A Saga de Ares - Santuário de Sangue escrita por Ítalo Santana


Capítulo 68
Capitulo 63 – Caminho árduo para o regresso


Notas iniciais do capítulo

Enquanto Atena enfrenta o deus Oberon no Tártaro, os cavaleiros cruzam o terreno hostil do mundo inferior em direção a Porta da Morte. Na Terra, o exército de Ares marcha em direção a região leste do Santuário, aguardando o retorno da deusa da guerra.



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Capitulo 63 – Caminho árduo para o regresso

 
Monte Olimpo – Palácio do trono

Situado no topo do Olimpo entre as nuvens, acima de todos os templos e cidades que ocupam a imponente montanha dos deuses, está o suntuoso Palácio do Trono. Uma estrutura erguida com altas e grossas colunas e paredes brancas, com portas gigantes de ouro maciço e iluminada por tochas gigantes onde crepita o fogo primitivo.

Diante do palácio existe um imenso jardim de árvores frutíferas gigantes e flores de todos os tipos. E no limite do jardim existe três grandes arcos, que dão acesso a três escadarias que mais na frente se unem e tornam-se uma só. E acima de cada arco ergue-se três imponentes estatuas, com mais de 40 metros de altura, feitas de mármore branco, para exaltar a grandiosidade dos três grandes deuses do olimpo. Zeus, Poseidon e Hades.

Um local amplo demais para reunir os deuses do Olimpo, mas talvez pequeno demais para comportar a majestade de cada um deles.

No interior do palácio, passando pela pesada e alta porta de ouro, encontra-se um extenso salão retangular sustentado por volumosas colunas brancas. E no centro do salão existe um trono de 30 metros de altura feito de ouro, e sentado nele está a estátua de Zeus, segurando o raio na mão direita e uma águia no braço esquerdo. Seu corpo era feito de Marfim e seus trajes e artefatos eram feitos de ouro.

Cruzando o salão e atravessando um jardim interno, onde jorra dezenas de fontes de água entre pomares e flores, passasse por um corredor largo guardado por anjos enfileirados armados com arcos e flechas, espadas, escudos e lanças. Tudo isso para guardar o próximo e mais importante recinto. Um cômodo que é separado por uma porta de ouro adornada com joias.

Ao passar por essa porta o indivíduo entrará em um salão oval que comporta doze tronos postos em círculos. No centro do arco circular está o trono de Zeus. A sua direita existe mais 7 tronos, e a sua esquerda mais 6 tronos. O teto abobadado, o qual é ilustrado por pinturas de deuses e heróis entre as nuvens, é sustentado por doze colunas. Na pintura existe uma faixa, que é segurada por Atena e Nêmesis, as deusas da justiça, com os seguintes dizeres: “Faça-se justiça ainda que o mundo pereça”. E no centro de cada coluna existe a estátua de cada um dos doze deuses do Olimpo esculpida, simbolizando que são eles quem sustentam aquele recinto, o mundo, a ordem e justiça.

Naquele momento apenas o trono de Zeus estava ocupado, mas não era pelo deus do trovão, mas sim por um homem mais novo e muito mais belo. Aquele com certeza era o homem mais lindo entre deuses e mortais. Não havia falhas em sua aparência. Sua pele era clara e sem manchas, e seu corpo era esguio e delgado. Seu rosto parecia ter sido esculpido, sua mandíbula era salientada, assim como as “maçãs do rosto”, marcando seus ângulos harmonicamente. Seus lábios eram perfeitamente desenhados, seus cílios eram volumosos e seus cabelos eram lisos e vermelhos como chamas. Mas nada se comparava a beleza dos seus olhos. Era um azul vívido e brilhante como uma joia.

 Em sua cabeça havia uma coroa de louro de ouro. Seu corpo estava coberto por um manto, o qual estava preso por uma ombreia que lhe protegia até na altura do pescoço.

Ele estava olhando para três figuras velhas tecendo linhas em rodas de madeiras flutuantes. As Moiras, deusas do destino.

— O fio da vida do Cavaleiro de Andrômeda não será partido agora. — disseram elas através do cosmo, com suas vozes ranhosas que se propagavam como eco pelo grande salão.

— E por que não? — questionou Apolo.  

— A decisão do Andrômeda alterou o seu destino na beira da morte. — responderam. — Seu tempo natural de vida foi... Prolongado.

— Entendo. E quanto a minha irmã?

— Despertada. Por completo.

— Então ela irá retornar.

— Mas isso causará um grande derramamento de sangue. — Alertaram as Moiras.

— É o que se espera quando dois deuses da guerra se enfrentam. — disse Apolo, se levantando do trono.

Ele parou diante do trono de Ares e olhou para a estátua do deus, esculpida em uma das grossas colunas que sustentam o teto. A estátua, que fica atrás do trono do deus da guerra, apresenta a imagem de um homem guerreiro armado com uma lança e um escudo nas mãos e usando um elmo emplumado.

— Eu esperava que Ares punisse Atena e seus cavaleiros lendários, mas ele não teve sucesso nisso. E como se não bastasse esse fracasso, ainda teve a petulância de mirar sua ganância para o Olimpo. Uma nítida declaração de insubordinação. Ares deve ser varrido da Terra para que uma Era de Ouro possa ser implantada. E se para isso acontecer for necessário derramamento de sangue, então, que derramem. Observarei tudo daqui do alto. — disse o deus. — E quanto ao garoto?

“Está no Japão.” — responderam.

—...—

Tártaro – Palácio de Oberon

— Que cosmo é esse que eu sinto emanando dela?! — pensou Deimos, que estava ajoelhado, sendo forçado a olhar para a deusa que erguia a cabeça do deus com o seu báculo. — O cosmo dela... Mudou. Não existe qualquer hesitação. Ela está transbordando poder. Ela está... Provocando pavor em mim, que sou o deus do Terror. Isso só pode significar uma coisa... A deusa da guerra justa, a contra parte do meu pai, está completamente despertada nesta era. Ela está exatamente como era na era mitológica. Uma mulher poderosa e impiedosa contra seus oponentes.

— Por favor Atena, espere! — pediu Henry. — Não mate Deimos.

Atena olhou para Henry e fez uma expressão de estranheza e descontentamento ao avistar a estrela de Thanatos na testa do cavaleiro de câncer.

— Você possui a marca do deus da morte. — disse ela.

— Pois é. Algumas coisas tiveram que ser feitas para chegarmos aqui com vida. E isso inclui um pacto com o deus da morte. — explicou Henry. — Tenho uma promessa para cumprir. E isso envolve selar Deimos e Phobos no templo de Thanatos.

— Eu ouvi a sua história. — disse Atena. — E Deimos tem razão em um ponto. Se selar Deimos e Phobos no templo do deus da morte, você irá fortalecer Thanatos. Você os colocará como oferenda no altar dele. E isso é algo que eu não posso permitir. — Concluiu a deusa.

Henry arregalou os olhos indignado. Depois de tudo o que ele passou e o pacto que havia feito, não era aquilo que ele esperava ouvir.

— Mas eu...

— Vejo que você continua sendo egoísta, Atena!! — disse Aracne, ferida, parada no buraco que foi aberto e que ligava os dois salões. — Não espere que ela tenha compaixão por você, cavaleiro. Ainda mais agora que o lado divino dela está aflorando mais do que o lado humano.

A rajada de cosmo que havia atingido Aracne no momento da explosão causou nela mais do que escoriações. A berserker estava bastante ensanguentada e sua onyx estava danificada.

— Ela agora é uma deusa perversa, egoísta e orgulhosa. Essa é a verdadeira face de Atena. Se engana quem acha que ela é misericórdia, amor e compaixão.

— Cuidado com a forma que você fala de Atena, berserker. — Alertou Seiya.

— Não se intrometa, Pégaso. — Rebateu Aracne. — Você sabe que eu não estou mentindo. Lembre-se do que ela fez com a sua mãe na era mitológica. Condenou uma mulher vítima de estupro a se tornar um monstro. Que tipo de justiça é essa? Portanto, eu tenho assuntos para tratar com essa mulher.

Atena olhou para Aracne por cima do ombro.

— Eu não tenho nada para tratar com você.

— Ah, tem sim, Atena. — o cosmo sombrio da berserker se elevou. — E como tem. Pois assim como Medusa, eu também fui vítima da sua ignorância e estupidez. —  seus cabelos brancos cresceram e se agitaram como se fossem teias de aranha sendo expelidas do corpo. Sua pele morena se tornou mais escura, áspera e enrugada. — Você me transformou em uma criatura horrenda por puro capricho. Você me condenou a ser uma besta! Você estragou a minha vida! — disse aos gritos.

— Lembre-se que foi a sua vaidade e orgulho que lhe causou isso. — respondeu Atena, virando-se para encarar Aracne. — Você era a minha discipula. A mais habilidosa de todas. Mas você esqueceu de quem lhe concedeu os dons. Você quis se opor a mim e ignorou os meus conselhos, me intimando a participar de uma competição.

— A qual você perdeu. — disse Aracne sorrindo maliciosamente. — E como você não aceita perder, você me feriu com um golpe. E ainda tem a ousadia de falar de vaidade e orgulho?

— Eu salvei a sua vida quando você estava prestes a cometer suicídio.

— Por sua causa! —  Gritou Aracne. — Você não me salvou porque se importava comigo. Foi por desencargo de consciência depois de ter sido derrotada por mim. Você deveria ter me deixado morrer! Preferia a morte a viver uma vida condenada nessa forma monstruosa, e ainda sendo a tecelã escrava dos deuses.

— Sim, eu cometi esse erro por orgulho. Não nego. Mas eu me arrependi. Contudo, foi você quem escolheu continuar sendo um monstro. Você reviveu com rancor e ódio, e isso trouxe à tona a sua monstruosidade interior. E aí você se aliou a Ares. Tirou muitas vidas inocentes querendo me atingir.

— Eu não tive escolha. O que me restava era a vingança, então ataquei aquilo com que você mais se importa: a humanidade. — Vociferou a berserker, avançando contra Atena. — Mas agora irei ser mais direta. Aqueles dois deuses falharam em matar você, mas eu não irei falhar!! Se eu arrancar o seu coração aqui, você não irá reencarnar!! Nunca mais!! Será o seu fim!!

Seiya se moveu para defender a deusa, mas Atena o impediu colocando o báculo em seu caminho. A deusa estava decidida a receber o golpe de Aracne.

Das costas da berserker se prolongaram quatro pares de longas garras que avançaram em direção ao peito de Atena, mas faltando poucos metros para alcançar a deusa, o corpo de Aracne foi paralisado e a berserker ficou estática no ar.

— Mas o que... Eu não... Eu não consigo... Me mexer. — Além de ser paralisada, a onyx de Aracne começou a rachar e se despedaçar. — Meu traje!!

— É o que acontece quando um monstro ergue a mão contra uma divindade. — disse Atena. Uma luz dourada brilhou entre Atena e Aracne, e então o escudo dourado e divino de Atena surgiu se materializando, emanando luz e poder. — Eu irei livrar você desse mal que lhe corrompe e vou lhe mostrar que quem manteve você como um monstro foi Ares e não eu.

Os olhos de Atena brilharam e em seguida o seu escudo também brilhou intensamente, liberando uma rajada de luz que atingiu Aracne em cheio, despedaçando a sua Onyx. A berserker foi repelida e lançada para trás, e na medida em que ela caia uma sombra negra e vivida foi expelida do seu corpo.

Aracne caiu desacordada entre os escombros. A onyx que ela trajava começou a se desfazer como fumaça, dando lugar a um longo vestido branco de seda, e sua aparência voltou ao normal, tornando-se bela novamente. Como na era mitológica.

— Ela... Voltou ao normal. — disse Henry.

