A Saga de Ares - Santuário de Sangue escrita por Ítalo Santana


Capítulo 76
Capítulo 70 – Campo de Guerra: A invasão


Notas iniciais do capítulo

De volta ao Templo do Grande Mestre, Shun de Andromeda se depara com o deus Anteros no labirinto dos deuses, enquanto Seiya continua enfrentando Marin que está sendo dominada pela Onyx de Adrano. Na região norte do Santuário, Shalom de Virgem se vê encurralado pela nova forma de Anatole de Quimera, que une todas as suas versões anteriores em uma mais poderosa. As três ultimas trombetas são tocadas e um mal maior se revela. No céu do Santuário surge um novo exército. Inimigo ou aliado?



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Capítulo 70 – Campo de Guerra: A invasão 


Templo de Atena – Santuário, Grécia

Pairando no céu com as asas da armadura divina, a deusa da guerra olhou para Ares com uma expressão séria e altiva. Atena então pousou a poucos metros diante do deus, emanando uma poderosa pressão cósmica, e se ergueu encarando Ares.

Houve um momento de tensão. Os deuses da guerra estavam finalmente frente a frente. O ar em volta deles ficou mais pesado e uma forte pressão pôde ser sentida por todos ao redor.

Atena olhou sorrateiramente para Dionísio, que cumprimentou a deusa erguendo seu cálice dourado, e Draco, o deus-dragão, que segurava o cabo de sua espada ainda embainhada.

Ares mirou seus olhos no único humano que lhe interessava. Delfos.

— Pela armadura de prata que está vestindo eu suponho que você seja Delfos de Altar. O Grande Mestre do Santuário. — disse Ares. — Particularmente você vem sendo um pequeno incomodo, rapaz. Mas logo verá que todos os seus esforços foram em vão.

— Tenho certeza que não. — disse o Grande Mestre com uma convicção tão absoluta que surpreendeu os deuses. — Eu não teria apostado tanto em um plano se eu não tivesse certeza da vitória.

Dionísio olhou para Delfos com uma expressão de fascino. A postura, o olhar e a firmeza na voz do Grande Mestre não oscilaram em momento algum. Atena se esforçou para não se mostrar surpresa, mas Ares não conseguiu esconder a rápida expressão de espanto.

— Você é audacioso, Grande Mestre. — disse o deus, fechando o punho. — Eu conheci outros representantes de Atena que eram mais experientes, e por isso eram mais cautelosos diante de mim. Talvez a sua pouca idade seja a razão para tanta tolice e coragem.

— Chega de insultos, Ares. — disse Atena, chamando a atenção do deus. — Vamos acabar logo com isso.

Ares olhou para Atena e a analisou por um rápido instante.

— Você está diferente. Antes você era mais diplomática. Do tipo que se ajoelha implorando para que o inimigo recue. Mas agora já chega armada contra o seu oponente.

— Não tenho tempo para fazer acordos com você.

— Mas também não tenha tanta pressa, Atena. Essa guerra ainda não chegou no seu estopim. Não é mesmo, Grande Mestre? — o deus da Guerra voltou a encarar Delfos. — Eu acho que você também consegue sentir alguns cosmos se aproximando do Santuário. — o deus deu um leve sorriso ao notar o esforço de Delfos tentando não expressar surpresa e preocupação.

—...—


Região norte do Santuário, Grécia – 22 de novembro de 2001

As chamas azuis invocadas por Anatole foram apagadas, extinguindo o ambiente infernal que havia tomado a região anteriormente. O pátio estava revirado com colunas destruídas, marcas de combate e corpos de soldados berserkers mortos pelo Cavaleiro de Virgem.

No centro do pátio estava Anatole, em sua última e mais poderosa forma. Sua nova onyx era branca com detalhes dourados, e seu cosmo estava puro como se pertencesse a um homem santo. O oposto do que se espera de um berserker. Do outro lado do pátio estava Shalom, acompanhado pelas figuras dos três últimos anjos que seguravam as trombetas douradas, e surpreso com a nova forma do berserker.

— Não é o mesmo homem que estava lutando comigo há poucos minutos atrás. — pensou Shalom. — Ele está... Diferente. Parece outra pessoa. Sua onyx e sua aparência perversa mudaram. Não há malícia em seu cosmo ou em seus olhos. Ele emana... Paz! A mansidão é tão grande que chega ser questionável a necessidade de continuar lutando contra esse homem. Erguer o punho contra ele parece... Errado.

— O que está esperando, Virgem? — perguntou Anatole. Seu tom de voz era sereno. — Ainda lhe restam três trombetas. Toque-as.

— Você já recebeu quatro das sete trombetas. Você conhece a letalidade delas até aqui.

Anatole sorriu.

— Mas eu irei sobreviver a todas. E quando a última trombeta tocar, não lhe restará mais nada.

— O-O quê?!

— Como eu disse anteriormente, essa sua técnica é uma invocação do jardim de Yeshua. É um poder emprestado e temporário. Quando essa invocação for totalmente utilizada, ou seja, quando as sete trombetas forem tocadas, ela irá se esvair por completo e você não poderá convocá-la novamente. — os olhos laranja claro do berserker brilharam emanando cosmo dourado. — Eu vejo a “verdade”, Virgem. Sobre tudo e sobre todos.

— Então essa é a habilidade que essa sua nova forma lhe concede? — perguntou Shalom.

— A onyx de Quimera é na verdade três Onyx diferentes unidas em uma só. A Onyx da serpente se chama Samael e me concede a habilidade de criar ilusões. A Onyx do carneiro se chama Balam e me concede  a habilidade de corromper o cosmo do meu adversário. Já a Onyx do Leão se chama Buer, e me concede a habilidade da clarividência e da cura. Contudo, nesta minha última forma, que é a mais poderosa, eu consigo unir as habilidades das três onyx. Ou seja, você está enfrentando um berserker que equivale a três.

— Mesmo que essa sua habilidade lhe mostre a verdade por trás das minhas técnicas e lhe conceda tanto poder, isso não será garantia de que você irá sobreviver. — os olhos castanhos de Shalom foram tomados pelo brilho do seu cosmo, e seus cabelos castanhos escuros se agitaram. — Que seja tocada a quinta trombeta!

A imagem do quinto anjo se moveu e a quinta trombeta soou, fazendo o chão tremer. Diante de Shalom e Anatole surgiu um buraco negro, e de dentro da fenda saiu centenas de bestas cósmicas aladas emitindo urros e granidos.

Imobilizado, Anatole viu as criaturas avançarem em sua direção. Ao se aproximarem do berserker, as bestas se transformaram em feixes de cosmo e perfuraram a Onyx de Quimera, golpeando Anatole violentamente e arrancando gritos de dor. O berserker foi arremessado contra um pilar e desabou perdendo bastante sangue.

