A Saga de Ares - Santuário de Sangue escrita por Ítalo Santana


Capítulo 36
Capítulo 34 - O feitiço de Hécate. A Bruxa da lua.


Notas iniciais do capítulo

Após saber do fracasso de Deimos em Asgard, Ares envia um homem ao Santuário para levar Deimos de volta á Roma. Na França, os cavaleiros reunidos fazem importantes revelações sobre a guerra e sobre onde está Thanatos.



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Capítulo 34 - O feitiço de Hécate, a Bruxa da lua.

A terceira guerra mundial tinha começado há poucos dias e o número de mortos já era assustador. Tudo começou quando os EUA bombardearam o Irã, Russia e a Coreia do Norte, mas não demorou muito para que os demais países se envolvessem na guerra ou com conflitos internos. Os laços das nações unidas se romperam em um desastre. Praticamente não existia aliados. Era uma guerra desgovernada consumindo tudo. Enquanto uma parte da Russia era devastada por armas nucleares, a China enviou uma frota de caças contra os EUA enquanto uma frota marinha, carregada de tanques de guerra, navegava a passos lentos em direção a América do Norte.

O Paquistão marchou contra o Afeganistão pegando a todos de surpresa e dominaram o território em pouco tempo. A Rússia também se dividiu em dois e começou a ser consumida por dentro com conflitos de partido e supremacia alimentados pela ganância e desentendimento. Novos campos de concentração foram criados na Rússia, Polônia, Tchecoslováquia, Áustria, Turquia, EUA, Romênia e Canadá matando negros, ciganos, homossexuais, judeus, pessoas portadoras de deficiência física e deficiência mental. Era a tirania nazista, formulada por Adolf Hitler, retornando depois de décadas. O Brasil entrou em guerra civil em todo país e os traficantes dominaram os estados do Rio de Janeiro e São Paulo levando desespero para as ruas. No México o cartel sobrepujou o governo, ultrapassou o território americano e iniciou um conflito contra Cuba.

Na África, o Egito e a Líbia deram início a bombardeios, somando com uma guerra civil que já consumia os dois países. As tribos africanas foram rapidamente dominadas pelos desejos violentos alimentados pelos Espíritos de Guerra e matavam uns aos outros pelo simples prazer de matar e se banhar na carnificina. Os corpos mortos eram jogados em valas e o cheiro podre de carne morta se espalhava nas grandes cidades.

Apenas uma parte da Europa permanecia sem conflitos. Ares impedia que a guerra se espalhasse na Itália, Grécia, Alemanha, França e Espanha. Os demais países estavam todos mergulhados em sangue e morte guiados pelo cosmo de Ares e dos demais deuses que mesmo indiretamente influenciavam. A discórdia de Éris alimentava os desejos egoístas. O medo de Phobos e o terror de Deimos quebravam a coragem e a esperança dos homens.


Casa Branca - Washington, DC - Estados Unidos

A Casa Branca, antes um símbolo e sede oficial do poder executivo nos Estados Unidos, agora estava parcialmente destruída. Depois da devastadora luta entre o deus Enyalios e Jake, o cavaleiro de ouro de Leão, muitas paredes e uma parte do teto tinham desabado e o pequeno foco de incêndio deixou paredes, moveis e papeis chamuscados.

— Aqui, Senhor! — disse o soldado berserker, levantando um pano ensanguentado e revelando um corpo em meio aos escombros. Ferragens, gesso e blocos de concreto estavam espalhados por todos os lugares. A escada de acesso ao primeiro andar estava bloqueada. O lustre estava caído no chão. As cortinas queimadas e as luzes piscavam.

Um homem entrou na sala, que antes seria o salão principal da recepção, seguido por outros soldados berserkers. Os seus passos eram pesados por causa do seu porte físico forte e o peso de sua onyx. Era um homem de expressão séria e irritada, trajando uma onyx marcada por inúmeras batalhas e armado com uma espada presa na cintura. Sua pele acinzentada, quase negra, e seus olhos vermelhos mostrava que ele estava longe de ser humano, ou de um dia ter sido. O cabelo curto escuro tinha um corte militar semelhante ao de soldados.

— O que foi que aconteceu aqui? — perguntou ele, se aproximando do corpo, com uma voz grossa e intimidadora. O corpo era de Enyalios, o deus menor da guerra, morto após a luta contra Jake. Sua onyx foi totalmente destruída e seu corpo ficou com ferimentos profundos. O homem se abaixou ao lado do corpo e passou a mão levemente em cima dos ferimentos de Enyalios. — Essas marcas... Já vi essas marcas antes... Não foi feita por uma arma de libra ou por qualquer outra arma. — Ele pegou uma das peças soltas da onyx e olhou atentamente para as marcas. — São marcas feitas por um poder esmagador do nível de um deus ou bastante próximo de um. Tem certeza de que foi um humano que enfrentou o senhor Enyalios?

— Temos uma testemunha do evento, Senhor Kydoimos. — disse o soldado berserker, entrando no salão trazendo apoiado no ombro um berseker de nível baixo bastante ferido. — O achei debaixo dos escombros. Ainda está vivo.

O berseker foi jogado ao chão e tentou se levantar, mas suas pernas não o obedeciam.

— Suas pernas estão quebradas. — disse Kydoimos, ficando em frente ao berserker. — Não adianta se esforçar para se levantar. Vai demorar até que se cure. Agora conte o que você viu. Como foi que Enyalios, que é um deus, foi derrotado por um dos cavaleiros de Atena?

— O Senhor Enyalios estava vencendo. O cavaleiro de Leão não iria suportar a luta por mais tempo, mas no meio da luta uma neblina vermelha surgiu de repente. Tinha o cheiro de vinho e logo me senti... embriagado.

— Embriagado? — Perguntou Kydoimos, estreitando os olhos com estranheza.

O berserker balançou a cabeça e respirou fundo.

— Comecei a ficar sonolento, mas lembro de ver o Senhor Dionísio saindo da neblina e derramando seu sangue na armadura do cavaleiro de leão. A armadura brilhou e um poder esmagador rugiu indo contra o Senhor Enyalios lançando-o contra a parede e estraçalhando a onyx, mas algo parece que deu errado com o cavaleiro e ele caiu cuspindo bastante sangue. O Senhor Dionísio desapareceu em seguida e eu acabei desmaiando.

Kydoimos segurou no cabo de sua espada e a apertou com força.

— Dionísio ajudando os cavaleiros de Atena? — perguntou ele, incrédulo.

— Será que o senhor Dionísio traiu o Senhor Ares? — perguntou um dos berserkers.

Kydoimos estava surpreso e ao mesmo tempo enfurecido. Os Espíritos da Guerra são extremamente leais a Ares e não são de tolerar atos de traição contra o seu Senhor. Kydoimos é o segundo mais poderoso entre os Espíritos da Guerra e também é o segundo na posição de liderança da classe.

— Se ele traiu o Senhor Ares, então ele deverá pagar por isso. — disse ele, dando as costas e saindo do salão. Kydoimos não soltava o cabo da espada presa em sua cintura e suas veias começaram a ficar visíveis em seu braço devido à força que ele fazia cerrando os punhos. — É também um crime grave um deus dar o seu sangue para um humano afim de que o humano mate uma divindade. Se o que aquele rapaz disse for verdade...

Eles caminharam até chegarem no pátio de entrada da Casa Branca. O pátio estava repleto de escombros e corpos de soldados americanos e soldados berserkers mortos. O sol estava se pondo no horizonte, encerrando mais um dia.

— O que devemos fazer senhor? — perguntou um dos soldados que acompanhava Kydoimos. — Não podemos nos levantar contra um deus Olimpiano aliado ao Senhor Ares.

Kydoimos olhou para o soldado por cima do ombro com uma expressão furiosa, fazendo o soldado engolir seco e dar um passo para trás.

— Nós servimos a um deus do Olimpo. Não se esqueça disso. E se Dionísio realmente ajudou o cavaleiro de Atena... — os olhos de Kydoimos brilharam. — Não importa se ele já foi aliado do Senhor Ares. Agora é um traidor e deve pagar pelo que fez. — Kydoimos elevou o seu cosmo negro gerando uma forte pressão, fazendo os soldados levantarem os braços em frente ao rosto e forçarem os pés no chão para não serem arremessados. — Avisem aos demais berserkers que deem continuidade com a guerra. Irei ao encontro do Senhor Ares relatar o que houve aqui.

— Sim, senhor!

O cosmo de Kydoimos se elevou e ele subiu aos céus em um turbilhão indo em direção ao Vaticano.

—...—


Santuário – Grécia

Após ter ido pessoalmente se encontrar com Seiya e os outros “cavaleiros rebeldes” na Cordilheira Pirineus, Phobos retornou ao Santuário escoltado pelo pequeno grupo de berserkers que o acompanhou até a fronteira entre a França e a Espanha.

Tudo fazia parte do plano de Phobos em querer abalar os cavaleiros esperando que eles mesmos se desequilibrassem e colocassem a missão de salvar Atena em risco. Para isso ele ordenou a morte de todos aqueles que os cavaleiros mais amam. As primeiras vítimas foram os pais de Plancius e Retsu, por quem Shina nutria uma paixão secreta.

