A Saga de Ares - Santuário de Sangue escrita por Ítalo Santana


Capítulo 50
Capítulo 47 - Guerra em Jamiel: Aquela que é a espada de Atena


Notas iniciais do capítulo

São nove dias para chegar ao Tártaro e agora restam apenas oito. Enquanto Seiya e os outros se dirigem ao mundo primordial das trevas... A deusa Ênio está em Jamiel acompanhada de um poderoso exército formado pelas habilidosas amazonas de Ares e alguns cavaleiros, incluindo a Saintia Tourmaline de Ave do Paraiso, irmã mais nova do Grande Mestre, e o misterioso Cavaleiro de Ouro de Capricórnio. A luta entre cavaleiros de ouro será inevitável já que Shiryu de Libra e Kiki de Áries estão em Jamiel para proteger a entrada para Senkyou. Algumas vidas serão ceifadas e outras ficarão entre a vida e a morte, mas isso é só o inicio de um mar de sangue que marcará Jamiel para sempre.



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Capítulo 47 - Guerra em Jamiel: Aquela que é a espada de Atena

Cinco cavaleiros se afastaram do exército e se apresentaram diante da biga de Ênio. Além de Tourmaline, Láthos de Sagita e o Cavaleiro de Ouro de Capricórnio, o cavaleiro de prata de medusa e o Cavaleiro de Bronze de golfinho também foram convocados pela deusa.

— Deixarei que seus próprios irmãos de combate matem vocês. — disse a deusa.

Johan cerrou o punho ao avistar os amigos.

— Láthos de Sagita, Marcel de Medusa... Como se não bastasse controlar a mente e o coração dos nossos companheiros escravizando-os, ainda os forçam a lutar contra nós como se fossemos seus inimigos. Vocês não têm limites!!

— Johan... — chamou Shiryu. — E todos vocês. Ouçam bem. Não matem eles. São inocentes nisso tudo. Nossos verdadeiros inimigos é Ênio e os berserkers. E quanto a esses... — o cosmo se acendeu. — Não precisam poupar esforços para mata-los.

— Talvez nem todos sejam inocentes, Shiryu. — indagou Kiki, olhando para o Cavaleiro de Ouro de Capricórnio. — Tem um Cavaleiro de Ouro com eles e provavelmente, assim como Kastor, ele não está sendo controlado pelos deuses igual aos cavaleiros de prata.

— Um cavaleiro de ouro do lado deles... Isso não é nada bom. — disse Marin, se aproximando de Shiryu. — Johan, Miguel e eu não temos muitas chances contra ele. O máximo que podemos fazer é ganhar tempo. Mas se ele lutar contra você ou Kiki...

— Provavelmente teremos uma batalha de mil dias. — concluiu Shiryu. — Vamos torcer para que assim como Kastor, ele também mude de opinião.

— Um confronto entre cavaleiros de ouro é o que menos precisamos agora. — disse Kiki, sussurrando. — Vamos segurá-los até o momento certo.

Ênio olhou para o céu e estreitou os olhos. A barreia erguida por Senkyou cobria até o horizonte. Era como um fino véu quase translucido pairando entre as nuvens. Assim como havia sido relatado a ela e a Ares, a barreira estava protegendo toda a China, impedindo que o cosmo de Ares e dos deuses da guerra incitasse o coração e a mente dos homens a guerrear uns contra os outros.

— Capricórnio! — chamou Ênio. O dourado olhou para a deusa por cima do ombro. — Deixe que Tourmaline lidere o grupo. Os outros cavaleiros e ela se encarregarão de abrir caminho enquanto lutam com eles. Posso sentir a passagem para Senkyou logo atrás deles. — a deusa segurou firme no cabo de sua espada. — Não vou mobilizar um exército inteiro contra cinco cavaleiros. Certifique-se depois que a cabeça de Shiryu será arrancada e me entregue na ponta de uma lança.

— Sim senhora. — disse ele.

Ênio olhou para Tourmaline e os outros.

— Então o que estão esperando? Ataquem logo!!

De imediato a ordem foi cumprida. Tourmaline avançou seguida por Marcel, Láthos e o cavaleiro de bronze de Golfinho. Shiryu e os outros também avançaram. Ênio virou-se para as amazonas e acenou para que um grupo delas desse suporte a Tourmaline e os outros cavaleiros. Enquanto isso Capricórnio permaneceu ao lado de Ênio esperando o momento certo para atacar.

Tourmaline seguiu com algumas amazonas indo na direção de Shiryu, mas Marin surgiu no caminho para impedir o avanço.

— Saia do nosso caminho, Marin.

— “Nosso”? Não estou impedindo elas de avançarem. — Marin deu um passou para o lado, mostrando que as amazonas poderiam prosseguir. — Estou aqui para impedir você.

Tourmaline encarou Marin enrugando o cenho. O ar em volta dela estava diferente. O cosmo de Marin estava estável, sem sinal de agressividade, como se não tivesse a intenção de lutar, mas parecia cautelosa.

— Entendo. — Tourmaline acenou para que as amazonas de Ares seguissem adiante. — Vão! Eu cuidarei dela e depois me juntarei a vocês. — As amazonas desembainharam suas espadas e continuaram, partindo para cima de Shiryu, que as recebeu defendendo-se com o escudo da armadura de Libra — Por qual motivo veio diretamente me enfrentar?

— Quero saber se você está do nosso lado, fingindo lutar com eles, ou se...

— Se sou uma traidora?

— Exatamente. Você é a irmã mais nova do Grande Mestre e também é o seu braço direito.

— Entendi. Você está pensando que por eu ser irmã de Delfos eu siga o plano dele, mas não é bem assim. Eu abandonei essa ideia louca do meu irmão a muito tempo. Talvez ele estivesse sem juízo. Entrar no Tártaro e trazer uma deusa morta de lá... — Tourmaline sorriu. — Ainda tenho a minha consciência intacta e por isso me aliei ao Senhor Ares!

— Consciência intacta e aliado de Ares são duas coisas que não cabem na mesma frase. — disse Marin, ironizando. — Você é uma saintia assim como Pavlin. Você esteve o tempo todo com Atena. Era como uma espada afiada protegendo ela enquanto Pavlin era o escudo.

