A voz rouca que saía com dificuldade por entre os lábios da recém-chegada denunciava a falta de uso das cordas vocais.

Ela parecia apenas uma sombra do que um dia já fora. A pele estava mais pálida que o normal, evidenciando as veias e deixando-a com uma aparência doentia. Estava mais magra do que seria comum para qualquer um, quase como se estivesse doente. As mãos estavam calçadas com um par de luvas de couro vermelhas escarlate, embora todos em Hogwarts soubessem que a morena detestava luvas. O cabelo castanho meio cacheado meio liso não tinha o mesmo brilho e beleza de antes. O sorriso reconfortante e quase sempre empolgado e confiante não tinha lugar no rosto, onde os lábios formavam apenas uma linha fina, dura e indiferente. Os olhos azul-gelo pareciam vazios e sem vida, sendo rodeados por olheiras profundas de quem não dormia há muito tempo, ambos denunciando a ausência da pessoa que um dia ela representara.

Estava muito diferente do que já fora um dia.

Mas era ela.

Elena Gryffindor.

Os olhares de todo o Grande Salão concentravam-se incrédulos nela enquanto a morena se dirigia a passos lentos e apáticos até um lugar vazio na mesa da Grifinória, porém distante de seu habitual lugar no meio de seu grupo de amigos, que a olhavam como se ainda não acreditassem que ela estava realmente ali.

Ignorando os olhares incrédulos e chocados sobre si, Elena sentou-se em um lugar vazio à mesa, começando a jantar como se não houvesse nada de estranho, como se ela nunca tivesse sumido e nunca tivesse sido dada como morta. A palavra passiva serviria para defini-la bem naquele momento.

– S-senhorita Gryffindor? – Mickey finalmente se pronunciou, levantando-se de sua cadeira com os olhos vidrados nela, analisando-a, como se para ter certeza de que ela era real.

Elena apenas levantou os olhos apáticos e vazios, dirigindo seu olhar ao Diretor e arqueou uma sobrancelha, esperando que ele falasse.

– Elena. – Elsa se levantou de seu lugar, mas não se aproximou da morena, ficou ali a fitando com lágrimas nos olhos que insistiam em não cair.

A morena desviou o olhar de Mickey e passou a fitar Elsa, mas não havia nada diferente do completo desinteresse quando olhou a loira. Não havia a usual ternura e felicidade de quando via a irmã mais nova. Simplesmente não havia nada.

Os minutos perduraram em um silêncio desconfortável e a morena bufou com ironia e um sorriso apagado e sarcástico.

– Se já acabaram com as reações de surpresa estúpidas, eu tenho mais coisas para fazer. – A voz rouca e não usual soou irônica pelo salão e Elena Gryffindor se levantou, andando novamente a passos lentos e passivos até as enormes portas do Grande Salão, a qual abriu e saiu.

– Elena! – Elsa chamou e imediatamente pôs-se a correr atrás dela com Anna em seu encalço e os outros sete um pouco mais atrás.

O passo vagaroso da morena permitiu que a loira não tardasse muito em alcançá-la. Assim que chegou perto o suficiente, Elsa abraçou Elena por trás, fazendo-a parar de andar e molhando as vestes de Hogwarts da mais velha com suas lágrimas.

– Será que dá para me largar? – A voz rouca soou mais uma vez, desta vez carregada de uma frieza notável, quase cruel.

A frase, por mais banal que fosse, atingiu Elsa como uma Maldição Cruciatus e a loira recuou alguns passos. Liberta do abraço, Elena apenas virou o rosto o suficiente para que pudesse encarar a face magoada de Elsa por cima do ombro e também o ressentimento dos amigos e de Anna.

– O que você quer? – Perguntou ainda sem se virar para a irmã gêmea mais nova.

Elsa ficou calada por alguns minutos e nenhum dos outros ousou dizer nenhuma única frase. Elena suspirou pesadamente e pôs-se a andar novamente, indo em direção às escadas que a levariam ao Salão Comunal da Grifinória.

– O que...? – Elsa finalmente se pronunciou e já no primeiro degrau da escada, Elena parou de andar, mais uma vez olhando a loira por cima do ombro. A frase estava presa na garganta de Elsa, que tentou fazer outra pergunta. – Como você...? – Esta frase também não saiu. Era quase como se ela não quisesse saber a resposta.