Ao chegar em frente ao Salão do Grande Mestre, Phobos se virou para olhar o Santuário. Tochas presas nas colunas iluminavam alguns pontos e pequenas fogueiras estavam acesas para esquentar os soldados naquela noite tão fria.

— O Santuário... Quem diria que um dia teríamos sucesso em tomá-lo de Atena. — disse Phobos. — A única coisa que resta é dar cabo de Seiya e do plano estúpido dele.

— Não se preocupe com eles, senhor Phobos. — disse Hugo, saindo do Salão do Grande Mestre. A grande porta estava entreaberta e dois soldados gregos saíram para montar a guarda. — Dessa vez tudo vai ser como planejado. Teremos triunfo em arruiná-los.

Phobos olhou sorrateiramente para Hugo por cima dos ombros e voltou a olhar o Santuário.

— Aprendi a não subestima-los, Hugo. Atingindo o emocional dos cavaleiros acabei provocando uma confusão de sentimentos como arrependimento, frustração, ódio, tristeza, vergonha e o melhor de tudo... Medo. Uma pessoa sem equilíbrio, insegura, em uma luta acaba deixando seu cosmo instável e por fim acaba sendo sobrepujado, mas o que fizemos hoje ainda não é o suficiente. — Phobos estendeu a mão e surgiram as peças de xadrez que representava Seiya, Eros e Shun. — Não vai ser atacando os peões que eu vou conseguir desequilibrá-los por completo. Preciso rompê-los de seus laços e para isso acontecer tenho que atingir os mais poderosos do grupo também. — as peças brilharam com o cosmo de Phobos. — Posso não ter sucesso atingindo-os diretamente por causa de Nike, a deusa da vitória, mas a benção de Nike se restringe ao campo de batalha. Nem mesmo ela pode dar a vitória a alguém incapacitado de lutar. Nike não protege guerreiros sem instabilidade em seu cosmo.

— Compreendo Senhor. — disse Hugo, curvando sua cabeça. — Creio que qualquer atitude tomada pelo Senhor será correta e trará vitória ao Senhor Ares, mas eu vim aqui para lhe informar que temos visita, senhor.

— Visita? — perguntou Phobos, ríspido.

Hugo acenou com a cabeça.

— Está lhe esperando lá dentro antes de partir.

Phobos fez as peças de xadrez desaparecerem e se dirigiu ao Salão do Grande Mestre, atravessando a grande porta. Hugo o seguiu logo atrás, deixando os demais berserkers reunidos diante do Grande salão.

Ao entrar no Salão, Phobos avistou um homem alto e robusto trajando uma onyx enferrujada conversando com Anteros. Sua expressão era séria e seu tom de voz parecia um pouco grosseiro. Ele trazia seu elmo embaixo do braço revelando um cabelo curto escuro em um corte militar semelhante ao de soldados. Seu tom de pele era como cinzas de carvão. Ao escutar paços no salão, ele interrompeu a conversa para olhar, com seus olhos vermelhos, Phobos que caminhava até eles.

— Senhor Phobos! — disse ele, cumprimentando, curvando a cabeça.

— Kydoimos, o espírito do estrondo da batalha. — disse Phobos, caminhando em direção ao Trono. — O que faz aqui?

— Recebi ordens do Senhor Ares para acompanhar o senhor Deimos e o senhor Dionísio até Roma. — respondeu ele descendo as escadas e parando diante de Phobos. — Ele deseja a presença dos dois imediatamente.

— Por qual motivo?

— O motivo de tal urgência não me foi informado. Apenas cumpro ordens. E o Senhor Ares também pediu para que os senhores preparassem os relatórios dos últimos acontecimentos. Principalmente sobre Seiya. O Senhor Ares desconfia que não esteja ciente de tudo. Bem... É só isso senhor. Lhe peço licença, pois tenho pressa. — Kydoimos passou por Phobos e em seguida parou, ainda de costas para os deuses. — Estarei esperando pelos dois em frente à primeira casa do Zodíaco. Peço que avisem ao senhor Deimos e ao senhor Dionísio para que não demorem porque o Senhor Ares tem pressa. E lembrando, amanhã será a grande lua. Todos os berserkers sem atividade devem estar reunidos no Santuário. Licença, senhores.

Kydoimos colocou o elmo na cabeça e caminhou até a porta, fechando-a ao passar por ela.

— O que você acha que o nosso pai quer? — perguntou Deimos entrando no salão vindo de trás das cortinas. Estava trajando sua onyx e parecia recuperado dos danos que sofreu durante a luta com Loki.

— Algo está incomodando Ares. — respondeu Dionísio, entrando no Salão vindo de um dos cômodos laterais. Ele vestia um manto branco que cobria o seu corpo e estava adornado por joias e peças de ouro em seus punhos e na cintura. — Você, Deimos, eu desconfio que seja devido à luta em Asgard. Ares vai querer explicações sobre tudo o que aconteceu.

Deimos cerrou o punho e rangeu os dentes.

— Droga! Ele não pode me culpar por causa daquele humano desgraçado...

— Tenha calma. — disse Anteros, sentando-se no trono. — Ficar ai cogitando do que se trata não vai adiantar nada. Vocês devem se apressar. Kydoimos está esperando por vocês na casa de Áries.

—...—


Em algum lugar da França

Seiya e os outros seguiam correndo em direção à Alemanha e agora estavam cruzando a França. Mesmo os cavaleiros de ouro podendo usar a velocidade da luz, eles foram advertidos pelo deus Asclépio para que utilizassem meios mais “humanos” para não chamarem a atenção dos deuses e dos berserkers. Mesmo que isso fizesse a viagem levar dias quando na verdade podia levar minutos ou segundos.

Para evitar chamar atenção dos civis, e de qualquer espião de Ares nas cidades francesas, Seiya e os outros optaram por caminhos distantes dos grandes centros e seguiram pelas florestas e pelos extensos campos abertos. Alkes ainda estava ferido da luta contra Lycaon, mas optou em seguir em frente suportado as dores dos seus ferimentos. Shina e Plancius corriam calados, presos no silêncio que os afogavam em lagrimas. Eles tinham constantes vontades de parar, sentar e lamentar, mas se negavam a fazerem isso depois de tantos sacrifícios. Estavam dispostos a guardar toda a dor até que salvassem Atena e tivessem a primeira oportunidade de descarregarem toda indignação em Ares e seu exército. Seiya, que seguia na frente do grupo junto com Shun, não parava de pensar se estava falhando como “líder” ao ver seu grupo com tantas perdas. Shun notava a preocupação do amigo e por isso permanecia ao seu lado passando confiança. Shun sabia que eles não podiam ceder aos caprichos de Phobos e dos outros deuses porque era isso o que eles queriam.

— Onde estão Eros e Henry? — gritou Seiya, ao olhar para trás e ver que os dois cavaleiros de ouro não estavam no grupo correndo.

Depois da batalha na cordilheira, Seiya ficou mais atencioso com o grupo, pois ele sentia ser sua obrigação cuidar dos outros. Jake, com o seu poder de ler a aura das pessoas, percebeu essa constante preocupação de Seiya.

— Não se preocupe com eles! — disse Jake — Apenas se afastaram um pouco do grupo.

— Eles vêm fazendo isso desde quando saímos da cordilheira. — comentou Jabu. — Tem algo a ver com as chamas de Henry e tive a impressão de ter ouvido eles falando com alguém através das chamas.

— Estariam eles se comunicando com alguém? — perguntou Nachi.

Jake olhou para Seiya e os outros e viu que todos, exceto Kastor, estavam agora com a mesma cor na aura. Cinza. Eles estavam desconfiados e Jake se perguntou se eles tinham algum motivo para desconfiar de Eros e Henry. Mesmo os dois sendo bastantes reservados, principalmente Eros, Jake não viu nada que levantasse alguma suspeita sobre eles e dificilmente alguém conseguia enganar seus olhos.

— Deveriam cuidar da vida de vocês, moleques. — disse Henry, correndo junto com Eros e se aproximando do grupo novamente.

Jabu se espantou e se calou e Jake olhou para eles por cima do ombro. Eros viu o olhar de Jake para ele e agradeceu com um “obrigado” mudo, apenas mexendo os lábios. Jake acenou com a cabeça.

— Vamos continuar correndo durante a noite toda? — perguntou Kastor.

— Não! — respondeu Alkes. — Vamos parar no próximo campo aberto que encontrarmos. Desde que anoiteceu estamos correndo sem parar. Somos cavaleiros, mas nossos corpos também ficam exaustos como de humanos normais. Temos que descansar. Já estamos chegando perto da fronteira entre França e Alemanha, mas não podemos abrir o portão do Tártaro amanhã estando com o corpo exausto.

— Nossa! Como você é otimista. — brincou Henry. — Nem convenceu o tal deus da morte ainda e já está falando sobre abrir o portão.

— Cala a boca, Henry! — disse Eros, com um tom descontraído de repreensão.

Henry riu.

—...—


Atenas, Grécia

O litoral ateniense estava parcialmente parado. Por conta da guerra que se espalhava pelos continentes como uma peste, o governo grego ordenou que o comércio fechasse as portas, as pessoas saíssem das ruas e fossem para as suas casas e ficassem atentos a qualquer emergência. A maioria obedeceu às ordens do governo, porém, alguns pescadores teimaram em permanecer no porto preparando os barcos para fazerem uma pesca noturna. O exército grego começou a ocupar o litoral, tanto por terra quanto por mar, e continuavam a insistir na retirada das pessoas nas ruas.