— Henry! — chamou um homem entrando no salão, atravessando a alta porta de ferro que dá acesso ao corredor do castelo. — Já chega de distrações.

Atena virou-se e por um momento pareceu surpresa.

— Afrodite?! — pensou a deusa, mas logo afastou o engano da sua mente. — Não... É o irmão mais novo dele. Eros.

Eros entrou acompanhado por Ápis e Alkes. Ambos fizeram reverência para a deusa, exceto Eros.

— Não podemos perder tempo com berserkers. — disse Eros. — Henry... Faça o que deve ser feito.

Henry então se virou e elevou o seu cosmo, fazendo correntes negras se materializarem nas sombras ao redor de Deimos. O deus foi acorrentado, e nelas surgiu o nome do deus da morte, selando o filho de Ares nas amarras.

— Tem a ousadia de acorrentar um deus?! — urrou Deimos, protestando.

— Seguir com o pedido de Thanatos é um erro. — alertou Atena.

— É um erro necessário. — respondeu Eros.

— Atena já deu o veredito, Eros. — disse Delfos, saindo das sombras do buraco na parede. Sua aparência tinha voltado ao normal. — Se Henry insistir, estará em clara desobediência com Atena.

Ele trajava a armadura de prata de Altar e estava acompanhado pela deusa Perséfone, que o seguia logo atrás.

— Desobediência é? O senhor tem ideia do que realmente está em jogo aqui? — Henry estalou os dedos e fez surgir cinco almas flutuando ao seu redor. De repente elas pararam e tomaram formas sentadas no chão. Eram crianças e elas choravam como se tivessem sido arrancadas dos braços de suas mães durante a amamentação. — Antes que me perguntem, eu não sei nada sobre eles. Eu não tive tempo de parar para perguntar. Apenas tinha que tirar a vida deles. — Houve uma sensação de desconforto entre os cavaleiros. — Mesmo assim, foi difícil. Eu já matei muita gente. Da minha infância até agora, eu já perdi os números de vidas que eu já tirei. Mas esses cincos aqui... Foram os mais difíceis para mim. Sabe por quê? Eram inocentes. Não tinha razão alguma para perderem a vida agora. Mas eu tinha que fazer isso.

— Foi Thanatos quem lhe pediu isso? — perguntou Atena. — Era essa a condição para entrar aqui?

— Vivos? Sim. Essa foi a única alternativa.

— É esse o preço para um humano entrar aqui com vida. — Comentou a deusa Perséfone. — Uma vida pura e sem mácula deve ser sacrificada para servir de proteção para o intruso. Não é como se tivessem outra opção.

— É... Foi isso o que aqueles deuses gêmeos falaram. — disse Henry. — Mas ter a proteção para entrar no Tártaro não era suficiente. Precisávamos de uma garantia de que iriamos entrar e sair daqui com vida. Afinal, as portas da morte precisavam ser abertas e apenas Thanatos poderia fazer isso, mas ele não faria isso de bom grado. Ele iria querer algo em troca. É aí que entra a verdadeira barganha e o pacto.

— E o que você barganhou? — perguntou Atena.

— A única coisa que eu tenho de valor. A minha vida. Era isso ou a alma do Pégaso, mas... Parece que ele é mais importante do que eu.

Deimos gargalhou.

— É um preço pequeno se comparado ao estrago que Thanatos pode fazer ao adquirir os meus poderes e do meu irmão. — comentou o deus.

— Isso aí já não é problema meu. — respondeu Henry. — O Grande Mestre havia estipulado um plano. Aparentemente era simples. “Encontrem o deus da morte, façam uma barganha, entrem no Tártaro e salvem Atena.” Mas havia outras coisas para serem feitas para esse plano dar certo. E elas precisavam ser feitas. E eu fiz.

— Eu não sabia o que ele iria pedir. — comentou Delfos.

— Ora, o senhor é inteligente, Grande Mestre. Não vamos fingir desentendimento agora. — disse Henry, refutando. — O senhor cogitou que uma barganha seria possível, que Thanatos poderia abrir as portas em troca de algo, e por isso nos orientou a fazer. E o senhor sabia que independentemente do preço que Thanatos pedisse, esse preço seria atendido, pois estávamos em uma situação de urgência. E se tratando do deus da morte, o senhor realmente acha que ele iria pedir algo fácil ou pequeno? Mas o senhor também sabia que apenas eu teria coragem para fazer aquilo que ele pedisse. Afinal, desse grupo aqui, o mais desumano sou eu. O senhor sabia que meus poderes espirituais seriam necessários para abrir e fechar as Portas do Tártaro. Afinal, desse grupo aqui, eu sou o único que domina o Sekishiki. Foi por isso que pediu para Eros ir me buscar no Brasil e me acompanhar até aqui. Foi tudo para garantir que eu chegasse vivo até esse ponto do seu plano pelo menos. Eu seria uma espécie de cordeiro para o sacrifício. Uma vida descartável. Estou errado, Eros?

— Não. — respondeu o cavaleiro de peixes. — A minha missão era exatamente essa. Garantir que você chegasse vivo até Thanatos para barganhar e garantir a sua proteção aqui no Tártaro também. Mas Henry... Eu nunca julguei a sua vida como descartável. Pelo contrário. Eu...

— Você realmente se apegou ao garoto. — comentou Delfos, vendo a relação de afeto entre Eros e Henry.

Eros abriu a boca para se explicar para Henry, mas o cavaleiro de ouro balançou a cabeça em negação, sinalizando que Eros não precisava falar algo.

 — Tudo bem. Isso não importa. Temos um planeta inteiro em jogo, não é mesmo? — Henry sorriu. — E o Santuário precisa de homens como eu para fazer esse trabalho sujo por um bem maior. E aqui está eu, caramba. Fazendo o trabalho sujo.

— Eu jamais lhe pediria isso. — disse Atena.

Henry olhou para ela, avaliando a deusa.

— Depois de ouvir o que a berserker falou sobre o que você fez com ela e com Medusa... Eu tenho minhas dúvidas...

— Henry... — disse Seiya, em tom de alerta.

— Ou talvez não pedisse, não é mesmo?! — disse Henry, contornando com ironia. — Mas com certeza esperaria que alguém como eu tomasse essa decisão por conta própria se fosse algo realmente necessário que não lhe desse outra alternativa. Assim suas mãos divinas não estariam sujas de sangue, e depois era só você me conceder perdão. Afinal, eu soube que você perdoou um genocida que causou a morte de milhares de pessoas através de um dilúvio. O que seria perdoar então um homem que matou cinco crianças para salvar você?! E eu fiz. E aqui estamos nós. Mesmo com esse lugar querendo nos matar, invadimos o castelo e encontramos você. E estamos prontos para tirar você daqui. Mas eu, em particular, tenho uma segunda missão. Sabe o que acontece com quem quebra o juramento pelo Rio Estige, não é?

— Á água do rio se torna ácida e...

— Eu serei corroído até os ossos, mas no outro dia estarei vivo novamente para sofrer mais uma vez. POR CEM ANOS! — gritou Henry. — Pois é... Os deuses gêmeos também me alertaram isso. E eu fiz essa porra de juramento!! Fiz porque precisava abrir aquela merda de porta e entrar nesse inferno que fica querendo nos expulsar como se fossemos vírus!! Fiz porque queria garantir a entrada e a saída desse lugar de merda!! Mas aqui estou eu, mais uma vez barganhando a bosta da minha vida com uma divindade. E o senhor... — disse para Delfos. — Ainda quer dizer que eu estou em “desobediência com Atena”?! Sinceramente? Eu não me importo. Eu vou cumprir a segunda missão a todo custo, pois se trata da minha vida e ninguém vai priorizá-la tanto quanto eu.

— Eu entendo sua indignação. Thanatos se aproveitou da situação. — disse Atena. — Ele usou você. Ele arquitetou tudo isso. Mas...

— E você por acaso não nos usa? Desde criança, para ser mais exato. A maioria dos seus cavaleiros são treinados arduamente com seis anos de idade. Seis anos, Atena!! E não é treino fácil não.  — Henry em seguida olhou para Delfos. — Ele por acaso também não nos usou e arquitetou tudo isso aqui? Nós, cavaleiros, nos tornamos um dos seus oitenta e oito combatentes porque surgiu na nossa frente uma oportunidade de tornar o mundo melhor e protegê-lo. O que ninguém nos conta no momento do treinamento é que seremos apenas peões dessas guerrinhas ambiciosas de deuses e que as nossas vidas serão tratadas sem o menor valor!! — gritou Henry. — Ninguém nos conta que no final seremos apenas um monte de corpos empilhados, e que a luta decisiva será entre a porra dos dois deuses que poderiam ter resolvido tudo lutando entre si logo no início!!

— Nisso você está errado, Henry. — disse Seiya. — Eu entendo o que você está sentindo, mas essa sua última afirmação sobre Atena não se encaixa com o perfil dela. Atena é uma deusa que se importa conosco. Ela zela por nós. Atena sempre olha para nós. E esse genocida que você comentou anteriormente se chama Kanon, e antes mesmo dele manipular Poseidon e o diluvio acontecer, Atena ainda bebê zelava por ele, salvando-o inúmeras vezes na prisão do Cabo Sunion. Atena é diferente dos outros deuses, e é por isso que nós a seguimos.

— Você não é muito imparcial para ficar opinando sobre Atena, Seiya. — rebateu Henry. — E se Atena ainda bebê tivesse matado Kanon na prisão, talvez as milhares de vida que morreram no dilúvio tivessem sido poupadas.

— Obrigada pelas palavras, Seiya. — disse Atena se afastando de Deimos. — Mas apesar do tom de voz... — o tom de Atena foi de repreensão. — Henry também tem razão no que disse. Então... Faça o que você acha deve ser feito. Não vou interferir na sua missão. Sele os deuses gêmeos da guerra no templo de Thanatos e pague a dívida do seu juramento. Mas eu lhe advirto que o cumprimento dessa missão é de sua inteira responsabilidade. E as consequências também.

— Está louca Atena?! — gritou Deimos. — Thanatos se tornará mais forte do que já é!

— Mais jamais será mais forte do que eu. — respondeu a deusa. — Henry... Faça!

— Está bem!! Mas antes eu vou esclarecer só mais uma coisa... As consequências serão de responsabilidade do Santuário. Quanto a você, Deimos... — O cosmo de Henry se elevou e a joia da armadura de câncer em seu pescoço brilhou. — Carregarei a sua alma comigo, desgraçado!

— Você está delirando, garoto! — gritou Deimos, se levantando. — Jamais serei preso por um mero humano.

Atena elevou o cosmo e apontou o báculo para Deimos imobilizando o deus.

— Não cabe a você escolher isso. Selamento divino! — proferiu a deusa. O báculo brilhou em sua mão e um selo com o seu nome surgiu preso ao peito de Deimos.

A estrela da morte brilhou com mais intensidade na testa de Henry.

— Finalmente darei uma utilidade as minhas vítimas e as dos meus antecessores! — disse Henry, levando as mãos paralelamente até o centro do peito e elevando o cosmo. A joia vermelha em seu pescoço brilhou com intensidade e dela rompeu um turbilhão de espíritos que se agitaram ao seu redor. — Coletei essas almas que ainda se lamentavam entre a Casa de Câncer e o Yomotsu, e transformei elas na mais nova técnica de Câncer que poderá ser utilizada pelas próximas gerações! Uma técnica que usa o cosmo dos mortos como fonte de energia, aumentando infinitamente seu potencial destrutivo!

— Uma técnica capaz de usar o cosmo dos mortos?! — pensou Ápis, surpreso com o poder emanado. — Essa técnica então... é ilimitada. Principalmente em um campo de guerra.