— Antes que você se gabe por estar vivo, eu lhe adianto que não é especialidade da quinta trombeta tirar a vida do oponente. — explicou Shalom. — Diferente das trombetas anteriores, a quinta tem apenas o poder de infligir dano e causar uma dor enlouquecedora, mas não é mortal. É chamado de “primeiro Ai”. A morte irá fugir de você até que a última trombeta toque. Esse é o tempo  que você terá para se arrepender de seus crimes antes que o julgamento divino caia por completo sobre você.

— Uma técnica que não tira a vida do inimigo é uma brecha perigosa, cavaleiro. — disse Anatole se levantando. Sua onyx branca estava manchada de sangue. — Mas continue.

— Se alguém consegue sobreviver a ira divina com tanta resistência, é necessário que seja afligido pela dor antes que a morte chegue. Por tanto... Que seja tocada a sexta trombeta!

O sexto anjo tocou a trombeta e o cosmo dourado de Shalom se expandiu, invocando atrás de si a imagem de quatro anjos armados com lanças e montados em cavalos com couraças de fogo e cabeça de leão. Os seres alados estenderam a mão em direção ao berserker e dispararam rajadas de cosmo.

Mais uma vez Anatole ficou imobilizado diante do cosmo do Cavaleiro de Virgem e recebeu sobre si a ira divina. O berserker de Quimera foi bombardeado e em seguida envolvido por uma poderosa explosão de energia cósmica que se expandiu em forma de cúpula e arremessou Anatole em direção ao céu.

O berserker desabou abrindo uma profunda cratera, mas não demorou para se levantar. Assim como a quinta trombeta, a sexta não tinha a finalidade de matar o alvo, mas causa graves danos no corpo e na alma, deixando na beira da morte.

— Você realmente pretende continuar? — perguntou Shalom. — Desista enquanto pode.

— A última, Virgem. Toque-a!

— Mas por quê? Por que você insiste tanto?

—  Seu poder não é realmente seu. Eu vejo. É emprestado pelo seu deus. Então, se seu inimigo sobreviver ao toque de todas as trombetas, é sinal de que o seu deus abandonou você no campo de batalha para morrer. Você não consegue perceber, mas eu vejo. Você está sozinho. Vai usar sua última carta na manga e depois morrerá. Eu irei sobreviver ao toque da sétima trombeta como prova disso. Eu lhe garanto.

Shalom enrugou o cenho e expressou um semblante de espanto. Por um momento ele questionou se aquilo poderia ser verdade.

— Do que está falando?

— Não perca tempo, Virgem! Você terá a sua resposta. Toque-a!

— Está blefando mais uma vez. — disse Shalom, mas no fundo da sua mente pairou a incerteza — A última trombeta é a mais poderosa. — disse ele mais para si do que para Anatole. — É a última punição. É impossível sobreviver a ela. — o berserker sentiu a instabilidade na convicção de Shalom e sorriu. — Que seja tocada a sétima trombeta!

O último anjo ergueu a trombeta em direção ao céu e a tocou. O soar do instrumento foi como um forte trovão, causando tremor na região. A imagem de um gigantesco vitral surgiu atrás de Shalom, mostrando dezenas de anciões prostrados diante de um trono dourado. Anatole ouviu murmúrios que pareciam estar sendo proferidos pelos anciões, mas ele não conseguia compreender o que eles diziam.

— Adoração dos Anciões!

O trono dourado brilhou com intensidade e uma poderosa rajada de cosmo foi lançada em direção ao berserker. Foi um disparo cósmico absurdamente poderoso. Anatole foi golpeado em cheio e engolido pela explosão que subiu e se expandiu, criando um domo de energia que se espalhou revirando e tragando tudo em seu caminho.

Exausto, Shalom caiu de joelhos, mas rapidamente ergueu a cabeça e olhou para os lados procurando a presença de Anatole. Ele queria se certificar de que a última trombeta havia aniquilado seu inimigo, pois no fundo ele tinha receio de que seu oponente pudesse ter sobrevivido, e que Anatole estivesse certo sobre ele ter sido abandonado pelo seu deus. Mas foi aí que Shalom caiu completamente. Na dúvida.

As dúvidas geraram uma profunda incerteza, a qual Shalom alimentou, e como consequência ele foi engolido por ela. O vitral da sétima trombeta se despedaçou, o cosmo de Shalom se apagou e a armadura de ouro passou a ser um fardo em seu corpo. Tão pesada que Shalom teve que se curvar.

— O-O que está acontecendo?! De repente a minha armadura ficou extremamente pesada! Eu não consigo... Não consigo me mexer.

— Eu lhe avisei, virgem. — disse Anatole surgindo em pé diante de Shalom.

O berserker estava vivo e sem qualquer dano. Até mesmo os ferimentos provocados pelas duas trombetas anteriores haviam sido curados.  

 Im-Impossivel. — disse Shalom surpreso. — Como você pode receber sobre si as sete trombetas e ainda assim continuar vivo?

— Eu lhe adverti sobre eu saber a verdade. Eu sei que você não é um guerreiro como os outros cavaleiros de Atena. Você é apenas um humano comum que nunca treinou, mas que foi escolhido por um deus. Seu cosmo, suas técnicas, seus dons e suas habilidades de combate são fornecidas por essa divindade. Você luta como um anjo, emana uma presença divina, mas é apenas uma marionete de combate e o crescimento do seu cosmo depende totalmente da sua fé. Mas me diga... — Anatole colocou o pé em cima do ombro de Shalom, forçando o Cavaleiro de Virgem a encostar a testa contra o chão. — Como eu poderia enfrentar um inimigo com tamanha fonte inesgotável de poder?! Seria impossível. Mas graças a minha clarividência eu pude compreender o seu ponto fraco. Só existe uma forma de vencer um homem como você, e é rompendo a única coisa que liga um deus e um homem. A fé. E agora sim o seu deus lhe abandonou de fato, pois a sua mente foi dividida pela dúvida e tudo o que você conjurar se tornará instável. Igual a sua última trombeta que não passou de uma brisa para mim, pois no último instante você questionou a lealdade do seu deus.

— Você... Você me corrompeu.

Anatole sorriu. Um sorriso malicioso que ele vinha escondendo atrás daquela imagem serena que ele assumiu em sua última transformação.

— Conhece as regras melhor do que eu. Sem fé é impossível agradar o seu deus. Ele é carente de um voto de confiança. E sem ele você não tem condições de lutar, pois não é um combatente de verdade. E é assim que você morrerá. Fraco e abandonado.