— Ei, moleque! O que está fazendo na rua ainda? Volte para a sua casa. — gritou o soldado, ao ver um adolescente de cabelos loiros correndo no porto enquanto carregava uma grande caixa, que parecia ser de metal, nas costas. Ele vestia uma camisa branca e uma calça escura e olhava pra trás como se tivesse a sensação de estar sendo seguido.

O jovem entrou em um beco e logo se escondeu atrás de uma lata de lixo. Uma sombra então surgiu na entrada do beco e parou. Alguém realmente estava seguindo ele. Seja lá quem fosse entrou também no beco, mas o jovem de cabelo loiro saltou de trás da lata de lixo com o punho cerrado, mas parou o ataque ao avistar um garoto com mais ou menos doze anos e que também carregava uma caixa nas costas.

— Isso é... Uma urna? — perguntou ele, olhando para a grande caixa que o garoto levava nas costas. — Essas marcas na urna... — O jovem ficou surpreso ao ver o símbolo marcado. — Dragão?! Essa é a armadura de bronze de Dragão?

O pequeno garoto deu um passo para trás e acenou a cabeça dizendo que “sim”.

— Eu sou o cavaleiro de bronze de Dragão. Meu nome é...

— Ryuho! Ryuho de Dragão! O filho de Shiryu, o lendário cavaleiro de Rozan.

— Você conhece o meu pai? Você também é um cavaleiro? — perguntou Ryuho, vendo que o jovem também carregava uma urna nas costas. — Eu preciso ir ao Santuário.

O jovem colocou as mãos no ombro de Ryuho e o empurrou contra a parede.

— Fale baixo. — disse ele cochichando. — Não pode ir ao Santuário. O Santuário não é seguro. Ninguém lá vai te proteger ou até ajudar. O Santuário está tomado pelo exército de Ares, o mesmo exército que enviou um assassino para matar o seu pai.

— Mas... Eu sou um cavaleiro. O que eu devo fazer?

— Você, eu não sei, mas sei que não pode ir ao Santuário. Eles torturariam você se o pegassem.

— E quem é você?

— Meu nome é Alec. Sou o cavaleiro de prata de lagarto.

— Senhor Alec?! — disse Ryuho, surpreso. — O Senhor não é o líder dos cavaleiros de prata? O meu pai falou sobre o senhor. O discípulo do senhor Shun.

Alec ficou surpreso por Ryuho saber quem ele era, mas o título de “líder dos cavaleiros de prata” pesou em sua consciência depois de ter entregado os seus companheiros nas mãos do deus Anteros. Ele também se lembrou da cena em que ajudou Anteros a capturar Shun, o seu mestre, e prendê-lo na prisão do Santuário.

— Sim. Eu sou. — disse Alec, de cabeça baixa.

— Espera ai... — Ryuho estreitou os olhos pensando e se afastou de Alec. — O senhor disse para eu não ir ao Santuário porque ele está tomado pelo exército de Ares, mas eu vi o senhor vindo daquela direção. — Ryuho apontou para as montanhas. — E sei que é lá que fica o Santuário.

— Ele é um traidor! — disse um cavaleiro de prata parado na entrada do beco com discos afiados nas mãos.

— Haldus de Auriga! — disse Alec, surpreso reconhecendo o companheiro.

Haldus era um homem de porte médio e de pele parda. Seu cabelo curto tinha um tom castanho amarelado e seus olhos eram verdes.

— Um desertor! — disse outro cavaleiro de prata aparecendo em cima do telhado.

— Outro cavaleiro de Prata?! — disse Ryuho.

— Láthos de Flecha! Você também?

Láthos aparentava ser mais novo que Haldus e Alec. Com um corpo magro, cabelos loiros curtos e olhos azuis claros, o jovem cavaleiro projetava com o seu cosmo flechas douradas ao seu redor, prontas para serem disparadas.

— A saintia de Ave do paraíso denunciou você. Soldados também alegam terem visto uma pessoa fugindo do Santuário. — disse Láthos.

— “Tourmaline? Ela me... denunciou?” — pensou Alec, surpreso.

— Recebemos ordens do Santuário para capturá-lo, mas vejo que não está sozinho. — disse Haldus, olhando pra Ryuho. — Dois cavaleiros desertores. Não tentem reagir. Serão levados para a prisão e lá...

— Prisão não é punição para desertores! — gritou um homem. Um cosmo dourado desceu como um turbilhão no final do beco. Um homem alto e magro, com cabelos longos e negros, estava em pé trajando uma armadura de ouro e uma capa branca longa presa na ombreira de sua armadura. — Desertores devem ser mortos.

Láthos saltou do telhado para o beco.

— O senhor é... O cavaleiro de ouro de Capricórnio!!

— Um cavaleiro de ouro? — disse Ryuho, espantado. — Ele veio das doze casas pessoalmente para nos matar?

— Seja com Atena ou com Ares comandando, o Santuário não tolera desertores. — disse Alec. — Fique atrás de mim. São dois cavaleiros de prata e um cavaleiro de ouro. Não há nada que possa fazer contra eles.

Alec jogou sua urna no chão e a urna se abriu expulsando as peças da armadura e cobrindo o seu corpo.

— O que faz aqui, Capricórnio? Por que saiu da sua casa zodiacal? — perguntou Haldus.

— Não tem nada de mais um cavaleiro de ouro sair de sua casa para punir um desertor. — disse capricórnio, ríspido. O elmo escondia seu rosto e a pouca iluminação no beco aumentava ainda mais a sombra do elmo. Ele ergueu o braço direito e elevou o cosmo. — Em nome do Santuário e das leis que nos rege, eu, o guardião da décima casa do Zodíaco, sentencio vocês a pena de morte.

— O que?! Essa postura é... — Ryuho reconheceu a postura do braço erguido como uma lâmina prestes a cortar o inimigo ao meio.

— A técnica mais poderosa dos cavaleiros de capricórnio durante séculos. — disse Alec, elevando o cosmo.

— Excalibur!!

O golpe cortante foi disparado na velocidade da luz rasgando o chão, mas Alec elevou o cosmo e parou o golpe com as mãos. A concentração do golpe estava contida nas mãos dele, mas o empurrava a ponto de seus pés afundarem no chão.

— O que?! Ele parou o golpe?! — disse Láthos, surpreso.

— Técnica das mãos nuas para parar um golpe de espada? Interessante, mas é uma atitude tola demais. Você não tem forças suficiente para anular ou suportar a minha técnica por mais tempo. Você tem duas opções. — disse capricórnio. — Soltar o golpe e ele partir você ao meio ou continuar segurando até que sua armadura seja despedaçada e em seguida suas mãos sejam consumidas rasgando a carne até os ossos. Escolha rápido! Minha técnica não é algo tão simples para ser parado de forma tão leviana.

O peso do golpe estava levando as forças de Alec ao limite. A armadura de prata já estava começando a trincar. Ele e sua armadura não suportariam por muito tempo, mas ele lembrou que tinha motivos para não morrer ali. Lutar por aquilo que Pavlin acreditava ser correto.

— Prefiro superar você! — gritou Alec, elevando o cosmo. Ele concentrou seu cosmo na palma da mão empurrando o golpe Excalibur gerando um turbilhão. — Tornado Nebulosa!

O cosmo se espalhou como uma nebulosa e formou um turbilhão disparado na tentativa de empurrar o golpe, mas a afiada excalibur ainda seguiu seu percurso contra Alec cortando o turbilhão ao meio, mas seguiu em baixa potência devido o golpe disparado por Alec. O fio da “espada” cortou o elmo de Alec ao meio e as duas peças se despedaçaram, provocando um corte na testa de Alec.

— Achou que poderia parar o meu golpe com essa brisa? Teve a sorte da lâmina não ter partido você ao meio. — Capricórnio avançou na velocidade da luz e colocou as mãos no ombro de Alec e o empurrou para baixo aplicando em seguida uma joelhada no peito do jovem cavaleiro. Alec foi lançado para cima com a potência do golpe, mas capricórnio saltou e girou aplicando um chute que jogou Alec para fora do beco. — Haldus! Láthos! Capturem Alec e levem-no de volta ao Santuário. Matarei ele lá diante de todos no Coliseu.

— Sim, senhor! — gritaram os dois cavaleiros, indo atrás de Alec.

Ryuho se colocou no caminho com os braços abertos.

— Não vou deixar! — disse Ryuho, firme, e o seu gesto chamou a atenção dos cavaleiros de prata e de Capricórnio. — Vocês são cavaleiros e estão servindo á Ares? Como podem permanecer com as armaduras no corpo de vocês?

— E quem é você, garoto? — perguntou Láthos.

— Sou um cavaleiro de Atena! — gritou Ryuho, elevando o cosmo. — Um verdadeiro cavaleiro. Vocês que apoiam Ares e suas ambições não merecem usar as sagradas armaduras do exército de Atena! Se tem alguém aqui que deveria receber a punição de pena de morte, esse alguém são vocês que insistem em servir a Ares e a desonrar os seus antecessores.