— Eu pretendia usar essa técnica quando tivesse a oportunidade de socar a cara de Ares, mas... Mudança de planos. Usa-la nessa situação é o mais apropriado. — disse Henry, explodindo seu cosmo. — Colheita do Yomotsu!

— Está cometendo um grande erro, Câncer!! — gritou o deus. — Você vai aprender que os deuses irão esmagar você!!

— Não se eu os esmagar antes.

O turbilhão de espíritos avançou contra Deimos. Eram milhares de mortos atrofiados pelo sofrimento, lamentando e gritando com olhos arregalados e fazendo expressões de pavor. O golpe atingiu o deus em cheio e o arremessou para o alto, pressionando a divindade no centro.

O redemoinho sugou a alma de Deimos, que protestava aos berros, e recuou para dentro da joia. Henry caiu de joelhos, arfando, e Eros correu até ele para segurá-lo.

— Você está bem? — perguntou Atena.

— Estou.

— Você ficará responsável pela alma dele. — alertou a deusa novamente. — Tome cuidado. Agora temos que sair daqui. O caminho até a porta é...

“Mas já está de saída, Atena?”  perguntou uma voz. — “Estava tudo tão interessante de observar. Achei que fossem me entreter mais.”

Uma forte pressão caiu no local.

— Mas o que está havendo? — perguntou Alkes. — Meu corpo está... paralisado e pesado. E eu mal consigo... respirar.

— Ele está aqui. — disse Ápis, em tom de alerta

— Ele quem? — perguntou Seiya.

— O filho de Hades, deus da Escuridão e regente do Tártaro. — respondeu Atena. — Oberon!

Da sombra do teto restante que havia sido destruído surgiu o deus, descendo com suavidade no centro do salão, e pousou em cima de um pilar caído.

— Mas que estrago. — comentou o deus, olhando o salão. — Parece que na minha ausência as coisas desandaram por aqui. A senhora está bem? — perguntou o deus para Perséfone, com tom de afeto e preocupação.

— Estou sim.

— Ótimo. Peço que a senhora tome cuidado. — Oberon olhou para Atena e depois para Seiya. — É arriscado ficar aqui.

— Onde está o senhor Shun? — perguntou Ápis. — Ele veio até o seu encontro. Onde ele está?

Oberon olhou para Ápis por cima do ombro.

— Verdade... Você o ajudou a chegar até mim. Mas saiba que você sentenciou o seu libertador para a morte.

— O Shun... Está morto? — perguntou Atena.

— Na beira da morte, eu diria. — respondeu Oberon. — Mais cedo ou mais tarde ele morrerá. Minha irmã já deve estar providenciando isso. Não irá demorar para as Moiras cortarem o fio da vida do Andrômeda. Devem estar aguardando a mortalidade dele retornar.

— Onde ele está? — perguntou Seiya, apontando a flecha divina para Oberon.

— Mas que diferença isso faz se todos vocês vão morrer? — o deus segurou a espada negra e elevou o cosmo. — Começando por você, Pégaso. Achei que Deimos e Enyalios fossem dar conta de você, mas parece que houve algumas inconveniências nessa parte. Você está vivo, Atena está em pé e seus cavaleiros também estão vivos. É um problema.

— E você não parece preocupado. — comentou Delfos.

— E por que eu estaria, Grande Mestre? Apenas estou curioso para saber por que você e Atena, que antes estavam fracos devido o efeito da prisão, agora parecem tão... “saudáveis”. — O deus olhou para Perséfone com desconfiança e depois voltou a encarar Delfos. — Fora isso... Com um golpe eu elimino os cavaleiros. Só me restaria Atena e o Pégaso. São obstáculos que eu consigo dar conta. Então cavaleiros... Venham!!

— Não! — ordenou Atena. — Não deem um passo se quer.

Seiya olhou preocupado.

— Atena... Tem certeza?

— Irá assumir a luta, Atena? — perguntou o deus.

A deusa elevou o cosmo.

— Vista sua surplice.

—...—


Japão – Estrada principal “Shin Tomei Expy”, cidade Okazaki – Província de Aichi – Noite do 5º dia

Fazia poucos minutos que Lino havia saído de Arashiyama, no distrito de Quioto, deixando para trás os corpos de June de Camaleão e Takeshi de Coroa Austral, mortos em combate contra o berserker Clown de Pennywise. Horas antes de Takeshi morrer, o antigo combatente levou Lino até um templo budista, onde lhe passou as últimas informações e entregou a vida do jovem cavaleiro de Lira sob os cuidados da amazona de bronze Kitsune de Raposa. Uma companheira de treinamento de Lino, discípula de Ikki.

Através de uma projeção espiritual, Kitsune orientou Lino a correr em direção a Metrópole de Tóquio, onde ela está esperando por ele acompanhada de outros cavaleiros que foram afastados do Santuário por ordens do Grande Mestre antes da Guerra Santa começar. Ela pediu para que ele seguisse em frente, sem olhar para trás, e que o orientaria no percurso com segurança.

Lino já havia percorrido 174 km pela estrada principal “Shin Tomei Expy”, seguindo uma raposa alaranjada astral criada pelo cosmo de Kitsune. Passando pelas províncias de Shiga e MIE.

— Para onde eu devo ir mesmo? — perguntou Lino, arfando.

A raposa, que corria ao seu lado, acelerou os passos e ficou na sua frente.

— “Apenas me siga”. — disse Kitsune, através do cosmo.

— E os berserkers? Não vão rastrear o seu cosmo me guiando?

— “Não tem nenhum berserker no Japão. Já verificamos isso. Eles só queriam a senhorita Seika. Agora o exército de Ares deve achar que você também está morto. Agora apresse-se! Faltam 308 km. O senhor Takeshi disse que você deve chegar aqui antes do sol nascer.”

— Chego em poucos minutos.

Lino passou pelas províncias de Aichi, Shizuoka, Yokohama e Kawasaki até chegar em Tóquio.

— “Hotel Lohas, na região de Chuo. Quinto andar, apartamento 503.” — disse Kitsune e em seguida a raposa de desfez em cosmo.

Lino se viu sozinho em meio as avenidas movimentadas da grande metrópole. Ele andou mais alguns metros até que achou o hotel. Ele se dirigiu até a recepção, onde se identificou pelo primeiro nome. A recepcionista verificou seu nome na lista e em seguida pediu para que ele a acompanhasse. Pegaram o elevador exclusivo para funcionários e foram até o quinto andar.

— No final do corredor, senhor. — disse a recepcionista.

Desconfiado, Lino saiu do elevador e se dirigiu até o quarto 503. Antes que ele batesse na porta a maçaneta girou e uma jovem de longos cabelos laranja claro e olhos dourados como duas moedas de ouro abriu a porta e lhe deu um abraço.

— Você está sem máscara. — disse Lino, abraçando-a.

— Você já viu o meu rosto antes. — disse ela. — Vamos. Entre. Eles estão lá dentro.

Dentro do apartamento havia uma pequena sala mobiliada com uma mesa, dois sofás e uma TV, que transmitia mais um episódio de One Piece, e do lado esquerdo havia um corredor que dava acesso aos quartos e aos demais cômodos.

— Olha só quem chegou. — disse um jovem se levantando de um dos sofás. De cabelos vermelho-arroxeado na altura do ombro, olhos violeta e pele clara, estava usando uma camisa branca e calça escura. — Você antes corria mais rápido. — disse sorrindo. Ele estendeu a mão para um aperto de mãos e em seguida abraçou Lino. — É bom vê-lo novamente, meu amigo.

— É bom ver você também, Nicolas.

— Fazia tempo que eu não escutava essa voz doce. — disse outro jovem, de voz grossa, saindo do corredor. Ele era mais alto e mais forte fisicamente que os demais. Mais corpulento. Seus cabelos eram brancos e curtos, sua pele era negra e seus olhos eram azul-serenity. Ele trazia uma bacia de frango frito da KFC em uma das mãos. — Eai Lino.

— Olá Acher. Que apetite...

Acher gargalhou indo até Lino e lhe deu um abraço esmagador.

— É bom vê-lo amigão. Ficamos preocupados com você.

— Você vai matá-lo se continuar assim, Acher. — disse Kitsune. — Deixe isso para os berserkers.

Eles sorriram.

O som de uma porta se fechando em um dos cômodos no corredor chamou a atenção de Lino.

— É o Quiron? — perguntou animado.

A expressão de Kitsune e os outros mudaram imediatamente, e instantaneamente a alegria de Lino se tornou receio.

— Temos que lhe contar uma coisa sobre Quiron. — disse Kitsune, com cautela na voz. — Mas antes...

 Um jovem de expressão firme, mas também sereno, apareceu no corredor e acenou com a mão para Lino.

— Olá. —  disse ele, timidamente.

— Deixe-me lhe apresentar Perses, o cavaleiro de prata de Cefeu. — disse Kitsune. —  Ele é filho e discípulo do senhor Shun e da senhorita June.

— Filho de June?! — pensou Lino, arregalando os olhos.

Perses era um jovem de cabelos longos verde-amarelado, um pouco mais claros que os de Shun, e seus olhos eram azuis como os de sua mãe.

— Ele foi ocultado dos registros. E é um cavaleiro protegido pelo Santuário também. Assim como você. — Completou Nicolas.

— Eu... Eu sinto muito. — disse Lino. — A sua mãe... Eu não...

— A culpa não foi sua. Takeshi nos contou o que houve quando entrou em contato com Kitsune. —  Disse Perses. — Me resta torcer para que o berserker esteja vivo quando a batalha começar. Eu mesmo quero derrotá-lo.

— Sim, claro. — disse Lino, sem jeito.

— Quanto ao Quiron... — começou Acher, pausadamente. — Ele está morto.

— Morto?! — perguntou Lino, surpreso. — Mas... Como?!

—Já faz algumas semanas. Ele foi para uma missão na França. Proteger a família do Cavaleiro de Ouro de Peixes. Mas a mansão foi invadida por um deus demônio. — explicou Nicolas. — Quiron lutou, mas... Não sobreviveu. A armadura de prata de Centauro trouxe o corpo dele até nós. Queríamos ter enterrado ele, mas...

— Tivemos que cremá-lo. — completou Kitsune.

— Droga!

Lino ia dar um soco na parede, mas Kitsune segurou o seu punho e o abraçou.

— Ficaremos juntos, está bem? Juntos somos mais fortes.

—...—


Tártaro – Palácio de Oberon

— Quanta firmeza em suas palavras. Ela está diferente de quando a visitei na prisão. — Pensou Oberon, sobre Atena. — Ela evoluiu notoriamente. Talvez fosse isso o que o Grande Mestre pretendia com todo esse seu plano. Levar Atena ao extremo. Provocar esse crescimento nela. Se a Atena que está diante de mim já não é mais aquela mulher humana... — o cosmo de Oberon se acendeu. — Está bem. Eu lutarei.

Atrás do deus da escuridão surgiu uma estatueta negra. A surplice de Oberon. O traje do deus era feito segundo a sua imagem, com o rosto olhando para o céu e a mão direita fechada para o alto, como se estivesse segurando uma espada, convocando os deuses no céu para um duelo por sua ascensão. A surplice parecia uma versão mais jovem da surplice de Hades, com três pares de asas nas costas.

 — Faz séculos que eu não a uso. Mas você é uma boa razão para isso.

As peças se separaram e o vestiram, protegendo o deus da cabeça aos pés. Ao vestir a surplice o cosmo de Oberon se ampliou, arremessando os cavaleiros para trás violentamente. Golpeando todos simultaneamente.

— Ele danificou a minha armadura. — disse Alkes de Taça, levando a mão ao peito.

— Ele é tão poderoso quanto Atena. — alertou Ápis de Touro. — Não o subestimem.