— Marin... O “escudo de Atena” era tão devoto a Atena que se quebrou. Pavlin está morta. — ela não podia ver o rosto de Marin por de trás da máscara, mas isso não era necessário para saber que Marin ficou surpresa ao ouvir aquilo. Os músculos do corpo ficaram rígidos e tremeram em frações de segundo.

— A Pavlin está... morta?! Não pode ser! — disse incrédula.

— Mas eu, a espada de Atena... — O cosmo purpuro de Tourmaline se levou e dele surgiram pétalas. A área ao redor delas ficou completamente tomada, e uma das pétalas se aproximou do braço de Marin e a cortou delicadamente. A pétala era tão afiada quanto uma lâmina. — Continuo firme e inquebrável porque abandonei Atena e jurei o meu cosmo a alguém mais poderoso.

Marin levou a mão ao braço e olhou para a palma da mão melada de sangue.

— São... pétalas!? — perguntou ela, olhando ao redor. — Uma delas me cortou, então... Essas pétalas são afiadas?! — pensou.

— Já não sou mais uma saintia a serviço de Atena.

— Então você é uma traidora! — concluiu Marin.

— Chame como quiser.

Uma segunda pétala se aproximou da perna de Marin e também a cortou enquanto deslizava na pele. Marin apenas sentiu uma fina picada e o calor do sangue escorrendo.

— É triste saber que alguém tão próxima de Atena pode ter caído na lábia de Ares. Se você perdeu a fé na sua deusa e resolveu se vender ao exército de um outro deus, só me resta abrir os seus olhos, caso contrário... — Marin elevou o seu cosmo e cerrou o punho. — Terei que matá-la.

— Fala como se tivesse capacidade para isso!

— Tola. — Marin avançou em ziguezague e desferiu um soco no rosto de Tourmaline, jogando o corpo dela para o lado e fazendo ela cuspir sangue. — Não me subestime. — antes que Tourmaline recuperasse o equilíbrio Marin girou com o cosmo concentrando em seus pés e aplicou um chute no peito dela. — Lampejo de Águia!

O peito da armadura de bronze explodiu em pedaços e a saintia foi arremessada para trás, mas ela girou no ar e caiu de joelhos no chão, levando a mão ao peito e com a boca suja de sangue. Os olhos da cor de rubis fitaram Marin.

— É... Até que você bate bem forte. — disse Tourmaline, se levantando e limpando a boca.

— Eu a parabenizo por conseguir se levantar depois de receber o meu golpe em cheio.

— Você é a mestra de Seiya, então provavelmente é tão habilidosa quanto seu pupilo em uma luta, mas se tratando de cosmo existe uma diferença entre nós duas. Quer me matar? — perguntou com desdém. — Vai precisar mais do que isso. Tente se for capaz, Marin!

As duas avançaram uma contra a outra. Marin cerrou o punho e desferiu contra Tourmaline, mas a saintia deteve o punho com a palma da mão. Com a outra mão livre tentou aplicar um soco no rosto de Marin, mas a amazona de Águia deteve o soco da mesma forma que Tourmaline fez, com a palma da mão. Agora ambas estavam em pé de igualdade medindo forças. Os músculos dos braços faziam contrações rígidas tentando empurrar a força da outra. Enquanto isso o conflito de cosmo estava abrindo uma cratera debaixo dos pés delas.

— Mesmo tão nova fico surpresa que tenha tanta força. — disse Marin.

— Não confie muito nos seus músculos. — o cosmo de Tourmaline cresceu, ficando mais alto que o de Marin. — Não vai ser isso que vai garantir a sua vitória.

— Vitória pode ter mais a ver com estratégia do que com cosmo. Até o mais poderoso cavaleiro pode ser derrotado se for descuidado. Vou lhe ensinar a ser menos arrogante. — Marin relaxou os braços pegando Tourmaline de surpresa, fazendo-a perder o equilíbrio, e aplicou uma joelhada na barriga da saintia, jogando contra o rochedo. O arremesso foi tão forte que o choque fez Tourmaline cuspir sangue. — Mesmo que tenha um cosmo poderoso, não fique tagarelando sobre ele. A sua arrogância é um sinal da sua indiscutível derrota.

— Pretende me dar sermões agora? — Tourmaline se levantou com escoriações no rosto. — Talvez você esteja sendo arrogante demais. Já disse, não estamos no mesmo nível. E isso não é arrogância da minha parte, é apenas um fato.

— Continua a falar besteira. — Marin cerrou o punho. — Então me mostre toda essa sua superioridade!

— Tem certeza? — o fino sorriso de Tourmaline liberou uma sensação de ameaça que deixou Marin em alerta.

Com uma velocidade espantosa ela se moveu em direção a Marin e aplicou um soco no queixo da amazona, jogando a cabeça dela para trás. Marin mal conseguiu ver seus movimentos. Em menos de um piscar de olhos Tourmaline se moveu como um raio de luz. Ela segurou no braço de Marin e a girou contra o rochedo. O impacto nas costas de Marin fez ela soltar um gemido mudo e se contorcer de dor. A falta de ar veio em seguida e ela caiu arfando.

— Eu quero que você veja os golpes que acertou em mim como uma demonstração da minha humildade em permitir que me acertasse. Nenhum dos seus ataques era obstáculo para mim, Marin. Nenhum. — As pétalas de cerejeira voaram até ela e envolveram seu braço direito. — Lampejo de Águia é a sua técnica especial, não é? Fico impressionada que um golpe tão mediano seja dado por uma amazona de prata como você. Achei que fosse mais forte que isso. E eu que sempre lhe admirei por ser a mestra do homem que tem o título de ser o matador de deuses. Esperava mais de você. Deixe eu lhe mostrar o que é um golpe de verdade. — Um turbilhão de pétalas de cerejeira envolvidas com o cosmo de Tourmaline avançou contra Marin e a cercou, encurralando-a no centro. — Turbilhão Senbonzakura!

Shiryu, que estava enfrentando as amazonas, olhou surpreso ao ouvir aquele nome.

— Senbonzakura?! Não pode ser! Marin, saia daí! Agora!

— Meteoros!! — Gritou Marin, atacando o turbilhão.

Foram mais de cem socos disparados por segundo em uma velocidade que supera a do som. Qualquer cavaleiro de bronze, com exceção dos lendários, e muitos cavaleiros de prata sofreriam sérios danos com o golpe de Marin, mas pelo visto isso não se aplicava a Tourmaline. Mesmo sendo uma saintia da patente mais baixa, seu cosmo crescia além do nível de um Cavaleiro de Prata.