Láthos riu e aplicou um chute em Ryuho, lançando-o no chão sujo de água de esgoto e lixo.

— Não fale bobagens, garoto. O Senhor Ares é absoluto! Ele é o novo deus da Terra agora. A quem mais serviremos? Atena no mundo dos mortos? Poseidon que está dormindo em sono profundo na ânfora? Enquanto o Senhor Ares estiver no comando, será a ele que nós, os cavaleiros, serviremos. — Láthos elevou o cosmo fazendo as flechas douradas surgirem ao seu redor. — Vou matar você e depois cuidarei do seu amigo desertor. Flechas fantasmas!!

As flechas douradas foram disparadas em uma poderosa rajada.

 Essa é a técnica que... lembro que meu pai contou sobre ela. — pensou Ryuho.  Essa técnica... é a que acertou o peito da Senhorita Atena!

A urna que Ryuho trazia nas costas brilhou e seu cosmo se expandiu. As flechas ilusórias desapareceram, mas a verdadeira flechada dourada agora estava cravada no escudo da armadura de dragão que saiu da urna para defender o corpo de Ryuho.

— O escudo do Dragão?! — disse Haldus.

— “Esse garoto...”  pensou Capricórnio, estreitando os olhos.

— Preparem-se! — o cosmo de Ryuho se elevou como um dragão subindo aos céus.  Cólera do dragão!

Láthos e Haldus ficaram surpresos com o golpe e se prepararam para repeli-lo, mas foi Capricórnio quem repeliu o golpe passando entre os cavaleiros de prata e erguendo braço para cortar o golpe ao meio, dissipando-o.

— Cólera do Dragão?! — disse Láthos.

— Séria ele o filho e discípulo de Shiryu? — perguntou Haldus.

Capricórnio esboçou um sorriso em seu rosto sombrio que permanecia escondido pelo elmo.

— Não existe outro dragão. Ele é o sucessor de Shiryu. — Capricórnio ergueu o braço e elevou o cosmo. Ryuho tentou fugir, mas seu corpo não se mexia. O cosmo do dourado estava restringindo os seus movimentos. — É uma pena que um cavaleiro tão novo como você venha perder a vida tão prematuramente. É para o seu próprio bem. No mundo em que estamos você seria torturado apenas para divertir os filhos de Ares. Morra!

— Pare! — gritou Alec, aparecendo no beco. Ele estava com um corte na lateral do rosto e sangrava bastante. Parecia cansado e fazia respirações profundas por causa de uma dor aguda que se espalhava em seu peito. — Deixem-no! Eu serei o oponente de vocês.

— Quer enfrentar sozinho dois cavaleiros de prata e um cavaleiro de ouro? — perguntou Haldus, pegando seus discos. — Você mal consegue se manter em pé. Vou lhe cortar em pedaços e servi-lo aos deuses. Discos mortais!

Os discos nas mãos de Haldus se multiplicaram com o cosmo e seguiram girando em alta velocidade em direção a Alec. Alec tentou se desviar dos discos, mas eles pareciam ter vida própria e agiam como bumerangue voltando sempre contra Alec.

— Eu sei o que está tentando fazer, mas isso é inútil. — disse Haldus. — Os discos vão perseguir você até cortá-lo em pedaços e sua armadura não será o suficiente para protegê-lo. Eles são guiados pelo meu cosmo e por minha telepatia. — um dos discos acertou a perna direita de Alec, provocando um corte profundo e desequilibrando-o durante uma esquivada. O discípulo de Shun caiu de joelhos e Haldus aproveitou para guiar os escudos contra Alec, destruindo grande parte de sua armadura. — Nem mesmo uma armadura de prata é suficiente resiste ao meu golpe. — Haldus ergueu a mão e moveu um dos discos. — Agora eu cortarei a sua cabeça!!

— Pode cortá-la... — Alec levantou o braço e elevou o seu cosmo parando o disco com a mão. — Mas só depois que Atena estiver salva.

— Parou o meu disco com apenas uma mão?! Im-Impossível! — Haldus tentou dar um passo, mas notou que não poda se mexer e seus discos também não. O cosmo de Alec estava se espalhando e restringindo os movimentos dele. — Não consigo me mexer! Como pode tamanho poder fluir de você?

Alec se levantou cambaleando e enrugando a testa por causa da dor que percorria em sua perna.

— Eu não quero matar você. Sei que não está fazendo isso porque quer. Você está sendo controlado por Anteros e eu tenho culpa nisso. Portanto... — Alec abriu os braços e seu cosmo explodiu. — Tempestade Nebulosa!

Potentes jatos de ar e cosmo foram expelidos do corpo de Alec formando uma poderosa tempestade que lançou Haldus para o auto. Capricórnio notou o tamanho poder da tempestade ao perceber a sua necessidade de forçar os pés no chão para não ser arrastado. A pressão exercida pelo golpe despedaçou a armadura de Haldus e o jogou contra a parede de uma casa, deixando-o inconsciente.

Ryuho correu em direção a Alec e o segurou antes que ele caísse no chão, exausto.

— Você está bem? — perguntou Ryuho.

— Isso foi formidável, Alec. — disse Capricórnio, andando em direção a Alec, atravessando o resto de cosmo da Tempestade. — Não esperava menos de um dos três discípulos prodígios de Shun. Assim como não se deve subestimar a aparência pacífica do seu mestre, vejo que também não posso subestima-lo. — o seu cosmo dourado se elevou e se espalhou. Do seu poderoso cosmo surgiram centenas de espadas douradas flutuando. Ryuho ficou impressionado com a beleza daquelas espadas surgindo através do cosmo. Possuía um brilho deslumbrante, mas todo esse encanto também trazia desespero. Alec tentou se levantar, mas não conseguia por causa da pressão do cosmo de Capricórnio. — Mas se você não consegue dar conta de nós três como seus oponentes, como ainda pretende querer salvar Atena no Tártaro tendo que antes enfrentar os berserkers que estão nesse momento protegendo a caixa onde os deuses gêmeos se encontram? Vai morrer tentando? Do que vai valer essa morte? Nada! Você é um fraco agindo pela emoção!! Um fraco não protege ninguém!! Fracos morrem!! — gritou Capricórnio, erguendo o braço e as lâmina fizeram uma rápida ressonância respondendo ao seu cosmo. — Se eu o matar aqui, o Grande Mestre não vai se importar. “Dança das espadas. Dance Excalibur”

Ryuho se lançou na frente de Alec e as espadas disparam contra eles. No momento em que as espadas iam atravessá-los, uma forte luz brilhou entre eles e o som de um coral ecoou.

— Angeli Specularibus — a voz, citado em latim, ecoou junto com o delicado coral.

Era como se pudesse ouvir, ainda que em baixo volume, os anjos cantando no céu. Quando a luz se apagou surgiu um vitral circular que protegeu Ryuho e Alec das espadas de Capricórnio, as quais ficaram paradas a poucos centímetros do vitral. O vitral era composto por pedaços de vidro coloridos e formavam imagens de anjos com suas majestosas asas abertas e seus mantos esvoaçantes. Alguns armados com espadas e escudos e outros com trombetas e harpas.

— Um vitral parou o meu golpe? — perguntou Capricórnio, surpreso. — Esse cosmo poderoso que agora nos rodeia... — Capricórnio ficou parado e parecia se concentrar. Alec e Ryuho olhavam para os lados procurando quem tinha defendido eles. Láthos, que agora cuidava de Haldus, também parecia preocupado com o poderoso cosmo que crescia ali. Capricórnio acendeu o cosmo em seu braço direito e sorriu. — Sem dúvidas esse cosmo poderoso pertence a você. — Capricórnio se virou e manejou o braço em sua lateral cortando o ar e o golpe ricocheteou ao atingir uma barreira invisível. A barreira sofreu rachaduras e por fim se despedaçou, revelando um homem que vestia uma túnica laranja coberto por uma túnica marrom de manga longa aberta ao meio e calçava sandálias de coro. Seus cabelos negros ondulados iam até seu ombro. Sua pele era clara e seus olhos eram verde-olivia. Tinha uma expressão serena em seu rosto. — Você é o homem que  assim como seu antecessor carrega o título de ser o mais próximo de Deus. Aquele que certamente está entre os mais poderosos cavaleiros de ouro dessa geração. Shalom de Virgem!

— Outro cavaleiro de ouro? — perguntou Ryuho.

— O que faz aqui, Shalom? Por qual motivo saiu da casa de virgem e ainda salvou esses rebeldes?

— Estava questionando a mesma coisa, Capricórnio. Por qual motivo, creio eu que seja um particular, você saiu da sua casa e veio matá-los? E eu não vejo rebeldes, Capricórnio. Antes que você alegue isso. — respondeu Shalom, com uma voz firme e serena. — E não podia permitir que você tirasse a vida deles. Esses garotos ainda têm muito o que fazer. — Alec e Ryuho foram envolvidos pelo cosmo de Shalom e aos poucos começaram a desaparecer. Os dois não entendiam o que estava acontecendo e olharam para Shalom buscando uma resposta. — Vocês precisam ir. O destino de vocês não acaba agora. Terão que seguir por caminhos diferentes, então vocês se despendem aqui, mas temo em dizer que a morte os espera de braços aberto. Principalmente você, Alec.

