– Vai, abre a porta, o que você está esperando?

– A coragem...

"Eu já contei até três..."

Mas você não é a coragem...

E alem disso sua contagem não foi o suficiente... Minhas pernas estão tremendo.

– Quanto mais você demorar mais vai ficar nervosa, é melhor ver do que fantasiar... - Encorajou Milena.

– É verdade né amiga! Então é agora... - Falei girando a maçaneta e empurrando a porta.

"Ué ta escuro..."

–Tem certeza que é aqui, eu...

– SURPRESAAA!

A luz foi acesa e pude ver meus amigos, e rostos conhecidos aglomerados, em volta de uma pequena mesa aonde se encontrava uma torta. A sala estava repleta de bolas e diversos enfeites.

"Hoje é que dia? Como você não se lembrou do próprio aniversário?"

–Meu Deus gente não precisava! –Senti minhas maças do rosto corar e minhas pálpebras esquentarem.

Enquanto o coro de “parabéns pra você” era cantado, não contive o choro, era tão legal sentir o carinho deles...

Andei até o centro da sala, escorada por Milena que “abraçava” meu braço direito. Do jeito dela, com aquele “abraço” estava me desejando um feliz aniversário e tudo de bom.

–Sua safada nem me contou né...

–Surpresa...

–Obrigada amiga!

–Parabéns, amiga tudo de bom, muita sorte, felicidade e amor! –Falou Diana, em meu ouvido, enquanto empurrava Milena para poder me abraçar.

–Muito obrigada, Dih!

Rimos.

–Minha farofa! Dá aqui um abraço... –Falou Felipe, empurrado Diana, ao abrir os braços.

Rimos muito mais.

–Obrigada Lipe!

–Agora é minha vez... Com licença, por favor, como sou civilizado não, vou te empurrar... –André gesticulou como se estivesse espantando um animal qualquer.

–Ok, ela é toda sua! –Felipe soltou meu abraço e reverenciou André, mostrando lhe o caminho até mim.

–Obrigado, sua alteza agradece.

Gargalhei, André é muito engraçado...

–Minha linda, você está impecável hoje, hein! Meus parabéns, tudo de bom mesmo! Cadê o meu abraço?

–Obrigado lindo, você está divino também! –Falei enquanto o abraçava.

–Gente eu cai direitinho, cheguei pensando que iria me deparar com uma situação mas dei de cara com outra... Graças a Deus!

Os melhores dos melhores riram... Acho que só eles sabiam da desculpa que usaram para me arrastar até ali!

–Vem cortar a torta! – Chamou Diana.

–Opa, a melhor parte! Claro!

Enquanto cortava a torta e servia o pessoal pude agradecer um a um por estar ali presente.

Assim pude identificar os rostos que havia visto. Alguns amigos do Luis, outros do Nando... Algumas conhecidas do 2º e do 3º ano... O Luis, o Fernando... O zelador Robson.

“Stop. Quem? O Luiz e o Fernando?”

Olhei incrédula para o final da fila.

–Eu sei amiga, nós não conseguimos esconder deles... Na verdade, foram os dois que patentearam essa comemoração. – Informou Diana.

–Não, vai dar chilique né Fla? Olha a criancice. – Ironizou Milena.

–Não, hoje é meu aniversário. E se foi de coração, quer dizer que eles estão se saindo bem...

–Flávia tem mais uma coi... – Quando Milena ia dizer o que mais teria, André puxou a amiga pra dançar.

- O que tem maluca? –Gritei.

-Acho que não faz diferença, se eu contar depois! –Falou enquanto, girada por André, ria.

-Você sabe o que ela tinha pra falar?

-Não... Até parece que você não conhece a Milena, provavelmente seria mais uma esquisitice!

Rimos! Só elas mesmas...

A fila estava acabando e eles estavam se aproximando, com zelador logo atrás.

-O que o Robson está fazendo aqui? –Perguntei, entre os dentes para Diana, enquanto entregava um pedaço de torta para uma desconhecida qualquer dando-lhe um sorriso.

–O Felipe chamou... Ele disse que quando Robson participa das “reuniões festivas do grêmio”, além dele arrumar a bagunça após a festa, o que acontece aqui não é “fofocado”, se é que você me entende. Falou ela cerrado os olhos.

–Ah tá... Eu achei que tivesse haver com aquela “parada”.

–Que parada? A briga? Não, não...

–Menos mal!

Cinco pedaços de torta depois chegou a vez do Luis.

–Parabéns Flávia, tudo de bom.

–Obrigada. – Falei entregando-lhe o pedaço da torta.

Luis riu, pegou seu refrigerante com Diana e saiu.

“O que está acontecendo?”

Sei lá.

O observei, rapidamente, sentando em uma das cadeiras que tinha encosto e apoiando seu copo na mesa atrás.

-Oi... –Balbuciou Fernando.

-Oi! –Respondi cortando mais um pedaço de torta.

-Feliz aniversário.

-Obrigada. – Falei entregando-lhe o pedaço que havia cortado.

Fernando pegou a torta, estendeu a mão para Diana, pegou seu refrigerante e foi sentar-se do lado oposto a Luis.

“Déjà vu?”

-Gente o que está acontecendo? – Perguntou Diana.

-Sei lá amiga. Mas que bom, que eles estão respeitando o tempo que pedi.

-Oi menina, parabéns viu.

Tive que rir.

Para Robson, ou você é menina ou menino. Ele não grava nomes, então quando tinha mais de uma pessoa no corredor e ele gritava:

“-Oh menina!” - Todas as meninas olhavam.

“-Oh menino!” – Todos os meninos olhavam.

Teve um dia que ele surtou e apenas com quatro pessoas...

“Menino, não faz isso com a menina... Não, você não menino, o outro menino... Menina, pára, olha pra menina e vê como se faz. Menino, o que tu tá fazendo? Não é você energúmeno, é o menino... Menina olha pra mim. Será que vocês não entendem português? Não é tu menina é a outra, vem cá menina, não, tu, a outra. Parou a palhaçada. Vai todo mundo pra secretaria. Bando de meninos burros...”

–Obrigada Robson! Toma. – Entreguei a ele o ultimo pedaço que cortei da torta.

–Ufa, finalmente, agora posso comer! –Reclamou Diana.

Ri, porque ela leu minha mente.

Cortei os maiores pedaços pra nós e ali mesmo ficamos.

***