Gypsy escrita por Arabella


Capítulo 11
Um bom Nova Iorquino.




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Dormi, e devo dizer, dormi muito, mais do que estava acostumada. Mais do que gostaria, devo dizer, mas o cansaço falou mais alto do que muita coisa – até do fato que eu estava semi-nua na cama de Finn. Não que isso significasse muita coisa, é claro, especialmente porque ele já havia me visto sem absolutamente nada a algumas semanas. Então, num sono tranqüilo e sem sonhos consegui dormir e, mais do que isso, consegui descansar. Vejam só, descansar! E eu que achava que esse verbo não existia mais no meu vocabulário!

Porém, obviamente, alguém me acordou. E, juro, eu não sei o que me assustou mais: A Katy Perry tocando no meu celular ou minha perna estar em cima do quadril de Finn! Como é que isso foi acontecer afinal? Eu tirei a perna de cima dele o mais rápido possível – não rápido o bastante para que ele não visse e, zonza, atendi o telefone.

–Alô?

–Te acordei, Dra. Berry? Porque, se acordei, devo dizer que seu horário de trabalho não terminou e você deveria estar cuidando do seu paciente e não sonhando com as férias – disse Blaine do outro lado da linha. Se não disse, devo dizer agora. Blaine era muito bonzinho mas era exigente, tanto ou mais que a Sue. E, pior, conseguia xingar ou chamar a atenção das pessoas daquele jeito mansinho e educado, que, nem preciso dizer, te deixa muito mais envergonhado do que se tivesse gritado.

– Nada a me dizer, doutora?

– Se você ligar daqui a cinco minutos eu posso arranjar uma desculpa.

– Não me faça me arrepender de ter te resgatado da Dra. Sue! - Ele suspirou.

– É só uma brincadeirinha – acrescentei rápida e aflita. Não posso nem pensar em voltar a ser supervisionada por aquela megera!

– Como está o braço de seu... paciente?

– Acho que bem melhor, considerando o fato de que ele está deitado sobre o braço em questão.

– Por acaso vocês estavam na mesma cama?

– Hey! – falei rapidamente – Não é nada do que está pensando!

– Você não sabe o que eu estou pensando. - Mas posso imaginar e esse é o problema.

– Você já chegou a conclusão do porquê o braço dele teve complicações? Afinal, o que aconteceu?

– O braço dele teve uma luxação, mas, como disse, já voltou ao normal. A enfermeira ao invés de dar um analgésico assim que ele começou a sentir dores, deixou chegar aonde chegou.

– Que tipo de enfermeira é essa? Rachel, como você contrata uma enfermeira dessa? O caso dele não é brincadeira, é coisa séria.

– Mas... não fui eu.... eu nem sabia... quando eu cheguei.... ela já estava aqui – eu estava nervosa, eu sempre ficava nervosa quando me chamavam a atenção do que eu não tinha culpa.

– Não quero saber! Finn é seu paciente e sua responsabilidade. Está entendendo? – eu respirei fundo, me segurando pra não chorar – Traga-o amanhã cedo no hospital. Quero eu mesmo ver esse braço dele... – deu uma pausa – eu esperava mais profissionalismo de você, Berry.

– Eu...

– Até amanhã, doutora.

Eu desliguei o celular e respirei fundo, com os olhos fechados, contento as lágrimas. Eu não podia acreditar. Em menos de 48 horas consegui levar uma bronca daquelas sendo que eu nem tive culpa de nada. Eu estava acostumada a levar esse tipo de sermão da Sue, mas não esperava que pudesse levar um desse tipo de Blaine, nem que ele fosse tão merecido.

– Droga! - Exclamei em alto e bom som.

– O que foi? - Finn perguntou.

– Não. Dirige. A. Palavra. A. Minha. Pessoa – falei pausadamente contendo o impulso de enforcá-lo – A não ser que seja de vida ou morte.

– Mas, o quê...? - Eu levantei a mão brava, quase perdendo o controle.

– Eu acabei de levar uma bronca do meu supervisor. E sabe por quê? Porque você mimado e infantil como é, contratou uma enfermeira sem avisar a médica aqui. E, pior, uma enfermeira que nem sabe que se deve dar um analgésico quando o paciente sente dor!

– Mas...