— Mas o que pensa que está fazendo, Shalom?! — gritou Capricórnio.

— Para onde está nos enviando? — perguntou Alec.

— Não sei. Deixo essa resposta para as suas estrelas protetoras, as quais guiam seus destinos. — respondeu Shalom. — Apenas sei que são caminhos diferentes. Vejo vocês em breve, provavelmente. Seja no mundo dos vivos ou no mundo dos mortos.

O cosmo de Shalom se expandiu lançando Capricórnio no chão e teletransportando Alec e Ryuho. Capricórnio se levantou rapidamente elevando o cosmo e as espadas douradas se materializaram novamente e dessa vez avançaram contra Shalom. O jovem judeu apenas elevou o seu cosmo e então um vitral circular surgiu interceptando o avanço das espadas mais uma vez.

— Não vim aqui para lutar com você. Eu não vim trazer espada, mas a paz. Por enquanto. — disse Shalom. — Sua afiada espada incompleta não pode penetrar a minha defesa. Tenha certeza disso. Não enquanto tiver um coração demoníaco.

— Não estou lhe dando opções. — disse Capricórnio. — E sobre a sua defesa e a minha espada... — ele avançou concentrando seu cosmo no braço direito e atacou o vitral. O cosmo em seu braço acendeu como chamas e trincou o Vitral, atravessando a defesa de Shalom. — Sua defesa não é páreo para a minha espada. A minha Excalibur é a arma mais afiada do exército de Atena. Não é uma espada incompleta!

Quando o vitral explodiu em pedaços capricórnio notou que seu braço estava na verdade cravado no peito de Shalom, mas o jovem cavaleiro de virgem parecia não se importa. Capricórnio tentou puxar seu braço, mas ele não conseguia.

— Shalom... o que você está fazendo?!

O corpo de Shalom se dissolveu em fumaça e ele reapareceu atrás de capricórnio, sem qualquer ferimento no peito.

— Como eu disse, a sua espada não penetraria a minha defesa se seu coração fosse perverso. E sobre ser uma espada incompleta ou não... Veremos isso na guerra que se aproxima, Ceifador.

Capricórnio se virou como se pretendesse cortar a cabeça de Shalom, mas três cavaleiros apareceram correndo indo em direção a eles. Eram os cavaleiros de prata de Medusa e Cerberus e a saintia de Ave do paraíso, Tourmaline.

— Senhor, espere! — gritou Tourmaline. — O Grande Mestre ordena que o senhor volte para as doze casas e deixe o caso do desertor por nossa conta.

— Nos vemos nas doze casas, Capricórnio. — disse Shalom, desaparecendo.

— Desgraçado! — disse Capricórnio, rangendo os dentes. — Então tudo não passou de uma ilusão? Ele fez tudo isso sem sair das doze casas? É um homem a ser temido.

— Senhor, para onde foi o desertor? Temos que dar continuidade a busca. — disse o cavaleiro de Medusa.

Capricórnio deu um salto em direção ao telhado de uma casa e olhou para o cavaleiro por cima do ombro.

— Voltem o Santuário! Não percam tempo com ele! — ele cerrou o punho. — Alec não está mais no alcance de vocês. Avisem ao Grande Mestre que o cavaleiro de lagarto conseguiu fugir sem deixar rastro!

—...—


Vaticano, Roma

A carruagem negra, guiada por três Pegaso negros, aterrissou no pátio do Vaticano e parou diante das escadarias do prédio principal. A Basílica de São Pedro. O cocheiro, um soldado berserker, soltou as rédeas e desceu para abrir a porta da carruagem. Kydoimos foi o primeiro a descer e em seguida Dionísio e por fim Deimos. O grande pátio estava bastante iluminado naquela noite fria, assim como o prédio principal com toda sua majestosa arquitetura. As escadas estavam guardadas por soldados berserkers que faziam a segurança, e no topo da escadaria Dionisio avistou uma mulher charmosa e imponente que sorria para ele. Uma mulher formosa de pele clara, longos cabelos dourados com as pontas cacheadas, olhos azuis como diamante em meio a safiras e vestia um vestido rosa longo de manga comprida. O vestido era apertado em sua cintura destacando suas curvas e valorizando seus seios. O vestido tinha um corte na lateral que deixava à mostra uma de suas pernas.

— Afrodite! — disse Dionísio, sorrindo para ela. Dionísio e Afrodite sempre foram amigos bastante próximos, um sendo confidente do outro, mas naquele momento Afrodite não esboçou um sorriso de volta e deu as costas entrando no palácio. Dionísio enrugou a testa.

— Senhores, me acompanhem. — disse Kydoimos, passando por eles e subindo as escadas.

Kydoimos e os outros seguiram nos corredores e câmaras do Vaticano até chegarem a um corredor largo e bastante iluminado por tochas e lustres que levava em direção a uma grande porta branca com detalhes dourados. Três berserkers guardavam a porta, pois era a porta que dava acesso aos aposentos de Ares. Entre eles estava Alceu, o berserker de Pantera do exército do Medo. Servo de Phobos. Alceu caminhou até eles e outro berserker o acompanhou. Uma bela mulher de pele clara, longos cabelos verdes em várias tonalidades, olhos dourados e lábios vermelhos. Trajava uma Onyx negra com serpente detalhadas em alto relevo. Sua beleza era impossível de ser ignorada. Eles caminharam até pararem diante de Deimos.

— Senhor Deimos, me acompanhe até a masmorra, por favor. — disse Alceu, segurando o braço de Deimos.

— Masmorra? Como assim? — perguntou Deimos, surpreso e puxando o braço das mãos de Alceu. Deimos olhou para Dionísio, mas o deus do vinho também não estava entendendo nada e parecia igualmente preocupado. — Saia da minha frente. Eu quero ver o Senhor Ares. Eu quero ver o meu pai.

— Sinto muito, senhor Deimos, mas não pode. — disse a mulher. — Temos ordens para levá-lo para a masmorra. Ordens do Senhor Ares!

Deimos riu.

— Está dizendo que meu pai ordenou que um berserker prendesse o filho dele na masmorra? Você é minha subordinada! Faz parte do meu exército! Ataque Alceu, agora! — gritou Deimos.

— Perdoe-me, senhor. Posso fazer parte do seu exército, mas acima de tudo tenho que obedecer ao Senhor Ares.

— O que?! Eu sou um deus!! Saiam imediatamente da minha frente se não...

Kydoimos desembainhou sua espada e atingiu a cabeça de Deimos com o cabo, fazendo Deimos desmaiar. Alceu o segurou e o sustentou no ombro.

— Isso chegou a ser ridículo! Tão impulsivo e desordenado. Levem ele para a masmorra! — disse Kydoimos, para Alceu. — E você, Dionísio... — disse Kydoimos, virando-se para o deus. — Me acompanhe!

— Não esqueça da sua posição diante de mim, Kydoimos. — o tom de voz de Dionísio ficou bastante firme. 

Dionísio passou por Kydoimos e abriu a porta com as próprias mãos. O salão por trás da grande porta era um recinto gigantesco e bastante iluminado. Rico em detalhes de ouro e joias preciosas nas paredes e no teto. O teto seguia abobadado até se transformar em uma enorme cúpula e debaixo da cúpula estava o “Altar papal”. Uma estrutura elevada por escadas no centro do salão. Ao redor do altar se erguia quatro pilares de bronze e no centro do altar havia um trono dourado. A riqueza do vaticano era encantadora.

Ares estava sentado de forma despojada no trono dourado. Sua aparência era como a de um soldado jovem de corpo robusto e musculoso, aparentemente alto, pele parda, cabelo curto castanho esbranquiçado, com uma expressão séria em seu rosto, mas que diante de uma guerra adotava um sorriso sádico, e seus olhos vermelhos que naturalmente ansiavam pela carnificina. Em sua cabeça ele vestia um elmo dourado com plumas vermelhas e em seu corpo ele trajava uma simples onyx negra similar as armaduras que os soldados gregos usavam há séculos atrás, como na época da fabulosa guerra de Troia.

— Dionísio! — disse Ares, sorrindo e levantando um cálice de vinho. — Espero que me acompanhe nessa bebida. Estava com saudade da opinião do seu bom paladar.

Dionísio deu um sorriso abafado.

— Deixe de delongas e fale o motivo para ter me chamado aqui. Ou melhor... me diga, o que você pretende trancando seu filho, chefe de um dos seus exércitos, na masmorra?! Está querendo afundar a reputação do seu exército?

Ares respirou fundo e derrubou o cálice, espalhando vinho no piso de mármore.

— Com esse tom tão sério você me fez perder a sensibilidade no paladar. — disse Ares sorrindo, tirando o elmo e colocando em seu colo. — Deimos falhou na conquista de Asgard! Envergonhado o meu exército já está. Na masmorra ele irá... Digamos... Refletir sobre tudo isso.

— Você vai torturá-lo! Vai enfurecê-lo alimentando o ódio da besta que habita na natureza dele. Você não quer um líder de exército. Quer uma máquina de guerra com grande proporção de destruição.

Ares sorriu.

