Lágrimas escrita por Felipe Melo


Capítulo 12
Capitulo 12 - Alana


Notas iniciais do capítulo

- Capitulo Dedicado a noiva do Geliel... Tatiana... o casamento será em breve hehe...



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Capitulo Doze

Alana

Fui motivo de flashes na escola. Todos me olhavam como se eu fosse a estranha. Até mesmo Sarah Marques tinha vindo me pedir desculpas por tudo o que já me tinha feito. Eu estranhei, mas não disse nada. Ela já era irritante demais. Os professores até me liberavam para tomar ar, isso era ridículo. Mas tirei vantagem disso.

Geliel não apareceu hoje. Não respondeu minhas mensagens. E enquanto minha carência aumentava, eu via Miguel e Sarah se agarrando freqüentemente. Claro que Miguel tomava cuidado, mas era inútil. Todo mundo via e percebia. Ele já não precisava esconder nada. Isso já me enervava bastante.

– O que foi amiga? – disse Vee na hora da saída.

– Estou brava – disse eu – Geliel não apareceu e nem respondeu minhas mensagens. Isso está me deixando preocupada. Ele saiu tarde da noite de casa ontem.

– Não se preocupe – disse ela – Geliel sabe se cuidar. Não fique se lastimando.

– Vee seu vocabulário está me surpreendendo – disse eu rindo – onde está aprendendo isso?

– Com o Antony – disse ela – meu quase namorado gay.

Meu Deus para tudo. Vee tinha arrumado um namorado Gay? Eu achei que fosse só brincadeira. Quase cai na rua. Ela era implacável.

– Não creio – disse eu colocando a mão na testa – você não fez isso. Coitado do menino.

– Ele amou a idéia – disse ela –serei o macho da relação. Isso é legal.

Quero minha amiga de volta. Vou rezar para isso acontecer.

– Fazer o que – disse eu – vou te apoiar. Fique tranqüila. Só não magoe o menino.

– Sou um namorado simpático. Tenho que me acostumar a usar termos no masculino. Vai ser diferente, mas eu gostei.

Entramos no carro rindo e o mundo pareceu normal outra vez.

– Onde você está – dizia eu para Geliel no telefone – fiquei preocupada.

– Não se preocupe – disse ele – estou revendo uns amigos de Londres. Coisa rápida. Volto em uma semana.

– Uma semana? Meu coração fica como?

– Seu coração não vai sentir falta, ele está comigo. E tudo que você quiser que será seu. Não se esqueça disso. Tome cuidado. Por favor.

O tom de voz dele estava estranho. Geliel dificilmente gaguejava. Mas hoje eu sentia que ele mentia. Mas preferi não dar bola para intuição. Se formos ter algo sério, eu tinha que confiar nele. Ele me amava, e eu tinha que demonstrar segurança.

– Prometo que vou me cuidar.

– Assim fico mais tranqüilo. Amor vou ter que desligar. Logo nos falamos. Sonhe comigo está noite.

– Sempre – e assim desligamos o telefone.

Depois do acidente que eu milagrosamente sobrevivera, a tarde parecia se estender. Eu não compreendia o sentido das coisas. Meus sonhos tinham um significado. Disso eu sabia. Kianda não era só minha imaginação. O seu reino também não. Eu sentia algo interno em relação a isso. Sentia que podia ignorar o fato de muitas coisas. Mas isso já havia passado dos limites. Eu precisava descobrir. Pesquisar. Já se tornava uma necessidade.

Fui até a biblioteca de vovó. Ela gostava de sonhos, e de seus significados. Para meu desapontamento não havia nada importante ali. Fui mais ao fundo do pequeno escritório. E achei um livro interessante. Ele retratava sobre a história das sereias e de suas crenças. Aquilo para mim seria interessante. Não sei por quê. Mas aquilo me fascinava. Por quê? Vai ver que era incomum. Eu também amava Harry Potter. E gostava de Percy Jackson.

