Gypsy escrita por Arabella


Capítulo 20
Bem Amor.




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– Bom, - Sam me interrompeu, me olhando – ficamos assim então: Você vai ter um descanso pro feriado, e quando voltar da Califórnia... - Meus olhos se encheram de lágrimas. Rapidamente pus a bandeja sobre a cama e virei o rosto pra que nenhum deles visse. Seria vergonhoso de mais, até para mim.

– ... a gente recomeça os trabalhos. Mas você já está quase bom, mais algumas sessões e já pode voltar pra empresa. Em um ou dois meses estará livre de mim.

– É a melhor notícia que já ouvi hoje.

– Obrigado – Sam fez careta divertido – Me leva até a porta, Rach?

– Vocês estão bastante íntimos, né? – Finn resmungou

– E por acaso é da sua conta?

– Não, mas...

– Vamos, Sam.

– Você volta? - Não respondi. Sam parecia achar graça da situação, quando abri a porta ele se encostou no portal e disse:

– O que há entre vocês dois?

– O que?

– Ah, vamos, Rachel, somos dois adultos. Até um cego e ignorante perceberia a tensão entre vocês. O que aconteceu?

– Eu... eu não sei.

– Sabe, Rachel, existe uma regra básica nas faculdades de não se envolver com os pacientes e pessoas do trabalho, não é?

– Eu sei, mas...

– Tanto faz! – ele deu de ombros – Eu tambem a ignorei – me deu um beijo no rosto – Até amanha. - Ele saiu e eu fiquei lá, parada na porta, o vendo entrar no elevador como boba. Era a primeira vez que ele me dava um beijo no rosto, tudo bem, era a primeira vez que ele manifestava alguma intimidade assim comigo, ele era sempre muito discreto, reservado, na dele. Sempre muito ético.

Isso tá estranho. E muito, muito interessante.

Voltei pro quarto, louca pra me livrar logo do Finn e ir tomar meu banho e descansar. Pegava no serviço amanha só depois das três da tarde e estava louca por uma boa noite de sono.

– Já acabou?

– Calma, você não era tão apressada assim.

– Na verdade, eu sempre fui.

– Nem mal amada assim. –falou baixo

– O QUE?

– Nada. Esquece. – deu de ombros – O que aconteceu, Rach? Por que sumiu todos esses dias?

– Porque eu estou ocupada.

– Mas você sempre esteve ocupada e sempre vinha aqui dar uma visitinha.- Senti carência nessa frase ou estou imaginando coisas?

– Não achei que precisasse de mim.

– Mas eu preciso. - Nós nos olhamos, em silencio, eu não sabia o que dizer depois disso.

– Por que não senta aqui? Você costumava gostar dessa cama.

– Eu... eu to realmente cansada, Finn, trabalhei na emergência nos últimos dias e...

– Ei! Você não tinha cerimônia pra dormir aqui antes. - Suspirei.

– Eu não vou te atacar. –me olhou. Resignada me sentei na cama dele, com os braços cruzados nada a vontade.

– Está tudo bem?

– Por que não estaria?

– Não sei... Você não me parece muito feliz.

– Você não me conhece!

– Na verdade, Rach... –ele deu um sorrisinho de canto – Eu conheço sim. Ele largou o prato e se aproximou. Eu deveria me afastar, mas quando nossos olhos se encontraram eu simplesmente não consegui me mexer. A mão dele tocou meu rosto, tentei fingir que não me arrepiei nem senti aquelas malditas sensações que sempre aparecem quando ele me tocava.

– Não quer me contar?

– Do que adianta?

– Dizem que desabafar faz bem.

– Só coma. – apontei o prato. Ele deu de ombros, também resignado. Ficamos alguns minutos em silêncio.

– E então? – disse descontraído – Animada pro feriado? - Bufei tão alto e com tanta raiva que até eu procurei saber de onde saiu o som.

– O que eu fiz de errado agora?

– Não foi você! –disse sentindo as lágrimas virem – Eu... desculpa. – suspirei sentindo escorrer em meu rosto.

– Mas o que...?

