Filho da Mentira escrita por Sirena


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

"A verdade é sempre uma mentira"



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John Stane

Floresta de Darkholme, Blair. Inglaterra

Você nunca sabe o que irá encontrar na floresta. Em noites gélidas, lobos ferozes podem surgir induzidos pelo brilho da lua e durante o dia assassinos e ladrões se aproveitam dos poucos homens e mulheres que ousam cruzar Darkhome. Como cresci nesse leito amaldiçoado acostumei-me a lidar com que a floresta me desse. Naquela noite em si, estava retornando para minha residência após ser convocado para comparecer na corte local. Era um dos três padres na condenação de Katherine Evans, uma donzela de dezenove anos acusada pelo crime de bruxaria que a meu ver, era inocente. Provas tênues e fracas que só levaram a este fim devido à comoção da população. Claro, não era meu primeiro julgamento. Vinte anos de experiência e no mínimo uma centena de inocentes. Era apenas um dia como qualquer outro. Obviamente, o destino não deixou isso acontecer.

—Ei, Connor!- Gritei, quando meu alazão parou repentinamente. Incentivei o cavalo a prosseguir, mas por alguma razão ele se negava em obedecer ao comando, retrocedendo quatro passos. Assustado, olhei por cima do ombro, esperando encontrar algum motivo contingente o suficiente para explicar o motivo de seu comportamento singular, deparando-me somente com arvores compridas e escuras, com seus galhos nus dançando ao sabor do vento e uma trilha de terra úmida deixada pelos cascos do cavalo.

—Mas o que está... - Comecei, interrompido por um gemido de dor que clamava nas trevas de Darkholme.

Saltei do cavalo, a mão direita fixa na adaga de prata ocultada pela capa. Cauteloso, caminhei com passos curtos, arrastando meus pés pela relva em direção ao som constante, porém cada vez mais baixo e fraco, como um buraco sendo fechado.

—Quem está aí?-indaguei, após duas dezenas de passadas.

Olhei para frente deparando-me com um vulto, encolhido aos pés de um velho pinheiro. Mesmo não vendo com muita clareza, era possível discernir que se tratava de um garoto, talvez com treze ou catorze anos, quase a idade de James.

—Ajuda- gemeu ofegante, a respiração entrecortada. Antes que pudesse perceber, estava correndo em sua direção, a adaga arremessada ao solo enquanto me posicionava a seu lado. Caído e quase inconsciente, estava ele num estado que poucos sobreviveriam. A carne da região abdominal estava exposta, banhando o que restava das roupas brancas e meus próprios pés com sangue vermelho vivo. O braço esquerdo estava quebrado em mais de um lugar, numa posição inimaginável; havia múltiplas lacerações em todo o corpo, estigmas de dor e sofrimentos que atravessavam sua pele, inclusive seu rosto, marcando a pele extremamente pálida. Naquele momento de desespero e indignação, apenas uma coisa parecia importar.

—Quem fez isso com você?- perguntei, enquanto me preparava para realizar os primeiros procedimentos médicos.

O garoto abriu os olhos azuis acinzentados intensos, como as águas do oceano num dia de tempestade e, usando toda força que restava disse suas ultimas palavras.

—Meu pai.


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Notas finais do capítulo

Sugestões, comentários positivos e negativos, etc...

PS: A imagem da capa não é de minha autoria.