 Os olhos vermelhos da saintia brilharam com o seu cosmo purpura e as pétalas se agitaram diante dela, fechando o turbilhão enquanto envolvia os golpes de Marin e o anulavam, cortando o cosmo e o dissipando.

— Impossível!! Os meus socos foram anulados! — Marin olhou para os lados procurando uma forma de escapar, mas não havia brechas. O turbilhão estava cercando ela completamente. Era um paredão circular feito de pétalas extremamente afiadas. Se jogar contra o turbilhão seria suicídio. — Droga!

— Adeus, Marin!

O turbilhão dobrou a velocidade e explodiu subindo ao céu como uma coluna, arremessando Marin para o alto enquanto as milhares de pétalas atravessavam o seu corpo. Marin gritava na medida em que as pétalas rasgavam a sua carne e transpassavam seus membros e órgãos. A sensação de várias lâminas afiadas e quentes atravessando o seu corpo em alta velocidade era enlouquecedor. Ela tinha a impressão de que o seu corpo iria se desfazer em pedaços ou então que iria desabar no chão completamente retalhada. Na mente de Marin o desespero fortaleceu o desejo de morrer como uma esperança. Se a morte chegasse para ela naquele momento, seria como um presente de paz por livra-la daquela agonia. E talvez seu desejo estivesse se tornando realidade. Ela percebeu que estava perdendo os sentidos. Já não sentia dor, não ouvia qualquer som e nem conseguia falar. O perfume das pétalas estava ficando cada vez mais distante, assim como a sua visão estava ficando embaçada, como se estivesse sendo arrastada por um sono acolhedor.

O turbilhão sessou e se desfez com Marin ainda no ar. A sua máscara rachou e se partiu em pedaços, e o seu corpo esguichou sangue pelos inúmeros cortes provocados pelas pétalas.

— Marin! — Gritou Shiryu, ao ver a amazona caindo.

Ele se afastou das amazonas de Ares e correu para segurar Marin nos braços antes que ela caísse no chão. O corpo dela estava repleto de ferimentos e a armadura estava completamente danificada com centenas de perfurações e cortes.

— Mas que poder é esse?! — Pensou Shiryu, espantado. — Essas pétalas... Esse golpe. Como uma saintia de bronze pode ter uma técnica desse nível? — ele olhou para Tourmaline. — Tourmaline!! O que houve com você? Por que atacou a Marin dessa forma? Pensei que estivesse do nosso lado.

— Você pensou errado, Shiryu. Se Marin não tivesse ficado no meu caminho, eu não precisaria chegar a esse ponto e ela teria tido uma morte mais rápida. A única coisa que você agora precisa saber é que estamos aqui para mata-los e invadir Senkyou. Marin não tem mais condições de lutar. — disse ela avaliando a amazona inconsciente nos braços de Shiryu. — Vai tomar o lugar dela na batalha? Ou vai sair se render?

Shiryu deitou o corpo de Marin no chão e virou-se pra Tourmaline, colocando o elmo na cabeça.

— Essas suas palavras... Venha contra mim com a mesma força que você foi contra Marin. Não sei porque resolveu mudar de lado tão de repente já que mais do que qualquer outra pessoa você sabia de toda a verdade, mas agora estou mais interessado em saber... — ele fez uma pausa. — Como uma saintia de bronze conseguiu dominar uma técnica lendária como a Senbozakura.

Tourmaline sorriu.

—...—

Bluegraad – Biblioteca

Um soldado do Palácio de Bluegraad guiou Anteros, Lycaon e os berserkers até a biblioteca. Quando a porta dupla da biblioteca foi aberta, a surpresa de Anteros ficou estampada nos seus olhos prateados. O ambiente bibliotecário era tão vasto quanto ele havia ouvido falar.

A biblioteca ficava dentro de uma torre ligada ao palácio. As escadas dentro da torre ficavam nas laterais e levavam para as dezenas de andares que haviam ali. No teto da torre havia um gigantesco cristal azul pendente que descia no centro da torre como um pilar faltando mais ou menos dez metros para tocar no chão. Era semelhante as estalactites que se formam no teto das cavernas. O cristal parecia emitir luz própria e iluminava todo o ambiente.

Os livros estavam organizadamente enfileirados nas prateleiras e haviam outros em pilhas, alguns até abertos, em cima da grande mesa redonda posta no centro da biblioteca.

— O senhor Alexei mandou avisar que os senhores têm total privilégio para usarem a biblioteca. — disse o soldado. — Os livros estão enfileirados e separados por temas. Vale ressaltar que a cada andar dessa biblioteca aumenta-se o nível da pesquisa. Como os senhores desejam saber sobre Atlântida, oriento que comecem pelo terceiro andar em diante. Antes de me retirar eu tenho um aviso do Senhor Alexei a dar. — o tom do de voz do soldado mudou. Parecia mais cauteloso e ameaçador. — A integridade dos livros deve ser mantida. Existe relatórios, pergaminhos e livros raros e poderosos reunidos neste lugar. Para o Senhor Alexei vandalismo não será permitido, e isso poderia comprometer o acordo que o senhor fez com a Majestade.

— Alexei é um homem interessante. — disse Anteros, virando-se para o saldado. — Aceitou sem hesitar o meu acordo para preservar a vida das pessoas dessa cidade, mas agora temos uma ameaça de comprometimento do acordo caso a integridade dos livros não seja mentida? — ele sorriu. — Parece até piada. Diga ao seu governante que ele não precisa se preocupar. Ele teve a sorte de fazer acordo com um deus que gosta de livros.

— Irei informa-lo. Licença, senhores. — o soldado fez reverência e saiu fechando a porta.

— E quem se importa com livros? — disse um dos bersekers, pegando um livro que estava em cima da mesa e jogando no chão.

Anteros olhou para o livro e em seguida olhou para o berserker.

— Eu me importo, soldado.

— Perdoe-me senhor! — implorou, correndo para pegar o livro.

— O que exatamente o senhor deseja saber sobre Atlântida? — perguntou Lycaon.

