A menina no bosque escrita por Silva chan


Capítulo 1
O homem no esconderijo


Notas iniciais do capítulo

Bem essa é a primeira fic que posto aqui. Ela també foi postada na minha conta no fanfiction.net, então não estranhem se encontrarem lá também.



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A menina no bosque

Ela estava colhendo flores no bosque. Todas aquelas flores selvagens que não sabia o nome eram de cores tão vivas, de belezas incomparáveis, mas de tamanha simplicidade em seus formatos que a encantava. Sua paixão é fazer um buque unindo-as e depois imortaliza-las em suas pinturas. Sua cesta já estava cheia e a fita de cetim que envolve sua cintura foi utilizada para amarrar algumas.

Segurando o grande buque e a cesta confeccionada por ela, correu rumo a casa. Entrou sem fazer barulho e subiu as velhas escadas de madeira rapidamente. Não havia motivo para ser discreta ali, mas foi ensinada a sê-lo em qualquer lugar e a qualquer hora, portanto se porta com uma polida educação mesmo sem que haja necessidade. Apenas sua respiração e o ranger dos degraus com seu peso eram audíveis dentro da casa. Entrou no sótão, arrumou suas flores em jarros, fez alguns arranjos e começou a pintar.

Seu pincel quase não tocava a tela de tão delicadas que eram suas pinceladas. A tela antes branca recebeu varias tonalidades de verde, uma belíssima gradação de azul e, a cor das pétalas variava de planta para planta, sendo algumas vermelhas, outras roxas, algumas possuíam cores mescladas e isso dá vida a sua arte.

Pintara um quadro depois do outro, tendo um saldo de oito no total, pois eram todos pequenos. De tanto trabalho suas mãos ficaram coloridas. Sua face e cabelo também se encontravam cheios de diferentes tintas. Retirou o avental manchado, pôs suas obras para secar no sol e foi tomar um banho. Entrou no banheiro e encheu a banheira com água quente, pois à pouco havia a fervido. Despiu-se e com um pano limpo e úmido retirou os excessos de tinta ainda fora da banheira. Quando percebeu que cor da banheira não mudaria devido às tintas, ela entrou e submergiu o corpo inteiro, da cabeça aos pés, como já lhe é costume.

Assim que o pulmão ameaçou começar a doer com a falta de ar ela emergiu e sugou o ar com força para recuperar seu folego. Sua surpresa estampou-se em seu rosto quando sua pele alva se tornou rubra. A constatação que um homem observava-a em um momento tão íntimo e sequer possuía a decência e o pudor de desviar seus intensos olhos. Envergonhada, ela se encolheu tentando cobrir sua nudez. Abaixou seu olhar, quebrando o contato visual com o homem. Não havia coragem para apartar o beiço e deixar as palavras escorrerem por ele, pois estas se encontravam presas em sua garganta. Sentia seu corpo queimar com o olhar dele.

Ele se aproximou a passos lentos, sem retirar seu olhar do miúdo corpo na água. Ajoelhou-se ao lado da banheira e ergueu sua mão, tocou o cabelo negro com sutileza, deslizando os dedos entre as mechas macias. Pouco a pouco a moça parou de tremer e ergueu seu rosto para fita-lo de esguelha, não tinha coragem de fazê-lo abertamente. Ainda sem nada a dizer, ele passou a acariciar a pele dela com a ponta dos dedos.

-Qual seu nome, senhorita?

- Não posso dizê-lo, senhor.

-E qual seria o motivo para tal?

-Meu pai me permite faze-lo, senhor, diz que não é dever de uma dama conhecer homens sem primeiro ser apresentada a ele.

-E onde ele está?

-... - ela quebrou o breve contato visual e encarou a parede rosada a sua frente descascando.

-Por que não me diz?

-Não posso- ele arqueou a sobrancelha, ela reprimiu uma leve risada-, não é seguro.

-Se eu desejasse lhe fazer mal, já o teria feito, não acha?- ele cessou o carinho e a observou com a face séria.

-Acredito que sim- respondeu após uma pausa.

-Então... Encontro uma mulher nova sozinha em uma casa abandonada, nada mais normal do que ter a curiosidade atiçada.

-Meu pai viaja constantemente e minha dama de companhia adoeceu, logo, fui liberada para passear.

-Isso explica sua solidão, mas vai contra os costumes.

- Os costumes moldam a sociedade e não um único indivíduo.

-Boa resposta- ele sorriu, ela virou a cara.

-Se importa em me deixar sozinha? Acredito que devo me vestir e voltar para casa.

-Não há nenhum problema em fazê-lo. Estarei do lado de fora do banheiro.