– Desculpa! – disse, percebendo que começava a ficar histérica. Finn novamente largou o prato e voltou a se aproximar. Aceitei seu abraço, deitando a cabeça em seu peito e ensopando a sua camisa. Confesso que tive dó dele, homens raramente sabem o que fazer quando estamos chorando e, é claro, ele não era diferente.

– Vai ficar tudo bem, Rach.

– Finn –eu dei um risinho – jamais diga que vai ficar tudo bem para uma mulher que quer que fique tudo bem. - Ele acompanhou a risada, também nervoso. - Molhei sua camisa toda – me afastei

– É o que menos importa. O que foi? É por causa do seu pai?

– É e não é.

– Não entendi.

– Eu... – suspirei

– Sabe que pode confiar em mim, não sabe? –fez carinho em meu rosto – Que vou estar sempre aqui.

– Acho que não tenho mais opção.... –fechei os olhos, aquele carinho era tão bom. – Vou trabalhar no feriado – confessei – Depois de três plantões na semana eu ainda vou pegar um feriado na emergência. Vai ser a primeira vez desde que tudo aconteceu que não vou passar o quatro de julho com minha mãe. E não sei como dizer isto a ela.

– Por que não disse ao seu supervisor?

– E arriscar perder minha residência meses antes de terminá-la? Não sou maluca.

– Mas, Rach, é um feriado importantíssimo para você. Dr. Blaine certamente entenderia.

– Você não entende como funciona as coisas, Finn. Existem centenas de estudantes querendo que eu vacile para tomar meu lugar no hospital. É o melhor de Nova York, Finn!

– E por isso tem que aceitar tudo?

– Se eu quero ter um diploma, sim, eu tenho.

– Não é justo – falou baixo – O que fez de errado para lhe punir assim?

– Não fiz nada errado, vida de médico é assim. O que acontece era que antes você precisava de mim. – abri os olhos.Foi um erro. Ele me olhava intensamente.

– Eu ainda preciso – sussurrou

– Finn, não – virei o rosto quando ele se aproximou de mais.

– Vou dar um jeito de te salvar – falou sem se afastar.

– A não ser que me sequestre, não vejo como! –bufei

– É claro! Por que não pensei nisso antes?

– Não! Eu não quero ser sequestrada!

– Não seja boba, Rach – ele riu baixo – Vou passar o feriado na Califórnia.

– Você não parece ser dos que se prendem a tradição.

– E tem razao. Pra ser bem sincero eu odeio. Nos outros anos eu sempre tinha uma desculpa, arrumava uma viagem de última hora pra outro país, ou uma reunião importante de mais para ser remarcada. Mas esse ano, por motivos óbvios, não tenho escolha a não ser ir.

– Desculpe. - Ele deu de ombros.

– Estou mesmo com saudade do meu afilhado e da minha irmã.

– Mas não... não te entendo.

– Vou ligar para Dr. Blaine e pedir que te libere para ir comigo.

– Ele nunca fará isso.

– Por que não? Sou seu paciente ainda.

– Finn, muito obrigada, mas não. Ele sabe que você já está bem, quase curado, não há porque me liberar para viajar contigo. E Sam vai confirmar.

– Pois engula essa dona sabe tudo – apertou meu nariz – foi o doutor Sam que sugeriu que eu viajasse com um responsável.

– O que? Ele me indicou?

– Não exatamente. Ele disse que eu deveria levar Santana para algum caso de emergência.

– Ah! E você ia leva-la. – concluí baixo

– Não! Santana tem a vida dela. Dei folga pra ela hoje e só vou ve-la na semana que vem. Isso se eu sobreviver ao feriado com meu pai, é claro.

– Ah, ta, mas não quero atrapalhar sua companhia e tudo mais...

– Mas do que é que você está falando? –ele disse exasperado –Iria viajar sozinho. Se eu levar mulher lá em casa seria um inferno!

– Finn, toda hora que se explica você me confunde mais.

– Estou nervoso. Ok? Porque será a primeira vez na minha vida que levarei uma mulher para Califórnia e porque essa mulher será você. - Arregalei os olhos com a confissão.