— Tudo. Qualquer informação será útil. Principalmente a de como entrar lá. — respondeu enquanto subia as escadas. — Não temos muito tempo para perder aqui. Recolham o máximo de informações que vocês puderem. Quando voltarmos ao Santuário devemos entregar tudo pronto ao Senhor Ares.

...

Bluegraad – Lado Oeste da cidade

— Estamos longe do portão principal da cidade. — disse Freya, montada em cima de um cavalo e acompanhada de duas valquirias. — Não tem nada nesse lado da cidade. Só existe uma entrada em Bluegraad. O resto da cidade é cercado por esse alto muro de gelo.

A irmã mais nova de Hilda havia se tornado a líder das Valquirias, guerreiras especialistas em feitiços e arco e flecha, abandonando todo aquele ar inocente e indefeso que ela tinha.

— Não vamos entrar pelo portão principal. — disse Hyoga, descendo do cavalo em que estava montado. — Estamos próximos ao palácio. Do outro lado do muro estão as paredes das masmorras. Já estive aqui antes. Não é a primeira vez.

— E o que você pretende fazer? Pular o muro? — perguntou Freya.

— Existe uma passagem secreta a poucos metros antes do muro. Uma rota de fuga obstruída pela neve. — explicou Hyoga. — Vamos entrar por essa passagem, seguir os tuneis que passam pela masmorra e entrar no castelo.

— E porque não entramos pelo portão principal? — perguntou uma das Valquirias. — Assim seria mais amistoso e não iria parecer uma invasão. Bluegraad possui leis severas para invasores.

— Não se preocupe com isso. — disse Hyoga, dando mais um nó no casaco de pele de urso que ele estava vestindo por cima da armadura. — Não quero que os berserkers saibam que estou lá. Sinto que eles já entraram na cidade, mas vocês conseguem sentir cosmos em conflito? — Freya e as valquírias olharam atentas para a cidade. Estava tudo em paz. O vento estava calmo e dava para ouvir o murmúrio das pessoas na cidade. — Se a cidade estivesse sob ataque o som que deveríamos estar escutando era de gritos. E é isso o que está me preocupando. O cosmo que vem de lá é muito poderoso, semelhante ao do deus Deimos. E seja lá quem for não está só.

— Entendi. — disse Freya. — Então vamos!

— Mas senhora, e os cavalos? — perguntou a outra Valquiria.

— Solte eles. — ordenou. — Eles são treinados para não se afastar do local caso surja uma emergência. Hyoga! Vamos fazer a sua retaguarda. Você vai na frente.

— Está bem. — Hyoga deu alguns passos firmes em direção ao muro, tateando o chão com os pés a procura da entrada. Uma vibração na armadura acompanhada de um som metálico indicou que ele estava em cima da entrada. — Achei! — ele pós a mão no chão e afastou a neve com uma leve pressão de cosmo, revelando uma porta de ferro. A passagem era por uma escada de pedras que sumia na escuridão do túnel. — Vamos!

—...—

Jamiel – Fronteira entre a China e a Índia

— Então você conhece a técnica?

— Até onde eu sei, Senbonzakura é um lendário poder presente nos mitos japoneses, que só pode ser usada por alguém que manuseia uma espada. — respondeu Shiryu. — Mesmo na China, onde eu treinei, essa lenda é conhecida. O meu mestre falou sobre ela.

— Ah, claro. O velho mestre ancião de Libra. O que ele falou é verdade. As lendas as vezes tratam Senbonzakura como uma espada também, pois ela pode se apresentar de várias formas. Seja na forma de milhares de pétalas com um poder de corte igual ao de uma espada, ou na forma de várias espadas formadas pela união das pétalas. — explicou Tourmaline. — Na verdade Senbonzakura é uma habilidade que é desenvolvida por um espadachim após um árduo treinamento e que vai estar ligada a sua espada. Aumentando assim o poder dela. Até mesmo uma espada simples e enferrujada se torna uma espada sagrada de grande poder se o portador da Senbonzakura empunhar essa espada. Em outras palavras, de nada adianta tentar dominar a técnica se você não for um espadachim, pois ela nunca irá se manifestar.

— Então se a Senbonzakura se manifestou em você, isso quer dizer que você tem uma espada.

— Exatamente. Sou uma espadachim, portadora de uma espada sagrada, assim como você que carrega a excalibur em seu braço direito. — disse ela.

 Tourmaline estendeu seu braço esquerdo e ele se acendeu com o cosmo ardendo em chamas púrpuras. O chão embaixo dela brilhou, emitindo a mesma cor do seu cosmo, e uma espada de lâmina prata e cabo dourado brotou diante dela, envolvida com o seu cosmo também em chamas.

— Uma espada? Mas que espada é essa? Esse cosmo que flui de Tourmaline... Essa espada... Com certeza não é o cosmo que uma saintia de bronze teria. É um cosmo tão poderoso quanto dos Cavaleiros de Prata. — pensou, espantado. — Então essa é a sua espada sagrada?

— Ainda se acha capaz de me enfrentar? — perguntou, segurando no cabo da espada e apontando a lâmina para Shiryu. — Eu, Tourmaline de Ave do Paraiso, irei encerrar os seus dias como um Cavaleiro de Atena. “Flammeum gladium... — Shiryu não conseguiu ouvir o ultimo nome da espada.  Disperse-se!”

A espada se dissolveu em milhares de pétalas de flores de cerejeiras em chamas e em seguida se reagruparam materializando diversas espadas sagradas. Copias exatas da espada que Tourmaline havia invocado.

— Então é essa a verdadeira forma da Senbonzakura quando ela usa com a sua espada?! Incrível! O poder é intimidador.

— Ficou surpreso, Shiryu? — perguntando com desdém. — Irei matar você com esse golpe! “Dança das espadas! Lâminas do Paraíso!”

As espadas investiram contra Shiryu e se tornaram pura luz purpura, indo como uma chuva de lâminas sedentas por sangue. Esquivar-se seria quase impossível. Na velocidade em que as lâminas seguiam seria necessário superar a velocidade da luz para fugir do alcance delas.

— Shiryu! — gritou Miguel, que estava enfrentando Láthos de Sagita.

— Não se aproxime! — avisou Shiryu. — Não há como desviar. Então o único jeito... — ele preparou seu escudo e firmou os pés no chão. — Vai ser enfrenta-las com o meu escudo de Libra!