— Incrível sua percepção, Dionísio. Isso não é obvio? Mas não é sobre esse assunto que eu quero falar com você. Eu chamei você aqui para que me explique de forma convincente, se possível, o motivo de você ter ajudado um dos cavaleiros de Atena a derrotar o deus Enyalios. — o tom de voz de Ares mudou do sarcasmo para o ríspido. Até sua expressão mudou, ficando mais sério. — Kydoimos encontrou um soldado nos escombros da Casa Branca e ele contou ter visto você pingando seu sangue na armadura de um cavaleiro de ouro, fazendo-o despertar uma forma divina temporária e assim derrotando Enyalios. Diga que isso é mentira.

Dionisio encarou Ares por alguns segundos e em seguida estalou os dedos. Kydoimos segurou no cabo da espada, pronto para desembainhá-la, achando que Dionísio ia escapar, mas o que aconteceu foi um tremor de terra acompanhado com o rompimento do chão. Grossos cipós brotaram do chão e se entrelaçaram formando um tipo de trono onde Dionísio se sentou.

— Não é mentira, pelo contrário, é verdade. Eu de fato ajudei o Cavaleiro de Ouro de Leão a mandar Enyalios ao Tártaro pelos próximos séculos. — disse Dionísio, despreocupado.

Ares ficou furioso e cerrou o punho no trono.

— Assume ter ajudado um Cavaleiro de Atena?! — gritou Ares. — Você ficou louco, Dionísio? O que pensa que está fazendo se aliando a eles?!

— As vezes parece que você esquece que eu sou um Olimpiano assim como você. — disse Dionísio, mantendo a voz serena. — Sou seu amigo e não seu servo. Eu sigo você em todas as batalhas e em troca você me agrada criando os banquetes e bacanais. Nunca cheguei a vestir minha Kamui para lutar na guerra, mas sempre deixei claro que faria isso se fosse necessário para ajudá-lo. E nós fizemos o acordo de que seus homens, incluindo os deuses que lhe servem, não tocariam nos humanos que eu escolhesse. Aqueles os quais eu colocasse a minha marca. Principalmente as minhas servas.

— E o que isso tem a ver? — perguntou Ares, impaciente.

— Enyalios matou uma de minhas servas. Simplesmente por matar. A punição para isso é a morte.

— É apenas uma humana! — gritou Ares, furioso. — Quer comparar uma humana com um deus?! Devido a isso eu perdi um aliado poderoso.

— Minha humana, Ares! — rebateu Dionísio. — Minha serva! Fizemos um acordo. Lembre-se disso! E se qualquer outro subordinado seu voltar a repetir esse desacordo... Terá o mesmo fim que Enyalios. Não tenha dúvida. Não trate de forma tão leviana a situação. Você não está em posição para ganhar mais um inimigo nessa batalha.

— Por acaso está ameaçando o senhor Ares? — perguntou Kydoimos, se materializando ao lado de Dionísio e encostando a espada no pescoço do deus. — Exijo que o respeite.

Dionísio expandiu seu cosmo e lançou Kydoimos violentamente contra um pilar.

— Faça isso mais uma vez... — o poder psíquico de Dionisio estava apertando a garganta de Kydoimos. Era uma força tão poderosa que o elmo de do Espírito da Guerra explodiu e o peito e ombreira de sua onyx trincaram. — E será desintegrado.

Dionísio o soltou e Kydoimos desabou no chão.

— Kydoimos! Não tome nenhuma atitude sem a minha permissão.

— Sim, senhor. — disse o Espírito da Guerra, se levantando.

— Eu prometi que veria Enyalios cair pelas mãos de um humano. — Continuou Dionísio. — Então quando eu soube que o Cavaleiro de Leão estava enfrentando Enyalios, eu aproveitei o momento para fazer cumprir a minha promessa. Não pense que eu tentei ajudar o cavaleiro. O desgaste pela quantidade de cosmo acabou gerando danos em seu corpo fraco e eu o abandonei para morrer.

— Mas ele não morreu. — disse Kydoimos. Dionísio olhou para ele com desprezo por cima do ombro. — Segundo as Moiras, o fio da vida dele não se rompeu. Parece que ele foi salvo por um dos cavaleiros rebeldes.

— Isso já não é problema meu. — disse Dionísio. Movam os berserkers se quiserem matá-lo.

— Eu disse que Dionísio não havia nos traído. — disse Afrodite, entrando no salão. Sua voz encantadora era capaz de acalmar até mesmo o coração perverso de Ares. — Tudo não passou de um péssimo desentendimento.

— Que não vai se repetir. Não é mesmo, Dionísio? — questionou o deus da guerra.

— Tudo vai depender do comportamento dos seus subordinados. — disse Dionísio, se levantando do trono de cipós e saindo do salão. — Eu vou me retirar porque amanhã teremos um dia bastante agitado. Aconselho a fazer o mesmo.

Dionísio passou pela porta e elas se fecharam com um estrondo.

—...—


Campo de grama próximo à cidade de Laon – França

— Seiya! Logo a frente existe um pequeno campo aberto rodeado pela floresta. Poderemos descansar lá. — disse Eros, que corria junto com o grupo. — Temos que fazer uma pausa.

— Está bem! — gritou Seiya, concordando.

Eles continuaram correndo pela floresta até chegarem à área que Eros tinha comentado. Era um pequeno campo circular escondido no meio da floresta.

— Vamos parar aqui? — perguntou Nachi. — É seguro?

— É sim. — respondeu Alkes. — Vamos evitar as cidades para não colocar os civis em risco caso algum berserker nos encontre. Temos que descansar. Poderemos chegar pela manhã na Alemanha. Estamos bem perto da fronteira.

— Sua casa não fica muito longe daqui, não é? — disse Henry cochichando ao lado de Eros. — Por isso optou por esse lugar.

— Não consigo parar de pensar nos meus filhos depois da ameaça de Phobos. — disse Eros, para Henry. — Venho pedindo para que “ela” os observe.

Henry balançou a cabeça e deu duas tapinhas nas costas de Eros.

— Não sei vocês, mas eu estou com fome. — disse Henry, para grupo. — Não acredito que vocês vão se deitar no campo feito vacas e dormir até o sol nascer. Já que não vamos para a cidade, teremos que fazer a nossa comida. — Henry se virou e andou de volta para a floresta. — Eu vou caçar alguma coisa. Então mecham suas bundas magras e comecem a fazer a fogueira. Peguem palha seca e mexam os pauzinhos na velocidade da luz. Não importa. Apenas acendam uma fogueira.

— Eu vou pegar água. — disse Jake. — Não posso ficar sem fazer nada.

— Eu vou com você, Jake. — disse Kastor. — Eu pego a lenha.

O grupo se dividiu em tarefas, mas nem todos estavam tão empolgados assim. Shina e Plancius continuavam cabisbaixos e pouco falavam. Eros foi conversar com Shina, pois foi ela quem o ajudou quando ele mais precisou após a morte do irmão. Seiya, preocupado com Plancius, foi até o jovem cavaleiro de bronze. Plancius estava sentado de baixo de uma arvore e parecia chorar. Ao ver Seiya se aproximando ele enxugou os olhos apressadamente.

— Tá sendo difícil pra você, não é? Eu sei. — disse Seiya sentando-se ao lado de Plancius. — Nesses momentos temos vontade de amaldiçoar a estrela que guia o nosso destino, mas temos que ser fortes. Seu mestre deve ter mencionado a você sobre haver perdas na guerra. Que haveria momentos em que pararíamos para chorar, mas que depois devemos nos levantar e seguir em frente lutando.

— Isso não para, não é? — perguntou Plancius, falando baixo. — Cada vez que uma guerra começar, haverá mortes e nós, os vivos, ficaremos para lamentar por eles.

— Sim. Não para. — Seiya colocou a mão na cabeça de Plancius. — Ou talvez você possa parar. Não lutamos porque somos rebeldes aos deuses. Lutamos porque não queremos ser escravos deles. Quando nos tornamos cavaleiros, nós viramos os representantes da humanidade juntos com Atena e os deuses jogam sobre nós toda a maldade que eles querem lançar contra os humanos. Por isso a nossa dor é maior que a dos outros e é por isso que devemos estar cientes de que quando um ferimento fechar, outro ira se formar. Até que a gente vença. Lutamos para que outras pessoas não sofram o mesmo que nós. Infelizmente são os mortos que acabam nos impulsionando para avançar. Transforme a morte dos seus pais em combustível para seguir em frente. Por eles e pelos outros sete bilhões de pessoas que vivem na Terra.

— Obrigado! — Plancius se virou e abraçou Seiya, o homem que ele sempre admirou como cavaleiro. — Um dia serei tão honrado quanto o senhor. Eu prometo.

— Eu sei que vai.

— Okay! Okay! Já que vamos acampar temos que ter churrasco e foi por isso que eu cacei esse bichinho aqui pra vocês comerem. — Henry saiu da floresta trazendo um cervo adulto nas costas e esboçando um sorriso largo como se estivesse orgulhoso pela caça. 

— Quanta empolgação por causa de uma caça. — disse Eros, sorrindo.

Em poucos minutos tudo estava pronto e eles estavam reunidos ao redor da fogueira.

— Não vai comer, Seiya? — perguntou Shun, que estava sentado ao seu lado.

Seiya estava olhando para a fogueira, perdido em seus pensamentos. Ele “despertou” quando Shun o chamou.

