Um toque estranho interrompeu o silêncio entre Raphael e eu.

–O que é isso?- ele perguntou.

Então procurei alguma coisa nos bolsos e nada, levantei a mochila do chão e tirei o aparelho irritante do fundo o jogando em cima do balcão a seguir e voltando para os últimos pedaços do meu lanche.

–Desde quando você tem um celular?-ele pegou o aparelho e olhou. Eu não ligava para aquele negocio que parou de fazer barulho quanto ele pegou.

– Há um tempo. -dei de ombros. - Uma menina me deu bem antes de vir para essa cidade, mas... – eu não usava muito aquilo. A antiga dona me ligava varias vezes no começo, mas parou depois que percebeu que eu não ia atender.

O aparelho começou a tocar de novo e Raphael olhou.

–É a Tess. - ele virou a tela para mim e eu vi o nome dela escrito. Quando foi que ela mexeu naquilo? -Não vai atender?

Neguei, ele atendeu e fiquei apenas assistindo.

–Festa? Como assim Theresa? Ele não falou nada... Acho que ele não vai... A Jennifer pode ir se ela quiser, o Roan é que não. Ah você vai ficar insistindo? Eu vou desligar... - ele me olhou enquanto ouvia algum argumento longo da menina. Depois suspirou. -Todos vão estar lá é? E ninguém pode me dizer uma coisa dessas. Certo, vou pensar.

Ele desligou o celular e ficou me olhando.

–Você é um indigno dessa sorte. Devia ter algum castigo em vez de ir a um lugar desses, mas Tess tem bons argumentos. Porém você só pode ir se levar a Jennifer, ela precisa sair mais dessa casa.

–Ir pra onde?

Ele me olhou estranhando.

–Para a festa na sua escola.

–Lá tem comida?- ele concordou. -Parece legal.

–Pode ser. Vai lá convidar a Jennifer logo para não ficarmos muito atrasados.

–Eu? Porque não você?

–Vou me arrumar.

Ele saiu antes que eu pudesse falar mais alguma coisa. Subi, tomei um banho, encontrei roupas limpas e novas que alguém deixou no quarto de jogos, me troquei e fui chamar a Jenn. Ela não me atendeu quando bati na porta e chamei, então abri e a vi pulando sobre a cama com fones no ouvido, ela parou no ultimo salto se ajoelhando sobre o colchão e me encarando surpresa.

–O que você esta fazendo? - perguntei.

–Nada. -dissimulou ela arrumando uma mecha de cabelo para longe do rosto.

–Não pareceu isso.

–Eu precisava fazer alguma coisa. Acho que não vou dormir tão logo.

–Então vai se arrumar, tem uma festa para irmos.

–Não, obrigada. Eu vou ficar aqui mesmo.

–Eu não perguntei. - ela ficou me encarou. -Quer ajuda? – invadi o quarto e segui para um armário próximo e abri as portas, ela foi rápida para cobrir a distancia, mas não conseguiu me impedir. - Você só tem roupa escura? - ela fechou a porta enquanto eu abri uma gaveta. – Até a... - ela ficou vermelha e começou a me empurrar para porta, mas eu fiquei mais firme antes de ser expulso e segurei as mãos dela. - Você vai se arrumar?

–Não. - me encarou irritada tentando se soltar.

–Se ela não for você não vai Roan. - Raphael passou pelo corredor dizendo alto.

Ela parou de se mexer. Podia deixa-la em paz, mas queria ir nessa festa também.

–Você vai comigo Jennifer? Por favor. - é um pedido que eu não usaria com outra pessoa. E eu não queria ter que arrasta-la. -Não é legal ficar aqui sozinha enquanto todo mundo vai estar lá. E você já ficou sozinha por muito tempo Jenn. Vamos?

Jennifer pensou e soltou seus pulsos mais delicadamente. Depois tentou disfarçar um sorriso no canto da boca olhando o chão e concordando. O que me deixou feliz, pois nós íamos para uma festa.

Demorou mais do que gostaria, Raphael também esperou a menina e falou algo de que eu devia ter a chamado antes. Logo ela apareceu com uma roupa escura, não muito diferente de outros dias, mas era um vestido que eu não vi no guarda-roupa quando abri e era... bonito; roxo escuro e justo na parte de cima, a saia se tornava mais larga parecendo repicada com pontas em vermelho escuro e cintilante. Os cabelos lisos e pretos tinham uma ou outra trança destacada com pontos brilhantes, mas os olhos dela estavam destacados e claros com o que ela tinha feito. Raphael passou esbarrando em mim sussurrando:

–Controle sua mente melhor Roan.... - e foi em direção á porta elogiando Jenn e educadamente abrindo a porta para ela sair.

Segui atrás deles e entrei no carro. Raphael trancou a porta da frente me fazendo acompanhar Jenn no banco de trás. Quando chegamos ele parou na frente da escola e nos mandou descer para ir estacionar o carro. O lugar estava bem iluminado, bastante gente andava em todas as partes e a rua estava cheia de carros estacionados. Sai do carro e esperei Jennifer sair, até aquele momento não consegui falar algo, o que era estranho pra mim mesmo.

Depois que o carro se foi, ficamos olhando as pessoas que fechavam bem o caminho para qualquer lugar naquela entrada da escola.

– Ah! Roan!-E uma menina, que surgiu caminhando na minha direção, caiu nos meus braços depois de tropeçar nos próprios pés.