O escudo bloqueou as lâminas, mas o impacto do golpe estava arrastando Shiryu aos poucos.

— Até quando você vai suportar, Shiryu? Uma hora o seu braço vai ceder, e tenha certeza que nesse momento as lâminas irão perfurar o seu corpo e retalha-lo!

— Tourmaline... — a saintia enrugou a testa. — Você não acha que está me subestimando demais? — Os olhos de Shiryu brilhavam com o seu cosmo dourado atrás do escudo. — É verdade que o seu poder supera o dos Cavaleiros de Prata e se iguala aos Cavaleiros de Ouro. Mesmo sendo da patente de bronze, você possui um poder transbordante para lhe garantir uma posição entre a elite dos cavaleiros. Mas isso não é suficiente para me amedrontar!

Tourmaline cerrou o punho.

— Ora seu desgraçado! Vou apagar essa luz dos seus olhos!

Tourmaline deu um passo para frente e avançou em uma velocidade surpreendente em meio as lâminas que haviam sido disparadas. Confiante de que encerraria a luta com Shiryu no próximo golpe, mas não ocorreu como ela esperava. Shiryu elevou o cosmo e esperou Tourmaline se aproximar. Quando ela chegou perto ele expandiu o seu cosmo com tanta força que as lâminas foram repelidas e a velocidade de Tourmaline foi reduzida pela pressão do cosmo, deixando-a desnorteada. Nesse momento o espaço entre ele e ela estava livre e então ele avançou, aplicando um poderoso soco na barriga de Tourmaline e continuou o trajeto até pressiona-la no rochedo, que rachou e explodiu, lançando centenas de pedras para o ar.

Ênio, que acompanhava as lutas ainda montada em sua biga, não deixou de esboçar um fino sorriso apreciando a luta.

— Essa luta não precisa continuar. — disse Shiryu. — Não se levante até que a batalha em Jamiel se encerre.

— Isso é uma piada, não é? Só pode ser. — disse ela, se levantando. — Não me dê ordens e nem fique com esse seu ar de superior achando que me derrotou. — os olhos dela brilharam com um cosmo dourado. — Pois está longe disso!

— O que?! Que brilho é esse nos seus olhos?!

Tourmaline avançou com um salto e desferiu um golpe de espada usando o seu braço esquerdo. Um movimento que apenas um cavaleiro de ouro poderia ver e teria a capacidade de se defender. Imediatamente Shiryu usou a Excalibur que habita em seu braço direito, e houve uma colisão de espadas sagradas.

— O seu cosmo não para de crescer. — constatou Shiryu — O que mais você está escondendo?

— Idiota. Não perca tempo fazendo perguntas!

— Já chega! — A voz veio de trás de Tourmaline e em seguida uma mão dourada rompeu no peito da saintia e transpassou o peito da armadura de Libra.

— Mas o que... — Tourmaline se esforçou para virar o rosto e ver a quem pertencia aquela mão, e seus olhos se arregalaram ao reconhece-lo. — Capricórnio?!!! 

— Vê-los lutando já estava me deixando impaciente. — disse ele, removendo o braço do peito de Tourmaline. — Você cumpriu com a sua parte muito bem, saintia. Deixou o Libra ocupado para que eu o matasse. Agora você já não é mais útil.

— Seu... desgraçado. — disse ela, cerrando os dentes e desabando em uma poça de sague.

Shiryu deu alguns passos para trás, cambaleando. Seu peito estava sangrando e o sangue escorria pela fenda formada em sua armadura.

...

— Não!! — Kiki olhou assustado. — Shiryu!

O mestre de Jamiel estava indo ajudar o amigo, mas o cavaleiro de bronze de Golfinho achou prudente enfrentar Kiki com suas rajadas de cosmo, tentando impedi-lo de ajudar Shiryu. Seu ataque foi detido pelo “Espelho de Ouro” e ele teve que desviar do próprio golpe quando ele foi repelido.

— O que pensa que está fazendo, garoto? Saia da minha frente.

— Não! — disse o jovem de bronze. — Eu serei o seu adversário.

— Está louco? Não importa o quanto você tente atacar, todos os seus golpes serão repelidos contra você em uma descarga dobrada. — alertou Kiki, que continuava preocupado com Shiryu.

...

— Tourmaline! — chamou Shiryu, apreensivo.

— Recebeu um golpe fatal em seu peito e ainda assim se preocupa com a vida da sua oponente. Quanta bondade, Libra. — disse Capricórnio, com desdém.

— Você sacrificou a vida da sua companheira de luta... Você é um demônio!

Os joelhos de Shiryu tremiam e sua visão estava ficando cada vez mais escura. O sangue não parava de jorrar do seu ferimento, e com ele estava indo toda a sua força.

— Para matar você! Você não compreende que por ser um lendário devemos mata-lo a qualquer custo? Você morrerá aqui! Isso agora é algo inevitável. — disse, erguendo o braço. Dezenas de espadas douradas materializaram-se do seu cosmo e apontaram para Shiryu. — Você já nem consegue manter o seu corpo em pé. Bastou apenas um golpe em seu peito, no seu ponto fraco, para deixa-lo na beira da morte. Shiryu, caia no fio das minhas espadas! “Dança das espadas! Dancem Excalibur!”

As lâminas brilharam e foram disparadas como uma chuva de estrelas cadentes. A chuva de lâminas douradas que traz a morte para as suas vítimas. Shiryu já não tinha forças para erguer o escudo e muito menos para se mover. Seus sentidos estavam sumindo e ele estava prestes a perder a consciência, mas em um último ato de desespero, Tourmaline se levantou usando todas as forças que lhe restava e se jogou na frente de Shiryu, recebendo em seu corpo todo as lâminas que foram disparadas por Capricórnio.

— Tour... Tourmaline... — a última coisa que Shiryu viu foram as lâminas cravadas no corpo da saintia e o sangue jorrando, em seguida ele caiu.

— Que garota tola. — disse Capricórnio, com desprezo. — Poderia ter tido uma morte menos triste, mas resolveu bancar a heroína depois de tudo que fez. — ele estendeu a mão para as lâminas e elas brilharam e explodiram, erguendo uma coluna de luz com centenas de fragmentos de lâminas. O corpo de Tourmaline foi tomado pela coluna de luz e desapareceu. Restando apenas a armadura em pedaços.

