–Um, dois, três, quatro, isso!- gritava John, segurando o saco de pancadas, motivando Cameron, enquanto ela o socava- Direita, esquerda, chute!Isso garota!- a televisão de 43’’ estava pendurada numa parede, estava no canal de reportagens.

Haviam se passado três dias desde que Cameron decidiu ficar e treinar com John na BatCaverna, seguindo os conselhos de Alfred.Ela sempre fora boa em luta, ainda mais quando entrou na policia.Agora precisava ganhar força, resistência, habilidade

–Muito bom, Car.Descanso, agora.- ela parou, soprando.Estava suando, com o cabelo preso em um rabo de cavalo.Usava um quimono azul com faixa preta, das antigas aulas de jui-jitsu que tivera a muito tempo.

–Finalmente.- disse ela virando-se para Alfred, que lia um jornal na cadeira- E agora?O John precisa sair.Precisa salvar pessoas, o povo já se esqueceu do Robin.

–Sim, eu sei.- disse, voltando o olhar para ela- Por isso, quero uma volta fantástica.Um grande retorno.Para isso, é preciso uma grande tragédia.Os crimes de Gotham diminuíram muito desde que Bane se foi, e agora o que nos resta é contar com acidentes e incidentes, onde possam haver vítimas para serem salvas.Por isso quero a televisão sempre ligada no noticiário.Qualquer coisa, qualquer incêndio, qualquer acidente de trânsito, o novo herói de Gotham estará lá para salvar o dia.

–E quanto a essas pessoas que querem nos pegar?Eles não vão parar, até conseguirem o que querem...

–E nós vamos descobrir o que é, mas o povo precisa saber que ainda tem um herói.Se ele esquecer disso, não há lógica em continuar.

–Certo, então precisamos de algum acidente ou algo assim, e logo.- disse John.

–Algo como isso?- perguntou Cameron, aumentando o volume da TV com o controle.Ela mostrava um prédio incendiado com pessoas tentando escapar, ao vivo.

“Não se sabe como o fogo surgiu, mas ele tomou uma proporção muito grande em pouco tempo”, disse o jornalista. “Os bombeiros não conseguem conter o fogo, e os reforços devem demorar”, completou.

John ficou paralisado diante da TV por um tempo, mas logo se mexeu.Foi até seu uniforme e tirou sua roupa.O vestiu.

–Como você vai chegar lá a tempo, John?- perguntou Cameron, entregando-lhe sua máscara- Fica do outro lado da cidade!

A expressão do rosto de John foi de determinação a preocupação.

–Droga, eu não tinha pensado nisso!Não tenho um meio de transporte.

Alfred pensou rapidamente.

–Ãnn...Talvez tenha, senhor.- ele pareceu estar falando com Bruce, por causa do “senhor”, talvez fosse o hábito- O Bruce doou muitas coisas, mas ele deixou algo para você.

–O que?

–Uma moto.

–Ele deixou sua BatMoto pra mim?

–Na verdade, deixou a moto de Bruce Wayne para você.Não é tão veloz quanto a BatMoto, mas é bem veloz.Se for agora, chega lá em dez minutos.

–Isso é sobre-humano...Onde ela está?

–Num compartimento secreto.- disse, levantando-se e foi andando.

–Achei que toda essa caverna fosse secreta.

Alfred andou até as grandes paredes de pedra e apertou uma rocha, que abriu uma porta para um garagem.Dentro dela, estava uma linda moto vermelha, no estilo Kawasaki Ninja, mas John duvidava que era de alguma marca, não tinha nem logotipo.Bruce mesmo a fizera ou mandá-la fazer.

–Meu Deus...- ele ficou sem palavras- Ela é linda!- correu e montou na moto.Amaciou os guidões.Depois se preparou.

–Estou pronto.

*

Logo estava ele, como aquele grande raio vermelho circulando a cidade, á 145 km/h.Alfred mostrou uma série de botões na moto que acionavam o sistema de segurança, usando uma espécie de ímã que prendia seu traje- feito do mesmo material que o traje do Batman- á moto, impedindo que ele caísse, devido a alta velocidade.