– Olha só... eu vou deixar uma coisa muito clara aqui – apontei o dedo – Sou sua médica você gostando ou não, eu não caí no melhor hospital de Nova York de pára-quedas. Eu me esforcei para isso. Eu fiz por onde. Eu dei o melhor de mim. Eu deixei de sair, namorar e curtir diversas para tal. - Ele me deu indicios de que iria rebater aquele comentário, mas eu fui mais rápida, pelo bem da vida dele. - Não vou deixar que um paciente prepotente, idiota e crianção como você, nem uma enfermeiazinha como Santana, acabar com meu sonho. Então, a partir de agora, vou deixar de ser compreensível e educada e vou te explicar uma coisa: Eu sou a médica, Santana é a enfermeira e você o paciente. Entendeu a hierarquia? Você e Santana obdecem as minhas ordens. Você vai comer o que eu mandar, na hora que eu mandar, sem chiliques. E ai de você se usar a inexperiência da sua enfermeira para burlar o regime.

– Rach, espera aí...

– Agora eu vou para casa tomar um banho e comer algo. Mas não se preocupe, eu volto pra sua janta e para dar seus remédios. - Saí batendo a porta com muita raiva. Queria matar alguém. Eu não ligo que me xingue quando erro. Mas não me chame atenção por algo que sou inocente. Não cheguei até onde estou por acaso, não foi por sorte que ganhei um paciente antes de ter diploma – ta, talvez só um pouco de sorte -, e não vou perder tudo isso porque um empresário repugnante como Finn Hudson quer formar uma enfermeira as minhas custas.

O banho não me relaxou como queria. Eu ainda estava morrendo de raiva de Finn, eu ainda queria matá-lo. Eu nunca deveria ter o tratado à la California. Eu deveria ter tratado-o como todo nova-iorquino que se preze. E isso quer dizer, no sentido mais cruel da palavra, prepotente e indiferente... Se é que me entende.

Um bom nova-iorquino não liga pro vizinho do lado, porque mal sabe seu nome. Um bom nova-iorquino não acorda no meio da noite preocupado com o conhecido enfermo, simplesmente porque não se importa. Ele faz seu trabalho em seu horário de trabalho e, quando chega em casa, dorme com a televisão ligada e com uma lata de coca-cola na mão, foda-se se o cara da casa ao lado está sendo assassinado. E sabe por quê? Porque um bom nova-iorquino não tem tempo para pensar em nada além de sua vida, porque Nova York nunca dorme.

Mas, claro, eu sou idiota o bastante para me preocupar com um cara que não se preocupa nem com ele mesmo. Estourando de dor de cabeça, voltei a casa dele para preparar a janta.

– Rachel? – ele chamou – É você? - Continuei fazendo barulho, propositalmente é claro, com as panelas enquanto cozinhava e não respondi.Quando ficou pronto eu coloquei na bandeja e levei até ele.

– Vou ter que comer isso, né?

– Vai – dei ombros – Esse é o remédio que você deve tomar antes da janta – apontei a cartela – Esse, - apontei o vidrinho – é o complexo de vitaminas que deve tomar depois de comer. Caso sinta dor, esse é o analgésico que deve tomar – pus outra cartela sobre o criado mudo e dei as costas.

– Espera. Você não vai ficar aqui pra ver se como?

– Eu sou sua médica e não sua babá. A saúde é sua, faça dela o que quiser.

– E sua consciência?

– Minha consciência – sorri falsamente – Está tranqüila, porque minha parte já estou fazendo. Boa noite.

– Não acredito que você está fazendo isso!

– Isso o quê? Agindo como uma boa nova-iorquina? Ou agindo como você fez por merecer todos esses dias?

– Você não é nova-iorquina, Rach. Nem mal-educada. - Cruzei os braços o olhando.

– Ótimo, estamos de acordo em alguma coisa.

– Olha só, eu não achei que contratar uma enfermeira poderia te por em apuros. Desculpa. Se quiser eu posso até despedi-la.

– Pra quê? Para que sua namoradinha perca a chance da vida dela?

– Encare os fatos, Rachel. Você está com ciúmes. – ele sorriu com uma expressão safada. Ele era um cachorro mesmo.

– Encare os fatos, Finn, você não é tudo isso que acha que é. Eu gosto de homens e não de bebês chorões – dei as costas, tentando sair daquela situação o menos humilhada possível. – E a propósito, amanhã você tem uma consulta com Blaine de manhã.


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Notas finais do capítulo

Gente... juro que daqui a pouco eu crio o clima! kkkkk já já eles ficam fofos
Comentem, beijossss