— Já chega Oberon! Essa luta será entre você e eu. — disse Atena, acendendo seu cosmo. — Grande Mestre, lidere os cavaleiros para fora do palácio. O mais rápido possível. E não importa o que aconteça, não voltem aqui.

— Atena, tem certeza? — questionou Delfos.

— Não, Atena! — reprovou Seiya. — Não podemos deixá-la sozinha.

— Está tudo bem, Seiya. — disse ela. — Vocês devem ir na frente. Henry, do outro lado das colinas, após atravessar as montanhas que cercam o palácio, está a Porta da Morte que nos levará de volta para a superfície da Terra. Você sabe o que fazer quando chegar lá. Sigam o rio de fogo, o Flegetonte, até as montanhas. Eu alcançarei vocês.

— É arriscado você enfrentá-lo sozinha. — disse Seiya.

— Seiya, é uma ordem. Não se preocupe. Agora vá!

— Senhorita... — disse Alkes. — Perdoe-me pela insistência, mas viemos aqui para tirá-la do Tártaro. Não tem sentido deixá-la para trás.

— Ouviram Atena. — disse Oberon. — Saiam do palácio. Corram para a saída do Tártaro. Se Atena não alcançar vocês... Eu alcançarei e os matarei.

Delfos olhou para Atena analisando a deusa. Ela estava segura do que estava fazendo. E ele deveria confiar nela. Foi para torná-la a deusa da guerra estratégica que ele se empenhou todos esses anos, então estava na hora dele abandonar a imagem de mulher frágil que ele tinha dela, e passar a acreditar na nova Atena que havia se erguido nas profundezas do Tártaro.

— Cavaleiros! — chamou Delfos. — Vamos!

O Grande Mestre correu na frente, sendo seguido por Eros, Henry e Ápis. Alkes olhou para Atena por mais alguns segundo e correu logo em seguida. Seiya cerrou o punho e hesitou. Ele encarou Atena, mas os olhos da deusa estavam fixados em Oberon. E mesmo discordando, Seiya deu as costas e correu para acompanhar o grupo.

Agora restava apenas Atena, Oberon, Perséfone e Aracne, que estava desacordada. Antes da batalha começar Atena elevou o seu cosmo e envolveu o corpo de Aracne, teletransportando-a para o outro cômodo do palácio.

— Pronto. Podemos começar, se quiser. — disse ela.

— Mãe... — disse Oberon. — Saia, por favor. Não quero que a senhora se machuque. Se a senhora ficar, eu irei me conter. E isso é algo que eu não posso fazer.

Perséfone acenou com a cabeça mostrando compreensão e se teletransportou.

— Sejamos breves. — disse Atena.

— É o que eu pretendo. — respondeu Oberon, sorrindo.

O cosmo de Oberon se elevou, agitando seus cabelos e dando brilho aos seus olhos. O deus então avançou, desferindo um golpe de espada que foi bloqueado pelo báculo de Atena, propagando deslocamento de ar que arrastou para trás os entulhos que ocupavam o salão.

Apesar de não ser um deus combatente, Oberon tinha um ótimo manejo de espada, surpreendendo até mesmo Atena. O deus seguia golpeando sem intervalos e avançando, obrigando a deusa da guerra a recuar aos poucos. Os golpes eram fortes e bastante precisos, mas a deusa também era uma excelente espadachim, e apesar dos recuos elas bloqueava todas as investidas.

 Vendo que aquilo poderia se estender por muito tempo, Oberon aplicou uma rajada de cosmo somada ao golpe de espada, pegando Atena de surpresa. A deusa foi lançada para trás, atravessando a parede e caindo no cômodo seguinte.

O deus voltou a atacar antes que Atena pudesse se erguer, mas mesmo em movimento de queda Atena se defendeu com seu escudo e atacou com o seu báculo. Com auxílio das asas ela girou no ar e pousou rasgando o salão. Em seguida ela tomou impulso e atacou. Espada e báculo voltaram a colidir. Atena então aplicou uma joelhada no abdômen do deus, fazendo ele se curvar para frente cuspindo sangue, e depois desferiu um soco no queixo, arranco o elmo do deus e lançando ele para trás.

Durante o arremesso o deus se teletransportou. Por um momento sua presença desapareceu completamente. Até que das sombras ele surgiu, vindo pela lateral. Atena rapidamente girou e atacou. A colisão das duas armas divinas liberou uma onda de impacto que abriu fendas no chão e uma extensa cratera, levantando uma cortina de poeira.

Os deuses ficaram cara a cara enquanto báculo e espada rangiam entre eles, liberando faíscas e rajadas de cosmo. Atena o empurrou, o deus saltou para trás, mas imediatamente ergueu a espada e avançou, descendo para partir a deusa ao meio. Atena porem não se descuidou. A deusa ergueu o escudo e brandiu o báculo. Oberon teve sua espada bloqueada pelo escudo da deusa, que o atacou com o báculo liberando uma rajada. O deus se esquivou e o golpe da deusa atravessou o teto.

— Ora, essa foi por pouco. — disse ele, surgindo no alto com o braço erguido, concentrando uma gigantesca massa de cosmo. — Morra!

O deus lançou o golpe que desceu como uma devastadora coluna de cosmo negro. Atena voltou a erguer o escudo e bloqueou o golpe. A pressão porem era arrasadora e estava fazendo os pés da deusa afundarem no chão. Vendo que ela estava encurralada, o deus expandiu seu cosmo e disparou uma segunda investida. Atena bloqueou, mas o peso do golpe afundou o piso, que cedeu e desabou nos andares debaixo.

Sem equilíbrio, Atena acabou sendo pega pela rajada e caiu, sendo arremessada para vários andares até desabar no térreo. O golpe arrebentou, se expandindo como uma cúpula de uma explosão nuclear, erguendo uma densa coluna de poeira e fumaça.

Do alto o deus avistou a deusa da guerra caída, como um anjo que foi expulso do céu. Satisfeito, o deus da escuridão sorriu e preparou sua espada para aplicar o golpe final. Mas Atena não havia desistido. Antes que Oberon atacasse, a deusa se ergueu e saltou, abrindo suas asas e subindo em direção ao deus em um rápido disparo.

Oberon aplicou um chute em direção ao rosto da deusa, mas Atena desviou para o lado. O deus então girou para aplicar um segundo chute, mas Atena bloqueou com o braço e o empurrou. A deusa então transformou seu báculo em uma espada dourada e aplicou um golpe no abdômen de Oberon, cortando sua surplice. Surpreendido, o deus da escuridão se apressou para reverter a vantagem da luta. Ele se teletransportou mais uma vez e surgiu atrás de Atena, mas a deusa foi esperta e bloqueou o ataque com sua espada dourada.

— Boa defesa, Atena. Consegue manter o ritmo?

O deus seguiu desferindo golpes consecutivos e avançando, enquanto Atena bloqueava cada golpe recuando. Era o mesmo ritmo, a mesma sequência, até que propositalmente ele mudou. Um recuo mais prolongado do braço e uma curva mais inclinada fez com que a trajetória da espada se alterasse. Atena foi pega de surpresa, e a espada foi cravada em seu ombro, pouco acima do seu peito.

— Droga! — exclamou a deusa, entre dentes, saltando para trás.

— Não crie tanta confiança assim, Atena!! — disse Oberon, manejando a espada ao mesmo tempo em que concentrou cosmo em sua mão esquerda e disparou contra Atena.

Por um descuido o golpe atingiu a deusa, arrancando seu o elmo e a arremessando violentamente para trás. Atena atravessou a parede e caiu na escadaria que leva aos andares inferiores.

Oberon então voou, atravessando o buraco aberto pela deusa e desceu para mais uma investida. Enquanto descia ele aplicou centenas de rajadas de cosmo que bombardearam Atena, lançando-a cada vez mais fundo na cratera que se formava.

— Foi para isso que você pediu para que eu vestisse a minha surplice, Atena? — desdenhou o deus. — Chega a ser um insulto. Eu poderia fazer isso sem precisar usar um traje.

— Não se superestime! — disse Atena, através do seu cosmo.

Sua voz ecoou pelo palácio junto com o seu cosmo, que se elevou e expandiu. Um escudo dourado gigante feito de cosmo surgiu e bloqueou os golpes do deus, repelindo contra ele.

Oberon se defendeu com a espada, cortando os disparos que iam em sua direção, mas foi nesse momento que Atena ergueu-se atravessando a coluna de poeira e o escudo de cosmo, que instantaneamente se desfez. A deusa atacou, Oberon se defendeu, e deram início a mais um choque de espada. Dessa vez com mais força. Com mais intensidade. Fazendo uso de suas asas, eles voaram entre idas e vindas com suas armas.

Atena aplicou um chute no peito do deus, fazendo ele pousar com força rasgando o solo. Mas logo ele saltou e atacou, mas a deusa se esquivou, surgiu acima dele girando e desceu com uma investida. Oberon se esquivou para o lado e a espada acertou o chão, abrindo uma cratera.

— Ela está mais... voraz. — pensou Oberon, surpreso.

 O deus tentou revidar o ataque, mas Atena desviou com precisão, girou e aplicou um chute nas costas do deus, atirando-o contra o chão brutamente.

Oberon colidiu com três colunas antes de cair rasgando o solo. Atena então desceu em disparo, estendeu a mão e liberou uma rajada de cosmo, acertando o deus em cheio.

— Terminamos. — disse Atena.

— Ainda não. — disse Oberon surgindo inesperadamente diante dela. Ele a golpeou com a espada, mas o escudo da deusa surgiu entre eles e bloqueou o golpe.

Ao ver que a deusa estava se preparando para um novo ataque, o deus se teletransportou, tomando distância. Atena então disparou dezenas de golpes enquanto Oberon usava suas asas divinas para fugir dos ataques. Até que ele se dissolveu em sombras, pegando Atena de surpresa mais uma vez, e surgiu cara a cara com ela, atacando-a com sua espada. Atena bloqueou, mas o deus pressionou o golpe ao extremo, até que os braços da deusa cederam e ela foi acertada, tendo o peito da sua armadura divina rasgado pela espada negra.

O golpe arremessou Atena envolvida em uma ventania de escuridão.

— Pouparei Ares do esforço de matar você. — disse o deus aparecendo ao lado de Atena durante o arremesso. Oberon segurou no pescoço da deusa com força e impulsionou a decida, arremessando-a com mais violência. —  Isso terminará agora!!

A queda teve sua potência dobrada e a deusa só parou quando colidiu violentamente nas portas de ferro que dão acesso a saída do palácio. Atena cuspiu sangue, mas não caiu. As asas divinas se abriram e ela se equilíbrio. O deus então apontou a espada para ela e elevou o cosmo, fazendo a escuridão girar em um turbilhão na ponta da lâmina. Concentrando uma poderosa massa de cosmo.

— Você não aprende mesmo, não é?! — disse a deusa.

 — Tola!

A rajada foi disparada, mas Atena não desviou. A deusa estendeu a mão para frente e gritou:

— Aegis!

E mais uma vez o seu escudo divino se materializou diante dela, bloqueando o golpe que insistia em arrastá-la para trás.

— Meu escudo tem como propriedade repelir qualquer ataque!!

O cosmo de Atena explodiu e o escudo brilhou com intensidade, ricocheteando a rajada de cosmo lançada por Oberon. Enquanto a rajada avançava em direção ao deus, Atena soltou seu escudo e avançou também, acompanhando o golpe.

O deus tentou fugir do alcance de ambos e desviou para o lado, mas foi em vão. A rajada de cosmo passou direto, sem atingi-lo, mas a espada de Atena se transformou em báculo novamente, aumentando o alcance da deusa, e a ponta do báculo ficou tão afiada quanto uma lâmina.