“O Bruce realmente projetou tudo”, pensou.

Estava a menos de 3 km do local quando começou a ver caminhões de bombeiros indo o mais rápido que podiam.Ele percebeu que a coisa era séria.Tentou acelerar mais, e por incrível que pareça conseguiu.

Quando chegou lá, todos estavam desesperados.Uma grande multidão havia se reunido em volta do prédio, sendo impedida de se aproximar por uma faixa listrada.Ele estacionou a moto a uns dez metros de distância, num lugar escondido, e veio correndo.

–Afastem-se, pessoas!Não queremos mais ninguém ferido!- disse um oficial do corpo de bombeiros.Negro, alto e um pouco fora do peso.Fazia John lembrar de Michael Clarke Duncan.

Quando as pessoas notaram a presença de John, pareceram não gostar de ver um cara fantasiado no meio de um incêndio.

–Ei, oficial!- chamou, Robin, tentando ignorar aqueles olhares que o seguiam.As pessoas não sabiam se ficavam aliviadas ou surpresas em ver o Robin- Tem mais alguém dentro do prédio.- o oficial pareceu decidir se respondia ou não àquele maluco mascarado ou não.

–Conseguimos resgatar todos os sobreviventes, menos uma mulher.Ela se recusa a pular na cama elástica, pois disse que sua filha está dentro do prédio.

–E vocês não vã lá salvá-la?- perguntou, um pouco precipitadamente.O oficial não gostou do tom dele.

–Você não acha que já tentamos, garoto?Afaste-se, ou vai se machucar.- disse e virou-se.

–Eu posso ir.- disse.O oficial virou e o encarou como se ele fosse a pessoa mais idiota do mundo- Eu entro lá, pego a criança e a mulher pula.

–Não vai, não, garoto.Esse fogo já tomou conta do prédio todo.Se a mulher não pular, as duas vão morrer.

–Por favor, eu sou o Robin!

–Você é um maluco.- disse- Afaste-se.

–Aqui!- gritou a mulher, da janela no último andar do prédio, que tinha sete andares- Estou ouvindo minha filha gritar!Por favor!Não consigo alcançá-la!Ela está lá em baixo!

John virou de costas e esperou o oficial se afastar para pular por cima da faixa e correr até o prédio.

–Ei, volte aqui!- gritou o homem, correndo atrás dele, ao vê-lo bem a frente- Segurem esse maluco!- os outros oficiais perceberam o que ocorria e foram atrás dele, deixando alguns sobreviventes em suas macas..John derrubou um bombeiro com um encontrão, um outro conseguiu agarrá-lo, mas mesmo assim, John conseguiu derrubá-lo.

–Eu vou salvá-la!Me soltem!- gritou e quando chegou á porta do prédio em chamas.Olhou pra trás e viu os oficiais gritando para ele voltar.

–O que eu to fazendo?- perguntou-se e entrou.Um pedaço do teto quase caiu em cima dele, por pouco.Não era mais possível andar no chão sem pisar no fogo.Sua sorte, era que o material das suas botas era muito resistente.Andou o mais rápido possível e chegou até a escada.Mas, grandes lascas de teto em chamas percorriam toda ela.Seria impossível passar por ali.A fumaça preta o fazia tossir muito e ele não estava mais conseguindo distinguir nada.

Finalmente ele teve uma idéia, completamente louca, mas era sua única esperança.Não era aconselhável usar o elevador em caso de incêndio, até por que toda a energia havia parado, mas se ele conseguisse entrar e usar os cabos que o sustentavam para subir, talvez conseguisse chegar até a mulher.Se, é claro, eles não tivessem sido queimados.E ele ainda tinha que achar a filha da mulher.

John correu até o elevador que estava com a porta emperrada.Ele tentou abrir com as mãos mas não conseguiu, estava muito presa.Teve uma idéia.Carregava consigo mais um dos morcegos do Batman, e poderia usá-lo como uma espátula.