Anatole aplicou um chute no rosto de Shalom, arremessando o cavaleiro de virgem para trás.

— Vamos! Levante-se! Ou pelo menos tente. — disse o berserker. — Você é herdeiro de uma armadura que de geração em geração pertenceu a uma linhagem de mulheres e homens poderosos. Honre seus antecessores morrendo em pé.

Shalom tentou se erguer, mas não conseguia. Sem o seu cosmo ele não conseguia sustentar o peso da armadura em seu corpo. O que antes era a sua proteção, passou a ser a sua prisão. Com muito esforço ele ainda conseguiu ficar de joelhos novamente, pois suas pernas não conseguiam levantar o seu corpo sem correr o risco de se quebrarem.

— Você não consegue, não é?! — disse Anatole se aproximando. O berserker segurou nos cabelos de Shalom e ergueu a cabeça do cavaleiro de ouro para que pudesse encará-lo. — Que patético. É como um pássaro sem asas, ou um peixe fora da água. Tenha pelo menos compaixão de si mesmo. Renegue os seus votos, jure lealdade ao Senhor Ares, e nada te acontecerá. Você voltará em paz para Jerusalém e viverá como um homem comum.

O berserker concedeu a Shalom uma oferta tentadora. Afinal, o que ele seria capaz de fazer naquelas condições? Ele não tinha forças para vencer o oponente ou resistência para sobreviver ao próximo ataque. Desistir seria o caminho mais fácil, mas Shalom se lembrou de uma coisa: Não existe compaixão no coração de um homem perverso, pois de uma mesma fonte não pode jorrar água doce e salgada.

Anatole estava oferecendo uma falsa paz. Um alento temporário que posteriormente teria um sabor amargo.

— Não. — disse Shalom.

Com muito esforço ele ergueu a mão e segurou o braço do berserker, afastando-o de seus cabelos. O braço de Shalom tremia com o peso da manopla da armadura de virgem. O peso era tão grande que os vasos sanguíneos mais finos se romperam, fazendo com que Shalom suasse sangue.

— Afaste de mim suas ofertas generosas. Se eu tiver que morrer aqui, então que assim seja. Eu errei em duvidar daquele que me guiou até aqui. E se a morte for o preço do meu pecado, não irei me opor. Aconteça o que acontecer, não vou renegá-lo e muito menos jurar lealdade a Ares, pois eu não posso servir a dois senhores.

— Você é um tolo. Por acaso você não está servindo a deusa Atena?

— Não adianta tentar me confundir. Você me rodeia como um leão procurando um ponto fraco para atacar e devorar. — Shalom apertou o braço de Anatole com força e usou o berserker para se erguer. Suas pernas tremiam, seus joelhos estralavam e uma dor aguda insuportável percorreu todo o seu corpo. — Mas eu não vou ceder. Irei resistir e permanecer firme naquilo em que acredito. Não irei mais duvidar daquele que me trouxe aqui e prometeu fazer de mim um guerreiro. Pois é isso o que eu sou. Eu sou... — Os olhos castanhos de Shalom mudaram de cor, se tornando dourados como ouro. — Shalom, o Cavaleiro de Ouro de Virgem!!

O grito de Shalom desencadeou uma explosão cósmica que se propagou, afastando o berserker violentamente. O cosmo dourado que havia se apagado retornou ainda mais vivo e poderoso. Seu corpo foi curado de seus ferimentos, seu cosmo foi fortalecido e o peso da sua armadura se esvaiu.

— Esse aumento de cosmo... — pensou Anatole se levantando. — O cosmo de Shalom cresceu infinitamente e superou o sétimo sentido. Então isso é... O Oitavo sentido!!

A humilhação de Shalom chegou até os jardins de Yeshua. O homem que falhou e reconheceu, que foi tentado e resistiu, alcançou a iluminação e teve sua existência exaltada. Então a ele foi concedido seus próprios poderes e habilidades de combate, se tornando um guerreiro completo.

Anatole sorriu.

— Você alcançou a salvação ainda em vida. E com isso se tornou um homem santo . — o cosmo do berserker se elevou. — Agora mais do que nunca eu tenho que matá-lo. Deveria ter aceitado a minha oferta.

Anatole deu um passou para trás pegando impulso e disparou em direção a Shalom concentrando cosmo em seu punho cerrado.

— Impacto imperial!!

Shalom levitou e estendeu o braço elevando o cosmo.

— Angeli Specularibus!!

Um escudo circular em forma de vitral colorido se materializou diante do Cavaleiro de Virgem e conteve o golpe de Anatole. A colisão propagou uma forte pressão que revirou o solo.

— Eu já rompi a sua defesa antes! Não vai funcionar!

— A questão é que... — os olhos de Shalom brilharam com mais intensidade. — Eu não sou o mesmo de antes e uma técnica não funciona duas vezes contra um cavaleiro.

A defesa de Virgem brilhou e repeliu Anatole, forçando o berserker a ser arrastado para trás.

Furioso, Anatole recuou os dois braços e explodiu o seu cosmo. A imagem de um carneiro gigante feito de cosmo flamejante surgiu atrás do berserker, urrando como uma besta saindo do inferno.

— Morra, virgem! Carruagem de Agni! — O berserker estendeu os braços liberando todo o seu cosmo.

O carneiro urrou e se multiplicou em seis bestas cósmicas contra Shalom, mas o santo de virgem não se intimidou. O escudou se transformou em uma esfera de cosmo protegendo Shalom completamente, e se multiplicou em várias camadas.

A rajada de chamas colidiu com a defesa de virgem e rompeu algumas camadas do escudo, mas não foi suficiente para alcançar Shalom. A técnica de Anatole foi partida ao meio e em seguida se extinguiu.

— Impossível! — disse Anatole surpreso.

— Por que está surpreso? É na adversidade que superamos os nossos limites. De certa forma eu sou grato a você por ter sido o gatilho da minha evolução.  — dezenas de anjos cósmicos surgiram pairando ao redor de Shalom armados com espadas de ouro. — A partir de agora não lutarei por paz, mas sim por guerra. Angeli Impetum!

Os olhos do Cavaleiro de Virgem brilharam e os anjos atacaram disparando as espadas douradas. As lâminas se multiplicaram em centenas de réplicas, avançando impiedosamente contra Anatole.

Apesar da chuva mortal, o berserker não se intimidou. Anatole avançou em direção a Shalom desviando das lâminas com precisão enquanto elas bombardeavam a região. Ao se aproximar do cavaleiro de virgem, o berserker concentrou cosmo em seu punho e saltou para atacar, mas Shalom conteve o golpe com a palma da mão.