– Pretende terminar alguma dessas frases? – Elena arqueou uma sobrancelha, ainda expressando a frieza cruel, mas trazendo também um toque de ironia.

Elsa permaneceu calada e Elena recomeçou a subir as escadas. Parou mais uma vez no quarto degrau ao ouvir a voz de Anna:

– O que aconteceu com você?! – A ruiva perguntou com a voz elevada em algumas oitavas, fazendo a pergunta que a loira hesitara em fazer.

Dessa vez, Elena virou-se para ela e desceu as escadas. Andou a passos vagarosos como se quisesse que o silêncio e a tensão instalada ali enlouquecessem todos os que estavam presentes. Passou por Elsa, ignorando completamente a loira que permanecia num estado de aparente paralisia e se dirigiu a Anna, que estava um pouco mais a frente de Merida, Soluço, Rapunzel, Jack, Jacky, Mirana e Alice, que haviam permanecido completamente calados até então.

A poucos centímetros de Anna, Elena parou de andar e abaixou um pouco a visão, visto que Anna era mais baixa do que ela, mesmo que não muito.

– Tolinha curiosa. – A morena sorriu de canto com ironia e frieza, fazendo Anna tremer com o comportamento estranho e quase doentio da irmã mais velha. – Isso não é da sua conta. – Tocou com a ponta do dedo indicador a testa de Anna e a ruiva percebeu que ela estava tão quente que qualquer um poderia afirmar que ela realmente deveria estar morta.

Desfazendo o sorriso e voltando à expressão apática, fria e até um tanto calculista, Elena abaixou a mão e se virou de costas para Anna, novamente voltando a andar até as escadas e passando por Elsa como se ela não estivesse ali ou representasse algo banal demais para ela perder seu tempo se importando.

Sem mais nenhum impedimento por parte dos outros nove, que permaneceram parados e chocados em seus lugares, Elena finalmente subiu as escadas, tomando seu caminho ao Salão Comunal da Grifinória.

–

O jantar no Grande Salão já havia terminado há algum tempo e Pitch Black e Jack O’Lantern estavam na sala do Professor de História da Magia.

– Pensei que você a tinha matado! – O’Lantern exclamou, parecendo exasperado.

– Por que eu mataria? – Pitch sorriu com ironia e frieza. – Ela pode ser uma peça de xadrez tão valiosa.

– Parece que algum de nós está jogando uma partida de xadrez? – Jack semicerrou os olhos e falou por entre os dentes trincados. – Você está brincando com fogo, Timmy.

Pitch trincou os dentes e segurou o pescoço de Jack com uma das mãos, apertando com toda a força que tinha.

– Não me chame assim. – Pitch advertiu com ódio expresso em cada palavra, mas o outro apenas riu baixo, parecendo não se importar com o aperto que ele mantinha sobre seu pescoço.

– Esqueci. – Jack riu. – Seu nome agora é Pitch. Pitch Black. – Ficou sério. – Não muda nada. Nunca deixará de ser Timothy Riddle, meu irmão.

– Quer dizer que você ainda é Thomas Riddle? – Pitch desafiou, arqueando uma sobrancelha. – Não era Jack O’Lantern Slytherin?

– Sabe que o O’Lantern é da Theodora e eu apenas mantive. – Jack sorriu, parecendo se divertir com a situação. – De certa forma eu o preservei, já que ela mudou o sobrenome para Wicked.

– Ah sim. – Pitch também sorriu, mas com ironia, e largou o pescoço de Jack. – Suas filhas sabem que a mãe delas é a professorinha de voo Theodora Wicked?

– Não. – Jack deu de ombros. – E você, por algum acaso, já teve sequer uma conversa descente com suas filhas? – Desafiou.

Pitch ficou calado, fuzilando o outro com os olhos, mas Jack não pareceu se importar.

– Você há de convir que eu e você guardamos muitos segredos. – Slytherin sorriu. – Não é uma coisa que elas precisem saber. Nenhuma delas precisa, você não concorda?

Os dois ficaram calados por algum tempo e Jack deu de ombros mais uma vez, saindo dali e passando por um porta-retratos com uma foto móvel de três rapazes em Hogwarts e com uma legenda abaixo, onde estava escrito: Tom Marvolo Riddle, Thomas Servolo Riddle e Timothy Tiberius Riddle. Na foto, estava presentes os então Lord Voldemort, Jack O’Lantern Slytherin e Pitch Black, respectivamente, quando eram mais novos.