Levei o livro para meu quarto ali eu começaria as pesquisas. Seria longa, mas eu queria saber sobre meus sonhos e seus significados. O livro é de capa dura. Grosso e muito pesado. Havia tempo que vovó não o lia. Ele estava empoeirado. Peguei um pano levemente molhado e passei a sua superfície. O livro parecia conter muitas respostas. Não hesitei e abri o livro.

Começaremos falando sobre quão desastroso e caótico é o mundo de atlantes. Há muito tempo na era onde os deuses habitavam nosso mundo. Poseidon concebeu criaturas lindas que chama de filhos. Assim como qualquer criatura bela ele criou as sereias. Elas eram uma divindade nunca vista antes. As protetoras dos mares tinham um falar hipnotizador, um canto perfeito e poderes sobre os elementos. Como ele não podia coordenar tudo sozinho, ordenou que dentre delas saísse uma deusa sereia. O nome dela seria Kianda.

Arrepiei-me ao ler Kianda escrito. Meu Deus. Não conseguia assimilar nada. Que história fascinante. Continuei a ler.

Kianda era tão bela e ao mesmo tempo invejada pelas outras. Só ela tinha acesso ao deus Poseidon. Nem mesmo Poseidon resistiu aos seus encantos, em uma noite ele a tornou Deusa. E ela passou a ser uma divindade dentre sua espécie. Logo que ela cogitou a idéia de as sereias serem livres para amar, ele a repudiou. Disse que ela não moraria, mas em atlantes. E dizem que a batalha entre os dois, desencadeou a cidade perdida. Onde nunca foi encontrada. Kianda liderou algumas sereias e criou um reino entre o mar e o céu. Seus poderes rodeiam seu mundo e seu lar. Nem mesmo Poseidon ou Zeus podem adentrá-lo.

Então Kianda não era realmente fato da minha imaginação. Ela era uma deusa sereia. O fato de eu sonhar com fantasias só me deixava mais louca. Kianda então tinha poderes sobre sua raça sereiana. Tentei continuar e ler mais um pouco sobre essa história quase impossível.

Kianda decidiu que as sereias eram capazes de amar. Mas para isso teriam que achar uma profecia perdida a muito tempo. A profecia criada por Cronos era a única chance. Ela não podia conceber liberdade a elas. Os humanos já existiam. E caçavam muitas delas. Alguns eram maus. Outros bons, mas entre elas haviam sereias perversas. Com asas e cauda que tinham uma maldade oculta. Kianda percebendo isso as expulsou de seu reino. Elas são conhecidas como ninfas. Ou ninfas das águas. Elas são terríveis, e matam por puro prazer. E assim mais uma guerra começava.

Não conseguia continuar lendo. Tudo isso me parecia tão estranho. O reino perdido. Tudo. Era demais. Eu estava fantasiando muita coisa. Isso não era normal. Olhei no relógio eram 19h30min eu poderia dar uma caminhada na praia. Assim eu espairecia um pouco. O mar me acalmava. Afinal eu era praiana mesmo. Quem sabe era por isso que eu gostava tanto do mar?

A praia estava vazia. A noite tudo ficava muito frio por aqui. Mas eu não me importava. Gostava de sentir o cheiro de água salgada, e de sentir que o mar podia levar meus problemas embora. Afinal eu era um simples adolescente. Tudo para mim era mais intenso. Mas logo isso passaria. Logo tudo passaria. Nada era para sempre.

Havia uma rocha em forma de coração. Sentei-me nela e comecei a refletir sobre como minhas mudara nesses últimos meses. Muita coisa havia acontecido. Eu me tornara mais decidida, mais eu. Enquanto surgiam Geliel e Miguel que bagunçavam meus sentimentos cada vez mais. Eu gostava deles, mas para mim era difícil escolher apenas um. Realmente minha vida havia mudado.

– Não sabia que gostava de praia – disse Miguel me dando um baita susto.

– Claro que gosto – disse eu rindo – só não me assuste mais desse jeito.

– Desculpa – disse ele levantando as mãos – achei que tinha me ouvido chegar.

– Não ouvi. Se não eu não tinha gritado.

– Já pedi desculpas. Trégua lembra?

Sorri. Miguel não precisava exibir sua beleza. Seu tanquinho. Ou me beijar. Ele sendo Miguel, legal e simpático já me ganhava por inteira. E isso eu não podia negar.