— Por um momento achei que estávamos no mesmo nível. — disse Shalom. — Mas pelo visto eu me enganei. Eu sou mais forte.

— Cedo demais para contar vantagem. Selo da obediência!

O cosmo de Anatole se agitou e desenhou no ar atrás de Shalom um selo demoníaco. Um círculo negro com símbolos de invocação e ordem.

Shalom ficou paralisado. Seu corpo não respondia.

— Não adianta tentar se mover. Cinquenta legiões de espíritos malignos estão lhe segurando nesse momento através desse selo. — explicou Anatole. Inicialmente Shalom não conseguiu enxergar os espíritos. Apenas sentia o toque gelado de suas mãos. Eram centenas de braços longos e escuros saindo do centro do círculo.  Uma vez preso neste selo é impossível se libertar. Seu cosmo será drenado e eu serei fortalecido.

— Ilusão sua. — disse Shalom ampliando o seu cosmo.

— Quanto mais você elevar o seu cosmo, mais rápido ele será drenado. É só questão de segundos até que...

Anatole se interrompeu ao notar que o selo começou a oscilar e Shalom foi retomando o movimento do seu corpo.

— Mas... Como?!

— “E foi dado poder sobre os espíritos imundos, para os expulsarem” — recitou Shalom unindo as mãos. — Mali spiritus, ego praecipitus, exitus!

O corpo de Shalom emitiu um forte brilho dourado que se expandiu tomando toda a área e enviou as legiões de volta ao inferno em meio a urros de protesto, partindo o selo ao meio.

— Desgraçado!

— Nenhum dos seus truques surtirá efeito em mim. Você  terá o mesmo fim que eles.

— Não, virgem. É você quem será enviado para o outro mundo.

Anatole abriu os braços e materializou dois objetos em suas mãos. Um arco prateado na mão direita e uma flechada dourada na mão esquerda. O berserker preparou a flecha e a apontou para o peito de Shalom, mas para a surpresa do berserker o cavaleiro de virgem abriu os braços.

— Por acaso vai se render? — perguntou Anatole. — Ou acha que o seu deus irá deter o avanço da minha flecha?

— Eu apenas lhe convido ao monte do Altíssimo. — disse Shalom.

O espaço-tempo foi distorcido e os dois foram levados ao sopé de uma grande montanha. Havia uma escada tortuosa que levava ao cume, o qual era coberto por nuvens, e algo brilhava lá no alto. Dourado como o sol. Havia também criaturas aladas pairando entre as nuvens. Possuíam seis pares de asas e recitavam palavras que Anatole não conseguia compreender.

— É um belo lugar para morrer. — disse o berserker.

— Concordo.

— Pois bem... Farei dessa montanha o seu tumulo. Flechas legionárias de Agaliarept!!

O berserker elevou o seu cosmo concentrando-o na flecha ao mesmo tempo em que diante dele surgiu uma runa vermelha conjurada pelo seu poder. A flecha foi lançada em um forte disparo e se multiplicou em milhares ao atravessar o selo maligno.

Cada flecha simbolizava os mais de trezentos mil demônios sob o comando do ser maligno representado pelo Onyx de Buer, a terceira forma de Anatole, mas Shalom não se intimidou. O Cavaleiro de Virgem estendeu a mão para frente e uma barreira invisível interceptou as flechas.

— Você está em terra santa, berserker. Aqui não é tolerável homens de coração impuro. Sendo assim... Seu cosmo não me alcança e você já não tem mais poder algum.

As flechas foram desfeitas e o cosmo de Anatole foi apagado.

— Não pode ser!

— Berserker! Você não subsistirá diante do Santíssimo! Criatura maligna, desapareça! Teofania!

As nuvens se abriram simbolizando a manifestação divina e uma poderosa rajada de cosmo caiu sobre o berserker provocando uma explosão cósmica tão poderosa que subiu ao céu como um pilar de luz. A onyx de Quimera foi danificada e Anatole desabou no chão cuspindo sangue e sem forças.

— Vir-Virgem... Você... Você se arriscou vindo até aqui, não foi? — perguntou Anatole reunindo forças para falar. — Essa sua técnica... Ela é... Ela é uma espada de dois gumes. Se você não vigiar o seu coração... Será tragado pelo seu próprio golpe.

 Os olhos de Anatole perderam o brilho, e a vida do berserker se esvaiu. A imagem da montanha sagrada despareceu e os dois voltaram ao pátio do Santuário de Atena. Cansado, Shalom se encostou no pilar mais próximo e relaxou o corpo soltando o ar de seus pulmões enquanto olhava para as estrelas.

—...—


Templo do Grande Mestre – Santuário de Atena, Grécia

Shun estava caminhando por um corredor que para ele parecia não ter fim. Não havia saídas laterais ou qualquer acesso. Essa sensação lhe fez lembrar do dia em que ficou preso no labirinto da Casa de Gêmeos. Uma defesa erguida  pelo guardião da casa para deter invasores.

Continuar caminhando seria perda de tempo. Ele ficaria dando voltas em círculos sem se quer sair do lugar. Alguém havia erguido aquele labirinto e com certeza o estava observando.

— Apareça! — disse Shun. — Sei que está aí!

Mas não houve resposta. Shun olhou para os lados esperando qualquer movimento suspeito, mas nenhum inimigo se revelou. Contudo, sair de um labirinto como aquele não seria problema para ele. A corrente de Andrômeda tem a capacidade de atravessar dimensões e encontrar o inimigo. Não importa onde ele esteja se escondendo.

Shun segurou firme em sua corrente pontiaguda e estava prestes a usá-la quando um ponto brilhante chamou a sua atenção no final do corredor. Desconfiado, Shun caminhou até a luz, a qual foi crescendo e revelou ser uma saída, mas ao atravessá-la se deparou com uma sala de espaço distorcido. Havia escadas que davam acesso a andares sem saída, colunas contorcidas, e o teto e o piso pareciam trocar de posição.

— Esse é... O Labirinto dos deuses!! — disse Shun em voz alta surpreso.

— Exatamente, Andrômeda. — respondeu Anteros se materializando no topo de uma das escadas. O deus estava usando os trajes de Grande Mestre. Seus longos cabelos roxos caiam por debaixo do elmo dourado. — Nem mesmo um deus consegue escapar daqui sozinho. Pelo menos não sem esse artefato. — o deus estava segurando um pequeno carretel de madeira enrolado por fio prateado. — O fio de Ariadne.