– Olha, vou ligar pra Blaine, pedir que te libere. Assim viajamos juntos. Quando chegar na Califórnia você vai pra casa da sua mae e passa o feriado com ela. E voltamos juntos, ninguém precisa saber da farsa. Para todo efeito, estava comigo.

– Ah! – olhei para minhas mãos – Parece uma boa ideia.

– Mas...

– Mas... – olhei para ele, esperançosa.

– Se você quiser pode realmente passar o feriado comigo. Quer dizer, pode almoçar com sua mae, mas... - Eu o beijei, o interrompendo. Ficava tao fofo daquele jeito desconsertado. Logo ele, todo seguro de si. Era um beijo de agradecimento, mas, no segundo seguinte, nossas mãos desesperadas tiraram uma a blusa do outro. Tornou-se um beijo cheio de saudade, desejo e, por que não paixão? Ele colocou a bandeja com o prato no chão e voltou a me beijar, me deitando na cama.

– Não vai te machucar? – consegui perguntar

– Eu não me importo. Senti tanta saudade sua. – mordeu meu pescoço – Você não estava cansada?

– Eu não me importo – arranhei suas costas – Tambem senti saudades suas – confessei.

E depois disso não houve mais conversas.

– Rachel, é uma emergência, venha para cá – era a voz de Finn no meu ouvido, do outro do lado da linha – Agora. - Parecia ser sério.

– O-ok – consegui gaguejar – Não saia de onde está.

– Rachel, o que aconteceu? Você está branca, branca demais eu quero dizer – perguntou Blaine me segurando pelos ombros na hora em que eu passava como uma bala de canhão pelo corredor. - Ia saindo sem nem avisar a ele. Que irresponsabilidade. Deus, eu devia estar desesperada.

– Finn me ligou, disse que é uma emergência – disse em uma voz meio trêmula, muito esquisita.

– Então é melhor você correr – ele disse ao sair do meu caminho. E eu corri mesmo. Deus, eu devia mesmo estar desesperada, não me despedi nem nada. E quando eu olhei para trás procurando Blaine pelo corredor, o encontrei no mesmo lugar em que o deixei, ele estava bem risonho. Achei um tanto insensível da parte dele.

Os minutos que eu levei para chegar em casa, ou melhor, na casa de Finn, foram minutos de agonia. Até peguei um taxi, porque agüentar as paradas do metro ia ser demais para os meus nervos. Não conseguia parar de me perguntar o que será que tinha acontecido. Tinha uma forte desconfiança de que a culpa era minha. Eu sabia que a gente não deveria ter transado! Fora toda aquela questão de ética que eu nem vou entrar no mérito (por hora), o esforço que Finn fez ontem não era nada recomendado.

Em minha defesa posso dizer que eu tentei parar. No primeiro minuto. Depois disso ficou realmente difícil ter alguma reação contrária, sabe como é, a boca dele na minha... suas mãos correndo por todo meu corpo... especialmente quando ele a colocou n... Bom, acho que essa não é a hora mais apropriada para eu ficar sentindo calores e arrepios. Algo está acontecendo por lá, algo urgente. Não há tempo para esperar elevadores, eles levam tempo demais para chegar quando se precisa deles. Está tudo previsto nas Leis de Murphy.

Subi infinitos lances de escada a toda velocidade, minha mão tremia na hora de destrancar a porta. Fui direto para o quarto dele, meus pulmões queriam explodir dentro do meu peito, mas parei de sentir tudo isso quando olhei em volta do quarto e vi que não tinha ninguém. Ondas de pânico, tsumanis de terror.

– Finn! Você está aqui?! Finn, me responde!!

–Aqui! – ele gritou, o grito vinha do banheiro.

Em condições normais, eu nunca, nunca faria isso. Mas tentem me entender... Eu depreendi que esse era um caso de vida ou morte. Quando entrei no banheiro, Finn estava com uma toalha presa em sua cintura e com outra secava seu cabelo. Estava de pé, em frente ao espelho numa pose bem casual.