– Desculpe – disse eu – sou meio ranzinza.

– Está ficando velha. Isso realmente é desgastante.

Ri alto. Ele fazia umas caras e bocas. Ele me olhou e se aproximou. Não sai do lugar. Algo me impedia. Algo me fazia querer. Algo que me puxava. Seria um transe? Ou era amor que eu sentia?

– Você tem olhos lindos – disse ele sem jeito.

– Você tem covinhas lindas também – disse eu meio boba.

O mundo parou ao nosso redor. Ele pegou no meu pescoço e me puxou. O beijo foi suave, foi perfeito. Sabíamos exatamente o que fazer com o outro. Ele movia a língua exatamente para o lugar certo, esse deveria ter sido meu primeiro beijo de verdade. Enquanto isso, fortes ondas na praia se quebravam.

Geliel

Eu sentia exatamente um peso no coração. Ele a havia beijado. Meu coração se despedaçou. Pessoas como eu podiam sentir as emoções da pessoa que amava. Alana nesse momento estava feliz. Aquilo me doeu muito. Valentina pareceu notar. Estávamos no metro. Íamos pegar uma viela quando sairmos e procurar algumas testemunhas.

– Ela o beijou não foi? – disse ela me analisando.

– Não quero falar sobre isso.

– Você é um idiota – disse ela – ela não se importa com você.

– Você não conhece Alana – disse eu sarcástico – ela é ótima.

– Ela é hibrida. Ela vai morrer.

Aquilo já estava me dando nos nervos. Se eu pudesse eu jogaria ela pela janela do metro. Mas com certeza pessoas como Valentina não sofreria dano algum.

– Não vou de jogar desse trem porque tem pessoas normais aqui.

Ela se encolheu.

– Só falei a verdade. Você sabe disso. Lisandra é poderosa.

– Você acha que não conheço minha própria mãe? Sei que ela está mais poderosa. Mas não posso deixar Alana morrer. Ou passar para o lado negro.

– Você já foi desse lado. Não foi tão ruim assim. Eu já fui.

– Fomos sim desse lado. Mas antes o mundo estava seguro. Alana não existia. Hoje ela existe. Temos que ao menos lutar para salvar-nos. Olhe essas pessoas: só querem viver.

– Não ligamos para humanos. Ele não tem coração.

– Você ficou afastada demais deles para perceber que alguns são capazes de amar.

– Trabalho em um bordel.

– Por isso não reconhece o que é amor verdadeiro.

Valentina se calou depois disso. Ela sabia que eu estava certo. Eu amava Alana. Kianda queria que eu a protegesse, e se isso significasse abrir mão dela para outro, eu faria isso. Não por ninguém, por Deusa nenhuma, mas por ela. Tudo por ela.

Alana

Uma pontada me arremetia o peito. Empurrei Miguel. Ele me olhou e não compreendeu.

– Estamos namorando pessoas diferentes Miguel – disse eu – não podíamos...

– Aconteceu – disse ele – cedo ou mais tarde teria acontecido.

Aquilo só me deixou mais culpada. Não devia ter acontecido. Geliel. Como ele ficaria quando soubesse? Eu realmente não tinha caráter.

– Não podíamos. Isso é errado. Eu amo Geliel.

– Você sabe que não. Esse amor é meu.

Lágrimas me subiram aos olhos. As ondas agora ficavam mais fortes. Não sabia por que mais o vento estava mudando de direção.

– Você pode se acalmar? – disse Miguel.

– Quero ir para casa. Estou indo. A gente se vê.

Sai em disparada. Não corri para não bancar a idiota. Mas me esforcei ao máximo para não demonstrar sinal de fraqueza. Se aquilo havia acontecido, era porque eu permitira também. Pensei em Geliel e como ele ficaria. Ele merecia uma garota melhor. Uma que não o enganasse. Minhas lágrimas estavam mais contidas. Sabia que chorar não faria tudo desaparecer.