Ele saiu e fechou a porta. A morena se levantou e se secou, vestiu-se rapidamente e desembaraçou o cabelo com os dedos. Olhou-se no espelho quebrado demoradamente. Observava seus olhos fundos e as olheiras arroxeadas, os lábios vermelhos e a maçã do rosto corada. Saiu do banheiro e percebeu que o mais velho permanecia na casa. Passou por ele com passos rápidos e silenciosos, pegou seu guarda-chuva, despediu-se educadamente alegando que em pouco tempo o sol iria se por e preparou-se para sair, mas foi interrompida.

-Creio que devo acompanha-la até sua casa.

-Não precisa faze-lo, senhor. Ainda está claro e o caminho é seguro.

-Como pode ter tanta certeza?

- Fui eu que criei o caminho.

Ele a observou por alguns segundos e depois declarou que não possuía mais objeções quanto à partida dela e ela se foi. Observou-a desaparecer entre as frondosas árvores e os arbustos. Na cabeça dela os pensamentos sobre como o homem lhe era de certa forma amedrontador assim como o pai que a essa hora estava a léguas de distancia. Na cabeça dele, pensamentos sobre a doce menina que há pouco conhecera e sobre qual as circunstancias que a levaram estar ali mexiam com sua curiosidade.

Estava sentada em uma das cadeiras que seu pai ama, esta era feita a partir de uma madeira nobre e artesanalmente esculpida, o tecido dela era preto e brilhoso e sua espuma confortável para ficar sentada por horas. Seus olhos estavam fixos na parede muito bem pintada de branco. As vozes provenientes de uma conversa no cômodo ao lado chegavam até si como se houvesse um enorme e espesso filtro. Seu corpo quase imóvel, sua respiração controlada para produzir o mínimo de barulho possível na esperança de entender todas as frases ditas pelas duas mulheres.

-A Senhorita costuma sumir durante as tardes, minha senhora. Deixar que ela continue a faze-lo é inadmissível!- uma mulher de voz firme e aguda pronunciou-, não pode deixar que isso aconteça.

-O nosso senhor autorizou!-a governanta quase gritou a frase-, se ele o fez, há motivos suficientes para não contesta-lo. Sou a dama de companhia dela, sou a mulher que a ensina a se comportar, todas as regras de etiqueta e todas as habilidades que os homens exigem ver em uma moça prendada, mas estou doente e por mim a manteria ao meu lado durante todos esses dias, mas tenho um superior e nessa casa, a ordem dele é lei!

-Mas...

-Cale-se, Annabeth.

-Sim senhora.

Ouviu-se o som de uma pesada cadeira sendo arrastada e logo a Srta. Annabeth Machado apareceu na porta. Ela é uma moça loira e alta, olhos cor de mel e desprovida de curvas harmoniosas, seus seios são muito fartos, mas não há cintura e o quadril é muito estreito. Os traços angulados do rosto dela é o que a torna linda aos olhos de muitos. Mas para a pequena menina nada disso importa, eis que se trata de uma loira ousada, voluntariosa e competitiva, dissimulada, trapaceira e instável emocionalmente, o conjunto de tudo isso assusta a morena e deu a ela uma extrema antipatia em relação a outra.

-Senhorita- a garota a olhou-, deseja tomar chá?

-Não por agora, mas obrigada por perguntar Srta. Machado.

-Não há de que.

Novamente apenas a pequena se encontrava na pequena sala. Sua mente vagava entre a conversa das mulheres e o homem da casa abandonada no bosque. Quanto a governanta e a serviçal, ela não se preocupava, o assunto era debatido desde a primeira vez que se aventurara sem acompanhante, no auge de seus 12 anos e, portanto, sabia que não seria privada de faze-lo tão cedo. Quanto ao homem em seu refúgio, ela se sentia um pouco insegura, não sentia medo, apenas, o jeito imponente dele a intimidava um pouco e, não menos importante, era o primeiro homem que havia conhecido por mérito próprio e não por intermédio de seu pai e por isso tinha receio de fazer ou falar algo errado.

Resolvida a mudar o rumo de seus pensamentos, ela foi para o seu quarto, pegou o seu amado livro Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, e começou a ler. Com toda a certeza, ler as obras de Jane a acalmava e prendia sua total atenção. Para ela, nada além de pintar e desenhar, era mais delicioso do que dedicar seu tempo a leitura e a escrita. Sua mente se prendia no enredo com facilidade enquanto seus olhos ávidos devoravam as páginas.

Quando terminou sua leitura ela percebeu que a vela já estava no fim. Levantou-se da confortável poltrona e pôs seu objeto de apreço na penteadeira. Passou um bom tempo observando a cera derreter lentamente e o pavio ser reduzida a cinzas pela chama amarelada de base azulada. Por um momento quis poder pintar a cena, mas não podia, em sua casa as telas eram inexistentes. Pôs-se a observar o céu negro e todas as estrelas ali presentes, reconheceu várias constelações e ficou a admirar Vênus, só abandonou o local ao ouvir seu nome ser pronunciado por um empregado pedindo que ela fosse jantar.


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