Filho da Mentira escrita por Sirena


Capítulo 27
O Sábio


Notas iniciais do capítulo

Oi!
Eu estou de volta
Sei que demorei (desvio dramaticamente de uma espada e uma flecha) mas tive meus motivos
E bem... Aqui está o capítulo novo! (E que ainda sim continua sendo um flashback. Eu sou apaixonada por animes e mangás e eles tem bastante disso e...)
Tá parei de falação! Vamos ao capitulo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/490297/chapter/27

Capitulo Vinte e Sete

Loki

Eu estava uma semana na casa de Hoder.

Ainda não estava totalmente acostumado, mesmo estando ali por um período de tempo significativo. Mesmo não possuindo qualquer rancor por ele, ainda era estranho compartilhar o mesmo ambiente que o assassino do seu irmão, por melhores e mais plausíveis que sejam os motivos.

Virei à cabeça para o lado oposto da cama, os olhos entreabertos, as pálpebras um pouco pesadas tanto pelo cansaço como pela sonolência colaborada pelo som incessante da chuva. Porém, mesmo que meu corpo estivesse exausto, minha mente continuava ativa, com ideias e pensamentos que vagavam sem controle por ela.

Fechei os olhos por um instante, buscando conforto ao me entregar a inconsciência. Um conforto que foi retribuído por memorias sufocantes do meu passado esquecido e do que parecia ser o fim da minha infância.

************************

Eu tinha onze anos quando eu conheci Lion.

Seu nome e hábitos se contrariavam com seu nome. Não que ele não fosse alto e imponente, principalmente para uma criança pouco desenvolvida. Essas características eram as únicas que se adequavam ao homem de aparência pacifica e calma, tranqüila e doce de um individuo dos Alpes com o ar magnânimo do campo e da tranqüilidade. Seus olhos castanhos, estranhamente puxados e rasgados como os dos indivíduos que moravam além das montanhas, eram tão leves quanto o bater de asas de uma borboleta ou a pétala de uma cerejeira e seus cabelos compridos e lisos eram como o rio pacifico e sem ondulações de um fim de tarde agradável.

Sua vestimenta também indicava simplicidade e humildade. Calças largas e castanhas, uma camiseta comum branca, típica de jovens ou criados e sobre ela, uma longa capa com um capuz branco, ainda úmidos da serração leve que nosso império enfrentava naquela tarde.

–Você deve ser meu tutor- Respondi, assim que o criado abriu a porta. Minha comunicação sempre fora limitada. Meu irmão pouco me dava atenção e para os demais, com raríssimas exceções era como se fosse invisível. Assim, quando encontrava uma viva alma que pudesse me dar atenção, dirigia-me a ela sem demora.

Ele sorriu, o canto dos olhos, fazendo uma seqüência de três linhas, pouco comum para um jovem que deveria ter menos de vinte e sete anos.

–E você deve ser o pequeno Loki, filho mais jovem do rei de Asgard- Ele recitou vagamente o titulo que me atribuía. Algo que de todas as formas possíveis, parecia não se encaixar a mim.

–O tempo não está muito bom hoje- Mencionei, tentando estender a conversa o máximo possível.

–Não muito- O criado, um jovem ruivo com sardas demasiadas que pareciam deixar sua pele num tom forte de ferrugem, fez um gesto para que ele retirasse a capa molhada- Não- Respondeu, fazendo um gesto com a palma- Obrigada pela gentileza- Ressaltou se curvando com modéstia para o jovem.

–Você quer algo mais, Sábio?- Emn, o criado, balbuciou, ainda impressionado com a gentileza de Lion.

–Não. Eu estou bem. Eu ia te pedir para me levar até os aposentos de Vossa Majestade, mas... Acho que Loki gostaria de me levar até lá- Opinou, retirando com cuidado o capuz que cobria parte de sua face.

A resposta foi breve e pronta, previsível.

–Claro. Creio que ele está no salão principal a sua espera- Deduzi. Meu pai normalmente esperava os convidados da corte ou os Sábios e alguns seletos plebeus naquela parte conspícua, porém pouco acessada do palácio. Eu mesmo tive apenas duas únicas chances de acessar aquele ambiente seleto, sendo uma das vezes escondido dos guardas.

Era uma distancia curta. Algumas dezenas de passos e três portas longas e vermelhas vivas nos separavam do destino. Curioso, Lion preencheu o trajeto com algumas perguntas sobre a arquitetura e arte obsoleta das paredes e moveis. Respondi as poucas coisas que sabia. Intervalos longos, com respostas vagas, seguidas de sons de passadas e sons artificiais do ambiente.

–História não é muito seu forte- Concluiu, quando estávamos a beira da porta do Salão Principal.

–Não- Abreviei.

Bastardos não merecem uma boa educação. Meu pai falou uma vez, quando eu apresentei problemas para compreensão de um livro.

Bastardo. Não sabia ao certo porque recebia aquele titulo vergonhoso. Até onde meus conhecimentos permitiam, era o filho verdadeiro de Odin e Frigga. O terceiro na linha de sucessão até a morte prematura de meu irmão mais velho, Balder.