O tempo melhorara um pouco. Já eram quase oito horas. Mas não queria voltar ainda. Tentei caminhar pelo centro da cidade. Pelo menos com tantos cartazes e coisas, eu me distrairia. Já era um começo. Já era um sinal de alô. Meu celular tocou:

– Alana – disse vovó – onde você está querida?

– Estou dando um passeio pelo centro da cidade vó.

– Está sozinha?

– Estou. Mas está tudo bem. Fique tranqüila. Logo estou em casa.

– Cuide-se meu bem. Irei te esperar com uma xícara de chá, e algumas histórias.

Desliguei o telefone. Histórias de minha avó significavam lendas, e romances impossíveis. Todas essas histórias dariam um conto. Vovó era uma ótima contadora de histórias.

Olhei para o céu e algo parecia tremeluzir. Uma luz, não. Era a lua que estava mais brilhante. Fechei meus olhos e pedi que tudo em mim voltasse ao normal...

Lisandra

Esperar não era do feitio dela. Lisandra se irritava com a incapacidade de algumas pessoas. Ela não tolerava atrasos. Hoje ela estava em um restaurante chique, esperando uma visita importante. Como o mundo mortal era repugnante. Dava-lhe até embrulhos no estômago.

– Com Licença – disse um homem alto e bonito – me esperava Lisandra?

Lisandra sorriu. Até mesmo na pele de um humano Poseidon aparentava poder. Ela não o mediu. Nem ao menos o mensurou.

– Chegou atrasado – disse ela – o mundo aos poucos pode ir por nossos dedos sabia?

– Não seja tão critica consigo mesma Lisandra. Antes quando era das minhas, você não era assim.

Lisandra quase o fez pagar pelo comentário. Ela odiava ser comandada por Kianda. E muito menos por ele. Ele era o motivo talvez de sua espécie ter se virado contra ela mesma. Agora renegada dos dois mundos, ela tinha que agüentar sermões que não merecia ouvir. Mesmo assim com classe fingiu despercebida o comentário.

– Viemos tratar de negócios – disse ela – podemos?

– Mas é claro – disse ele – diga-me.

Lisandra explicou detalhadamente o plano de Kianda. E como a Alana era poderosa para eles. O poder dela. E a profecia que a envolvia. Mas também mencionara os empecilhos. Os amigos chatos e agora seu filho namorando e paquerando a infeliz.

– Isso não pode acontecer – disse ela batendo na mesa – Alana é nossa única chance.

– Podemos alterar o rumo das coisas – disse ele – mas isso custará caro. Terá que ser na próxima lua azul.

– Quando será?

– Daqui á um mês. Você terá que agir. Faça com que o mundo dela entre em caos. Faça com que ela se aproxime de alguém experiente.

– No caso esse alguém sou eu. Estou amando a idéia. Espero que dê certo. Vamos providenciar os caos.

Poseidon saiu pensando que estava no controle da situação. Mal sabia ele que Lisandra o estava usando. Ela sabia exatamente suas artimanhas. Sabia como usar a ordem das coisas ao seu favor. Alana não escaparia. Nem mesmo seu filho podia intervir. Isso já era demais. Ela iria aniquilá-lo de uma vez por todas.

– Ele foi um erro – comentou para si voltando para o apartamento que recentemente alugara – ele pagará.

Ela sentiu o sopro do vento que invocara imediatamente. As trevas carregadas nele faziam se sentir calma. Cortando um pedaço de sua carne ela pode ver tudo o que acontecia ao seu redor. Viu que Alana estava se sentindo confusa. Viu que Miguel não desistiria. Mas não conseguia ver seu filho. Em que diabos ele se metera?

Enquanto Geliel lutava pela vida da amada que há tanto custara achar e amar. Lisandra sua mãe planejava matá-la ou roubá-la para si. Tudo dependeria de quem alternasse as regras. De quem comandasse o jogo e soubesse como manipular essa pobre adolescente varrida. E disso ela tinha certeza. Afinal quem causara todo o sofrimento em sua vida?

Lisandra inspirou profundamente o ar de sangue misturado com as trevas... Alana pagaria o preço pelo ato de ter nascido.


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Notas finais do capítulo

- Beijos Desculpem a demora..



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