...

Ignorando o aviso de Kiki, que estava bastante apreensivo com Shiryu, o cavaleiro de bronze atacou novamente, mas agora de punho cerrado diretamente na barreira. Como já era de se esperar o ataque foi bloqueado e repelido, mas ele desviou antes e avançou para a lateral de Kiki cerrando o punho para uma investida direta achando que o ariano estivesse desprotegido na lateral. Mas ele estava enganado. A barreira estava protegendo kiki em todos os ângulos.

— Eu nem precisava me defender dos seus ataques, Golfinho. — disse Kiki, desfazendo a barreira. — Apenas fiz por respeito a você. Vejo que seus olhos não estão prateados iguais os olhos dos Cavaleiros de Prata de Sagita e Medusa. Então isso quer dizer que não está sendo manipulado. O que lhe faz lutar a favor de Ares?

— E o que eu posso fazer? Eles ameaçaram nos torturar. Qualquer um que se opor a Ares e aos Berserkers são torturados e escravizados. Somos obrigados a lutar. Sinto muito, Senhor Kiki! — explicou Golfinho, atacando novamente.

Kiki soltou o ar e ergueu a mão parando o punho dele novamente.

— Então junte-se a nós. Não precisa continuar do lado deles. Protegeremos você aqui.

A esperança tomou o lugar do medo no coração dele.

— Então o senhor vai mesmo...

As palavras foram silenciadas quando uma lança negra rasgou a garganta do cavaleiro de bronze, fazendo ele arregalar os olhos e abrir a boca desesperadamente. Kiki ficou surpreso quando viu a lança lá, cravada na carne rompida e o sangue escorrendo por ela. Golfinho levou a mão ao pescoço na tentativa desesperada de se livrar enquanto sofria engasgado com o próprio sangue. A falta de ar já estava afetando seus músculos e cérebro, e ele sentia que a força estava lhe deixando aos poucos e que tudo estava ficando escuro. Kiki, atônito, não sabia o que fazer. Ele segurou o cavaleiro de bronze nos braços e puxou a lança por trás. Golfinho cuspiu o sangue que estava em sua garganta e olhou nos olhos de Kiki se esforçando para dizer suas últimas palavras.

— O senhor... pro-prometeu... que me prote... — seus olhos reviraram e se fecharam no momento em que sua cabeça inclinou-se para trás.

— Droga! — disse Kiki, cerrando os dentes. Seus olhos percorreram o campo procurando quem havia jogado a lança e ele avistou uma amazona que sorria para ele. — Foi você? Foi você quem o matou?

— E o que esperava que eu fizesse, Cavaleiro de ouro? Esse verme covarde estava pronto para trair o senhor Ares. — respondeu ela. Uma mulher de pele morena e cabelos curtos escuro. Trajava peças negras de Onyx com tiras de pele de animal. — Qualquer sinal de traição tem a morte como punição. São ordens bem claras da senhora Ênio!

Ainda segurando o corpo do cavaleiro de bronze nos braços, Kiki cerrou o punho com força e estendeu o braço. Entre os seus dedos escapou um forte brilho dourado como se ele carregasse uma estrela na mão.

— Desfaça esse seu sorriso.

— O que disse?

— Eu disse... Para que você desfaça esse seu sorriso!! Matou um irmão de arma e ainda zomba na minha frente. — os olhos de Kiki brilharam e seu cosmo se elevou. — Imperdoável!! — gritou Kiki, abrindo a mão e disparando uma rajada de cosmo. — Extinção... Estelar!!!

A amazona foi envolvida pelo cosmo ofensivo e desintegrada, tendo sua existência totalmente extinta.

Kiki se ajoelhou e deitou o corpo do jovem de bronze no chão lamentando a sua morte. Era um garoto novo, com mais ou menos quinze anos. A esperança brilhou nos seus olhos por um momento, mas logo foi tomado pelo desespero até que a morte apagou o brilho. “Você prometeu que me protegeria”. Kiki havia cometido um erro. Em uma guerra não se pode prometer algo desse tipo. Em uma guerra qualquer um pode morrer. Qualquer um. Ele olhou para trás e viu Shiryu caído no chão. Ele já não sentia o cosmo do amigo e isso apertou o seu coração, fazendo os olhos arderem com lagrimas. A presença de Tourmaline havia sumido por completo, e agora diante dele estava o corpo de um jovem cavaleiro. A guerra estava sendo mais dolorosa do que ele podia imaginar, mas estava só começando.

— Dar falsas promessas assim é iludir com falsas esperanças. — um braço dourado encostou no pescoço de Kiki. Ele sentia como se o fio de uma espada estivesse sendo pressionado contra o seu pescoço. — Não prometa algo que não pode cumprir, Áries.

Kiki não precisou levantar a cabeça para saber quem era. Bastou olhar para os pés daquele homem. Os pés eram da armadura de ouro de Capricórnio.

— Capricórnio. Não olhei nos seus olhos ainda. Não sei qual é a cor que eles possuem, mas vi que você atacou Tourmaline e Shiryu. Você está sendo manipulado pelos deuses da guerra igual aos Cavaleiros de Prata, ou está apoiando Ares e sendo enganado por ele?

— Um Cavaleiro de Ouro ser enganado? — Capricórnio emitiu um sorriso abafado. — Tem que ser muito cego para isso. Não me confunda com o covarde Cavaleiro de Gêmeos que mudou de lado depois que foi enviado para matar você. Sirvo ao deus da guerra por livre e espontânea vontade.

— Livre e espontânea vontade?! Compreendo.

— Exatamente. — Capricórnio ergueu o braço direito. — Mesmo você sendo um prodígio entre os Cavaleiros de Ouro, estraga todo seu potencial defendendo uma deusa morta. Tem algo a dizer antes que eu corte a sua cabeça? — Kiki se manteve em silêncio. — Já que não tem nada a dizer... Mande lembranças ao Shiryu no outro mundo! Excalibur!

O braço de Capricórnio desceu contra o pescoço de Kiki, mas foi bloqueado por uma parede cristalina que rachou e se despedaçou em seguida, mas foi suficiente para dar tempo de Kiki se afastar do alcance do golpe.

— Antes se eu pudesse evitar essa batalha entre nós dois, eu evitaria. Provavelmente um de nós morrerá, ou até mesmo os dois. Mas agora não tenho qualquer intenção de poupar essa luta.