Atena moveu o báculo em um golpe de meio arco, e a arma divina atingiu o deus em cheio, rasgando o peito de sua surplice, provocando um corte profundo, fazendo jorrar ikhor. O deus apoiou a mão em cima do ferimento fazendo expressão de dor, mas não abaixou a guarda nem por um segundo. Atena se teletransportou e surgiu em cima dele, com o báculo transformado em espada novamente, a poucos metros do rosto do deus. Oberon bloqueou, mas Atena insistiu e continuou golpeando incansavelmente, até que a deusa sumiu, fazendo Oberon arregalar os olhos surpreso, e surgiu acima dele girando e aplicando um golpe. A espada negra interceptou o golpe da deusa e ele se esquivou para aplicar um golpe cego, surgindo nas costas da deusa, mas o escudo divino de Atena se materializou entre os deuses e bloqueou a espada.

— Achou que eu não esperava por isso? — perguntou Atena, que abriu a asas e projetou dezenas de esferas de cosmo. — O mesmo truque furtivo não vai funcionar uma segunda vez comigo!!

Atena disparou as esferas, que avançaram simultaneamente. O deus bloqueou algumas, mas acabou sendo atingido e lançado, atravessando pilares e andares até cair rasgando o solo.

Atena abriu suas asas e voou até lá, mas no meio do caminho ela foi surpreendida pelo cosmo de Oberon, que se expandiu por todos os andares, cobrindo todo o palácio. Atena foi arremessada para o alto, atravessando os andares superiores.

— Aqui é o meu mundo, Atena!! —  disse o deus através do cosmo. Sua voz ecoava por todo o palácio. — Não se esqueça disso!! A minha escuridão prevalecerá!!

— Sua escuridão é cosmo. — respondeu a deusa. — E todo cosmo pode ser sobrepujado!! — gritou ela.

O cosmo dourado de Atena se expandiu também, e a deusa da guerra cruzou o palácio em direção a Oberon, armada com seu báculo na mão direita e seu escudo na mão esquerda. A deusa encontrou o deus da escuridão lhe esperando no corredor principal, e prontamente avançou contra ele, aplicando golpes consecutivos, que eram bloqueados e revidados por Oberon.

Luz e trevas colidiam e oscilavam. O palácio estava tomado por dois cosmos poderosos, que dançavam entre si na medida em que os deuses se moviam. Em um desses ataques Atena desviou da espada, surgiu atrás de Oberon e encaixou a haste do báculo no pescoço do deus, enforcando-o.

— Desista, Oberon. — disse ela. — Você não precisa me enfrentar.

— Ora, cale a boca!

O deus girou a espada na mão e desferiu um golpe para trás, a fim de atingir Atena, mas a deusa aplicou um chute nas costas do deus que o lançou pra frente, arremessando-o. Ainda no ar Oberon foi pego pela deusa, que surgiu desarmada pairando em cima dele, e desferiu centenas de socos, jogando o deus da escuridão contra o chão novamente.

— Já chega! — gritou ela, saltando para o alto e materializando o báculo na mão direita. — Nick!!

Atena disparou uma poderosa rajada que tomou a forma da imagem de Nick, a deusa da vitória. Uma bela deusa jovem alada, com cabelos dourados e uma coroa de louro verde na cabeça, emitindo um intenso brilho dourado nos olhos.

 O golpe desceu e atingiu Oberon em cheio, gerando uma cúpula de cosmo que cresceu e explodiu, levantando uma coluna de luz que tomou o castelo e se expandiu em uma segunda explosão. A estrutura do palácio não suportou e as colunas se romperam. O palácio do deus então desmoronou completamente.

...


Templo do Grande Mestre, aposentos de Ares – Santuário – Noite do 5° dia

Um forte abalo provocou tremor por toda a montanha do Santuário.

— O que foi isso? — perguntou Ares, despertando. Ele estava deitado na cama, descansando após lutar com Poseidon em Atlântida. — Uma... colisão de cosmos?!

— Um pequeno desentendimento entre Dionísio e Phobos. — respondeu Afrodite, que estava sentada na outra extremidade do quarto, diante de um espelho por onde ela acompanhou a luta dos deuses. — Mas já terminou. O berserker Clown de Pennywise trouxe a irmã do Pégaso. Phobos já está trazendo-a para o Templo. Mas o que pretendem fazer com ela? — questionou a deusa, virando-se para Ares.

— Atingir o Pégaso. Tenho planos para usá-la. — disse o deus se levantando. — E como está o Olimpo?

A imagem no espelho mudou imediatamente, revelando a imponente montanha que abriga os deuses olimpianos e seus seguidores.

— Continua com os portões fechados. Apolo não retirou o estado de alerta. Apenas Hermes e alguns anjos saem da montanha. Provavelmente levando e trazendo mensagens.

— Apolo vai continuar sentado no trono observando o resultado dessa guerra. Se ele for agir, será no final dela. — disse Ares.

— Sim. Apolo é orgulhoso e vaidoso, mas acima de tudo ele é ético e diplomático. Ele não atacaria de forma sorrateira. — Concordou Afrodite.

— De qualquer forma, Apolo ainda não é razão para se preocupar no momento. Atena retornará daqui a quatro dias. Tenho que estar com as minhas fileiras prontas para recebê-la.

— Acha que Oberon não vai matá-la?

— Talvez não a mate. Ou talvez tente e não consiga. Mesmo ele tendo ela presa em seu castelo antes mesmo dos cavaleiros chegarem, Oberon cogitou que Atena pode sair de lá viva e que eu devo me preparar. Oberon é meticuloso e astuto. Ele desconfia que o Grande Mestre tenha se preparado para um contratempo desse tipo caso fossem capturados. — Uma peça de onyx se materializou no corpo de Ares, cobrindo seu peito nu.

— Está de saída? — perguntou a deusa.

 O deus foi até ela, tocou em seu rosto e a beijou.

— Estou sim. Já anoiteceu, e hoje é noite de lua nova, então não terei Apolo ou Artêmis me observando.

— E para onde pretende ir escondido?

— Alemanha. Preciso buscar uma coisa que eu deixei lá na última guerra santa. Eu pretendia ir sozinho, mas... Aceita me acompanhar?

Os deuses saíram do quarto e se dirigiram até o salão principal onde fica o trono do Grande Mestre. Anteros estava lá. Na mesma hora as portas se abriram e Dionísio e Phobos entraram, acompanhados por Kydoimos, que trazia Seika desacordada em seus braços, e Mikhai, o líder dos Espíritos da Guerra.

— Senhor Ares... — disse Mikhai, curvando a cabeça em reverência.

— Clown trouxe a irmã do Pégaso. — anunciou Phobos. — O que devemos fazer com ela?

— Dionísio... — chamou Ares. — Ordene que suas criadas cuidem dessa mulher. Levem-na para um dos aposentados. E Anteros, coloque guardas na porta. Ela não deve sair do quarto.

— Sim senhor. — Concordou o deus da manipulação.

— Só isso? — questionou Phobos.

— Sim, só isso. — respondeu o deus, passando por eles acompanhado por Afrodite.

Dionísio podia sentir a fúria de Phobos no silêncio duro do deus.

— E para onde vocês estão indo? — perguntou o deus do vinho.

— Alemanha. — respondeu Ares, antes que as portas se fechassem.

—...—


Colina do Tártaro

— Vocês ouviram isso? — perguntou Alkes, após ouvir um barulho de explosão.

Mas claramente todos os cavaleiros haviam escutado. Todos eles olharam para trás ao mesmo tempo.

Seiya imediatamente correu para o topo de uma colina e avistou a coluna de luz dourada que se erguia no palácio iluminando o céu e que em seguida se expandiu em uma segunda explosão devastadora, derrubando o palácio completamente.

— Atena! — gritou ele.

— Não precisa se preocupar, Seiya.

Ecoou uma voz serena entre as colinas, seguido por um cosmo poderoso.

— Isso por acaso é... um deus?! — questionou Henry.

Uma nebulosa então se formou, e dela surgiu Shun, trajando sua armadura divina de Andrômeda, trazendo Atena apoiada em sua mão. A deusa estava sem sua armadura. O traje divino havia recuado para o interior de Atena, se unido ao cosmo da deusa.

— Shun! Atena! — disse o Grande Mestre, correndo até eles. — Atena, você está bem?

Atena estava com o ombro bastante ensanguentado e com algumas escoriações no rosto e nos braços.

— Eu estou bem. — disse ela.

— Você está ferida. — comentou Seiya.

— Alkes... — chamou Delfos. — A água.

— Sim. Claro. — Rapidamente Alkes elevou o seu cosmo e fez surgir uma água cristalina flutuando na palma de sua mão. A água da armadura de Taça. — Com licença, senhorita.

Ao invés de oferecê-la para beber, Alkes apoiou a mão em cima do ferimento e depositou a água, elevando seu cosmo para ativar as propriedades de cura. Instantaneamente o poder da água reagiu com o poder curativo do ikhor da deusa. O sangue foi drenado e o ferimento se fechou em poucos segundos. As escoriações também foram curadas, devolvendo à deusa uma aparência sadia e renovada.

— E Oberon? — perguntou Ápis.

— Está em meio aos escombros. — respondeu Shun.

— Vejo que o senhor está bem. — comentou Ápis. — Oberon havia dito que o deixou na beira da morte.

— Eu estou bem. — respondeu Shun, sorrindo. — Não se preocupe.

Ápis cerrou os olhos, desconfiado. Havia algo estranho na mente de Shun. Ele tentou se concentrar, mas foi interrompido por Seiya.

— É bom vê-lo de novo, meu amigo. — disse Seiya, estendendo a mão para Shun e lhe puxando para um rápido abraço.

— Lindo, muito lindo. — disse Henry, zombando. — Mas a gente tem que sair daqui.

—  Henry tem razão. — disse Eros. — Aquela coluna de cosmo irá atrair todos os tipos de divindades e criaturas que residem no Tártaro. Não temos condições de enfrentar mais deuses ou até mesmo um Titã.

Delfos voltou-se para Atena.

— Vamos?

Atena balançou a cabeça concordando. Ela subiu a montanha, sendo seguida por eles.

—  É para lá que devemos ir. — disse ela apontando para uma coluna de luz vermelha que se erguia até o céu no final da planície cortada pelo rio de fogo. Naquela região as nuvens obscuras rodopiavam em um redemoinho iluminado por raios vermelhos.

Mas o caminho até lá não parecia ser tão seguro ou fácil. Toda a planície, até onde podia se enxergar, era repleta de templos em ruinas, árvores mortas, fendas e terra seca. O ar também estava cada vez mais rarefeito. O cheiro de enxofre ficava cada vez mais forte, ardendo as narinas e o pulmão.

— Ali é o coração do Tártaro. — explicou Atena. — Quanto mais nos aproximarmos da porta, mais hostil o ambiente será. E mais... —Atena se calou quando grasnos e urros ecoaram com o vento. — Arriscado também. O Tártaro é o lar das mais diversas criaturas, que desde a era mitológica são banidas para cá. Por tanto, não se separem. Nem por um segundo. — alertou ela. — Vamos!

Eles então correram, sendo liderados por Atena e pelo Grande Mestre. Desceram a montanha como raios de luz e seguiram pela margem do rio de fogo, que serpentava na terra negra.

—...—


Floresta sagrada de Atena, Santuário – Grécia – Noite do 5º dia

Jake e Héstia conversaram por algumas horas. Ela explicou o que houve com as crianças que Jake havia salvado da malícia do deus Enyalios, e que estavam sob a tutela da Héstia.

— E mais uma vez Phobos arranca de mim as pessoas que eu amo. —  Disse Jake, serrando o punho.

—  Jake... — a deusa tocou nas mãos do cavaleiro, mas ele se afastou e se levantou, atravessando a sala em direção a porta.

