O Ônibus da Meia-Noite escrita por ChatterBox


Capítulo 1
Um


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoaaal,
Eu já coloquei nas notas iniciais da fic, mas como sei que muita gente não lê, aviso de novo que estou postando em formato de fic, mas essa história é um livro que escrevi, queria saber o que as pessoas acham antes de enviar para as editoras, então se você puderem fazer algumas críticas construtivas eu vou gostar muito.
Para quem já seguia a história, saibam que eu reescrevi do zero, então seria bom vocês recomeçarem, prometo que não vão se arrepender, está bem melhor agora ;)
Em fim, boa leitura. Acho que vou programar os próximos capítulos para serem postados de 8 em 8 dias. Então já sabem quando entrar para ler o próximo ok?

Beijitos, Chatterbox s2.



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Naquela noite de Nova Iorque, às onze horas, Anna entrou no primeiro ônibus que viu passar em frente ao seu prédio. Sentou-se bem na frente, sentia como se algo buzinasse em seus ouvidos, e uma multidão estivesse caminhando em sua mente. Ela respirou fundo.

Prometeu para si mesma que não iria chorar mais, até porque, não tinha certeza se ainda tinha sobrado alguma lágrima a ser derramada. Concentrou-se na cidade. As luzes sempre acesas de Nova Iorque, as pessoas que nunca param. Olhou atenta alguns comércios fecharem as portas.

Achou aquilo reconfortante, e angustiante ao mesmo tempo. Sentir-se mais uma pessoa naquele universo fazia com que seus problemas não parecessem tão grandes assim, mas também fazia parecer que eles não tinham importância para ninguém além dela. Estava sozinha.

Perdia-se nos pensamentos quando sentiu um solavanco. O ônibus parou e abriu as portas no meio de uma encruzilhada onde não havia ninguém, apenas os postes de iluminação estavam acesos. O motorista bradou:

— Última parada da noite. Precisam descer agora.

O som grave da voz do motorista pareceu tê-la tirado da transe. E por um minuto se sentiu perdida, como se tivesse de recordar os sentidos após uma viagem extracorpórea. Olhou ao redor, pegou a bolsa, ― uma mochila feita de uma calça jeans velha coberta de bottons das suas bandas preferidas,― e resolveu levantar.

Uma vez em pé, deu uma olhada no ônibus vazio e de relance, percebeu que na verdade não estava vazio.

No fundo do ônibus, vestindo um casaco moletom com capuz e as mãos dentro dos bolsos, viu uma silhueta masculina se levantar.

Naquele momento seu coração acelerou. Sabia que uma homem de aparência sombria, descendo coincidentemente no último ponto, bem atrás dela, não era um bom sinal. Respirou fundo. Tentou não pensar no pior. Desceu cada um dos degraus da escada que levava para fora do ônibus prestando muita atenção para não cair. E pôde sentir sua presença atrás dela, como se tivesse algo queimando dentro da sua coluna.

Viu-se na rua deserta. Tentou encontrar qualquer lugar movimentado para onde pudesse correr, mas não via nada. O ônibus fechou as portas atrás dela e seguiu seu caminho.

Ela ficou parada. Sem saber o que fazer, preferiu aceitar seu destino. Parou na calçada e observou o sujeito andando, passando pela sua frente. E achou que fosse abordá-la naquele instante, mas ao invés disso, ele continuou andando.

Seguiu pela calçada tranquilamente e quando viu um banco na sua frente, sentou-se nele. Como alguém que queria passar o tempo.

Anna continuou paralisada por um tempo, se sentindo um pouco ridícula por ter sentido medo, e por algum motivo, sentiu um impulso repentino de falar com o sujeito. Não tinha por que falar com ele, mas também não sentia qualquer vontade de ir para casa.

Então ela foi. Andou até onde o rapaz estava sentado e mirou o espaço vazio ao lado dele, e sem pensar muito, sentou ao lado dele.

Por um minuto os dois ficaram calados, a respiração baforando em forma de vapor na noite fria, antes que Anna finalmente falasse alguma coisa:

— Achei que fosse um assaltante.