— Muito bem! Não seja amistoso, Áries. — o cosmo de capricórnio se elevou e dele materializou-se dezenas de espadas douradas. — Porque não pouparei esforços para mata-lo. Dança das espadas! Dance Excalibur!

As espadas douradas foram disparadas como dezenas de feixes de luz afiados. Kiki ergueu o “Espelho de Ouro” na incerteza se sua defesa iria funcionar. As primeiras lâminas ficaram cravadas na barreira, mas a sequência do ataque estava trincando-a e algumas espadas até conseguiam entrar pela metade. Novas espadas se materializaram e miraram para Kiki.

— Seu fim, Áries!! — Com o movimentar do braço as espadas foram disparadas contra Kiki.

— Ainda não!! — A barreira trincou e explodiu. As espadas que estavam cravadas na barreira giraram e apontaram para Capricórnio. — O “Espelho de Ouro” reflete qualquer golpe que recebe!!

As espadas foram repelidas com força dobrada e colidiram com as lâminas que Capricórnio havia lançado. A colisão gerou uma explosão dourada que ofuscou os olhos de Ênio e das amazonas de Ares que observavam o confronto, e levantou uma coluna de poeira. Capricórnio avançou cortando a nuvem de poeira com sua velocidade e esticou o braço fazendo movimentos diversos, disparando vários cortes dourados em todas as direções e eles seguiram rasgando o solo. Kiki não teve tempo para levantar uma nova barreira, então se esforçou para se esquivar dos golpes, mas a precisão dos ataques era bastante minuciosa. Não eram golpes lançados a esmo. Eram ataques calculados que só um espadachim poderia disparar com tanta habilidade.

— Agora é a minha vez! — Kiki estendeu a mão e disparou dezenas de feixes de luz em forma de lança.

— Esse seu golpe não vai adiantar contra mim! — desdenhou Capricórnio. — Eu já conheço o seu golpe “Revolução Estelar”.

— É ai que você se engana... — Kiki sorriu. — Esse não é a Revolução Estelar. Receba as minhas “Lanças estelares!!!

As lanças se dissolveram em luz e atravessaram as brechas da armadura de Capricórnio, mas Capricórnio avançou como se o golpe não tivesse surtido qualquer efeito. Kiki franziu a testa sem entender. O golpe deveria ter perfurado Capricórnio por dentro da armadura, mas nenhuma gota de sangue escorreu e se quer fez sinal de dor. Era como se o golpe tivesse se tornado uma brisa.

— Como ele recebeu o meu golpe e não sofreu qualquer dano? — pensou Kiki. — É impossível! Ele deveria estar bastante machucado. Depois que as lanças passam pela armadura a única maneira de alguém sair ileso é tendo a pele impenetrável, ou então... — Kiki arregalou os olhos. — Será que a armadura está...

Capricórnio aproveitou que Kiki estava perdido em seus pensamentos e desferiu uma sequência de socos, finalizando com um golpe no queixo que arremessou Kiki para trás e arrancou o seu elmo.

— Talvez eu esteja certo. Até mesmos os socos são diferentes. — pensou Kiki, tentando se levantar. Ele passou a mão na boca para limpar o sangue que escorria. — Eu preciso tirar a dúvida e para isso vou precisar que ele me acerte novamente. — Kiki pegou o seu elmo e o colou na cabeça novamente. — É só isso? Pensei que fosse mais forte.

— Não me provoque. Tem sorte de ainda estar com a cabeça presa ao seu corpo. Eu poderia ter arrancado quando dei aquele soco. — o cosmo de capricórnio queimou com mais intensidade no seu braço. — Vai tentar a sorte? Então que seja como quiser.

Os dois avançaram um contra o outro. Capricórnio desferiu um soco, mas Kiki se abaixou e o atacou de baixo para cima. Para desviar do ataque, Capricórnio lançou a cabeça para trás e em seguida saltou, fugindo do punho, mas logo prosseguiu aplicando um chute que acertou em cheio o rosto de Kiki. Desorientando com o golpe, o ariano ficou com a vista turva, mas desviou a tempo do punho de Capricórnio que passou rente ao seu rosto e ainda deixou uma marca de corte no elmo da armadura.

— Ele conseguiu cortar o meu elmo sem ao menos tocá-lo. Apenas com pressão do seu punho. — pensou Kiki, surpreso. — Se o ataque tivesse sido um pouco mais baixo, a pressão do corte poderia ter acertado o meu pescoço e cortado a minha artéria!

Capricórnio recolheu o braço e atacou com o outro punho mirando o rosto de Kiki, mas o mestre de Jamiel usou os antebraços para se defender, cruzando os braços em frente ao rosto. Enquanto Capricórnio insistia com a sequência de socos, Kiki notou que o dourado estava com a postura aberta e então aplicou um chute abaixo do peito e arremessou Capricórnio, que caiu de costas no chão.

— Não é um oponente que eu possa prolongar a luta e muito menos deixar que me acerte em um ponto mortal. — pensou Kiki. — Sua habilidade corporal em luta deve ser a mais alta entre os Cavaleiros de Ouro. Terei que tirar a prova de outra forma.

Kiki ergueu o braço concentrando na palma da mão o seu cosmo, que tomou a forma de uma nebulosa brilhante, e lançou o golpe na forma de uma infinita chuva de estrelas que seguiram rasgando o solo deixando marcas profundas. A forte luz emitida pelo golpe deveria ofuscar os olhos de qualquer um, mas o guardião da decima casa zodiacal parecia não se incomodar e ergueu o braço preparando a sua “Excalibur”. Antes que ele atacasse, Kiki o surpreendeu aparecendo diante dele por teletransporte e colocando a mão em seu peito.

Os olhos de Kiki ficaram arregalados ao tocar em Capricórnio. Não havia calor naquele corpo. Nada além do calor da armadura. Por dentro era tudo muito vazio e frio.  Não havia corpo algum ali. Nenhum tipo de matéria ocupava aquela armadura.

— Exatamente como eu suspeitei. — disse Kiki, incrédulo. — Está vazia. A armadura de Capricórnio está vazia!

Capricórnio segurou no braço de Kiki impedindo que ele se afastasse e deu um sorriso abafado.

