Jeb nos encara pensativo. Ele segura sua espingarda com firmeza enquanto nós três nos entreolhamos.

— Jared e Peg. Dessa vez temos que ser discretos, e duas pessoas serão suficientes. Melanie será mais útil se ficar – ele diz por fim, dando seu veredicto final.

Percebo que Melanie não fica muito feliz com a decisão. Sinceramente, eu também não estou. Meu corpo começa a estremecer só de pensar nas horas que se sucederão ao lado de Jared, sozinha.

— Por que não eu e Peg? – Mel soa irritada, indignada. Sinto-me levemente ofendida, pois sei que ela está com ciúmes. Não confia em mim porque sabe como as lembranças vívidas de Jared têm um efeito, mesmo que ínfimo, sobre mim. Eu tenho vontade de dizer a ela para não se preocupar, porque meu companheiro é o Ian. No entanto, decido ficar calada.

— Está com ciúmes, Melanie? – Jared pergunta com um sorriso de canto. Ele parece satisfeito com isso. Mel devolve um olhar ameaçador para ele, que fica sério imediatamente.

— Sei que você é capaz de se defender, Mel. Mas acho que Jared poderá proteger a Peg mais apropriadamente. Eu designaria Ian, mas ele ainda está se recuperando – Jeb resolve se explicar. Lembro-me de como o tornozelo de Ian ficou roxo e inchado depois do incidente, e de como chorei compulsivamente por vê-lo sofrer. Os frascos de cura e os analgésicos para dor já haviam se esgotado, e em parte, era isso o que essa saída significaria.

— Tudo bem. Desculpe – ela diz, fechando os olhos. Sinto que ela está envergonhada.

Jared elimina os poucos metros que o separam de Mel, abraçando-a. Eles parecem se encaixar perfeitamente, e vejo como ela está aliviada por senti-lo. Jeb pigarreia com a cena e se retira; percebo que devo fazer o mesmo. Deixá-los a sós.

— Peg... Desculpe – ela se afasta relutantemente de Jared, e agora me encara seriamente. Quando seus olhos estão assim, concentrados, sei que ela quer pedir perdão. Também sei pelo quê ela quer se desculpar, e sei que não há necessidade de falar isso em voz alta. Assinto com a cabeça e saio andando o mais rápido que posso.

Meu coração está apertado. Parece que alguém o amarrou com uma corda resistente e fez um nó caprichado. Uma dor atinge meu peito, embora ninguém tenha me machucado. Não posso dizer por que estou me sentindo assim.

Eu me dou conta que estou correndo de olhos fechados quando trombo em alguém. Pelo modo como suas mãos encontram a minha pele e seus braços me protegem, sei quem é. Agradeço a ninguém em especial por ele estar ali em um momento tão oportuno como esse. Ian percebe que estou desesperada e me abraça com força. Seja lá a dor que estava se espalhando pelo meu corpo, some com o toque dele. Relaxo e respiro fundo. Não há dúvidas que ele me acalma; não há dúvidas que ele exerce um tipo de força sobre mim, permitindo que eu me esqueça de tudo quando estou com ele.

— Aconteceu alguma coisa, Peg? – minha cabeça está enterrada em seu peito, e eu não quero erguê-la para encarar seus olhos, mesmo que sejam lindos, para confirmar que ele também está me olhando.

— Não sei o que aconteceu – eu digo, porque é verdade. Não sei. Gostaria de saber, mas não sei. A desconfiança da Melanie, talvez? Ou fato de que terei que ficar sozinha ao lado de Jared? Não entendo porque estou me afetando emocionalmente com tanta facilidade ultimamente.

Ian leva seus dedos até o meu queixo, fazendo-me erguer a cabeça e encará-lo. Ele está sorrindo. Não me lembro de achá-lo tão atraente quanto agora – não que eu nunca tenha achado. Ele aparenta ser forte e calculista por fora, mas é tão sensível quanto eu. Posso ver essa sensibilidade em sua íris e tenho vontade de observá-las para sempre. Meu coração já está acostumado a vê-lo, e por incrível que pareça, tem se acalmado nas últimas vezes em que estou tão próxima a ele como agora. No entanto, ele parece livre das cordas, e me vejo tentando acorrentá-lo novamente para que ele não escape do meu peito. As emoções humanas são difíceis demais de se conter.

Achei que eu não pudesse esperar um segundo mais quando Ian me beija. Nunca sei como descrever como me sinto quando nossos lábios se tocam desde que admiti para mim mesma que eu o amo. Uma mistura de felicidade inacabável e desespero profundo, com um toque de suavidade. Levo minhas mãos até sua nuca com certa dificuldade, porque ele é consideravelmente mais alto que eu. Sinto a necessidade de puxá-lo para mais perto de mim, mesmo que isso seja fisicamente impossível. Começo, infelizmente, a ofegar demais. Preciso de oxigênio, mas não quero parar. Por fim, não posso mais ficar sem respirar e sou obrigada a me separar de sua boca.

— Irei hoje, daqui uma hora. Mas voltarei em breve. Espere por mim acordado – eu imploro sem conseguir me separar de seu abraço, embora a parte mais difícil, que fora seus lábios,eu já tenha conseguido.

— Vocês vão voltar ao anoitecer? – de repente, noto uma leve entonação na voz dele que indica preocupação. Reprimo um sorriso, porque gosto que ele se preocupe comigo.

— Acho que dessa vez é o mais seguro a se fazer – eu respondo, imitando as palavras de Jeb. Não tive tempo para refleti-las e indagar seus significados, mas confio nele como Mel confiaria sua vida.

Ian meneia a cabeça positivamente e volta a pôr um sorriso no rosto.

— Estarei acordado, então – ele encosta seus lábios nos meus uma vez mais, suavemente. Não é um beijo; uma vez, quando eu fiquei confusa com o gesto, Jared me explicou do que se tratava, mas não me lembro da palavra exata que ele usou. Acho que não me concentrei em memorizá-la, pois fiquei brava por ele ter achado graça. – Aliás, quem irá com você? – ele pergunta repentinamente.

— Jared – eu respondo rapidamente, fazendo com que ele solte um leve suspiro. Não reagiu de forma raivosa como Melanie, mas parece distante.

— Tome cuidado – ele diz simplesmente, beijando minha testa.