– Deixa eu ver se eu entendi – disse Nico para Percy.

Assim que conseguiu fugir do cão (o que levou mais tempo do que ele esperava), Percy pegou um ônibus. Não foi direto para sua casa, pois ainda estava processando o que tinha acontecido e se tudo fora real. Ele não tinha mentido. Nunca conheceu ninguém como Annabeth. E precisava compartilhar seus pensamentos com alguém. Então foi para a casa de Nico. Estavam no quarto de Nico, comendo e jogando vídeo-game, enquanto Percy contava sobre a noite anterior.

– Você ficou a festa inteira do lado de fora tomando coragem para falar com Rachel...

– Isso mesmo – disse Percy.

– Conheceu uma garota...

– Yep.

– Vocês conversaram. Então a policia chegou...

– E você foi embora sem mim, alias, você é um amigo de merda.

– Um dia você vai ter que superar isso Jackson. Então você acompanhou essa garota até a casa dela, e entrou no quarto dela?

–É.

– E vocês não fizeram nada?

– Não.

– Nadinha de nada? Você quer me dizer que você ficou a noite inteira no quarto de uma garota e apenas ficaram conversando?

– Sim.

– Você é adorável sabia? – disse Nico.

– O que? Por que?

– Você passou a noite inteira no quarto de uma garota. E nem a beijou. Por isso você ainda é virgem.

– Vai se ferrar Nico. Ela tem namorado.

– Não, ela não tem.

– Ela disse que tinha.

– Mas não tem. Sempre que Bianca conhece um cara novo, ela diz que tem um namorado. Assim, se ela não gostar dessa cara, ela tem uma porta de saída. Eu te garanto, que daqui a alguns dias, se convidar ela para sair, ela vai aceitar

– Eu não vou convidar ela para sair... – disse Percy.

– Por que não? Por causa da Rachel? No cargo de melhor amigo, eu sinto a obrigação de te falar: Isso-nunca-vai-acontecer.

– Ok. Muito obrigado. Já pensou em fazer palestras motivacionais?

– Só estou tentando facilitar as coisas para você!

– Mesmo se eu quisesse, eu não poderia chamar Annabeth para sair.

– Me dê um bom motivo.

– Eu não tenho o número dela.

– Você não pegou o número dela? Seu inútil!

– Ela começou a digitar, mas ai a mãe dela a chamou e ela jogou o celular para mim sem terminar. Não deu tempo.

– Mas você sabe onde ela mora.

– Sim, claro. Eu poderia ficar do lado de fora da casa dela. Isso não seria nem um pouco estranho e assustador. Sem falar do cão do vizinho.

– O que tem o cão do vizinho?

– Eu realmente acho que aquele animal foi bicho de estimação de Satã na vida passada. Aquela coisa não é normal.

– Ta bom então. O que você vai fazer? – disse Nico pausando o jogo e se virando para Percy.

**=**

– Eu sei o que vamos fazer – disse Thalia.

Assim que Percy foi embora, Annabeth ligou para Thalia. Precisava de uma amiga para contar tudo o que aconteceu. Thalia foi a primeira pessoa com quem Annabeth falou quando se mudou, e logo viraram amigas. Annabeth pensou que a amizade não fosse durar mais do que 2 semanas, mas agora já havia se passado 6 meses.

– Como assim? – Annabeth perguntou.

– Você sabe o nome dele certo?

– Sim. É Percy.

– Ok. O nome dele é Percy, ele estuda na Goddie, e está na equipe de natação. São todas as informações que você sabe sobre ele?

– Acho que sim.

– Acho que é o bastante – disse Thalia pegando o celular.

–Para quem você vai ligar?

– Eu tenho uma colega que estuda na Goddie. Bianca Di Angelo. Ela pode conseguir o número dele para você.

– Não!

– Por que não? Você acabou de dizer que adorou conversar com ele, que ele é legal e interessante. Pela amor Annabeth, você trouxe ele para sua casa!

– Não é isso... É que ele é apaixonado pela melhor amiga. Quero dizer, completamente, totalmente, infinitamente, apaixonado por ela.

– Hum... e dai? – perguntou Thalia como se não entendesse, ou não se importasse.

– Vai. Liga logo para sua amiga!

– Pode deixar – disse Thalia discando o número e colocando no viva-voz.

– O que você quer Grace? – disse uma voz do outro lado da linha.

– Bom dia para você também Bianca.

– Tanto faz. O que você quer?

– Lembra que você me deve um favor?

– Sabado de manhã não é dia, nem hora de cobrar favores – disse Bianca.

– Tanto faz. Eu preciso do número do telefone de um garoto que estuda na Goddie.

– Qual é o nome dele?

– Percy. Ele está na equipe de natação. É tudo o que eu sei.

– Percy? Percy Jackson?

