Filho da Mentira escrita por Sirena


Capítulo 19
Time is running out


Notas iniciais do capítulo

Oiiii! Voltei rapido né?
Capitulo novo em folha!
Espero que gostem :)



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Capitulo Dezenove

Hoder

Fui obrigado a dar algumas explicações a Garret.

Claro, o ataque havia sido um sucesso. Quase todos os guerreiros haviam sobrevivido e todo o vilarejo havia se dissolvido num mar vermelho de sangue e fogo. Exatamente como ele queria.

Minha ausência momentânea foi facilmente explicada com um pouco de conversa. Sem detalhes, sem explicações subjacentes. Apenas uma mentira superficial foi o suficiente.

Horas depois fui dispensado para ir para casa. Normalmente eu iria para um bar ou simplesmente treinar um pouco, porém hoje foi diferente. Eu realmente voltei para casa, para onde Hrethel e o garoto se encontravam. Ela estava me devendo algumas explicações.

–Desculpe a demora- Falei largando a aljava e o arco num canto perto da porta, com medo de estar falando apenas com o cachorro.

–Você não demorou- Respondeu ela.

–Pensei que talvez você tivesse ido embora- Disse, fechando a porta. Mesmo eu tendo dito para ela vir para cá achava a possibilidade de ela ter me escutado, feito o que havia dito, extremamente remotas, nulas.

–Porque faria isso?

–Porque escutaria um assassino frio?-Retruquei. Ainda estava demasiadamente impressionado com a figura morena e baixa encostada na parede.

–Acho que você já teria me matado se quisesse. No momento que me encontraste - Afirmou, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

–Como está o garoto?- Indaguei, disfarçando a preocupação na minha voz.

–Está dormindo. Deixei-o descansar na sua cama. Eu não sabia se devia e...

–Não tem problema. Pode ter certeza que ele está aproveitando ela bem mais do que eu- Mencionei.

–Meu filho adorou o seu cachorro.-Comentou- Nunca o vi se divertindo tanto com algo ou alguma coisa antes.

–Onde ele está?- Perguntei referindo-me ao cão. Normalmente ele estava largado no chão, com os olhos tristes, cabisbaixo, enquanto esperava uma demonstração de afeto que quase nunca existia. Como esperar a chuva fresca no deserto escaldante.

–O cão?- Ela fez um gesto de desdém- Dormindo junto com ele. A proposito ele estava sedento. Dei um pouco de agua para hidrata-lo.- Ela falou apontando para um pote retorcido de metal- Não quero ser intrometida, mas faz quanto tempo que você não cuida dele?

–Três dias, talvez quatro. Não me lembro de quando foi a ultima vez que estive em casa. - Eu não sabia de fato. Passava um período tão curto ali, apenas para dormir ou ás vezes nem isso, cinco ou dez minutos o suficiente para cuidar do cachorro. Um momento tão breve era facilmente esquecido, substituído por outras lembranças. Memorias ruins. - Mas não é isso que me importa nesse momento- Falei, cruzando os braços.

–O que você quer saber?

–Primeiramente quero saber por que o rei está atrás de você? Por que ele iria querer matar você?- Estava cansado de delongas. Era um sujeito pratico. Preferia ir direto ao assunto.

–Não é tanto a mim que ele está interessado, mas meu filho.

Balancei a cabeça em negativa. Aquela... Não era a resposta que estava esperando.

–O que Odin iria querer com um garoto?

–Ele não é apenas um garoto.

–Como assim?- Joguei os braços para os lados- Aqui não é um jogo de xadrez. Não quero estratégias ou códigos. Quero apenas que me diga a verdade!- Ordenei.

–Ben...- Ela falou, receosa- Meu filho não é de Asgard. Nenhum de nós é. Somos de Svartalfheim...

–Você não parece um elfo negro- Disse, observando suas características faciais.

–Mas eu não sou. Nasci em Asgard, porém há mais de uma década adotei Svartalfheim como meu lar. Ainda mais depois que casei com Ecgtheow...

–O rei dos elfos?- Indaguei. Era difícil acreditar que uma asgardiana pudesse ter alguma relação com um elfo. Quer dizer o que ele havia visto nela? Não que ela não fosse bonita e...

“Idiota” Xinguei-me mentalmente, tentando voltar minha atenção na conversa.

–Sim. Há cinco anos, quando ainda estava gravida do meu menino, Odin invadiu nosso reino, afundando-o na miséria e na morte. Ele matou meu marido, deixando seu filho sem pai. - Havia rancor na sua voz, tristeza- Foi um milagre eu ter escapado. Ter chegado aqui com vida...

–Mas por que Asgard? Por que vir ao berço do seu inimigo?

–Um de nossos empregados falou que tinha um amigo que poderia me ajudar aqui... Foi ele que me trouxe. Entenda estava meio que sem opções naquele momento de desespero. Fui obrigada a vir para cá.

–Onde ficou todo este tempo?