— Esse labirinto é a última defesa para proteger Atena, e apenas o Grande Mestre pode ativá-la, mas você é um falso Grande Mestre. Sendo assim, a defesa não deveria ter correspondido a você. Então acredito que o próprio Santuário aceitou isso. Em outras palavras... — o cosmo de Shun se elevou. — O Santuário criou um ambiente para que você fosse derrotado.

— Ou você. — rebateu o deus estendendo a mão e disparando uma rajada de cosmo.

Shun saltou para o lado se esquivando do golpe.

— Onde está Seiya e os outros?

— O Pégaso deve estar enfrentando Phobos e a marionete dele. Já Atena e os demais devem estar sendo massacrados pelo Senhor Ares neste momento. — os olhos prateados do deus brilharam. — Não há escapatória. Tudo foi planejado para separá-los e matá-los.

— Seiya está enfrentando Phobos?! Então tenho que me apressar.

— Está com medo de que seu amigo morra?

— Não. Meu receio é Seiya matar Phobos antes que eu possa vingar a morte da June. — a corrente pontiaguda se agitou tomada pelo cosmo de Shun e apontou para Anteros de forma ameaçadora.  Então terminamos a nossa conversa.

Anteros gargalhou.

— June?! Mas quem é essa?! Você acha que Phobos se importa ou vai se lembrar do nome de uma pessoa que foi morta nessa guerra?

Shun segurou a corrente com mais força.

— Eu não espero nada de vocês. Mas eu farei com que ele se lembre.

— Vejo que está trajando uma armadura divina e seu cosmo está do nível de um deus. Talvez seja isso que esteja lhe dando tanta coragem para enfrentar os deuses. Você realmente é um prodígio, Andrômeda. Faz jus à fama que carrega. Mas vou lhe mostrar a diferença entre um deus de verdade e um humano-deus.

O cosmo de Anteros se expandiu destruindo o manto do Grande Mestre e repelindo o elmo, revelando a Onyx do deus. Um traje negro divino com detalhes prateados.

Rajadas de cosmos foram disparadas em uma velocidade espantosa. Shun quase não conseguiu ver os movimentos de Anteros. A asas divinas de Andrômeda se abriram e Shun saltou. Por frações de segundos não foi golpeado em cheio.

— Ele é extremamente rápido. — pensou Shun. — É uma velocidade divina que supera a velocidade da luz.

Shun pousou em um pilar e preparou sua corrente para atacar, mas Anteros havia desaparecido. A corrente pontiaguda indicou que a presença do deus continuava naquela sala apesar dele não estar visível.

O deus então surgiu atrás de Shun e o atacou antes que pudesse ser localizado pela corrente. Shun rapidamente saltou e se esquivou, pousando e erguendo a Defesa circular em volta do seu corpoA rajada de cosmo se chocou no mesmo instante, quase desestabilizando a defesa, mas Shun sustentou a corrente com seu cosmo e o golpe do deus foi repelido, arremessando Anteros para trás.

— Conseguiu me repelir. Eu, que sou um deus.

— Nebulosa de Andrômeda.  a corrente alterou sua formação e se espalhou ao redor de Shun. — Essa técnica une ataque e defesa.

— A famosa parede de ferro. Formidável. Agora compreendo por que você abandonou a armadura de ouro de Virgem e voltou a ser o Cavaleiro de Andrômeda. — Anteros estendeu a mão para o lado e materializou uma espada prateada. — Quem seria louco de abandonar uma armadura que pode se converter em uma forma divina e ainda possui tantas habilidades?! Mas eu irei atravessar essa sua defesa.

Anteros elevou o cosmo e saltou em direção a Shun. A corrente pontiaguda se agitou e atacou, multiplicando-se em centenas de correntes. O deus as bloqueou com a espada partindo-as na medida em que avançava. Mas ao pisar na nebulosa o deus recebeu uma poderosa descarga elétrica. Milhões de volts percorreram pelo seu corpo e o arremessaram para fora da área protegida.

Anteros pousou arfando e sentindo o resquício da descarga elétrica percorrendo todo seu corpo.

— Está enganado. Não foi por esse motivo. — disse Shun. — Eu fui o sucessor de Shaka, assim como Shalom agora é o meu. Usei a armadura de Virgem e protegi a sexta casa do Santuário no tempo que me coube. Agora ela tem um novo dono e futuramente outros sucessores aparecerão. Quanto a atravessar a minha defesa... Você pode morrer tentando ou desistir de lutar e recuar.

— Está me chamando de covarde?

— Não, mas sei que é um deus inteligente. E diferente de Phobos e Deimos, você não é um deus perverso. Eu sinto isso. Apesar de ser meu inimigo, eu não tenho interesse algum em matá-lo, mas se você continuar insistindo... Terei que repensar.

— Você tem uma coisa que deuses como Dionísio presam bastante. “Misericórdia”. Mas isso faz de você um deus fraco, Andrômeda. Essa é a vulnerabilidades dos deuses.

Anteros concentrou cosmo em sua espada e disparou um feixe cortante que rasgou o solo e atingiu a Nebulosa de Andrômeda. A colisão agitou as correntes e uma poderosa descarga elétrica se ergueu. O feixe cortante pressionava a barreira de andrômeda na tentativa de partir as correntes e avançar contra Shun.

— Sua defesa é formidável, mas não é invencível. — disse Anteros apontando a espada. — Desunião!

A espada brilhou com intensidade e o deus disparou uma segunda rajada de cosmo. O golpe se chocou com a defesa e aparentemente não havia surtido qualquer efeito, mas para a surpresa de Shun a Nebulosa de Andrômeda se desestabilizou e a defesa foi rompida.

Anteros aproveitou a brecha e avançou em direção à Shun, cruzando a área que antes estava sendo protegida pelas correntes de Andrômeda. O deus golpeou com sua espada aplicando um golpe cortante que atingiu Shun em cheio, provocando um fino e profundo rasgo na armadura divina de Andrômeda. Sangue espirrou e Shun cambaleou para trás surpreso.

Notando que o cavaleiro de Atena ainda estava atordoado, Anteros avançou e desferiu um soco no abdômen de Shun, lançando o Cavaleiro de Andrômeda contra a parede.

— Como você... Como você conseguiu romper a defesa da Nebulosa de Andrômeda? — perguntou Shun, se levantando.

— Eu sou Anteros, deus da desunião e da manipulação. Posso provocar desestabilidade em qualquer coisa. Até mesmo nas técnicas do meu oponente.

Anteros estendeu a mão e paralisou o corpo de Shun com poder psíquico. O cavaleiro de Andrômeda tentou se libertar, mas o poder mental do deus era forte demais. Anteros então puxou Shun em sua direção e o corpo do cavaleiro de Atena flutuou até parar diante do deus.

