(Hiatus) The Soul escrita por Rose


Capítulo 10
Capítulo Três, Um Sussurro de Esperança


Notas iniciais do capítulo

Oláaa queridos!! Queria agradecer principalmente pelo novo favorito e pelos comentários lindos que recebi, vocês são demais. Espero que curtam esse capítulo narrado pela Peg, e até que ficou curto.. Well. Boa leitura, humanos!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/489033/chapter/10

Sento-me no chão da caverna e inspiro fundo. Fecho os olhos porque nem mesmo a parede me traz boas recordações; mas quando mergulho na escuridão dos meus pensamentos, de fato as lembranças são piores.

Eu o chamei baixinho – não sei se foi porque o chamei de Ian, e não de Oito, que ele não acordou imediatamente. Por mais baixo que fossem meus sussurros pelas manhãs para tentar despertar Ian, ele costumava acordar logo na primeira vez. Acho que Oito tem sono pesado. Decidi que o melhor a fazer era esperar que ele acordasse por si próprio, então cá estou eu, pensando no que direi a ele quando finalmente acordar. Provavelmente não conseguirei dizer nada, ainda mais se ele resolver aparecer para me encarar. Gosto de estarmos separados pelo buraco-cela, pois não tenho de sofrer ao vê-lo deitado desconfortavelmente, como eu muitas vezes já me deitei.

Ouço um barulho ecoar. Resisto à tentação de abrir os olhos e apuro meus ouvidos. Não vem do corredor; vem do buraco-cela. Um gemido fraco do que deduzo ser dor, um suspiro longo e sonoro. Não é muito semelhante ao Ian – ele sempre foi tão sutil ao se levantar. Ou talvez eu apenas estivesse imersa demais o admirando para notar os sons que ele costumava fazer.

Então, como Jeb, ele pigarreia.

— Quem está aí? – sua voz ainda é sonolenta, mas por causa do eco, parece bem grave e ameaçadora. Sinto meu coração bater dez vezes mais rápido. – Olá? – ele parece curioso, mas ligeiramente desinteressado.

Será que ele vai se esgueirar para fora para verificar quem é? Ou deve achar mais seguro permanecer onde está? Eu devo dizer alguma coisa? Claro que devo. Não é para isso que vim aqui?

— Sunny, é você? – ele pergunta e, involuntariamente, minhas sobrancelhas se arqueiam, minha testa enruga. Quer dizer que Sunny o anda visitando... Espero que Kyle não fique sabendo disso.

— Não – eu digo, finalmente encontrando minha voz. Sai um pouco rouca e amedrontada, mas é alto o suficiente para ser escutada. – Sabe quem é? – até agora, a questão de ele reconhecer ou não minha voz não vinha me incomodando. Mas se ele não reconhecer, acho que ficarei tremendamente magoada.

— Peg... Peregrina – ele começa e logo se corrige. Não sei por que se sente desconfortável dizendo meu apelido.

— Tudo bem, Oito? – eu pergunto, porque não me vem nada à mente para ser dito.

— Definitivamente melhor agora – ele fala com uma súbita firmeza que não estava antes em sua voz, quase sempre trêmula quando eu a ouço. – E você?

Não sei o que responder. Honestamente, estou péssima. Mas seria prudente dizer isso a ele? Que estou péssima? E se ele perguntasse o motivo? Bem, Peregrina, não se esqueça por que veio até aqui. Você tem um propósito; foque-se.

— Às vezes fico mal e às vezes fico péssima – eu digo, abafando um riso de pura tristeza. Como Mel diria, é melhor rir da desgraça que chorar diante dela.

— Eu... Eu sinto muito – ele gagueja, mas algo me diz que ele não está muito pesaroso. Pelo contrário, está aliviado.

As palavras de Jared me vêm à mente – Não importa o que aquela alma diga, Peg, Ian está resistindo, eu sei disso. E ser quer saber minha opinião, ela não é como você. Acho que ele está mentindo.

Com esse pensamento, antes mesmo que eu possa me controlar ou pensar duas vezes, as palavras escorregam para fora de meus lábios.