— Então quer dizer que você percebeu? Cometi o erro de esquecer que você é um reparador de armaduras. Deveria ter evitado uma luta tão próxima. Mas não tem problema... — olhos vermelhos como rubis brilharam dentro da armadura. — Você também vai morrer. Assim como Shiryu e os outros.

Capricórnio desceu com o braço em direção ao pescoço de Kiki, mas seu ataque foi detido por outro braço que se chocou e rangeu como se duas espadas tivessem colidido. A colisão emitiu um brilho ofuscantes e afastou Capricórnio e Kiki.

— Você está bem, Kiki? — perguntou Shiryu, ensanguentado. A sua capa branca estava manchada de sangue e os seus longos cabelos pretos estavam sujos de sangue, suor e terra.

— Shi-Shiryu?! Você está vivo? — perguntou Kiki, incrédulo.

— Ele sobreviveu? Mas como? — questionou a berserker que estava posicionada ao lado Ênio. A deusa da carnificina manteve-se em silêncio, mas parecia estar perdendo a paciência.

— Libra? — disse Capricórnio, surpreso. — Mas...

— O seu golpe parece ter sido apenas superficial. Mas forte o suficiente para fazer eu perder os sentidos por alguns minutos. Quando acordei achei que estaria me esperando para me enfrentar e arrancar a minha cabeça. — disse Shiryu, estendendo a mão para Kiki. — Você está bem, meu amigo? Sabia que tinha tudo sob seu controle, mas não pude deixar de interferir.

— Obrigado pela ajuda! — agradeceu.

— Kiki, cuide dos outros. — disse Shiryu. — Eu assumo essa luta daqui pra frente. Está bem para você, Capricórnio?

— Para mim não faz diferença. Você está na beira da morte. Se os dois me enfrentarem ao mesmo tempo poderei mata-los mais rápido.

Kiki deu um sorriso abafado.

— Presunçoso. — disse Kiki, dando as costas. — Esqueceu que o homem que está na sua frente é um lendário?!

Capricórnio virou-se para Shiryu elevando o cosmo.

— Lendário. Herói. Sagrado. São apenas títulos. — disse ele com desdém. — Essa luta não será uma luta de títulos. Será uma luta de espadas sagradas.

— Capricórnio! — Chamou Ênio. — Não temos tempo para essa sua luta de espadas sagradas. Acabe logo com isso para que possamos entrar em Senkyou!

“Não precisa apreça-los, deusa da carnificina.” — a voz ecoou pelas montanhas, sendo levada pelo vento. — “Seu ódio e sua sede por sangue conseguiu fazer o inimaginável. Atravessar a membrana que separa o mundo humano de Senkyou. Tanta maldade assim não dá para passar despercebido. E foi por esse motivo, olhando o nível da urgência em que essa Guerra Santa se encontra, que nós, guerreiros de Senkyou, resolvemos vir para o mundo humano, afim de livrar a China dessa sua presença maligna”

  No outro lado do campo, oposto aonde Ênio e seu exército estava, surgiu uma parede cristalina e através dela marchou um grandioso exército de guerreiro Taonias. Todos enfileirados e marchando com passos firmes. Os Taonias da primeira fileira seguravam um mastro e nele balançava a bandeira de Senkyou. Uma bandeira branca com um Qilin desenhado, uma criatura sagrada que parece ser uma mistura de dragão com cervo.

Liderando o exército estava um Taonia montado em um cavalo branco. Era um homem de pele morena em tom claro, o que muitos chamam de “pardo”, e de longos cabelos azuis com fios prateados. Ele estava usando a sua “armadura” a qual recebe o nome de Tatuagem. A origem desse nome vem da marca que o Taonia recebe em seu corpo quando um espirito sagrado da natureza o escolhe como hospedeiro. Suas tatuagens se transformam em armaduras, sempre com as características do animal representado pela tatuagem.

— Eu sou Edgard de Qilin. Capitão do exército de Senkyou. — disse ele, encarando Ênio nos olhos. — Essa batalha irá terminar aqui.

— Acham que vindo até aqui vai mudar alguma coisa? — perguntou Ênio, segurando firme nas rédeas dos cavalos que puxam a sua biga. — Entrarei em Senkyou carregando os seus corpos amontoados na minha biga e levarei a sua cabeça, capitão, de presente para o Dragão branco.

— Ora, ora! Não podemos permitir que algo assim aconteça. — o espaço acima do rochedo se distorceu e uma fenda dimensional foi aberta. Dela surgiu um homem que trajava a armadura de ouro de gêmeos.

— Kastor? — disse Shiryu, surpreso.

— Viemos ajudar. — disse ele.

— Gêmeos! Quem mais veio com você? — perguntou Ênio, furiosa.

— Nos desculpem pela demora. — disse outro homem, surgindo ao lado de Kastor, mas pairando no ar próximo ao rochedo. Seu cosmo, calmo e caloroso, provocou uma pequena pressão em todos que estavam no campo. — Viemos assim que soubemos. 

— Shalom de Virgem?! — disse Capricórnio, incrédulo.

— Muito bem! Acho que já podemos começar! — gritou Ênio, desembainhando sua espada. — Amazonas! Ataquem!!

— Taonias!! Atacar! — gritou Edgard.

Ambos exércitos correram contra o outro. O chão tremia a cada passo e o som de armas rangendo ao serem desembainhadas pairava no ar. Não demorou muito para que as duas massas de soldados se chocassem e as espadas rangessem uma contra as outras, rasgando os trajes de guerra juntamente com a carne, tanto dos berserkers quanto dos Taonias, levando a um banho de sangue que Jamiel jamais esquecerá.

—...—

Curiosidades:

Senbonzakura é uma referência, homenagem, ao anime Bleach. Editado de modo que se encaixasse no enredo da fanfic;

Qilin é uma besta sagrada presente na mitologia chinesa. A dinastia Qing usou o Qilin como símbolo de primeiro grau dos Oficiais militares da Corte Imperial.


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Notas finais do capítulo

Grupo da fanfic no facebook: https://www.facebook.com/g roups/562898237189198/

Nesse grupo você acompanha o lançamento dos capítulos e ainda tem acesso ao perfil e histórico de alguns cavaleiros.

Contato: 81 97553813

Próximo capítulo: indefinido.
Sinopse: indefinida.
Data de publicação: indefinida

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