—  Para onde você vai? — perguntou Chertan, o mestre de Jake, que estava sentado na sala ouvindo a conversa da deusa com o seu discípulo.

—  Eu... Eu preciso ficar um pouco sozinho.

Jake saiu da cabana, abrindo a porta para a noite. Do lado de fora o domo de arvores ocultava grande parte da luz da lua. Ele caminhou até chegar no limite da barreira e se encostou em uma árvore, cedendo aos poucos até sentar-se no chão.

Logo os seus olhos se encheram de lagrimas e ele silenciosamente chorou. Um choro que estava preso na garganta a tanto tempo. Um choro que não tinha apenas haver com seus problemas pessoais, mas também com a dureza de ser um cavaleiro. A pressão psicológica de estar diante de tantas tragédias e ter que passar por cima delas sem parar para lamentar, pois é tudo por um bem maior e eles não tem tempo para isso.

Tantas pessoas ficaram para trás. Seus pais, seu irmão, as crianças que ele salvou... Todos mortos. Conhecidos e anônimos que foram envolvidos nessa guerra.

— Eu recomendo que Jake seja afastado do campo de batalha. — disse o deus Asclépio na janela da cabana, observando o Cavaleiro de Leão encostado na árvore.

— Mas por quê? — questionou Héstia.

— Ele não pode continuar lutando. Depois de tantas perdas, ele não está conseguindo processá-las, e isso está levando ele para um caso de depressão. — explicou Asclépio. — Um cavaleiro precisa estar estabilizado emocionalmente para poder lutar.

— O senhor Asclépio tem razão. — disse Dorie, o cavaleiro de Prata de Cérbero, entrando na sala. —Existe uma razão para o Santuário preferir acolher órfãos para o treinamento e proibir relacionamentos íntimos dentro do exército. É para evitar danos emocionais ao cavaleiro em uma situação de perda. — explicou — O cavaleiro luta melhor em um campo de batalha se não houver alguém em casa esperando por ele. Só assim ele pode dar tudo de si, inclusive a vida. Caso contrário o inimigo pode usar isso contra o cavaleiro.

— É exatamente isso. — disse Chertan, concordando. Ele se inclinou para frente, cruzando os dedos e apoiando o cotovelo nas pernas — Jake já tinha problemas pessoais não resolvidos antes de se tornar o Cavaleiro de Ouro. Precisei trabalhar o lado psicológico dele antes de começar a treiná-lo. Foram meses de conversa, pois ele era bastante instável psicossocialmente. Eu queria que ele colocasse tudo para fora. Que ele chorasse. Que ele falasse. Pois guardar o que sente para fingir ser forte é um veneno que vai lhe matando aos poucos. É você sabotar a si mesmo ao invés de pedir ajuda. Até que você não consegue mais segurar as pontas e ai...

— Você explode. — disse Asclépio. — E isso pode ser da pior maneira possível. Ele pode acabar se machucando, ou recorrer a algo que lhe deixe sedado para aliviar a pressão, ou se tornar mais agressivo e impaciente.

— Ferir a si mesmo... Está falando de... — perguntou Héstia.

— Mutilação, suicídio, desistir de viver... — respondeu Asclépio. — A mutilação pode acontecer antes do indivíduo tomar a decisão de tirar a própria vida. É algo que acontece com soldados na guerra quando a pressão psicológica atinge seu ápice. Mutilação é o ato de substituir uma dor emocional por uma dor física. Se Jake for para batalha nesse estado, ele pode acabar se entregando ao inimigo, querendo substituir a dor das suas emoções pela dor do seu corpo. Ele pode acabar desistindo de viver. Isso é uma doença grave que precisa de atenção. Cada ser humano processa determinados problemas de maneira única, individual. O que para um é fácil, para outro pode ser mais difícil. Mutilação, álcool, drogas, agressão... São as vezes consequências de emoções reprimidas. É algo que não podemos desdenhar.

Chertan se levantou.

— Onde você vai? — perguntou Héstia.

— Jake é meu discípulo, e por muitas vezes foi também como um filho para mim. Eu me sinto responsável por ele. E como mestre, vendo que meu discípulo precisa evoluir, cabe a mim dar continuidade ao treinamento dele até torná-lo um cavaleiro ideal.

Chertan saiu da cabana e caminhou até Jake, que apressadamente enxugou os olhos ao ver que o mestre se aproximava. Chertan parou a poucos metros dele e ficou em silêncio por alguns instantes.

— Está preocupado comigo. — Afirmou Jake, lendo a aura de Chertan.

— Qual é a cor da preocupação? — perguntou Chertan.

— Vermelho excessivo. — respondeu.

— E se você olhasse para você mesmo... Qual seria a cor da sua aura agora?

— Tristeza não tem cor, mestre.

— Entendo. Jake, eu quero que você me entregue a sua armadura de leão.

Jake olhou surpreso para o mestre e rapidamente se levantou.

— O que?! Mas por quê?

— Você não está em condições de lutar. Suas emoções estão no limite. Eu não posso permitir que você lute estando nesse estado. Por isso iremos retomar o seu treinamento, e você vai precisar conquistar novamente o direito de usar a armadura.

— Mas mestre, eu...

— Isso é uma ordem, Jake. A armadura de Leão. Agora.

Jake relutou, mas não podia desobedecer. Mesmo sendo um cavaleiro de ouro, ele não podia ir contra a ordem do seu mestre. Mas em meio a hesitação a própria armadura de ouro saiu do cosmo de Jake, se materializando diante de Chertan.

— A minha armadura... Ela...

— Ela não abandonou você, mas assim como eu, ela quer ver a sua evolução. Agora volte para a cabana e descanse. Começaremos o seu treinamento amanhã de manhã. Temos três dias até o retorno de Atena. Será um ótimo meio para você canalizar todas as suas emoções e expelir o que lhe sufoca.

— Sim, senhor.

— E Jake... — Chertan foi até o discípulo e lhe deu um abraço. — Lembre-se, você não está sozinho.

—...—


Palácio de Oberon – Tártaro

O que antes era um majestoso palácio, agora não passava de ruinas. Um amontoado de colunas e paredes. Diante dos destroços, paradas na escadaria, estavam as harpias, entre elas as comandantes sobreviventes, Cileno e Aelo, a deusa Perséfone e a berserker Medusa, que carregava Aracne nos braços, ainda desacordada.

— Atena não poupou esforços. — disse Perséfone, observando o estrago.

 “E eu também não irei poupar.” — a voz de Oberon soou e em seguida seu cosmo escuro explodiu em meio as ruinas.

O palácio foi tomado pelo seu cosmo e a estrutura começou a tremer. Blocos, ferros e colunas levitaram, e o palácio foi se reconstruindo aos poucos, até estar impecavelmente em pé, como se jamais tivesse sofrido qualquer rachadura.

As portas de ferro se abriram, e da escuridão interna surgiu Oberon, como se a escuridão tivesse moldando o deus. A surplice se desfez em cosmo, e agora ele usava apenas um terno preto, com colete e gravata. Estava impecavelmente arrumado, como se não tivesse travado uma batalha a poucos minutos atrás.

— A vaidade do pai reflete no filho. — disse Perséfone, passando pelas harpias e subindo as escadas ao encontro do deus. — O que pretende fazer?

— Perseguir, atrair e matar. — respondeu o deus. — Cileno e Aelo, liderem as harpias. Matem os cavaleiros. Quanto a você Medusa... — o deus elevou o cosmo e com a sua espada rasgou o ar, abrindo uma fenda dimensional. — Irei transportá-la diretamente para o Santuário. Avise a Ares que prepare o seu exército. Atena está se dirigindo para a saída do Tártaro. Tentarei detê-la, mas não posso garantir que isso vai acontecer.

— Sim, senhor. — disse Medusa.

A berserker atravessou a fenda carregando Aracne nos braços e em seguida a fenda se fechou.

— Harpias... — as asas do deus se abriram. — Vão!

As comandantes bateram suas asas e dispararam em direção ao céu escuro, seguidas pelas suas subordinadas.

— Você não vai? — perguntou Perséfone.

— Não. O que tinha que ser feito, já está feito. — respondeu o deus. — Se Atena sair do Tártaro, não será por decisão minha. A Noite guarda a Porta da Morte. Se ela permitir a passagem, caberá a Ares vencer Atena. E eu irei assistir tudo daqui. Não tenho a intenção de voltar para a superfície. Pelo menos não agora. Irei esperar pelo brilho das cento e oito estrelas malignas no céu.

Longe dali, a quilômetros de distância, após atravessar colinas, montanhas e desfiladeiros, Atena e seus cavaleiros seguiam correndo como feixes de luz em direção a Porta da Morte, atravessando uma região de terra rochosa e ventos quentes que queimavam a pele.

— O jeito que o vento sopra, parece uma respiração. — comentou Alkes.

— Isso é porque o Tártaro é o próprio deus. — respondeu Delfos.

— Então ele sabe que estamos aqui? — perguntou Herny.

— Sabe. — respondeu Atena. — Mas o Tártaro é um deus primordial imparcial. Ele não se envolve nas guerras dos deuses.

Infelizmente.” — disse uma mulher. A voz dela se propagou com o evento.

— Essa voz... — Atena estreitou os olhos, intrigada, olhando para trás enquanto corria.

— É Cileno. — disse Ápis. — Uma das comandantes de Oberon.

— O Tártaro poderia varrer vocês daqui apenas com a força de vontade. — disse ela. — Mas já que ele não fará... Eu vou varrê-los usando a própria respiração do deus!! — um cosmo roxo tenebroso brilhou no céu e um vento negro se acumulou o rodopiou, formando um furacão.  Folego divino!!

O furacão girou com intensidade e se expandiu como ondas de impacto.

— Deixem comigo. — disse Shun. O cavaleiro de Andrômeda girou e atacou estendendo a mão. — Tempestade Nebulosa!!

As técnicas colidiram, mas o golpe da harpia foi rapidamente engolido pela tempestade divina.

— Shun... Você realmente se tornou um deus?! — pensou Seiya, surpreso com o nível de poder que o amigo estava emanando.

Cileno foi arremessada. Tendo sua surplice gravemente danificada.

Mas para surpresa de Shun, as nuvens se dissiparam no céu e revelaram Aelo acompanhada por um exército de harpias. As guerreiras aladas elevaram seus cosmos e dispararam centenas de golpes. Shun se preparou para bloquear, mas Delfos o deteve.

— Espere Shun! — pediu o Grande Mestre. — Alkes...

 O Cavaleiro de Taça passou correndo por Shun e atacou, disparando uma chuva de lanças de gelo e oricalco que rasgou o céu em direção as harpias.

As harpias subordinadas foram abatidas, mas comandante desviou do ataque e se preparou para contra-atacar. Alkes correu e saltou em direção a ela, materializando uma lança na mão. Aelo bloqueou o ataque, mas Alkes materializou uma segunda lança, e manejando as duas ele a golpeou inúmeras vezes, em uma velocidade surpreendente. Em um breve descuido Aelo abriu uma brecha, e Alkes não deixou a oportunidade passar. O cavaleiro de Taça girou a lança na mão esquerda e a lançou. Aelo desviou, andou por cima da lança em movimento e girou no próprio eixo atacando o cavaleiro de prata, mas Alkes se esquivou e girou, surgindo na lateral da harpia, pegando a comandante de surpresa.

— Estamos sem tempo para isso. — disse ele.

Alkes brandiu a segunda lança e cravou no pescoço de Aelo, fazendo a comandante se engasgar com o próprio sangue, abrindo a boca e arregalando os olhos desesperada. Em seguida ele aplicou um chute que a arremessou contra o chão, rasgando o solo. Os cavaleiros ficaram atônicos com a agilidade e manejo de Alkes, que não perdeu tempo com trocas de técnicas e socos, mas partiu para um combate direto, finalizando na primeira oportunidade.