–Fiquei vivendo com este “amigo” nesses últimos cinco anos. Foi ele que me ajudou no parto, me forneceu um abrigo, alimento e até mesmo amor. Um amor pleno, provavelmente maior do que meu ultimo marido ofereceu. Ele me protegeu, oferecendo-me segurança neste mundo hostil e cruel. Provavelmente você o conhece, creio que até pertençam ao mesmo exército... -Ela levantou a face, fitando-me com curiosidade- Seu nome é Garret.

Tudo bem. Agora eu fiquei confuso.

–Está me dizendo que o homem que o salvou planejou uma missão grandiosa para te matar?

Eu havia entendido bem certo?

–Ele não sabia que eu estava aqui. Um membro do exercito foi até a casa de Garret e me disse para encontra-lo aqui. Avisou-me que ele teria apenas uma missão antes de sua aposentadoria. E eu acreditei como uma tola. - Ela se culpou- Só percebi que havia caído em uma armadilha depois que ouvi os gritos e as pessoas correndo...

–Você disse que alguém há mandou para lá?- Estava tentando absorver todos os fatos que ela estava cuspindo na minha cara.

–Sim.

–Do exército?

–O que isso influencia minha situação atual?

–Lembra-se do nome ou a aparência dele?

–Não estou entendo...

–Estou falando em outra língua?- Despejei. Como eu gostaria que uma flecha pudesse resolver todos os meus problemas...

–Ele devia ter aproximadamente quarenta e cinco invernos. Ele era alto, aproximadamente sua altura ou alguns centímetros maior, talvez. Seus cabelos eram castanhos, porém sua barba estava salpicada com fios brancos. Disse que seu nome era Wi.

–Ele mentiu para você- Falei com convicção.

–Como pode saber?

–Conheço cada membro daquele maldito exercito. O membro mais velho é Garret e obviamente não foi seu marido o responsável. Não existe ninguém com estas características, muito menos com esse nome... Se é que esse é o nome dele...

–O que está querendo dizer?

–Não foi um membro do exercito. Foi outra pessoa. Não apenas por essas características, mas pelo simples fato do rei estar envolvido nisso. Ele não mandaria qualquer pessoa realizar o trabalho. - Confirmei, com um aceno.- Um trabalho que ele poderia ter feito antes, não concorda?

–Ele talvez não tivesse certeza. Modifiquei meu cabelo com magia, tingindo o de negro ao invés do loiro original.- Hrether mencionou, brincando com uma mecha do seu cabelo escuro- Mesmo que tivesse certeza absoluta, certeza que era eu, ele não iria querer sujar suas mãos. Ele iria querer deixar à culpa para outra pessoa. Talvez em Garret- Mencionou pensativa.

–Muito típico dele- Falei, lembrando-se do que aconteceu com meu pai. Não pude deixar de transparecer a raiva. Ela transbordava. Era impossível disfarçar.

–O que foi?- Ela perguntou. Obviamente havia notado minha mudança repentina.

–Nada. Não foi nada. - Assegurei- Apenas estou pensado no fato dele nunca fazer o trabalho sujo. Acho que a única vez que ele fez isso foi quando matou o próprio irmão- Lembrei.

Todos conheciam a historia, quando o rei matou seu irmão adotivo, apenas duas semanas antes de subir ao trono, um mês após a morte de seu pai, o antigo rei. Não se sabe ao certo porque Odin, um jovem que nem ao menos completara quinze anos, o matou. Apenas que encontraram seu irmão afogado no lago pálido e sem vida, assassinado e o rei, ainda um garoto, com as roupas molhadas e lagrimas nos olhos. Sinais óbvios do remorso do ato que acabara de cometer.

– Mas se estou entendendo corretamente- disse após um tempo-Odin quer matar seu filho, pois ele é o herdeiro do reino em ruinas dos elfos.

–A ultima ponta solta. Ben... Beowulf- Ela se corrigiu- Desculpe não estou acostumada a chama-lo pelo nome de batismo, eramos receosos de dizer um nome elfico em publico. Garret sempre o chamava de Ben, além de ser parecido com seu nome, tinha um significado especial para ele- Hrethel abriu um meio sorriso, endireitando- Meu filho, Beowulf é o único herdeiro daquela terra, o único com o poder de restaura-la. Odin está sedento para por suas mãos nele, para mata-lo- Ela abaixou a cabeça, recuando um passo.

–Pelo menos por hora ele acha que estão mortos. - Falei.

–Sim- Ela meneou a cabeça, olhando para o lado.

–Você vai falar para o...- Contive-me antes de falara a palavra “esposo”. Não sabia ao certo qual era a sua relação com ele- Garret que você está e seu filho estão vivos?

–Não. Seria muito arriscado, tanto para a segurança dele quanto para o bem estar do meu filho. Ninguém mais deve saber de nossa existência agora que acham que estamos mortos- Assegurou.

–Não se preocupe com isso. Não irei falar nada- Prometi

–Obrigada- Sua atenção por um momento não estava mais na conversa. Passos no chão chamaram sua atenção, sua preocupação se voltando para ele.

–Mãe- Disse o garoto. Reparei que o cachorro estava ao seu lado como um companheiro fiel. Ele havia se dado muito melhor com o menino em horas do que eu durante um ano.