Theresa riu depois, enquanto voltava a se equilibrar em seus tênis me escalando quase brutalmente. Ela tinha o cabelo com um trança fofa do lado do rosto, e a franja esticada na mesma direção, um vestido simples de uma cor entre verde e azul e uma meia calça grossa e escura. Então ela olhou Jennifer e abriu a boca chocada depois sorriu.

–Nossa! Jennifer que linda você está! Adorei a maquiagem! - e se aproximou da menina a olhando de perto e depois se afastou para ver tudo. - Roan você já disse que ela esta bonita com esse vestido?- e Tess me olhou.

–Estava tentando não admitir... -disse com um sorriso olhando a morena, que sorriu.

Tess olhou de mim para Jennifer algumas vezes, antes de dizer:

–Ouhm. Viu ela estava esperando algo desse tipo. As mulheres gostam de saber que seus esforços são notados, Roan. Agora vamos. Amanda e Carlie já devem estar lá dentro. -Ela começou a me puxar, então segurei a mão de Jennifer para não perde-la e entramos no meio das pessoas indo para algum lugar que só Tess sabia.

No começo Tess ficou por perto procurando as amigas, até que Jennifer as achou e a menina nos deixou no meio do ginásio que ecoava uma musica alta e agitada.

–O que acontece agora?- pergunto a Jennifer que não tinha estado em um lugar assim antes.

–Nos divertimos, fazemos o que queremos e é isso até quando não tiver mais energia. - ela me estranhou. -Quer dançar?

Jenn olhou o grupo de pessoas ocupando o espaço da pista de dança, e negou. Mas a puxei dizendo:

– É só seguir alguns passos dos outros. -entramos desviando de algumas pessoas. -Ou fazer o que quiser, como aquela menina de cabelo azul despreocupada bem li. - apontei para Tess com as amigas.

Demorou um pouco para a Jennifer parar de ficar olhando as pessoas em sua volta e eu receosa, para então começar a se soltar e me acompanhar. Foi divertido, até mesmo quando alguém trombava nela empurrando-a pra mim, ela ria disso e me fazia rir junto.

–Chega Jenn. - disse depois de muito tempo. - Cansei de você ficar me batendo e pisando no meu pé. Vamos achar algo para comer. – é ela me acertou algumas vezes com a mão e pisou, e não se importou em se desculpar.

Arrumamos alguns petiscos e ficamos por perto da área com alimentos.

Em um momento, Damian apareceu perto de mim e ficou me olhando parecendo querer dizer algo. Não perguntei o que ele queria apenas me afastei dando um passo pra trás, então ele começou meio hesitante:

–Roan. Alex disse que você é amigo da menina de cabelo azul do fundo da sala agora. - concordei tentando entender o que ele queria. – Ela... – e ele travou, então tomou um gole do copo que carregava e olhou o salão para alguém que não localizei. –Ela amiga da Amanda, não é? -concordei novamente e ele me olhou. - Pode me levar até elas?

Sorri entendendo. Deixei meu prato com Jennifer e o levei até elas, com ele me seguindo com um sorrisinho incontido. Achei Tess e contei de uma vez sobre Damian e seu interesse, o ruivo pareceu um pouco envergonhado por um momento enquanto a menina o analisava. No fim Tess concordou e o levou para conhecer sua amiga.

Voltei até onde deixei meu lanche e Jennifer. E ela estava conversando com alguém. Alguém que conseguiu espantar a minha tranquilidade de estar naquele lugar.

–... Por que você esta assim? Eu só estou conversando com você. - Adam tocou o rosto de Jenn e ela tentou se afastar.

Aproximei-me ficando entre eles e o fazendo recuar alguns passos. Eu queria fincar as garras nele de uma vez, cortar a cabeça dele fora ou qualquer coisa assim, mas senti uma barreira do meu braço. Eu não vi, mas podia sentir que tinha alguma coisa a ver a com irmã de Damian.

–Algum problema? – e ele ousou me encarar.

Felizmente minha força foi maior que o máximo de Anne e consegui acerta-lo com um soco. Adam caiu em cima da mesa com as comidas, o que foi um desperdício, e demorou um pouco para se levantar e revidar. Desviei dos seus golpes e consegui acertar alguns em pontos estratégicos sob sua costela e o deixando menos ágil. Estava brincando com ele, usando uma força mínima, e mesmo assim ele era meu saco de pancada humano. Depois de alguns minutos senti alguém me contendo por trás e outro segurando meu braço. Achei que a nossa briga tinha terminado com algum estranho nos afastando, mas eram amigos dele que permitiram que ele acertasse um golpe no meu rosto antes de alguém da escola interferir de verdade.

Raphael junto com Alex, Victor, Melanie e Anne seguiram os estranhos que me levaram para fora.

–Roan porque você fez isso?- disse a ruiva. -Assim vai ficar de castigo mais uma semana. Ou coisa assim!

Eu me sentei em um banco sentindo onde Adam me acertou e a ignorei.

–Acho que a festa acabou. - disse Raphael um pouco desanimado. -Mas deu para mim fazer algumas coisas, conhecer pessoas e sair da monotonia.- e os seus pupilos o olharam surpresos e ele sorriu. – Podem me chamara para mais festas assim. E você Jennifer, se quiser pode ficar, Damian e Anne podem te levar para casa depois.

Olhei a menina perto dele e ela negou com cabeça.

–Pode ficar Jenn. Só fique perto de Tess ou uma das meninas e se divirta. Eu não posso mais voltar lá. –disse e ela recusou de novo.

Deixamos os quatro para trás e seguimos Raphael até o carro. No caminho par a mansão dele, Jennifer me olhava de vez em quando e eu que evitava. Provavelmente ela buscava compreender melhor a razão para o que eu fiz, como eu.