— Eu ordenei que no caminho até o Tártaro, Alkes evitasse lutar para não morrer. — comentou Delfos. — Vocês precisariam dele e da habilidade de cura da armadura. Mas agora que Atena está salva e estamos saindo do Tártaro... Ele não precisa mais se conter.

— Aelo! — gritou Cileno, se levantando. — Seu desgraçado!

Cileno avançou em direção a Alkes, projetando sua espada de vento negro nas mãos, mas Atena surgiu diante do cavaleiro, golpeou a espada de vento com o báculo, arrancando-a da mão da harpia, e segurou Cileno pelo pescoço.

— Volte para o seu deus. Você não precisa morrer igual as outras harpias. — disse Atena.

Os olhos da deusa brilharam e Cileno foi golpeada por uma onda de impacto que a arremessou violentamente.

— Todos vocês estão bem? — perguntou a deusa, e todos responderam ‘sim’. — Então vamos.

O grupo voltou a correr com pressa. Saindo do terreno rochoso, eles entraram em uma região repleta de templos em ruinas. Agora faltava poucos metros para chegarem diante da porta. A coluna de luz vermelha que subia até o céu estava mais visível, e estranhamente ela parecia pulsar.

Seguindo pelo caminho tortuoso entre os templos, eles finalmente chegaram no caminho de pedras negras que se estendia até uma grande porta dupla de ferro, com mais de cinquenta metros de altura.

Ela era semelhante a porta que Henry havia aberto na Alemanha, mas agora em uma versão maior e mais tenebrosa. Sua aparência era igualmente assustadora. Ela possuía milhares de corpos em alto relevo. Corpos de monstros de todas as formas, gigante de cem braços, ciclopes, esqueleto de criaturas aladas, homens e mulheres, todos atormentados, gritando em desespero com os olhos arregalados, corpo contorcido e boca aberta.

Acima da porta estavam as nuvens obscuras que eles haviam avistado anteriormente. Elas rodopiavam em um redemoinho iluminado por raios vermelhos.

Henry correu na frente.

— Finalmente. — disse ele, impressionado, mas também animado. — Tá na hora de sair desse inferno! — ele ergueu o dedo e elevou o cosmo. — Shekishiki...

— Espere Henry! — pediu Atena, se aproximando dele. Ela tocou em seu braço, pedindo para ele abaixá-lo. O cavaleiro olhou para a deusa e viu que havia preocupação, temor e seriedade em seu rosto. — Perdoe-nos, minha senhora, pela nossa falta de respeito diante da sua presença. — disse Atena, olhando para a porta e se ajoelhando. — Eu não esperava que a senhora estaria em um lugar como esse. Cavaleiros! De joelhos! — Ordenou com autoridade.

Mesmo sem entender, Henry e os outros a obedeceram. Houve alguns segundos de silêncio entres eles. Apenas se ouvia o som do redemoinho nas nuvens e dos raios crepitando, até que um bater de asas foi ouvido próximo a eles, e uma figurada alada pousou diante de Atena com suavidade.

—...—


Straße des 17. Juni – Berlim, Alemanha – Noite do 5º dia

“Straße des 17. Juni” é uma rua central da cidade de Berlim, localizada nos bairros de Tiergarten e Charlottenburg. Uma rua larga, com duas faixas de circulação, que geralmente é bastante movimentada, pois faz parte do eixo leste-oeste da grande cidade e liga duas importantes praças, onde em cada uma existe um monumento que são atrações para os turistas.

Na praça “Der Große Stern” (A Grande Estrela), está o Siegessäule ou Obelisco da Vitória, com mais 66 metros de altura. Em seu topo existe uma estátua de bronze de 5 metros e 35 toneladas de ouro de Nike, a deusa da vitória. Outros a chamavam de Vitória, deusa romana da vitória militar.

Do outro lado está a praça onde se encontra o Portão de Brandemburgo. Uma estrutura de 26 metros de altura e 65 metros de largura. O portão possui doze colunas dóricas de estilo grego, sendo seis de cada lado, e há cinco vãos centrais por onde passam cinco estradas. E sobre as colunas existe um arco onde está a "quadriga”. Uma estátua que representa a deusa grega Irene, deusa da paz, em sua quadriga puxada por quatro cavalos.

Já era tarde da noite e a movimentação de carros havia diminuído. Havia agora apenas alguns turistas que se aglomeravam para tirar fotos. O céu estava limpo, sem nuvens, podendo ver centenas de estrelas brilhando. Entre elas duas estrelas brilharam com mais intensidade, chamando a atenção de alguns turistas. O brilho se tornava mais intenso a cada segundo, até que duas colunas de cosmo caíram no centro da avenida, abrindo uma extensa cratera, e provocando alvoroço entre os turistas que fugiam assustados.

Alguns mais corajosos e curiosos ficaram afastados filmando e tirando fotos dos dois indivíduos que haviam causado aquela destruição. Era um homem alto e forte de cabelo curto castanho claro, trajando uma “armadura” negra, e uma mulher de longos cabelos loiros usando um vestido de seda que se agitava com o vento frio da noite.

Ares e Afrodite caminharam imponentes no centro da avenida em direção ao Portão de Brandemburgo.

— Foi aqui que você escondeu? — perguntou Afrodite.

— Sim. — respondeu o deus. — Bem debaixo dos olhos de Nike e de Atena. — Ares olhou para trás por cima do ombro e avistou o Obelisco da Vitória, com a deusa Nike no topo.

Ao se aproximar do portão, Ares tirou uma adaga da cintura e cortou a própria mão, lançando seu sangue em direção a estátua.

Houve alguns segundos de silêncio e espera. O único som era das câmeras e da sirene da polícia se aproximando ao longe. Foi então que houve a primeira anomalia. O céu acima da estatua se distorceu e um raio vermelho desceu atingindo a estatua e a região ao redor, acertando alguns turistas mais próximos que foram arremessados.

— Inconscientemente Nike sempre foi a vigilante da minha Onyx.

Uma coluna de cosmo subiu ao céu e a estatua começou a rachar e a descamar, revelando a verdadeira estrutura que havia ali. Uma quadriga montada por um homem alado, armado com uma espada e um escudo, e puxada por quatro cavalos.

— ... Ou melhor, da minha Kamui. — Concluiu o deus.

—...—


Tártaro – Porta da Morte

Diante deles surgiu uma mulher, e a sensação de estar na sua presença era quase indescritível. Havia um peso caindo sobre eles. Sobre todos eles. Nem mesmo Atena era exceção. Eles não sabiam o que estavam sentido. Se era admiração, temor, medo, receio ou vulnerabilidade. O cosmo que ela emanava era um cosmo diferente. Um tipo de força que eles jamais haviam sentido antes. E um poder tão grande quanto o de qualquer deus que eles já haviam conhecido, tornando a própria Atena insignificante diante dela.

Seiya ergueu os olhos para olhá-la, mas até essa sua atitude exigiu esforço. Era como se seu corpo estivesse lhe impedindo de cometer um sacrilégio. Mas se olhá-la fosse um pecado, Seiya cometeria aquela heresia sem arrependimento, pois ela era a mulher mais linda que ele já havia conhecido. Seus cabelos esvoaçantes eram negros, longos e ondulados, sua pele era negra e seus olhos pareciam duas galáxias brilhando na imensidão do universo. Seu longo vestido era preto e nele brilhavam milhares de estrelas e nebulosas. Em suas costas havia um longo par de asas negras que se arrastavam pelo chão, e em sua cabeça ela trazia uma coroa de flores formada por papoulas.

— Você sabe quem sou eu, Atena?

— A senhora é a dama que personifica a noite, mãe de muitos deuses, deusa que profetiza o futuro, que conhece o segredo da imortalidade dos deuses, rainha de todos os astros, e deusa primordial da criação. — disse Atena, prostrada. — A senhora é Nyx, a domadora de homens e deuses.

Os cavaleiros arregalaram os olhos, surpresos. Até mesmo Delfos foi surpreendido. Aquilo não estava previsto nos planos do Grande Mestre.

— Nyx?! — pensou Delfos, surpreso.

— Qual a razão do espanto, Delfos? — perguntou Nyx, lendo a mente do Grande Mestre. — Alguém tão inteligente como você não esperava que eu fosse aparecer? — ouve silêncio. — Eu lhe fiz uma pergunta, humano.

— Como deusa primordial que a tudo observa silenciosamente debaixo do manto da noite, eu achei que vossa excelência não se revelaria diante de nós. Assim como seus irmãos e irmãs, Eros, Tártaro, Gaia e Érebo. — respondeu Delfos, temeroso.

— Não é comum, mas as vezes nós temos que nos revelar diante de vocês para lembrá-los e adverti-los a respeito da insignificância dos seus orgulhos, egoísmos e ambições. Diante do vasto universo, a Terra não passa de um grão de areia onde existe deuses e humanos que se superestimam demais, esquecendo que são como poeira nos pés dos deuses da criação. Esquecem que só existem, porque nós permitimos. — a deusa começou a caminhar entre eles, arrastando o véu da noite, o qual tem o poder de ocultar a sua presença no universo. — Nós observamos tudo. Eu conheço tudo. Eu sei do seu plano e da sua fidelidade... — disse para Delfos, passando ao lado dele. — Sei da sua heresia e da sua paixão... — disse para Seiya, tocando em seu ombro. Um toque gélido que fez o seu corpo tremer. — Sei da sua incredulidade, malicia e dívida... — disse passando por Henry. — Sei da sua justiça e desconfiança... — disse passando por Ápis. — Sei do seu rancor... — disse para Eros. — Sei da sua benevolência e poder... — disse para Alkes. — E sei... — ela parou diante de Shun. — Eu sei da sua verdade, dos seus planos, das suas intenções e da dor que carrega.

Ápis olhou sorrateiramente para Shun e viu o Cavaleiro de Andrômeda dando um fino sorriso.

A deusa deu as costas e caminhou até parar ao lado de Atena.

— E você, deusa da guerra e da justiça... Eu sei de todas as suas batalhas, e sei o que está prestes a enfrentar também. Agora e depois. Mas ouça o meu conselho, Atena... Ares levou o caos para a Terra e isso não agrada a nenhum dos primordiais. Deve haver um equilíbrio. Por isso de mim nasceu Éris, a discórdia, mas também nasceu Filote, a amizade. Nasceu Thanatos, a morte, mas também nasceu Hypnos, o sono. A Terra deve girar dentro de um equilíbrio pré-estabelecido desde a era mitológica para que Ordem e Caos sigam o fluxo com harmonia. Mas isso está em risco. 

— Sim, minha senhora. — respondeu Atena.

— Os primordiais não se importam em ver humanos derrotando deuses, desde que a intenção desse ato seja para manter a ordem. Contudo, nem tudo é lícito. — advertiu a deusa. — Por isso eu lhes advirto: Se não conseguirem estabelecer equilíbrio entre deuses e humanos, as forças naturais que estão adormecidas serão forçadas a interceder. E o trono do Olimpo será reivindicado, da mesma forma que Cronos fez com Uranos, e Zeus fez com Cronos.

— Me esforçarei para atender ao seu desejo. — disse Atena.

— Eu não estou aqui para impedi-los. — disse voltando-se para o portão. — E muito menos para ajudá-los. Mas posso avisá-los que o portão demorará para abrir, mas assim que o primeiro ser passar, ele irá se fechar em poucos minutos. Não é comum que mais de uma criatura saia daqui ao mesmo tempo. E quando ela fechar, só voltará a abrir daqui a nove dias. O que na Terra pode significar meses ou anos. — poeira estelar foi expelida do véu da noite e rodopiou ao redor da deusa, tornando-a invisível aos poucos. — Voltarei para o céu noturno e vigiarei vocês lá de cima.