–Vejo que se deu bem com o Escuro- Apontei para o cão.

–Então esse é o nome dele? Não e muito original.

–Ele é preto. O nome é perfeito- Discordei apontando ao emaranhado de pelo lúgubre, como se a própria noite houvesse tocado seu pelo.

–Ben- Ela interrompeu- O que você queria falar para mim antes?

–Minhas orelhas voltaram a crescer- Ele disse rapidamente.

–Deixe-me ver- Ela pediu, agachando-se e fazendo um gesto com a palma.

O garoto assentiu, correndo até a mãe. Juro que até aquele momento não estava entendendo a conversa, porem foi apenas Hrethel levantar o cabelo liso e escuro do filho para eu entender. Sua orelha não era arredondada como de um humano, mas pontiaguda e firme. Como as de um elfo.

–Precisamos cortá-las agora?- Indagou Beowulf, os olhos azuis prestativos.

–Como assim cortá-las?- Perguntei apontando para ele.

–As pessoas perceberiam se o vissem assim. Para que Ben possa sair sem ser visto como uma aberração, sem chamar a atenção de um publico desnecessário, precisamos cortar as pontas. Um processo dolorido que precisa ser repetido cada vez mais rápido- Ela disse com amargura, escondendo novamente a orelha do menino com os cabelos compridos e volumosos que se estendiam até o pescoço.

–Por quê?

–Beowulf esta se regenerando cada vez mais depressa. Um processo continuo que acontece não somente com as orelhas, mas todo seu corpo. Este é apenas o primeiro passo do seu processo mutagênico. Sei que em breve outras... Coisas aconteceram com ele...

–Que tipo de coisas?

–Não importa agora- Ela sorriu, bagunçando o cabelo do filho- Acho que não irei precisar cortá-las hoje. Vou deixar você aproveitar este dia tranquilamente. Se quiser pode brincar um pouco com o cão lá fora...

Ele sorriu, animado.

–Mas não saía de frente de casa.

–Não irei sair- Prometeu, afagando a cabeça do animal.

–Tudo bem. Pode ir então- Ela falou fazendo um gesto com a mão.

O garoto hesitou.

–Posso brincar com o Escuro, Sir?- Disse o menino, formal.

–Não precisa me chamar de Sir- Agachei, sorrindo, enquanto ele me olhava preocupado- Pode me chamar de Hoder, apenas- Não gostava de muitas formalidades, embora achar engraçado alguém tão jovem usando estes termos primitivos e nobres e que obviamente não se encaixavam comigo. - E é claro que você pode brincar com ele. Este cachorro não gosta de mim mesmo- Dei de ombros.

–Obrigada- Agradeceu, correndo para fora com o animal em seu encalço.

–Ele tem razão- Ela falou olhando para o filho- O nome que você deu para ele não foi nada criativo.

–O cachorro é meu e como tal posso dar o nome que eu quiser- Rebati, brincalhão.- Queria que eu o nomeasse de que? Senhor das Trevas? Lorde das Sombras?- Sugeri.

–Não- Ela concordou- Escuro é muito melhor...

Levantei-me, retirando partículas de poeira presa sobre minha camiseta. Ainda estava olhando para fora quando senti o toque leve de dedos sobre meu ombro.

–Você não precisa fazer isso. Não precisava nos ajudar...

–Eu precisava- Balbuciei, sem me virar.

–Qual foi o motivo? Você ainda não me disse- Insistiu.

–Não importa- Murmurei, andando em direção a porta, o peso de sua mão não existia mais, estava muito longe para poder senti-la. Inclinei-me para pegar o equipamento de arquearia que havia deixado na porta, com intuito de treinar na floresta. Estava cansado, não apenas fisicamente, mas principalmente mentalmente. Precisava pensar, esfriar a cabeça.

–De qualquer forma obrigada por tudo- Ela sorria, um sorriso claro e verdadeiro, que brilhava com o sol há muito escondido nas nuvens e que finalmente pode se revelar.

Pisquei tentando me desviar do seu rosto, enquanto me voltava em direção à floresta, deixando para trás as duas únicas pessoas que me importava. Desconhecidos que por algum motivo, seria capaz de arriscar minha vida.

Nunca havia sentido isso por alguém antes. Ninguém há não ser minha família. Minha mãe e minha irmã. Pessoas que eu amava e que foram arrancadas de mim, perdidas, fragmentadas. Mortas. Como tudo que eu importava.

Mas este era meu destino. Perder tudo que amava.

Podia ouvir as areias do tempo caindo agora. O som delas se esvaindo na tempestade de sangue, carregando uma onda mortal.

Era apenas uma questão de tempo até que tudo fosse destruído.


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Notas finais do capítulo

Então ia ser nese capitulo que o Balder iria morrer, porém ia ficar comprido e confuso, então só no proximo capitulo. Sorry!
Mas para compensar o próximo capitulo terá muitas mortes! Quem não gosta de assassinatos, não é mesmo?
Bem, eu adoraria comentários e opiniões sobre a fic. Adoraria saber se meus leitores estão gostando dela... ou não...