Acordei arfando. Suava incessantemente debaixo dos cobertores, e me sentia irritada. O sonho fora o mesmo. A agonia excruciante da dor espalhada pelo corpo inteiro. Não havia paisagem em foco, mas eu sabia que era um lugar bem aberto. E tinha água, em algum lugar bem próximo. E, em meios a delírios de escuridão, na qual eu não sabia nem onde, nem como, nem por quê,nem mesmo o quê;eu via seu rosto. Parecia muito com um anjo: os cabelos dourados que emolduravam seu rosto; os olhos de um castanho também quase dourado, como uma espécie ouro líquido que parecia enxergar através da minha alma; um corpo escultural, nem magro nem exageradamente musculoso; e a voz. Ela falava meu nome, somente meu nome.

- Clary, você vai ficar bem. Eu vou te tirar daqui. Clary olhe para mim, fique acordada. Você consegue, eu sei que você consegue. Clary... - Eu tentei seguir suas instruções. Nunca havia visto aquele anjo antes, mas, de alguma forma, eu sabia que confiava nele. Olhei no fundo de seus olhos, e eles foram a última coisa que eu vi antes de apagar.

Era aí que eu sempre acordava. Às vezes o sonho era interrompido, mas isso era tão longe quanto eu já havia chegado. Vinha sonhando com isso há semanas, apesar de não fazer alarde sobre o assunto. Realmente, não deveria ser legal sair espalhando por aí que havia um anjo loiro roubando meu sono, isso provavelmente favorecia e muito o ego dele. Okay, basta, isso sim é pensar loucura. Enfim, somente meu melhor amigo de infância, Simon, sabia disso. O que significava que ele também sabia a razão pelo meu mau humor constante de ultimamente.

E foi só pensar nele que o celular começou a tocar. Às vezes eu penso que isso não deve ser apenas coincidência, deve ter algum tipo de macabra telepatia que faça com que assim que eu pense nele ele me ligue. Mas isso não importa realmente.

- Hello - Tentei transmitir meu melhor tom de falsa animação.

- Como vai Fray? - Ele pergunta num tom gentil.

- Melhor impossível - Okay, agora ele sacaria. Esse é o tipo de coisa que eu só digo quando estou mais para pior impossível.

- Qual o problema? - Viu? Eu disse...

- Você tem tempo?

- Na verdade não. Posso presumir pelo seu tom que a lista é longa, e, por incrível que pareça, tenho coisas a fazer hoje. - Agora eu estava muito surpresa.

- Tanto faz. O que você quer?

- O meu magnífico ser resolveu convocar sua ilustre presença para desfrutar do último dia do verão hoje à noite.

- Primeiro: Magnífico, você?! Segundo: Se é à noite, porque você me chama para desfrutar do dia? Terceiro:Minha ideia de desfrutar é tomar café, ler um livro, ou, mais provavelmente desenhar um pouco. Não é exatamente como se eu precisasse ser convocada para isso.

- Não adianta, Fray. Não está aberto a sugestões. Eu e você vamos ao Pandemônio hoje à noite. Esteja pronta às 20:30.

- Diga isso para Jocelyn. - Não era um plano assim tão bom, minha mãe confiava em Simon mais até do que confiava em mim, se duvidar.

- Tudo bem, você sabe que que ela não resiste aos meus poderes de sedução... - E com isso ele desligou. E eu sabia mesmo.

***

Depois de cerca de 1 minuto e meio de lábia-infalível-do-Simon minha mãe nos deixou partir, contanto que eu estivesse às 23h em casa. Final do verão, meu bem, nós temos que curtir.

A boate estava lotada, como era de se esperar. Depois de algum tempo de dança desajeitada a sede já estava me matando.

- Simon, vamos ao bar. Nós voltamos já.

- Você que manda, chefe.

Depois de pedirmos nossas cocas, dei uma olhada ao redor do bar. Foi quando eu notei.

- Não olhe agora, Simon, mas tem uma morena super sexy te encarando. - Apontei a direção e observei sua reação ao constatar o fato. Cabelos lisos e negros, olhos castanhos, alta e escultural, ela era a personificação da palavra sedução.

- Olhe como ela é linda. - Ele respondeu com alguma indignação - Ela não pode estar olhando para mim.

- Estou falando sério, se desse para comer com o olhar você agora estaria sendo digerido pelo sistema dela. - Consegui colocar na minha voz um tom que implicava um ' duh '.

- Bom, o que você quer que eu faça? - O coitado parecia perdido.

- Vá lá falar com ela, obviamente.

- Você está maluca?

- Ah por favor, Simon! Qual é a pior coisa que pode acontecer?

- Eu posso morrer.

- Não tenho como negar, isso é mesmo uma possibilidade. Mas você só vai saber se tentar. Além do mais, não quero ter que ouvir suas reclamações amanhã quando você estiver amargurado se perguntando o que teria acontecido se tivesse ido falar com a Srta. Morena Ultra Sexy.

Ele sabia que eu tinha razão. Fui um pouco mais atrás dele para fornecer algum apoio moral enquanto ele ia na direção da garota. Eu ria mentalmente com o nervosismo dele enquanto assistia à cena. Eles conversaram por alguns minutos antes de virem na minha direção, com duas silhuetas atrás. Supus que deveriam ser amigos dela, aos quais Simon já tivesse sido apresentado. Todos usavam trajes pretos com couro, o que só os tornava mais sexy. Tive uma leve impressão de que poderia estar babando com a cena. Os Srs. Silhueta Misteriosamente Magnética e a Srta. Morena Ultra Sexy se moviam com uma graça indescritível.

- Olá, eu sou Isabelle Lightwood. Mas você pode me chamar de Izzy. - Ela se apresentou me dando um rápido abraço. - Você deve ser Clary - Assenti com a cabeça e murmurei uma confirmação. - Esses são meus irmãos.

O primeiro garoto era alto e forte, e assim que olhei em seus olhos fui tomada por uma sensação esquisita, porém não totalmente ruim. Muito, muito azuis, que contrastavam com os cabelos negros como os de sua irmã e com a pele pálida.

- Alec Lightwood, muito prazer, - E com um aperto de mão ele deu lugar ao seu irmão.

Era uma estrutura quase felina que reconheci imediatamente. E congelei. Alto, nem muito magro nem exageradamente musculoso, o tom dourado que irradiava de seus olhos, pele e cabelo e dava a sensação de que você estava olhando para um anjo esculpido em uma barra de ouro tamanho gigante. Era isso. Sr. Anjo Loiro Que Roubava Meu Sono e Invadia Meus Sonhos estava agora na minha frente. E eu pude finalmente saber seu nome.

- Jace Lightwood, muito prazer.