— Seus dias de rebeldia contra os deuses terminaram. — disse o deus.

Os olhos de Anteros brilharam e o deus estendeu a mão repelindo Shun contra a parede violentamente. E como uma marionete nas mãos de seu titereiro, o corpo de Shun foi arremessado de um lado para o outro, provocando fraturas e lesões.

— Se eu não fizer alguma coisa... Serei morto. — pensou Shun. Ele sentia o sangue quente escorrendo em seu rosto. — Eleve-se cosmo!!

O cosmo de Shun se elevou e explodiu, criando uma onda destrutiva que se expandiu revirando o solo e atingiu Anteros, rompendo o controle psíquico que havia sido imposto.

Anteros sorriu.

— Tolo. Meu próximo ato seria quebrar o seu pescoço. Irei retalhá-lo e servi-lo aos deuses.

O cosmo de Anteros se elevou e o deus avançou para um ataque direto. Shun segurou firme em suas correntes divinas e partiu para o confronto. O deslocamento das duas divindades deixou um rastro de luz durante o percurso rasgando o solo.

Anteros moveu a espada divina desferindo um poderoso golpe cortante, mas Shun desviou da rajada de cosmo e disparou a corrente pontiaguda, que se multiplicou no avanço. O deus da manipulação desviou das investidas da corrente de ataque e usou umas delas para correr em direção a Shun.

O deus surgiu acima do Cavaleiro de Andrômeda e desceu com um golpe de espada, mas a corrente circular bloqueou o ataque se enroscando no braço do deus. A lâmina prateada foi interrompida a poucos centímetros do rosto de Shun, mas o cavaleiro de Atena não pareceu surpreso.

— Pare, Anteros! Você não precisa continuar com isso.

— Ninguém nunca lhe ensinou que essa sua misericórdia é um ponto fraco no campo de batalha?

Shun passou por Anteros ainda envolvido pela corrente circular e caminhou até um objeto que estava caído no chão. O carretel com o fio de Ariadna.

— Fique aí enquanto eu saio desse labirinto. — disse Shun. — Quando essa guerra terminar, Atena virá ao seu encontro.

— Não zombe de mim, Andrômeda.

O cosmo do deus cresceu rompendo as correntes, e Anteros se virou avançando contra Shun mais uma vez. A divindade se aproximou e tentou perfurar o cavaleiro de Atena consecutivas vezes, mas Shun desviou do trajeto da lâmina e contra-atacou com a corrente pontiaguda.

Anteros saltou e disparou centenas de feixes cortantes, mas mais uma vez Shun desviou dos ataques com precisão enquanto tentava se aproximar da divindade para um ataque direto. De punho cerrado ele golpeou Anteros, mas o deus desviou e desferiu um chute que foi bloqueado pelos braços cruzados de Shun.

O deus então se teletransportou e surgiu nas costas de Shun, encostando a palma da mão na cabeça do cavaleiro de Andrômeda e o paralisando com seu poder psíquico.

— Está na hora de você ser colapsado pela desarmonia.

Shun arregalou os olhos.

— Não faça isso, Anteros! — gritou Shun, tentando impedir o deus.

— Desunião!

Houve então uma poderosa explosão cósmica e Anteros foi arremessado violentamente.

—...—


Casa de Leão – Santuário de Atena

Ikki, que estava subindo as doze casas acompanhado por Jabu, parou subitamente ao sentir a explosão do cosmo de Shun.

— Aconteceu alguma coisa, Ikki? — perguntou Jabu.

— Esse cosmo... É o Shun! Eu sinto o cosmo dele se elevando ao máximo, mas está distante. Como se estivesse em uma outra dimensão. Além disso... Estou sentindo uma sensação terrível.

— Como assim? Ele está em perigo?

— Não. — Ikki olhou para suas mãos. Estavam tremendo. — Não é como se ele estivesse em perigo, mas sim... Nós.

—...—


Templo do Grande Mestre – Santuário de Atena, Grécia

— Mas o que foi essa cosmo energia poderosa que me repeliu com tanta força? — pensou Anteros, se levantando. O impacto tinha sido tão forte que a visão do deus ficou turva. — Por acaso o Andrômeda é tão poderoso assim?

O deus se ergueu, mas logo ficou paralisado com o que viu. Shun estava em pé e cabisbaixo no meio do salão, emanando uma grande quantidade de cosmo. Mas o que espantou Anteros foi a gigantesca sombra alada que se erguia atrás de Shun, engolindo toda a luz do ambiente. Era como se a escuridão do submundo tivesse se concentrado no labirinto.

— Andrômeda... O que foi que você trouxe do Tártaro em seu corpo?

— Você deveria ter aceitado a misericórdia de Shun quando ele ofereceu. — disse Shun.

Mas não era a sua voz. Era mais grave e imponente. Anteros sentia ao mesmo tempo a necessidade de se curvar e fugir.

— Quem é você? — perguntou Anteros, mas no fundo ele já sabia a resposta. — É impossível que o Andrômeda tenha... Não! Não pode ser!

Shun encarou Anteros, revelando um par de olhos azuis como o fundo de um lago.

— O senhor é...

— Eu cheguei longe demais para ser descoberto agora.

A corrente pontiaguda de Andrômeda se moveu envolvida por um cosmo vermelho sangue e transpassou o peito de Anteros. O deus não teve tempo para reagir. A espada prateada caiu e Anteros cedeu de joelhos vomitando sangue.

Aos poucos os olhos de Shun voltaram a ser verdes e o seu cosmo foi voltando para o seu corpo, assim como a escuridão que o rodeava. E como se estivesse acordando de um pesadelo, Shun despertou arfando e com os olhos arregalados.

— O que foi que... O que foi que você fez?! — questionou Shun ao ver o corpo do deus Anteros caído em uma poça de sangue.

Sinta-se agradecido e lembre-se do nosso acordo.” — disse uma voz ecoando pelo labirinto. — “Você não tem tempo a perder aqui, Shun. Você deve seguir em frente.”

Shun segurou firme em sua corrente ainda suja com o sangue de Anteros.

— Sim, temos um acordo. Espero que cumpra com a sua parte até o fim.

Um pouco hesitante, Shun deu as costas para o corpo de Anteros e correu pelo labirinto, levando consigo o fio de Ariadne que o guiaria até a saída.

—...—


Templo do Grande Mestre, salão principal – Grécia

— Esse cosmo... — pensou Phobos. — Anteros... Por acaso você...

— Parece que Shun derrotou Anteros. — pensou Seiya. Ele olhou para Phobos por cima do ombro e notou que o deus estava preocupado. — Agora eu tenho que me apressar para libertar a Marin do controle dessa Onyx e salvar Atena e a minha irmã.