O rapaz, que ainda tinha o capuz sobre a cabeça, esticou um sorrisinho e disse:

— Eu percebi.

Os dois se entreolharam por alguns segundos. Anna analisou sua aparência brevemente, assim como ele analisou a dela.

Ele era jovem, aproximadamente 24 anos, e caucasiano. Tinha olhos castanhos, cravado com olheiras profundas, e havia uma careca sob o seu capuz. Sua beleza era extremamente comum, nada de especial.

Já Anna, tinha uma aparência muito mais chamativa. Seus cabelos escuros contrastavam com sua pele branca e pálida como papel. Os olhos negros eram marcados com lápis de olho e delineador borrados e tinha um piercing no nariz. O moletom com estampa de uma banda de rock evidenciava que ela era uma moça punk.

— Já que não é um assaltante, o que está fazendo aqui tão tarde? Sentado num banco sozinho?

Anna quis saber.

— Não sei, acho que precisava de um tempo sozinho. Em algum lugar.

O rapaz contou, num tom um pouco distante.

— Mas e você? — ele indagou — o que faz aqui? Por que entrou num ônibus e desceu no meio do nada, e decidiu conversar com um estranho?

Anna encarou o nada e soltou uma baforada pesada. Sentiu uma angústia tomar conta do seu peito ao lembrar-se do que estava acontecendo e teve um gesto automático de quando está nervosa, alcançar a caixa de cigarros no fundo do bolso e o isqueiro.

Pegou um cigarro, botou entre os lábios, e acendeu com o isqueiro. O sujeito ao seu lado assistiu tudo, ficando um pouco curioso do porquê da pausa dramática. Ela tragou profundamente, e soltou a fumaça no ar, sentindo um alívio rotineiro.

Depois disso fechou os olhos, pensando em como dizer aquilo em voz alta pela primeira vez:

— Eu... Estou... — arfou o ar, como se engasgasse — meio que grávida...

Olhou rapidamente nos olhos do rapaz, ainda sem nome e desviou logo em seguida, nervosa, levando o cigarro aos lábios de maneira apressada.

— Descobri hoje. É meu último cigarro, a propósito.

Esclareceu, ao lembrar-se que estando grávida, provavelmente aquele não era um bom hábito a se manter durante a gravidez.

O jovem encarou a rua, encheu o peito de ar, sentindo o peso da notícia e o que aquilo deveria significar e ponderou:

— Uau... Que coisa hein?

Sentiu-se ridículo por um minuto por sua única contribuição ter sido aquele comentário, depois lembrou-se de uma coisa e bufou um riso sarcástico.

Anna, que já não estava muito bem, virou-se chocada ao ouvi-lo rir:

— O que foi? Por que está rindo...?

Ele olhou para ela e conteve o riso num sorrisinho:

— Não, nada, é que... Acabei de perceber que nós dois estamos ferrados.

— O que quer dizer? Você está ferrado?

— Bom... Sim — encolheu os ombros. Num suspiro, ele descobriu a sua cabeça, tirando o capuz, e deixando sua careca à mostra — eu tenho câncer.

Anna ficou quieta, o encarando, sem saber o que dizer e engoliu o seco:

— Isso é uma merda.

Foi o que conseguiu dizer. Ele assentiu, pressionando os lábios.

— É. Faz alguns meses que descobri, e quando não consigo dormir, às vezes me pego fazendo loucuras como essas.

— Entendi.

— Mas estar grávida não é tão ruim. Ao menos vai deixar sua marca no mundo.

Ela bafora, sarcasticamente:

— Eu não dou a mínima em deixar minha marca no mundo. Quer dizer, talvez já tenha ligado. Eu sonhava em fazer a diferença como artista, mas agora, sou uma mulher de 23 anos que está grávida, tem um emprego de merda, não fala mais com os pais e não sabe como vai conseguir manter uma criança. Eu não tenho realmente com quem contar. Isso muda a minha lista de prioridades.

— E o pai do bebê?

— Eu conheci ele numa festa. Nós não temos muito contato, e para falar a verdade, não sei se ele é o tipo de cara que eu gostaria que tivesse contato com o meu filho — pontuou.