— Vou sim. É que... Deveríamos mesmo estar aqui sentados? Não deveríamos estar indo para a Alemanha tentar abrir as portas do Tártaro? Temos que salvar Atena e...

— Paciência Seiya. — disse Alkes.

— Acho que devemos contar, Alkes. — disse Eros. — Eles precisam saber. Estamos quase na Alemanha.

Seiya levantou a cabeça e olhou para Alkes e Eros.

— Contar o que? — perguntou ele.

— Sobre a segunda lua e sobre Thanatos. — disse Eros. — Comece Alkes. Explique sobre a segunda lua.

Alkes respirou fundo e relaxou o ombro.

— Ok. Vamos lá. Você lembra Seiya, que o Mestre Asclépio nos alertou que não deveríamos mudar o futuro previsto por Delfos?

— Sim! Claro que lembro. A visão de Delfos sobre o futuro terminava com Ares subindo ao Trono e governando no Santuário e a Terra.

— Exato. — disse Alkes. — E isso vai acontecer amanhã, na segunda lua. Você está preocupado por estarmos aqui sentados porque acha que estamos atrasados, mas não estamos. Eu sei que já se passaram mais de 15 dias desde quando partimos do Santuário, mas estamos dentro do tempo estimulado. Quando Delfos falou com Henry através do Sekishiki, ele pediu para que nós nos apressássemos, mas não porque deveríamos abrir o portão do Tártaro antes da ascensão de Ares. Pediu para que nos apressássemos para que chegássemos à Alemanha durante a ascensão. Foi por esse motivo que Delfos e o meu Mestre Asclépio pediram que nos locomovêssemos de forma mais “comum” e que nos escondêssemos durante o percurso já que passaríamos dias para chegar à Alemanha e durante esse tempo poderíamos ser encurralados.

— Então o Grande Mestre realmente manipulou toda essa guerra santa? — perguntou Kastor. — Ele não mudou os acontecimentos do futuro que tinha previsto, mas os manipulou? É isso?

— Isso mesmo. — disse Eros. — Mudar o futuro é algo muito delicado. Coisas piores podem acontecer.

— Mas eu não entendo uma coisa. — disse Seiya. — Qual a importância dessa segunda lua?

— Após a primeira guerra santa contra Ares, Atena notou o tamanho do estrago causado pela guerra e ela temeu que com o passar dos séculos o exército de Ares fosse ficando mais poderoso, então ela procurou a deusa Hécate, a deusa da magia. Também conhecida como a bruxa da lua. Atena fez um pacto com Hécate lançando um feitiço poderoso em Ares e em todo seu exército. O feitiço foi dividido em dois selos, que seriam as duas luas de sangue, e eles teriam o poder de restringir o poder de Ares e de todos os deuses e berserkers que compõem seu exército. Isso daria a Atena, e seus cavaleiros, tempo e oportunidade para derrotar Ares nas futuras guerras santas entre eles toda vez que Ares despertasse. O primeiro selo ao se romper libera a restrição no poder dos deuses. O segundo selo, e o mais poderoso, libera a restrição imposta em Ares e em todos os seus berserkers. — explicou Alkes. — Por isso meu Mestre explicou a respeito da esclera dos olhos dos berserkers ficarem completamente negras quando eles estão com poder completo e pediu para que matássemos o máximo possível antes da segunda lua.

— Então amanhã os berserkers vão estar mais poderosos do que já são?! Isso é algo preocupante. — disse Jake.

— De fato é. — concordou Eros. — Depois de salvarmos Atena teremos que enfrentá-los.

— Ou até mesmo antes. — disse Jake. — Antes de eu sair do Santuário, aquela Saintia de Pavão havia sido morta e ela tinha revelado sobre vocês estarem indo para a Alemanha convencer Thanatos a ajuda-los. Imediatamente o atual Grande Mestre ordenou que um grupo de berserkers fossem para o local onde Thanatos está selado e estão esperando por vocês.

— Sabemos disso. — disse Henry, sério. — Conte Eros.

— Quando Delfos foi até a minha Mansão me convencer a vestir a armadura de ouro, ele me explicou todo o plano e eu resolvi ajudá-lo. A primeira coisa que fizemos foi ir até o Castelo da Família Heinstein, que foi restaurado depois dos danos causados na guerra contra Hades, e pegamos a caixa que prendia os deuses gêmeos que estava guardada no Mausoléu. Atena havia erguido uma barreira em volta do Mausoléu proibindo a aproximação de qualquer um, mas Delfos tinha o sangue de Atena em suas veias então ele conseguiu entrar e pegar a caixa e depois levamos ela para um outro local mais seguro. — explicou Eros. — Os berserkers enviados para o Castelo Heinstein não vão poder se aproximar do Mausoléu porque a barreira continua erguida. Eles vão ficar lá esperando por nós enquanto convencemos Thanatos em outro lugar.

— E onde está a caixa agora? — perguntou Seiya. — Para onde levaram?

— Gliptoteca. — respondeu Eros. — É um museu quem fica em Munique, encomendado pelo Príncipe Luis I em 1830. Ele queria que fosse a “Atenas Alemã”. E é para lá que nós vamos.

Enquanto Eros explicava sobre ele e Delfos terem guardado a caixa em segurança no Museu, Henry escutou sussurros e parecia que apenas ele estava escutando. Ao notar de onde vinha o sussurro ele se levantou e cruzou o círculo, deixando todos assustados, indo em direção a Jake e puxou um colar que Jake carregava no pescoço.

— Você arrebentou o meu colar! — gritou Jake, se levantando. — Me devolve Henry! Agora!

— Henry? O que está fazendo? — perguntou Eros, se levantando.

Henry sorriu e fechou a mão guardando o colar.

— Esse colar é importante para você não é, Leão? — Henry se moveu com velocidade e parou entre as arvores da floresta. — Você quer?

— Henry, já chega! Essa brincadeira não tem graça! Devolve-me o colar! — gritou Jake.

— Você quer? Então vem pegar! — Henry sorriu e entrou na floresta levando o colar.

Jake se levantou irado e correu atrás de Henry penetrando na floresta.

— Mas o que foi que deu no Henry? — perguntou Shun.

— Deixe, Shun. — disse Eros. — Eles se resolvem.

...

Jake correu atrás de Henry até que o perdeu de vista. Ele não conseguia sentir nem mesmo o cosmo do Cavaleiro de Câncer, até que viu um brilho dourado e o seguiu. Ele chegou a uma área bem pequena coberta de grama entre as arvores. Havia um tronco antigo cortado e em cima de tronco estava o seu colar. Jake pegou e colocou no pescoço, mas não havia nenhum sinal de Henry, até que ele escutou o barulho de galho seco se partindo e então se virou. O dourado estava lá, encostado na arvore rindo dele.

— Você é barulhento demais, Leão. Quase não consegui escutar “ele”.

— Do que você está falando? — perguntou Jake, confuso.

— Aproveite. — Henry sorriu. — Vou deixar vocês a sós. Eu posso ouvir o choro de agonia da sua alma por causa dele. É assustador. Alguém tem que ficar feliz entre nós, mas isso custou muito de mim. Não desperdice.

Henry se virou e sumiu na floresta. Jake ia atrás dele, mas parou ao sentir uma presença próxima a ele. Ao se virar ele se deparou com um jovem alto e forte, pele clara e vestindo camisa cinza com as letras NY, uma calça jeans azul escuro e sapatos pretos. Jake não acreditou no que via. Eram os mesmos olhos verdes, a boca avermelhada e o cabelo cortado como o de um soldado do exército americano. Diante de Jake estava aquele que um dia morreu em seus braços.

— Br- Brent?! Mas... como?

Brent sorriu.

— Eu não sei. Quando abri os olhos eu estava aqui parecendo vivo, mas um cara chamando Henry que disse ser seu amigo me explicou que era temporário e que ele havia me trazido de volta a vida e...

Jake o interrompeu com um abraço. Ele não queria saber como Brent estava ali. Apenas queria abraçá-lo mais uma vez. O jovem ficou surpreso com o abraço e sorriu abraçando Jake também.

— Ele disse que tínhamos uma hora no máximo até que meu corpo virasse pó. — disse Brent, sorrindo. — Você tem amigos estranhos.

— Cala a boca. — Jake estava chorando.

Lagrimas também escorreram dos olhos de Brent e ele envolveu Jake ainda mais em seus braços.

— Ah, Jake! No mundo dos mortos eu sempre sonhei com esse abraço. Você está mais forte e mais... Poderoso. — disse Brent, sorrindo. — Eu sabia que aquele brilho dourado nos seus olhos não era loucura da minha imaginação.

Jake sorriu

— O som da sua risada é a minha música predileta. — disse o dourado e descansou a cabeça no ombro de Brent.

Eles conversaram durante mais ou menos uma hora. Nesse curto tempo eles riram, choraram, mas não deixaram de estar juntos aproveitando cada segundo. Jake não entendia por que Henry se importou em trazer Brent temporariamente até ele, mas estava eternamente agradecido.