— Será que eu poderia entrar? – não faço idéia se ambos cabemos lá dentro, mas eu soube que Jake dividia a cela com Oito, então presumo que sim.

Houve um minuto de hesitação, de silêncio.

— A casa é sua – tenho vontade de rir com a expressão que ele usou, mas logo passa ao me deparar com o que eu estou prestes a fazer.

Enquanto eu engatinho para a pequena fenda de entrada, sinto meus músculos enrijecerem, meu coração palpitar, minha visão embaçar, meus pelos eriçarem. Respiro com força tentando aliviar todos esses sintomas do nervosismo.

Uma vez dentro do buraco-cela, as condições são bem mais favoráveis do que eu imaginava. Não é tão pequena quanto a minha, embora não seja muito ampla. Mas eu estou de pé, e Ian – quero dizer, Oito – também está.

Vê-lo é a mistura da pior e da melhor sensação do mundo. Está vivo afinal, mas morto por dentro. Bem, eu não perdi as esperanças dele ter resistido, mas ainda é doloroso pensar na hipótese que parece se confirmar sempre que olho para os olhos de... Oito.

Eu me dirijo até a cama-pedra, que na verdade é uma feliz má-formação da caverna em um formato retangular quase perfeito para um ser humano se deitar. Assim que eu me sento, sinto um arrepio na espinha, um frio incontrolável. Ele está me encarando, sei disso, mas desvio o olhar para meus pés. Não posso sustentar seu olhar.

— Posso me sentar? – de repente, sua voz é tão doce que quase chego a pensar que é Ian quem está falando comigo.

— É claro – eu respondo inconscientemente para Ian.

Pelo canto dos olhos, eu o vejo se aproximar furtivamente. Isso é algo que Ian faria, e consequentemente me sinto mais confortável.

— Ele está suprimido? – tento perguntar da forma mais sensível possível, sem magoá-lo. Não quero que ele pense que só vim vê-lo por causa disso, mesmo que essa seja exatamente a verdade.

— Sim – ele bufa entrementes, como se não quisesse falar sobre isso.

Já sinto as lágrimas teimarem em escorrer. Mas não chorarei.

De soslaio, percebo que Oito teve um pequeno tique; Jeb tem essas coisas de vez em quando, Melanie explicou. Como pequenos espasmos. Oito mexeu a cabeça como um tique.

Eu aproveito a oportunidade para encará-lo, vê-lo melhor. Forço-me a não me desviar dos olhos, da aura luminosa. A alma, o Oito. Como se pudéssemos conversar por telepatia, eu pergunto no eco de minha mente: Ian, você está aí? E é como se ele me respondesse, sim, estou, quando Oito pisca três vezes seguidas. Jared, eu queria que você estivesse aqui para me guiar. O que eu devo fazer? Como eu o encontro?

Mas então... Será que Sunny está certa? Será que é cruel alimentar esse tipo de esperança, cruel porque isso o fere a cada vez que dizem em voz alta que Ian está resistindo... Porque Oito sabe que não está, e deve ser doloroso ser tratado assim... Como Sunny é tratada. Mas... Jodi pode estar suprimida, e talvez seja porque eu não a ame, mas acredito nas palavras de Sunny, enquanto me recuso a pensar que Ian esteja suprimido.

Resolvo segurar ambas as suas mãos com as minhas. Na verdade, ele as segura, já que são consideravelmente maiores, e as envolve com sua típica sensação morna.

— Eu... – começo a dizer alguma coisa, mas esqueço rapidamente quando as mãos dele sobem pelo meu braço, acariciando-me.

Decido levar minhas mãos até o rosto dele. Imagino-o como Ian. É o Ian. Para trazer Melanie de volta quando sumiu, eu precisei irritá-la. O que irritaria Ian? O que Ian e Melanie têm em comum? O que Jared diria? Pense, Peregrina, pense. Então, me vem um lampejo de tentativa. Não custa nada tentar...