O cosmo de Marin se elevou. Ardente como chamas. Era um cosmo agressivo e maligno. Seiya olhava para a mestra sem ter coragem de atacá-la. Ele jamais imaginou um dia estar na posição de ter que enfrentá-la.

— Berserker! — disse Phobos, chamando por Marin. — Não fique aí parada. Mate o Pégaso! Agora!

— Desgraçado! — disse Seiya , cerrando o punho

Marin avançou desferindo milhares de socos envolvidos por chamas, mas Seiya apenas cruzou os braços para bloquear a investida. Ele conseguia acompanhar os movimentos de Marin e tinha total capacidade para revidar, mas estava se contendo. Mesmo agora sendo sua inimiga, ele não queria machucá-la.

— Até quando você vai suportar, Seiya? — perguntou Marin. Ela golpeava de forma incessante na tentativa de romper a guarda de Seiya.  — Se continuar assim... — Marin recuou o braço direito concentrando cosmo em seu punho. — Eu arrancarei os seus braços!

Marin acertou Seiya e rompeu sua defesa, arremessando o Cavaleiro de ouro de Sagitário contra a parede. Seiya colidiu, mas conseguiu se equilibrar e caiu em pé. Ele procurou por Marin, mas a berserker havia desaparecido.

— Atrás de você. — disse Marin surgindo das sombras.

Seiya virou-se e estendeu a mão liberando uma rajada de cosmo que conteve o punho em chamas de sua mestra.

— Eu não posso me conter para sempre. — pensou Seiya.

— Foi uma boa tentativa, mas... — Marin se moveu acima da velocidade da luz e se aproximou de Seiya, desferindo um soco no rosto.

O golpe lançou a cabeça de Seiya para trás e fez seu corpo ser arrastado rasgando o piso do grande salão. Marin tentou mais uma investida direta, mas Seiya desferiu um chute no abdômen da antiga amazona, arremessando-a para o outro lado do salão.

— Finalmente você resolveu lutar. — disse a berserker, limpando o sangue que escorria em sua boca. — Mas você pode fazer mais que isso, não é? Pois se você não fizer, eu irei forçá-lo a reagir.

— Eu irei salvá-la. Eu prometo.

 Ambos cerraram seus punhos e avançaram contra o outro. Os punhos colidiram e uma onda de impacto propagou pelo salão, provocando rachaduras e fazendo o templo tremer.

Marin segurou o braço de Seiya e o girou arremessando contra a porta do salão, mas Seiya abriu suas asas e se equilibrou. A berserker aproveitou e desferiu seu golpe “Meteoros”, que agora estava potencializado pelo poder da Onyx, mas o Cavaleiro de Sagitário desviou dos punhos de Marin e se aproximou, aplicando uma joelhada no queixo da berserker.

Atordoada, Marin cambaleou para trás e Seiya se aproveitou para atacar, mas ele não conseguiu continuar e se conteve.

— Eu não posso. Não posso fazer isso. — seus olhos foram tomados por lágrimas.

— Você é fraco.

Marin deu um passo a frente e se aproximou de Seiya na velocidade da luz, aplicando uma cabeçada na testa do cavaleiro de ouro e um chute no abdômen que lançou Seiya contra o teto.

Antes que o Cavaleiro de sagitário desabasse, Marin concentrou cosmo em seu punho e o acertou, arremessando Seiya contra a entrada do salão.

— Você deveria atacar sem se importar. — disse Marin. — Pois eu sou sua inimiga e quero a sua cabeça e a de Atena. Não adianta ficar de sentimentalismo agora. Ou você se levanta e luta como um homem, ou então fique no chão para que eu possa esmagá-lo como um covarde.

— A senhora tem razão. — disse Seiya se levantando. — Nós, os cavaleiros de Atena, lutamos por uma causa maior. Não vai ser o truque de um deus maligno que irá me impedir de seguir em frente e proteger a Terra. Eu peço que... — Seiya elevou o seu cosmo. — Eu peço que a senhora me perdoe pelo que estou prestes a fazer.

— Por acaso está disposto a matar a sua mestra, Seiya? — perguntou Phobos.

— Phobos... — Seiya mirou um olhar furioso para o deus do medo. Os olhos castanhos do Cavaleiro de sagitário estavam mergulhados em lagrimas, mas acesos pelo cosmo dourado. — Jamais irei perdoá-lo por me fazer erguer o punho contra a minha mestra. Jamais!

— Venha, Seiya! — gritou Marin, com o cosmo elevado.

— Exploda cosmo!!

Seiya abriu os braços elevando seu cosmo ao máximo, e desenhou no ar a posição das estrelas que compõem a constelação de Pégaso.

— Meteoros!! — gritou Marin.

— Meteoro de Pégaso!! — disparou Seiya.

Milhares de socos colidiram no centro do salão provocando um forte tremor. Apesar de ambos estarem em níveis semelhantes, Seiya começou a empurrar o golpe de Marin para trás. Em meio a lagrimas ele seguia elevando o seu cosmo e disparando bilhões de socos por segundos. Ele precisava alcançar a sua mestra, e para isso ele estava disposto a queimar a sua vida.

— Eleve-se cosmo! Ao infinito!!

O cosmo de Seiya explodiu, liberando um poderoso deslocamento de cosmo que anulou a técnica de Marin e acertou Phobos, lançando o deus contra a parede. A antiga amazona foi alvejada pelos "Meteoros de Pégaso" e foi arremessada, mas Seiya correu na velocidade da luz e segurou sua mestra antes que ela colide-se. 

— Como um humano pode ter tanto poder? — pensou Phobos se levantando. — Todo esse cosmo... Não pode ser verdade. Seiya se tornou um deus?!

Chorando, Seiya virou-se para Phobos enquanto segurava o corpo de Marin nos braços.

— Pégaso... Você a matou?!

A onyx divina de Adrano rachou e se despedaçou por completo, mas para a surpresa de Phobos a amazona não possuía ferimentos.

— Eu jamais tiraria a vida da minha mestra. Jamais! Então só me restava uma única opção. Superar o nível de um deus por completo e libertá-la dessa Onyx sem lhe tirar a vida. 

— Isso é... Isso é impossível! Você se tornou um deus por opção?!

O deus do medo estava sendo tomado pelo próprio sentimento que governa. 

— Phobos... Eu vou matar você!

—...—


Região central do Santuário de Atena, Grécia

No centro do pátio ardia uma labareda com mais de 4 metros de altura e ao redor dela havia alguns soldados berserkers caídos no chão carbonizados. Outros soldados acompanhavam de longe temerosos enquanto uma sombra se movia lentamente em meio as chamas, tentando se arrastar para fora do círculo.