Depois de tantos anos de angústia e sofrimento após a morte de Brent, Jake não havia sido tão feliz quanto naquele momento. Jake conversou sobre como se tornou um cavaleiro, sobre Apís ser seu amigo no Santuário, sobre Seiya e os outros cavaleiros, sobre as crianças que ele protegeu no vilarejo e sobre a guerra que estavam enfrentando contra Ares. Os dois não queriam que aquele momento tivesse um fim. Queriam que as horas se multiplicassem em dias se fosse possível.

— É tão difícil para mim... — disse Jake, sendo tocado por um arrependimento antigo. — As vezes minha consciência grita e se desespera, mas do lado de fora eu faço o possível para me manter erguido, mas confesso que ultimamente tem sido inevitável conter as lagrimas diante de tantas mortes. Tenho medo de que outras pessoas que eu ame acabem morrendo também. — as lagrimas corriam livres agora. Jake estava tendo aquilo que muitas pessoas sonham. Uma segunda chance. — Eu... Eu sinto muito por você ter morrido por minha causa. Foi minha culpa. Eu não te defendi quando deveria... fiz com que você perdesse sua vida...

— Não, Jake! Não! Não pense assim. Nunca! — Brent colocou a mão no rosto de Jake. — Eu defendi você porque amo você e faria a mesma coisa de novo. Quando a gente se importa com alguém fazemos de tudo para proteger. Não é isso o que você está fazendo com a humanidade agora? Eu defendi você arriscando a minha vida. Você defende a Terra arriscando a sua. E isso inclui em dar a vida se for necessário. Eu já passei por momentos em que me senti vazio a ponto de falar e ouvir ecos em mim mesmo. Mas todas as vezes que eu me sentava com você na escola ou íamos à cafeteria juntos, eu vivia momentos em que me sentia tão completo que respirar me faria transbordar. Escute... Eu quero que você continue a proteger os seus amigos e todas as pessoas que você amar. Principalmente seus companheiros de batalha e as pessoas indefesas. Cuide deles! Não pode ignorar as pessoas só porque continua preso nesse arrependimento que você sente.

Brent voltou a abraçar Jake ainda mais apertado, mas um olhando nos olhos do outro.

— Amo você, Jake! — disse ele suavemente, com singelo sorriso. — Mas sinto que chegou a minha hora de ir. Sinto como se tivesse correntes frias se prendendo em meu tornozelo.

— Mas já? — perguntou Jake, desesperado. — Brent... por favor! Não!

— Desculpa, mas tenho que ir. — Brent beijou a testa de Jake. — O seu amigo nos deu uma oportunidade para romper essa corrente de angústia que nos prendia. Agora o que nos prende é apenas amor. Nada mais!

— Brent...

Brent olhou nos olhos de Jake e viu novamente o brilho dourado.

— Eu amo você, meu Cavaleiro de Leão. Você é a minha alegria e minha razão de ter vivido intensamente. Sempre amarei você e levarei isso ao meu sono eterno. Por favor, não se esqueça disso.

— Não! — gritou Jake, e percebeu que já não conseguia mais tocá-lo. Era como se Brent estivesse se transformando em fumaça. 

O vento soprou forte e a imagem de Brent se desfez. Ele se foi. Jake caiu de joelhos chorando com as mãos na cabeça. Seus lamentos eram transmitidos pelo seu cosmo como rugidos, mas ao lembrar-se do pedido de Brent, em proteger Seiya e os outros, ele enxugou as lagrimas e se levantou. Ele caminhou de volta ao grupo e ao sair da floresta avistou todos reunidos em volta da fogueira. Era com eles que Jake iria conviver e era eles quem ele deveria proteger. Henry foi o primeiro a notá-lo, mas não comentou sobre o que havia efeito na floresta. Seria um segredo deles.

Jake esboçou um curto sorriso e agradeceu em silêncio enquanto se aproximava do grupo. De repente as chamas da fogueira subiram assustando a todos, achando eles que seria um ataque de algum berserker. As labaredas subiram como uma coluna de fogo e entre as chamas surgiu o rosto de uma mulher e ela parecia nervosa. Jake a reconheceu de imediato.

— Hestia?! — Jake ficou assustado. — Aconteceu alguma coisa com os meninos? Eles estão bem?

— Não, meu doce Jake. Está tudo bem com eles. — respondeu Hestia.

— Hestia? A deusa olimpiana do lar? — perguntou Alkes.

Todos pareciam surpresos.

— Hestia, o que houve? — perguntou Eros.

— Um dos berserkers de Ares foi enviado contra a sua família, Eros. — disse a deusa, parecendo aflita. — Ele foi enviado por Phobos para matar seus filhos.

— O que?! — O corpo de Eros foi tomado por um calafrio e seus olhos se arregalaram. — Eu não vou permitir isso!

— Eros, calma! — disse Shina.

Eros elevou o cosmo e vestiu a armadura, materializando-a através do seu cosmo, e correu em direção a sua casa, no centro de Paris. A poucos quilômetros dali.

— Eros! — gritou Shina.

— Ele não vai voltar. — disse Henry, sério. — Ele vai defender a família dele. Depois de Phobos ter matado os pais de Plancius e ter ameaçado os filhos de Eros, ele ficou inquieto. Preocupado com o bem-estar dos filhos. Ele não tinha abandonado o sonho de ser um cavaleiro mesmo depois de ter sido banido do Santuário, mas depois que ele se casou e seus filhos nasceram, ele decidiu abandonar o sonho e se dedicar a família. Mas aí Delfos foi até ele e o convenceu de participar da guerra. Os filhos de Eros o apoiaram. Viam o pai como herói. — Henry olhou para Seiya. — Jake havia contado a mim e a Eros sobre a deusa Hestia que estava no vilarejo de rodorio. Hestia é a deusa das chamas e do lar, então Eros pediu a mim para usar as minhas chamas para falar com Hestia. Era por isso que eu e ele nos afastávamos de vocês. Não podíamos pedir para que parassem sempre. Hestia prometeu vigiar a família de Eros e alertá-lo sobre qualquer mal que se aproximassem deles.

— Mas estamos no meio da guerra. — disse Jabu. — Ele não pode abandonar o campo e...

Henry se virou e aplicou um soco no rosto de Jabu, lançando-o ao chão.

— Não venha falar uma merda dessa do meu lado. Falando assim nem parece que é um cavaleiro a tanto tempo. Agora sei por que Eros quis te matar há quinze anos atrás. Não passa de um inútil arrogante e egoísta.

— Calma Henry. — disse Shun. — Não podemos ir atrás de Eros. Temos que seguir em frente.

— Eu sei. Vão na frente. Eu vou ajudá-lo. — Henry elevou o cosmo e vestiu a armadura de ouro. — Não vou abandoná-lo. Vocês podem seguir em frente.

— Eu também vou com você. — disse Shun.

 Shun?! Você também? — questionou Alkes.

— Henry e eu vamos ajudar Eros e depois nos encontramos com vocês. Ainda temos algumas horas até o nascer do Sol.

— Está bem, Shun. — disse Seiya. — Vá e ajudem Eros a salvar a família dele. Eu e o outros vamos esperar por vocês na fronteira até o pôr do sol.

— Obrigado, Seiya. — disse Henry. — Andrômeda, vamos!

Shun e Henry correram seguindo o rastro do cosmo de Eros.

—...—


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Notas finais do capítulo

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Próximo capítulo: Após Eros receber a noticia de que Moloch, o deus demônio dos sacrifícios, foi enviado por Fobos para matar os seus filhos, ele não pensou duas vezes e correu para protege-los, mas talvez tenha chegado tarde demais. A dura batalha entre Moloch e Eros se inicia e o cavaleiro de peixes está decidido ir ate o inferno se for necessário para salvar a sua família.

Capitulo 35: O jardim do diabo e as lagrimas de sangue.


Uffa!! Capitulo postado o/ demorou quase um mês esse kkkkk É um capítulo bem extenso, mas rico em muitos detalhes. E ainda teve a confusão de partes que eu havia esquecido de inserir na história, como a explicação sobre a segunda lua. Bem, teve uma parte desse capitulo que quando eu tava criando acabei imaginando qual seria o tipo de reação dos meus leitores. Não sei quais são os conceitos de quem lê a minha fic, mas espero ter deixado bem claro que aqui não tem lugar para preconceitos. Os meus personagens eu tento deixar eles mais humanos possível, principalmente em relação as suas emoções e problemas pessoais.

Jake é um personagem original meu com a meta de romper a barreira do preconceito e mostrar a dor que algumas pessoas sofrem, seja na dificuldade de assumirem o que sentem, que é o caso de Jake, ou como uma vitima fatal, como foi o caso de Brent. Jake foi criado pra provar que não existe diferença entre as pessoas independe da orientação sexual que se tenha. Logo na primeira vez que eu apresentei Jake lutando contra Seiya e depois contra Enyalios, eu recebei mensagens de alguns leitores dizendo serem fãs de Jake e sobre o quanto achavam ele "foda". Eu torço para que essa visão a respeito do personagem não tenha mudado na opiniões desses leitores e torço para que Jake ganhe novos admiradores.

E não é apenas esse tipo de preconceito que eu pretendo abordar na história. Não esqueça de deixar a sua opinião ;) sua critica é sempre bem vinda e é ela que incentiva a fic. Boa leitura

"Todos em um grito de NÃO ao preconceito..."
— Victor Kreutz



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