–Argh...- houve um grande barulho e ele conseguiu abrir a porta.

–Ah!- gritou uma garota sentada ao chão do elevador, sobre o corpo de um homem- Socorro!- ela devia ter uns seis anos.

–Ei, menina!- a porta trancada do elevador havia impedido a fumaça de entrar, então quando ele abriu, uma grande onda de fumaça veio sobre eles.Ele voltou a fechar a porta o máximo que conseguiu.

–Socorro!Minha mamãe está lá em cima!

–È, eu sei.- disse, sentando-se ao seu lado, tentando acalmá-la- Eu vou tirar vocês daqui, o.k?Esse...- apontou para o corpo- Esse é o seu pai?

–É.Estávamos indo ver a mamãe quando o elevador caiu, e meu papai bateu a cabeça.- a menina estava sangrando também, mas não parecia se importar com a dor.John pôs a mão no pescoço do homem.

“Graças a Deus está vivo”, pensou.

–Ei, qual é o seu nome?

–Emily.

–O.k, ta bom, Emily.Agora escute o que eu vou fazer.Vou pegar você e amarrar a mim, quero que segure bem firme, o.k?

–Uhum...- disse ela, balançado a cabeça.

–Vou usar os cabos que seguram o elevador pra gente chegar até sua mãe.

–E como vamos sair?

–Vocês vão pular lá em baixo.Lá tem um pula-pula.

–Um pula-pula?- ela pareceu se animar um pouco.

–Sim, e aí eu volto para buscar o seu pai.- ela olhou para o corpo o chão.

–Ta bom.

John usou a corda do Batman para amarrar a menina em seu corpo e derrubou o teto do elevador.O fogo já havia o deixado fragilizado, então foi fácil fazer isso.Ele era uma pessoa muito sortuda, pois as cordas estavam inteiras.Com mais um pouquinho de sorte, elas conseguiriam sustentá-los até chegarem lá em cima.

John entregou sua máscara à menina.

–Quero que tape seu nariz com isso, ta?.Não respire essa fumaça.Tudo bem?

–Tudo.- disse ela balançando a cabeça e fazendo o que ele disse- E você?

–Eu vou ficar bem.

Com a garota presa a ele, se agarrou firme àqueles guindastes e foi se puxando para cima.O peso de seu corpo somado ao da menina, fazia suas mãos suarem.A fumaça invadia aquele tubo, o fazendo tossir.Ele usava a ponta do morcego para se prender àqueles grossos cabos de aço, mas suas mãos começavam a sangrar.

–Não, não!Argh...- seu rosto se desabava em suor, a menina também, aquele calor estava quase matando os dois.

Com muito esforço, John conseguiu chegar lá em cima.Agora precisava encontrar a mulher em meio a todo aquele fogo.Soltou a menina.

–Moça!- gritou fraco, tossindo e mancando.

–O nome dela é Susan.- disse a menina.

–Ah, obrigado.Susan!- chamou de novo.

–Aqui...- disse uma voz fraca e chorosa no canto da sala.

–Susan, eu estou com sua...- tossiu mais- Estou com sua filha!

–Emily?- a mulher pareceu mais aliviada quando ele a viu se levantar.

A garota correu até os braços da mãe que a abraçou.

–Mamãe!Eu to com medo.Ele me salvou.- disse apontando para ele.

–Onde...onde está o papai?- perguntou a mulher, com a criança no colo.Robin pareceu se lembrar disso.

–Agora eu vou voltar e salvá-lo.Vocês duas , pulem na cama elástica, tudo bem?

–Ta bom.- disse a mãe, que correu para a janela, com Emily.

–Emily!- chamou John- Pode me devolver a máscara?

–Posso.- ela entregou em sua mão, que abaixou para pegá-la, e o abraçou- Obrigada.

–De nada.

Susan abraçou sua filha e pulou com a menina.

*

John desceu com mais agilidade.A descida sempre é mais fácil.Usou a máscara para tapar a respiração.