– Vai querer se juntar a mim? – ele perguntou me lançando um sorrisinho.
Eu mal o escutei, pois assim que cheguei perto dele foquei toda a minha atenção em apalpá-lo.

– Você está bem? – perguntei ofegante, finalmente me permitindo respirar depois da maratona de escadas – Quebrou alguma coisa? Onde está doendo?

– Rachel, você está branca.

– Me diz o que foi que aconteceu, foi a gente ontem a noite, não foi? Eu sabia, eu sabia! Foi altamente inapropriado, não deve acontecer de novo.

– Rachel, eu estou bem – ele disse pegando minhas mãos no momento em que eu ia examinar sua clavícula.

– Não está não – rebati – você disse que era uma emergência.

– E é! Você tem que fazer suas malas, nosso voo sai daqui há três horas. Vamos para a Califórnia, Rach! Consegui convencer o Blaine, não vou dizer que foi fácil, mas...

– Que susto você me deu! – gritei interrompendo sua explicação entusiasta, e esse grito foi acompanhado por um mega tapa no braço.

– Ai! – ele exclamou se protegendo com o outro braço, o que não foi atingido pela minha fúria – Só queria te fazer uma surpresa! Pensei que você ia ficar feliz! E sobre ontem... bem, para ser sincero eu gostaria que acontecesse de novo. - Minha raiva se dissipou rapidamente. Coisa estranha de se acontecer.

– É sério? – perguntei meio incrédula – Quero dizer... Você não está dolorido nem machucado?

– Não, estou me sentindo muito bem na verdade. Só acordei um pouco mais cansado do que de costume.

– Você quer que eu faça sua mala? – me prontifiquei – Porque eu posso fazer, sei aonde ficam suas roupas e também sei mais ou menos como vai estar o clima e...

– Eu já fiz a mala, Rach – ele me interrompeu segurando meu braço – mas se você quiser terminar de secar meu cabelo eu iria agradecer. Nossa, eu estava nervosa e nem ao menos sabia por quê.

– T-tudo bem. – e aceitei a toalha que ele me oferecia – Você é muito alto para mim, vai ter que sentar. - Eu estava na ponta dos pés para conseguir esfregar a toalha na cabeça dele, e não era uma posição lá muito confortável. Então, ele se sentou na tampa fechada do vaso sanitário e me perguntou:

– Assim está bom? – eu assenti enquanto voltava ao meu serviço, porém ele me puxou pela cintura e me fez sentar em seu colo – Assim está melhor? – ele quis saber.

– Bem melhor. - Durante os minutos seguintes estive concentrada em secar os fios escuros do cabelo de Finn o que era uma tarefa bem agradável, na verdade. Isto é, tirando o fato que ele estava me olhando o tempo todo, bem de perto, levando em consideração que eu estava em cima das pernas dele. E não é que eu não gostasse, mas estava me deixando incomoda, principalmente quando meus olhos caiam sobre o dele e meu coração acelerava a uma velocidade descompassada e impossível de calcular.

Neste exato momento era isso que estava acontecendo, de novo. Meus olhos estavam presos aos dele e eu podia ver pintinhas verdes em sua íris, sentia sua mão acariciando levemente minhas costas e meu coração pertinho de explodir. Essas eram as ultimas conseqüências do nervosismo que eu vinha sentindo desde a hora em que recebi a ligação dele. E agora eu começava a entender o porquê delas. Sabe... quando o ouvi falar que era uma emergência e comecei a temer por sua saúde eu não pensei, em nenhum momento sobre minha residência, meu trabalho, meu futuro se algo de errado acontecesse nesse tratamento. Eu temi por ele, por sua saúde, por não poder mais tê-lo perto de mim.

Esquisito, não? E ali, olhando nos seus olhos começo a achar que... Isso é amor. Achar.

– Rach... – ele diz e coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha – Que tal um beijo?

Só precisei me inclinar alguns poucos centímetros para nossos lábios se tocarem e quando isso aconteceu os meus automaticamente se abriram para ser invadido por ele.

Aí eu tive certeza, aquilo era bem amor.


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