Houve um minuto de silêncio. Mark refletiu sobre o que ouviu e curvou um sorrisinho:

— Mal descobriu a gravidez e já está pensando no que é melhor para o seu filho. Algo me diz que tudo vai ficar bem — mostrou um sorriso encorajador para ela — pensa que se um dia você tiver câncer, não que eu queira que isso aconteça, mas... Você vai ter alguém para lembrar de você. Não sei se se essa doença me levar, alguém vai lembrar de mim, sabe?

Anna ficou séria:

— Por que está dizendo isso? —  virou-se para encara-lo — está precisando ver um terapeuta.

— Não, — ele riu — estou falando sério. É que eu não tenho família. Meus pais morreram faz um ano, e eu me mudei para essa cidade, porque aceitei uma proposta de emprego. Não conheço ninguém, e acho que as pessoas que conhecia na minha antiga cidade não dão a mínima.

— Só se você tiver sido um babaca — Anna replicou, com sinceridade — pessoas esquecem rápido de babacas. Mas você não parece ser um — jogou a ponta do cigarro na calçada — mas isso que disse, me fez pensar. Se eu morresse, e meu filho ficasse aqui, ele estaria sozinho, assim como eu estou. E eu não quero isso para ninguém.

— Eu acho que ambos temos que nos preocupar com nossa solidão — refletiu Mark.

Anna ficou em silêncio, pensativa. Observou a rua deserta ao seu redor, o poste de iluminação que apontava sua luz amarelada para o meio da encruzilhada, e entre pensamentos, teve uma ideia:

— Mas não precisa ser assim — Mark a fitou, querendo saber o que ela queria propor — acha que termos nos encontrado essa noite, termos pego o mesmo ônibus, e sermos dois fodidos e desamparados, não te dá uma ideia do que fazer?

Mark compreendeu a sugestão.

— Quer fazer um acordo? — estendeu sua mão, que vestia uma luva cinza, para ela — a partir dessa noite, “cavaleiros da meia-noite, unidos, venceremos”?

Ela riu, segurou a mão dele, e se cumprimentaram, selando o acordo. Ambos sorriam um para o outro.

— Eu sou Anna — ela disse.

— Eu, Mark. Mark Simmons.

— É um prazer Mark. Vamos para casa?

Sorriram, e ergueram-se do banco onde sentavam. Começaram a caminhar lado a lado com a casualidade de quem já se conhecia há muito tempo.

— Espero que o metrô seja nessa direção.

— Aham — concordou Mark.

— Acha que temos como fazer isso dar certo? Quer dizer, eu não acho que nós iríamos ser amigos se não tivéssemos nos conhecido nessa situação tão bizarra.

Riram.

— Acho que sim. Se quisermos que dê certo.

Andaram pelo quarteirão, percorrendo calçadas com negócios fechados, e alguns carros, que começaram a surgir, correndo de um lado para o outro. Nova Iorque não dormia. Poderia passar por uma encruzilhada que fosse deserta, mas alguns metros depois, já era possível ver a multidão. Caminharam juntos até a estação de metrô mais próxima, e na plataforma de embarque, onde se separariam, pararam um na frente do outro, para se despedir.

— É isso — Anna encolheu os ombros, num suspiro — acha que devemos trocar números de telefone?

— Oh, sim — Mark atentou-se, num súbito, tateou os bolsos em busca do celular.

Desbloqueou e entregou a Anna, que fez o mesmo com o dela. Ambos discaram seus números no telefone e salvaram nos contatos um do outro.

Ao devolverem, o trem que iria para o lado que Anna morava chegou. Ela mostrou um sorrisinho contido, e acenou, timidamente, indo embora.

Mark sorriu, a observou entrar no trem por um tempo. Assistiu distraidamente Anna caminhando pelos vagões, e o trem se distanciando. Quando já não havia mais sinal dela, olhou a tela do seu celular na sua mão.

Nele pôde descobrir qual era o sobrenome dela. Estava escrito: “Cohen, Anna”.


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Notas finais do capítulo

Tem mais, não esquece de dizer o que achou!
Obrigada por ter lido, de qualquer maneira.
Beijitos, Chatterbox s2.