Claro, nossa aparência não era muito compatível...Não era como meu irmão sobrevivente Thor, que possuía alguns traços verídicos com o monarca, em especial pelos seus lábios finos, por onde sustentava o sorriso irônico, o queixo firme e os pensamentos egoísta e diretos, típicos de um líder, um rei. Eu por outro lado...

–Loki?

–Me desculpe, Sábio- Curvei-me respeitosamente sentindo minha face ruborizar, o vermelho assumindo a cor rapidamente do meu rosto pálido.- Estava pensativo. Perdoe-me- Repeti, com uma segunda mesura.

–Pelos deuses, não!- Ele colocou uma mão em meu ombro manchado por uma capa verde- musgo- Pensar sempre foi uma benção valiosa, principalmente para nós, detentores da sabedoria. Um pensamento nunca é uma perda. Na verdade pensar é a segunda coisa mais poderosas do universo.

–E qual seria a primeira?- Perguntei ansioso, enquanto ele colocava a mão direita sobre a fechadura,

–A palavra. As palavras proferidas têm um poder maior do que muitas armas... Algo plenamente imensurável e descomunal.- Seus olhos ganharam um brilho tão radiante como uma estrela. Era como se ele já houvesse provado o sabor de pelo menos uma gota da cascata descontrolada desse poder.

Nada mais foi dito. O silêncio tornou meu amigo quando nossos passos ecoaram pela caverna obscura daquele salão infindável.

Mas mesmo no meio da suntuosidade do vermelho e do ouro, do brilho do rubi e da prata que moldava aquela mesa de longos oito metros e lapidava as cadeiras feitas do mesmo material rico.Porém todo luxo parecia diminuto, pobre e velho se comparado a figura de seu governante.

E ali estava Odin. Vestindo as melhores roupas de linho e seda fina, usando o negro padrão que me habituara a ver semana após semana. A tinta envelhecida e fúnebre coloria até mesmo suas botas feitas de pele de carneiro, um item caro nas feiras no inverno frio que ameaçava se iniciar. Seus olhos, mesmo claros, pareciam tão negrumes quanto o que trajava e tão gélidos quanto a noite, sem o fogo e crepitar de uma fogueira ou estrelas.

–Imaginei que um dos meus criados iria recepcioná-lo- Murmurou, erguendo suas sobrancelhas, seus dedos tamborilando e tocando a mesa como se fossem um instrumento de um famoso musico.

–Achei melhor meu futuro aluno realizar esse ato, Vossa Majestade- Ele se curvou, as costas retas num ângulo perfeito, enquanto os fios de seus cabelos varriam seu rosto fino e sujo por uma barba rala.

–Não sei se posso concordar contigo, Sábio- A resposta áspera e dura era tão afiada quanto seu olhar grosso e perfurante sobre mim.

–Eu... - Principiei, sentindo o sabor dos gritos e vaias que posteriormente iriam cair sobre meus ossos.

–Como eu falei anteriormente, fui eu que sugeri. A falha é completamente minha, Vossa Majestade.

O tamborilar se tornou mais leve, de um furacão a uma leve brisa de primavera com o odor de flores e folhas de cores vivas.

–Espero que siga minhas ordens, caso for realmente realizar seus serviços de magistério para meu filho mais jovem – Objetivou, ajeitando-se na cadeira mais alta do aposento, permanecendo mais imponente que o costume.

–Com todo certeza- Confirmou, ausentando-se a menção do titulo honroso para com Odin.

–Assim espero, Lion da Montanha das Sombras.

O titulo pareceu-me estranho e confuso. Não era comum de nossas terras utilizar-se de nomes como esses. Vagos eram nomeados dessa maneira, com exceção de uma população concentrada isolada. Normalmente o titulo de origem dava-se apenas aos bastardos, cujo nome paterno era destituído pela ausência ou inexistência destes. O outro caso era quando tratava-se de servos de nível primário ou mesmos pessoas que destituíram o nome de sua família e de sua casa, adotando nomes de cidades, locais ou mesmo adjetivos físicos que poderiam caracterizá-los.

Mesmo com a curiosidade, domei minha língua curta, limitando-se apenas a olhar para o homem candidato a vaga de Sábio de um menino-solitário.

–Loki, poderia retirar-se- Pediu educadamente. A grosseria de adjetivos e nomes impróprios que normalmente vinham com suas ordens não surgiu. Provavelmente o rei gozava-se de sua imagem perante a visita daquele individuo complexo- Esta conversa é privada e não deve ser... Interrompida.

–Claro pai- Curvei-me em respeito ao seu titulo e seu próprio significado para mim, por mais leve e vago que parecesse em meu cotidiano.

–Até breve, Loki- Falou confiante o homem de capa, com um sorriso leve nos lábios pálidos e vagos de coloração quente.

–Até- Sussurrei, enquanto dirigia-me a saída, a curiosidade perseguindo-me como uma ancora deixando meus pés pesados e minha mente dura como o aço, congelando meus pensamentos.

Eu não sabia qual seria o resultado daqueles momentos. Das perguntas e das respostas que o Sábio deveria enfrentar. Mas não havia muitas opções e desejava, do fundo do meu coração que ele fosse a única escolha, a única saída.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sim, eu sei que mereço reviews :x
Agora deixo-lhes esse AMV, pois estou inspirada: https://www.youtube.com/watch?v=1Wv3641UJfg



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Filho da Mentira" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.