– Não sei o sobrenome dele.

– Só pode ser ele. Percy é o melhor amigo do meu irmão. Por que você quer o número dele?

– É para uma amiga.

– Hum-hum, sei. Uma amiga.

– Bianca, passa logo a droga do número.

– Ta bom, ta bom. Anota ai – então Bianca começou a ditar o número enquanto Annabeth o anotava em um pedaço de papel.

– Valeu Bianca.

– Diz para sua “amiga” que Percy vai estar no ringue de patinação no gelo sexta-feira que vem. Ele vai com meu irmão e outros amigos.

– Você vai?

– Claro que não;

–Então eu e minha amiga vamos dar uma passada lá; - Thalia disse, então desligou.

– Você e essa Bianca...

– Ela me adora. – respondeu Thalia. – Bem, agora você tem o número dele.

– E o que faço?

– Não sei Annie, que tal mandar um pombo-correio para ele?

– O que eu digo? Não é muito cedo para ligar para ele?

– Faz quanto tempo que ele saiu daqui? – Thalia perguntou.

– Faz... – Annabeth olhou para o relógio. – Cerca de 2 duas horas.

– É. Ta muito cedo.

– E além disso, eu dei o meu número para ele.

– Você deu o número certo?

– Eu não tenho certeza. E digitei rápido, com medo de que minha mãe o visse.

– Annie, eu só tenho mais uma pergunta.

– Ok. Pergunte.

– O que você vai fazer sobre o Luke?

**=**

Durante o fim de semana, Percy só conseguia refletir sobre as coisas que Annabeth tinha lhe falado. Percy achava incrível o modo dela de pensar, parecia que a mente dela funcionava em uma sincronia diferente da das outras pessoas.

No sábado a tarde, Rachel chamou Percy para assistir uma maratona de Gossip Girl, e é claro, que sem pensar duas vezes, ele aceitou. Percy já tinha visto todas as temporadas de Gossip Girl. Mais de uma vez. E mesmo assim aceitou. E nem ele entendia o porque.

Mas assim que chegou na casa de Rachel, ele descobriu o motivo. Ele só queria passar mais tempo com Rachel, e Rachel só queria falar dos outros garotos.

–Nossa, você finalmente chegou! – disse Rachel abrindo a porta.

– Eu vim andando. – disse Percy.

– Tanto faz. Senta ai no sofá – disse Rachel praticamente empurrando Percy para o sofá.

– O que temos para comer?

– Hum... pipoca, chocolate e salgadinhos. Além de refrigerante.

– Pode ser.

– Onde você estava na festa de ontem? Não te vi – disse Rachel.

– Eu... hum.. estava tomando um ar. Do lado de fora.

– Oh... com uma garota?

Percy precisou pensar cuidadosamente na resposta. Ele poderia mentir, dizer que não, que ficou sozinho, e se manter em uma zona segura com Rachel. Ou ele poderia dizer a verdade, falar sobre Annabeth e ver a reação dela, ver se Rachel se sentia de algum modo ameaçada por saber que Percy estava se relacionando com outra garota. Causar ciúmes.

– Si.. não. Não. Eu fique sozinho.

Causar ciúmes era uma boa ideia. Mas não era assim que Percy queria fazer as coisas. Ele queria que o sentimento de Rachel fosse espontâneo, não provocado de um jeito clichê e barato.

Percy percebeu que Annabeth estava certa. Ele não tinha atitude.

– Percy, você deveria conhecer mais garotas.

– Como foi com Josh Milles

– Aff, nem me fale nesse nome.

– Foi tão ruim assim?

– Josh só mais um desses caras com o ego grande e o pênis pequeno.

– Oh... que pena – disse Percy, mas ele se sentia bem com isso. Josh Milles foi só mais uma prova que não basta apenas ser incrivelmente bonito.

– Vamos assistir Gossip Girl. Apenas Blair e Chuck podem curar minha decepção com a noite passada.

– Rachel. Você já ouviu falar em “esperanto”? – Percy perguntou.

– Não é aquele restaurante de comida mexicana na zona sul?

– Deixa para lá.

– O que aconteceu com você? Você está estranho? – disse Rachel rindo.

Ouvir o som da risada de Rachel fez o coração de Percy se aquecer e seus pensamentos se confundirem. Do que ele estava falando mesmo? Fazia diferença? Rachel deu play no vídeo e colocou a cabeça no ombro de Percy, e isso fez seu coração bater fora do ritmo.

– Um dia eu vou viver isso? – ela perguntou vendo uma cena entre Blair e Chuck.

– Quem sabe? Talvez você deva parar de procurar e... olhar ao redor.

– Não adianta Percy. Chuck Bass não está nessa sala.

– Pois é Rachel. Eu não sou Chuck Bass.