Como Colin esperava, a pergunta gerou uma pequena discussão entre as famílias para decidir quem iria vencer o campeonato de baseball.

– É claro que não! Os Yankees já conquistaram 95 vitórias, enquanto os Reds só conseguiram 91! – O filho mais velho do Sr. Davies decidiu entrar na discussão. Foi interrompido pelo respeitado Sr. Campbell.

– No jogo contra os Phillies, eles foram muito bem! Só perderam por causa daquele lance do Blanton...!

– Vem comigo. – Colin sussurrou para a amiga, que acenou com a cabeça e o seguiu para fora da casa enquanto os adultos estavam ocupados demais discutindo sobre o jogo de baseball.

Estava nevando muito lá fora. O chão estava todo coberto de neve espessa e pegajosa; a cada passo que Colin e Emily davam, um dos dois afundava no chão e tinha de ser puxado pelo outro. Apesar de todo esse trabalho, eles finalmente chegaram ao lugar mais legal do terreno dos Campbell: a casa na árvore. Havia sido originalmente construída para o filho do casal, mas a Sra. Campbell perdera o bebê durante a gestação. Já fazia dois anos que ninguém mais ia lá, e a dona deixava de bondade que eles fizessem da casa seu clube secreto.

A vista lá de cima era bem melhor do que a que se podia visualizar da janela de suas casas, ambas em Kansas City. As duas crianças ficaram cerca de minutos em silêncio, apenas sentindo o vento gelado bater no rosto e observando a neve cair em pesados flocos no chão.

– Emily. – ele disse com a voz um pouco trêmula. - Tenho que te dizer uma coisa.

Colin estava um tanto misterioso e sonhador (mais do que o normal) há cerca de dois meses, e quando Emily perguntava o porquê, ele desviava o olhar e tentava mudar de assunto. Agora era a oportunidade perfeita para perguntar o que houvera que o deixara tão excêntrico.

– O quê? – ela se virou de frente para ele. Corou demasiadamente quando Colin pegou em suas mãos com extrema ternura, apesar de todo o nervosismo, e olhou fundo em seus olhos.

E com toda a inocência de um garotinho de oito anos de idade, ele respirou fundo e disse:

– Eu gosto de você. De verdade. – por um momento ela imaginou ter perdido o ar. Já havia, em algum momento de sua vida, se perguntado o que faria se um dia ele falasse algo do gênero, mas nunca havia, de fato, achado uma resposta concreta. Foi no breve momento em que estava se perguntando o que deveria fazer que tudo aconteceu.

O forte cheiro de fumaça e madeira queimada ficou para sempre na memória de Colin. Quando as duas crianças se deram conta do que estava acontecendo, metade da casa na árvore já estava em chamas.

A saída estava bloqueada por grandes pedaços de madeira que haviam caído do telhado. A altura entre a casa e o chão chegava a cerca de cinco metros. Emily gritava mais do que qualquer outra coisa; estava bem na beira, onde o fogo ainda não havia chegado e, infelizmente, não havia nada a ser feito a respeito. Se pulassem, provavelmente iriam morrer. E se não pulassem, estariam esperando pacientemente pelo mesmo fim. Com os gritos cada vez mais agudos de Emily, logo houve movimentação na fachada da casa, mas todos estavam longe demais para alcançá-los antes que a casa na árvore desabasse.

O fogo se aproximava cada vez mais, com suas chamas engolindo a neve que sobre elas caía. Emily se agarrou ao braço de Colin, puxando-o para longe da região de madeira instável onde estavam. Momentos depois, uma grande parte do chão desabou e se quebrou violentamente na neve. Estavam agora cercados pelo fogo, sem escapatória; um grito sufocado de Emily se perdia no meio da neve assim como suas lágrimas. A garota mentalizou todas as rezas que conhecia, que serviam para aquele momento de desespero enquanto esperava que o fogo os alcançasse. Então, ouviram um baque surdo.

O chão abaixo deles se quebrou.

– Colin!

– Emily!

Foi a última coisa que disseram antes de caírem, uma pancada violenta na neve espessa e gelada. Já não sentiam mais a dor, devido à baixa temperatura, mas viam e sentiam o sangue escorrendo pelos dedos e manchando a neve com o vermelho escurecido. Colin viu Emily apagar logo que a garota caiu, a cabeça embebida em sangue; nunca conseguiu esquecer essa memória terrível. Desmaiou em questão de segundos.


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Notas finais do capítulo

Versão 2.0 (atualizada em 01/04/2014)



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