A deusa desapareceu, e levou com ela o peso que caia sobre Atena e seus cavaleiros.

— Atena... — havia um tom de alerta na voz do Grande Mestre.

— Essa guerra será o gatilho para uma nova era. — disse a deusa, se levantando. — A roda do destino dos deuses e dos humanos está girando. — Atena elevou o seu cosmo e segurou o báculo com firmeza. — Girando rápido demais. — do seu cosmo dourado materializou o elmo de ouro que ela usava na era mitológica. — Temos que encarar essa batalha com seriedade, pois ela será... — Seus seios foram cobertos por uma peça dourada decorada com serpentes de ouro nas laterais e com o rosto da medusa no centro. — A maior Guerra Santa já enfrentada.

— Atena... — pensou Seiya, surpreso.

— Henry... — chamou a deusa.

O cavaleiro de câncer imediatamente atendeu ao chamado e caminhou até a porta. Parado diante dela, Henry ergueu o braço para o alto e concentrou cosmo em seu dedo indicador. A estrela da morte brilhou em sua testa mais uma vez, lhe concedendo o poder para abrir a Porta da Morte, e então ele apontou para a porta e disparou o seu golpe.

— Sekishiki Meikai Há!!

A rajada foi disparada em espiral e atingiu o portão, que rapidamente reagiu ao cosmo de Thanatos somado ao cosmo de Henry. As dobradiças rangeram e pesadamente a porta dupla começou a se abrir lentamente. O som de ferro rangendo e da porta se arrastando por cima dos pedregulhos era ensurdecedor.

Poucos centímetros já haviam sido aberto e um filete fraco de luz do sol passou pela fresta.

— O sol... — disse Alkes, contente.

— Se preparem para passar.  — disse Atena, dando as costas para o portão e atravessando o grupo. Se voltando para o Tártaro.

— Atena... Para onde você vai? — perguntou Seiya.

A deusa apontou o báculo para a imensidão escura e concentrou cosmo em seu báculo. Como se tivesse mirando algum inimigo. E realmente estava. Não um, mas sim centenas deles. O range das dobradiças e o tremor do portão impossibilitou que Seiya e os outros escutassem as pisadas e os urros e grunhidos das criaturas infernais que estavam se aproximando deles para passar pela porta.

Eram dezenas de ciclops e gigantes de cem braços, com mais de 40 metros de altura, e monstros alados avançando em direção a eles.

A luz de Atena revelou a presença deles a poucos metros dos cavaleiros, que olharam assombrados e atônitos. Seiya preparou sua flecha e Eros materializou suas rosas, mas foi Atena quem atacou. No momento em que as criaturas saltaram para cima deles, a deusa expandiu o seu escudo de cosmo como uma grande muralha e disparou uma rajada de cosmo com o seu báculo, propagando uma onda de energia que arrastou as criaturas para os confins da escuridão.

 — A porta já abriu o suficiente para passarmos. — anunciou Alkes. — Atena!

— Vamos!

Todos correram na velocidade da luz e saltaram para a abertura na porta. Atena foi a primeira a passar, e no mesmo instante a porta rapidamente começou a se fechar. Delfos passou em seguida, seguido por Seiya, Shun e Eros. Quando Henry ia passar, a fresta já estava estreita demais.

— Droga!! — exclamou ele, caindo de costas no chão.

A porta continuou a se fechar, até que ela parou e voltou a abrir aos poucos.

— Vá, Henry! — gritou Ápis, que estava no meio da abertura segurando a porta. — Agora!!

A força que Ápis estava aplicando para segurar a porta estava trincando os braços de sua armadura.

— Eu não vou ficar aqui, mas também não vou deixar ninguém para trás. — gritou Henry, que correu em direção a Ápis. — Você vai comigo!!

Henry empurrou Ápis, que soltou a porta, e em seguida passou acompanhando o Touro. Eles caíram embolando em uma caverna escura, parando aos pés de Atena e os outros.

— Vocês estão bem? — perguntou a deusa, iluminando a caverna com seu báculo.

— Sim. — respondeu Ápis se levantando.

Eros correu até Henry e o ajudou a se levantar.

— O que houve? — perguntou ele.

— O Touro aí queria bancar o herói pra cima de mim. — disse Henry, com sarcasmo. — Obrigado, cara.

Atrás dos cavaleiros não havia porta alguma. Só uma parede de pedra negra coberta por lodo e umidade. Do outro lado da extremidade da caverna havia um longe caminho escavado.

— Vamos! — disse Atena, caminhando na frente.

— Onde estamos? — perguntou Seiya.

— No Nekromanteion de Aqueronte. Um antigo templo dedicado a Hades e Perséfone. — respondeu Atena. — Os antigos praticavam necromancia aqui. Diziam que o poder de Hades era mais forte nessa região, mas na verdade...

— Era o poder da escuridão do Tártaro que era canalizado. — respondeu Shun.

— Isso. Esse templo fica ao leste do Santuário. — disse Atena. — Do outro lado das montanhas, por onde passa o leito do Rio Aqueronte na superfície da Terra. Se seguirmos por esse caminho... — poucos metros a frente estava a saída da caverna, por onde entrava fortes raios de sol. — Chegaremos finalmente a superfície.

A sensação de ter os raios do sol tocando a pele novamente era indescritível. Os olhos de Atena e de seus cavaleiros arderam com toda aquela luminosidade. Eles estavam no topo de uma montanha. Do alto dava para avistar toda a região ao redor, inclusive a montanha do Santuário ao longe.

Mas foi uma massa escura reunida na planície entre as montanhas que chamou a atenção de Atena.

— O exército de Ares está aqui! — disse a deusa.

— Chegou o momento, Atena. — disse o Grande Mestre. — Convoque-os.

—...—


Santuário, Grécia – Início da tarde do 9º dia

Era início da tarde quando uma hoste de soldados berserkers marcharam em centenas de fileiras saindo do Coliseu e seguindo para o portão Leste do Santuário. Era uma massa formada por milhares de guerreiros trajando Onyx simples e divididos em grupos de acordo com as armas que empunhavam. Na frente iam os escudeiros, seguidos pelos espadachins, arqueiros e os demais.

— Para onde eles estão indo? — perguntou um dos soldados do Santuário, cochichando, para o outro soldado que estava fazendo a vigília dos arredores.

— Para um local além das montanhas do Santuário. — explicou o soldado.

— E onde estão os Berserkers? Não vejo nenhum no meio do exército. Apenas soldados rasos.

— Estão todos lá, se reunindo no Templo do Grande Mestre. — respondeu o outro soldado, olhando para as doze casas. — E não apenas eles. Os Espíritos da Guerra e os deuses também. Estão subindo as doze casas para uma reunião de urgência.


Templo do Grande Mestre – Santuário, Grécia – Tarde do 9º dia

O Grande Salão estava lotado, como nunca esteve antes. No altar estava Ares, sentado no trono, vestido com seus trajes simples de Onyx. Do seu lado direito estava o deus Anteros, e do seu lado esquerdo estava o deus Phobos. Ambos trajando suas Onyx.

Alguns degraus abaixo estavam os Espíritos da Guerra enfileirados. Cinco ao total. No centro estava Makhais, líder dos espíritos. E ocupando todo o salão estavam dezenas de berserkers. Todos enfileirados. E liderando as fileiras estava a pequena Alecto de Erinia, que havia assumido o comando das tropas do Medo e do Terror. Quando o último berserker entrou, a porta do grande salão foi fechada e todos se ajoelharam diante de Ares.

— Hoje, no final do dia, quando o sol estiver se pondo, a deusa da guerra irá renascer ao leste do Santuário. Entre as montanhas. — anunciou Ares. — Medusa retornou do Tártaro trazendo a mensagem de Oberon, alertando sobre o retorno de Atena e de seus cavaleiros que foram até lá para salvá-la. Isso faz parte do plano do Grande Mestre, que tentou nos manipular nessa Guerra Santa. Mas tem uma coisa que o Grande Mestre não previu... que é o que vai acontecer após eles saírem de lá. — disse maliciosamente. — Acabei de enviar uma hoste de soldados berserkers até o local do retorno da deusa. Será o presente de boas-vindas, e também o meu “cavalo de troia”.

“Depois que Atena enfrentá-los, e eu despertar a sua fúria e a dos seus cavaleiros, será a vez de vocês agirem. Atena virá diretamente até mim. E provavelmente o Pégaso a seguirá, juntamente com o Grande Mestre. Ignorem eles. Deixem que venham. Vocês deverão matar os outros. Cada um de vocês sabem a sua posição, então ordeno que sigam. A primeira linha ofensiva serão vocês. Seguidos pelos Espíritos da Guerra e a corte dos deuses.”

— E em qual momento deveremos agir, senhor? — perguntou um berserker que estava na primeira fileira. Ele tinha cabelos azul enegrecido e olhos completamente negros. Sua Onyx possuía longas asas que lhe davam aparência de uma mariposa gigante.

— Ascalapho de Mothra... — disse Ares, reconhecendo o berserker. — Vocês irão assim que... — O som de uma ressonância cortou as palavras de Ares. — Ai está a sua resposta. Atena está aqui!

—...—


Grécia – Leste do Santuário – Tarde do 9º dia

— Pela justiça e pela paz na Terra... — O cosmo de Atena se elevou e seus cabelos se agitaram mudando de cor, se tornando castanhos. Como na era mitológica.  Eu convoco todo o meu exército!! — A deusa ergueu o báculo para o céu e seu cosmo se expandiu.  Cavaleiros e amazonas, reúnam-se na minha presença! — Logo as armaduras de Seiya, Alkes e os outros começaram a ressoar também, respondendo ao cosmo de Atena. — Me emprestem seus cosmos e suas vidas, para expurgar o exército de Ares da face da Terra!! Atenda ao meu chamado! — gritou a deusa.

—...—


Papo pessoal: 
Quem acompanha a minha fanfic desde o início sabe que as vezes eu insiro questões da nossa realidade na história, e dessa vez através de Jake eu trago um tema bastante delicado que é a Depressão. Não tratem essa doença como "frescura" ou coisa de "pessoas que querem chamar a atenção". É uma doença grave e séria, qualquer pessoa pode desenvolvê-la e infelizmente é uma doença que pode matar.

Eu já tive depressão e quase eu perdi amigos que além de ter depressão também tinham ansiedade. Então se tem uma coisa que eu aconselho é cuidem do bem estar mental de vocês. Assim como vocês vão ao médico mensalmente ou anualmente para ver se está tudo bem com a saúde do corpo, procurem também um psicólogo para ver como está a saúde da sua mente. Procurar um psicólogo não é coisa de gente doida. É coisa de gente que se preocupar com o bem estar. 

E se você conhece alguém que tem depressão ou crise de ansiedade, não julgue. Apenas ajude.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: Capítulo 64 - Julgamento, sentença e batalha.

Sinopse: Indefinido.

Data de publicação: indefinida

Olá galera!! Tudo bom com você?! Espero que sim.
Vou deixar abaixo para vocês a previsão dos próximos e ÚLTIMOS títulos da fanfic:

— Capítulo 65: Campo de sangue: berserkers vs cavaleiros
— Capítulo 66: Campo de sangue: Aliança de guerra
— Capítulo 67: Os cavaleiros sagrados de Ares
— Capítulo 68: Deuses da guerra em combate - Parte I
— Capítulo 69: Deuses da guerra em combate - Parte II
— Capítulo 70: Apolo

Tá acabando :'( E gostaria de mais uma vez agradecer a vocês que me acompanharam até aqui. Obrigado por tudo ♥


E como vocês já sabem, a critica de vocês é sempre bem vinda e fundamental para a história. Motiva bastante a escrever e caprichar.

Beijos e abraços!! Até o próximo capítulo!



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