Ao chegar lá em baixo, viu o corpo ainda caído do homem.Novamente checou o seu pescoço.Estava vivo.Ele amarrou a máscara em seu nariz e boca, e com muita dificuldade amarrou-o ao seu corpo, e novamente, começou a escalada.

Suas pernas tremiam, seus braços oscilavam, mas ele precisava fazer aquilo.Quando chegou na metade do caminho, olhou para baixo, e viu que o elevador havia sido tomado pelo fogo.Ele estremeceu, tentou se concentrar e continuou.

De repente, quando estava quase chegando, ele ouviu um barulho.Olhou para cima, e viu que o teto acima estava se desprendendo.Iria desabar sobre eles.

–Ah, droga!- foi mais rápido, mas uma grande lasca de teto em chamas caiu.Passou de raspando sobre eles, e queimou a corda que prendia o homem a ele, e ele caiu.

Num segundo, John conseguiu segurar sua mão e puxá-lo.Ele era muito pesado, mas conseguiu jogá-lo no chão do último andar, em segurança.Ou quase isso.

Mas John havia se esforçado demais.Havia perdido suas forças.Sua mão sangrava muito.Ele não conseguiu se sustentar e caiu no abismo.

*

John não sentiu o vento.Ele caiu, quando estava tão perto.E por um momento achou que ainda estava caindo.

–Se você puder me ajudar...eu agradeço- disse o homem, perdendo a voz, segurando-o pelo pulso com muito esforço, com a metade do corpo para dentro do abismo.

John tentou retomar as forças, o homem o puxou, e ele conseguiu subir.O homem tossiu e disse:

–Toma essa máscara.Você inspirou mais fumaça que eu.- John hesitou e pesou em protesta, mas achou que era melhor mesmo.Ele estava fraco, seus olhos estavam vermelhos e sua respiração estava fraquíssima.Tudo o que ele via eram borrões e sua visão estava escurecendo.Ele pegou a máscara e amarrou no nariz e boca- Vamos logo, ou esse teto vai cair sobre a gente.

O homem se levantou e deu apoio a ele, ajudando-o a andar.Pedaços do teto quase caíram sobre eles, mas eles conseguiram desviar.

Finalmente, chegaram á janela.O homem olhou para baixo e viu a cama elástica, e sua família sendo amparada pelos bombeiros.Ele olhou John, com um sorriso agradecido.

–Obrigado.

John não conseguiu dizer nada.Só revirou os olhos e desmaiou nos braços do homem.

*

John só lembrava da sensação de estar caindo, e do barulho do teto desabando.Depois disso, não se recordou de nada.

Abriu os olhos.Tossiu.

–Onde...?

–Acalme-se, John.- disse Alfred, sentado ao seu lado.Estavam num hospital.

–O que aconteceu?- perguntou fraco.

–Você salvou aquelas pessoas.Mas a fumaça e todo o esforço que teve o fizeram mal.

–Cadê a Cameron?

–Ela está bem.

–Quanto tempo eu fiquei apagado?

–Um dia inteiro.Vimos no noticiário que o Robin havia sido levado para hospital, então viemos.

–As pessoas viram o meu rosto?- perguntou preocupado.Alfred quase riu.

–Viram, mas não se preocupe.Você não tem um rosto conhecido.A imagem da verdadeira identidade do Robin ainda é um segredo.- John assentiu- Mais uma coisa, John.Eu já deduzi o que nosso inimigo quer.

–O que?

–Estive pensando, e você não percebe?Os crimes de Gotham pararam depois de Bane.E agora estão voltando arduamente.Ondas de assassinato, roubos, sequestros...esse tipo de noticia está voltando a televisão.E aposto que esse incêndio também foi provocado por alguém.E acho que esse alguém, seja lá quem for, está por trás de tudo isso.Não acha estranho que ele atacou diretamente a única pessoa que resolveu fazer alguma coisa a respeito disso?Você?Um herói?

–O que quer dizer?

–Jack tinha razão.Os crimes estão voltando pelas mãos de alguém muito perigoso, e seu objetivo é simples: trazer o crime de volta á Gotham.E dessa vez, definitivamente.