— Oito – eu sussurro em seu ouvido, e ao mesmo tempo em que assisto seu corpo se arrepiar, eu o vejo se desvencilhar de mim com uma tremenda rapidez.

Melanie e Ian têm em comum o ciúme. Talvez Melanie tenha precisado de um beijo, mas algo me diz que Ian só precisa de palavras. Jared teria dito para que eu o beijasse, mas eu não seria capaz, não sem ter certeza de que ele está lá dentro, então chega a ser muito contraditório... Tenho de confiar no ciúme dele. Afinal, Jared também disse que ele sentiu ciúmes de Cal... Vamos, Ian, apareça.

Os punhos dele se cerram, e seus olhos se fecham forçadamente. Os punhos começam a tremer, assim como o resto do corpo, como se ele estivesse com muito, muito frio. Ou a ponto de explodir de raiva. Uma das duas opções, ou as duas.

— Ian? – eu chamo desesperada.

Então o tremor se cessa. Após uma respiração profunda, seus olhos se abrem, obviamente revelando que Oito ainda está lá (o que você esperava?). Mas então... Ele desmaia. Cai para trás com um baque surdo; os braços amolecem e pendem para o lado.

Será que isso tudo fora um sinal de que Ian está lá? Eu deveria reconhecer os sinais, eu já os transmiti. Ah... Preciso ver Jared. Preciso chamar alguém para acordá-lo, também. Se Ian estiver lá, se tiver resistido... Bem, então nem tudo está perdido. O mais importante será achado.

Vê-lo desacordado é muito tentador. Ele se assemelha mais ao Ian de sempre assim, sereno, respirando pausadamente, regularmente. Por mais que eu saiba que tenho de me manter afastada, porque é Oito quem irá acordar... Eu não resisto e estico a mão para tocá-lo. Eu toco primeiramente em seus braços, e depois em seu rosto, até finalmente deixar que seus cabelos deslizem entre meus dedos. Ian, Oito, seja quem for que está sentindo, treme a cada mudança de toque, como se fosse perigoso. Ah, Ian.

Quando flagro a mim mesma inclinando-me para beijá-lo, sou interrompida pelo barulho de passos que ecoam pela caverna. Alguém está se aproximando.

Agacho-me para sair do buraco-cela, e quando finalmente estou do lado de fora, deparo-me com um Jared muito sorridente.

— Ele desmaiou – eu digo rapidamente.

— Ian é um filho da puta resistente. Ah, me desculpe pelo palavrão – ele se apressa em se desculpar, mas não me importo com o palavreado. Fico feliz que ele tenha chegado à essa conclusão, porque posso me permitir pensar o mesmo.

— Acha mesmo? – pergunto esperançosa.

— Você o beijou? – ele pergunta com um timbre curioso e intencionalmente neutro.

— O máximo que consegui fazer foi sussurrar o nome de Oito em seu ouvido – eu dou de ombros, pois por mais que ele possa ficar decepcionado com minha atitude final, eu até que estou satisfeita. Pareceu surtir algum efeito, pelo menos.

— Ha... – ele dá uma risada curta e debochada – Eu teria ficado louco também – ele esbanja outro sorriso e se encolhe para entrar no buraco-cela. – Vou levá-lo para o Doc. E você, Mel está te procurando, acho que está esperando no dormitório – ele fala brevemente, a voz abafada pela fenda que dá acesso ao buraco.

Meneio a cabeça, sabendo que ele não verá o gesto, mas escutará meus passos quando eu estiver partido, o que no caso, é agora. Vou andando, um tanto mais feliz do que quando estava ao acordar pela manhã. Sentindo-me egoísta por estar alegre à custa do sofrimento de Oito, do desmaio dele e de seus tiques, mas sentindo-me maravilhosamente humana por isso. Repito a mim mesma que eu pertenço ao Ian e ele pertence a mim, e essa frase me ajuda a seguir em frente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam da Peg mais humana? Não esqueçam de deixar seu manifesto, queridos.
Pretendo postar o próximo logo, e será narrado pelo Oito-Ian.
Vejo vocês no próx?? Hunf
Xoxo, darlings!!