Kydoimos, um dos Espíritos da Guerra, tentava a todo custo se lançar para fora das chamas, mas seus esforços eram em vão. A chama era viva e o seguia. Impedindo-o de se desvencilhar. Alguns soldados tentaram livrá-lo, mas as chamas avançaram e os carbonizaram. A temperatura era tão alta que mesmo distante podia sentir o calor arder na pele.

O Espírito da Guerra não gritava de dor ou emitia qualquer palavra de desespero. Apenas se podia ouvir o ranger de dentes. Kydoimos estava sustentando a dor, pois seu orgulho era grande demais para se dobrar diante daquilo. Mesmo com a pele derretendo e os músculos borbulhando, para ele seria uma vergonha implorar por socorro. Isso mancharia sua posição, o exército de Ares e o seu Senhor.

— Kydoimos... — disse um homem se aproximando trajando uma Onyx de cor purpura escura.

Ele era alto e forte, sua pele era negra como ébano e seus olhos eram vermelhos como sangue. Possuía marcas finas e alaranjadas em ambos os braços, as quais pulsavam como brasa viva. Eram letras gregas formando frases sanguinárias que louvavam a carnificina da guerra e o deus Ares. Seu rosto tinha ângulos duros, marcado por cicatrizes. Uma delas desregulava sua barba pontiaguda na lateral do rosto.

— Senhor Makhai não se aproxime! — gritou um dos soldados berserkers. — Essas chamas vão avançar contra o senhor.

Makhai olhou de relance para o soldado, que recuou apavorado, e continuou caminhando, passando entre os corpos carbonizados de alguns subordinados.

— As chamas divinas de Fênix... — Makhai ergueu o braço emitindo um golpe cortante que partiu as chamas ao meio e as dispersou. — Estavam sendo um empecilho para você?

— Se-senhor...

Kydoimos estava sem forças. Seus cabelos haviam caído, seu corpo estava totalmente queimado e sua onyx havia sido destruída.

— O que lhe mantem vivo é a sua lealdade ao Senhor Ares. Isso é louvável. — Makhai materializou uma espada negra e a ergueu. — Você foi um bom soldado. Mas na sua atual condição... — o Espírito da Guerra desceu a espada e decapitou Kydoimos. — Não seria capaz de servir no campo de batalha que se aproxima.

O Espírito da Guerra elevou seu cosmo obscuro e seus olhos vermelhos se acenderam.

— “Berserkers! — gritou Makhai telepaticamente falando com o exército da guerra. — Aqui quem fala é Makhai, o Espírito da batalha e líder dos Espíritos da Guerra! Reúnam-se na região central do Santuário. Estamos sob ataque!

O céu trovejou e se distorceu emitindo um brilho verde fantasmagórico, e uma coisa inesperada aconteceu: A proa de um navio surgiu atravessando uma fenda dimensional ao som de batidas de tambores de guerra, trazendo a imagem do deus Poseidon entalhada na madeira. A embarcação tinha velas azuis de quatro andares com o símbolo do deus do mar em dourado, altos mastros e o nome Atlantis cravado na lateral.

Em pé na proa da embarcação, apoiado na cabeça do deus do mar, estava um homem bastante alto e forte, de expressão dura e olhar frio. Seus cabelos azul-escuros eram curtos na lateral e compridos atrás, e estava trajando um sobretudo militar azul por cima de sua escama. Nasile de Thatch. O capitão de Mar-e-Guerra do 1º distrito de Atlântida. E atrás do capitão havia centenas de soldados marinas armados com lanças e escudos nas mãos, e arco e flechas nas costas.

O cosmo de Nasile se espalhou e o céu trovejou com a distorção dimensional sendo ampliada. O cheiro da brisa do mar veio acompanhada por uma frota de navios voadores. Eram dezenas de embarcações com suas velas estendidas e um exército de prontidão.

Na direita de Nasile estava o navio britânico Eurydice, liderado pelo deus Chrysaor, filho de Poseidon e também General Marina guardião do Oceano Índico. O deus estava trajando a escama que carrega o seu nome e trazia em sua mão direita a lança dourada. Seus cabelos longos e verdes balançavam com o vento, e seus olhos dourados em fenda semelhantes a serpente fitavam o exército de Ares abaixo.

Na esquerda estava o veleiro holandês Flying Dutchman, liderado por Bedra de Lymnades, General Marina guardião do Oceano Antártico.  Um homem de pele branca, longos cabelos rosas e olhos dourados.

Nasile fez reverência e se afastou, dando espaço para um homem de aparência jovem, corpo forte, pele clara, cabelos prateados com mechas azuis amarrados em um curto rabo de cavalo, e olhos verdes como algas marinhas. Havia uma cicatriz na lateral dos olhos, e ele vestia uma escama dourada por cima de seu traje militar azul.

— Senhor Tritão. — disse o capitão.

— Atena! — gritou Tritão. Seu cosmo ampliou sua voz de modo que todo o Santuário pudesse ouvir. — Em resposta à invasão de Ares em Atlântida, e ao sacrifício de um dos seus Cavaleiros de Ouro que lutou ao nosso lado contra as hostes do deus da guerra, o Imperador Poseidon e seus Generais disponibilizam para a senhora o exército do mar. Para juntos lutarmos no campo de batalha ao lado dos seus cavaleiros, e expurgar o exército do deus da guerra. Ares! Atlântida declara guerra!!!

—...—


Curiosidades e referências:

1) As técnicas de Shalom "Mali spiritus, ego praecipitus, exitus!" e "Teofania" foram criadas pelo leitor Jadson Targino. 

2) Eu fiz questão de informar neste capítulo a data da batalha (22 de novembro de 2001) por causa de uma referência presente na construção do berserker Anatole. De acordo com a mitologia, o demônio Buer (que é o nome da terceira Onyx de Anatole) só pode aparecer quando o Sol estiver na constelação de Sagitário. Coincidência? kk Claro que não.


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Notas finais do capítulo

Olá pessoal!! Tudo bom com vocês? Espero que sim.

Nem vou mais pedir desculpas pela demora (risos), vocês já devem estar cansados disso. Contudo, espero que esse capítulo faça valer a pena toda essa espera.

Sou muito grato a todos vocês que continuam leais a história até hoje. Um grande abraço para todos vocês e se cuidem.

Ah... Já ia esquecendo. Ainda nessa semana terá o lançamento de um capítulo especial da Saga de Ares e o lançamento do capítulo 2 do Gaiden do Orfeu.

Deixem aqui o que vocês acharam do capítulo. Até a próxima pessoal!!



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