Quase hora do almoço, ela acordou e olhou para o lado, procurando o irmão, mas não o achou.
     “Ele nunca levanta antes de mim... O que aconteceu?” Ela pensava enquanto procurava um jeito de tirar o edredom. Descendo as escadas, ela olhou o irmão sentado à mesa de café da manhã quase desfeita e continuou até parar na frente do irmão, que tentava se esconder atrás do mangá que lia enquanto tomava seu chocolate. Mesmo tentando esconder, podia-se perceber que uma parte do rosto dele estava corado.
     _Tá assim por causa da Yuki-chan? _Megu falou, liberando seu lado maligno de irmã mais velha.
     _O que você quer? _ele baixou o rosto e enfiou-o ainda mais no mangá.
     _Se soubesse que você ia ficar assim, nem tinha perguntado nada. _ela beijou a bochecha dele, que apenas passou a mão sobre o rosto que havia esquentado com o beijo da irmã. Ela pegou um copo com leite e caminhou até a varanda.
     _Você acordam muito tarde, Megu-chan. Desse jeito, não aproveitam nem um pouquinho o sol da manhã.
     _É que não dormi muito bem essa noite, vó. _e abraçou a avó.
     _Megu-chan! _Ritsu gritou da cozinha. _Cadê você?!
     _Aqui do lado de fora, Ritsu!
     Ele caminhou até a irmã, pôs a mão esquerda sobre o ombro da irmã e falou:
     _Temos uma missão.
     _Missão? Do que você ta falando?
     _Um dos garotos acabou de me ligar e nos deixou responsável por organizar uma festa surpresa de aniversário pro Hitaro.
     _Mas você sabe que o Hitaro odeia comemorar aniversário. Ele sempre falta aula, só pra ninguém dar parabéns, abraço ou coisas do tipo. _ela pos a mão sobre a testa. _Mesmo assim, o aniversário dele ainda está long...
     _Lembrou, né?
     _Sim, e isso já ta me irritando. _ela franziu a testa, zangada. _Eu sei que é algo sério, mas parece que sempre que falamos sobre o Hitaro uma nuvem negra para em cima de mim.
     _Talvez, ele não tenha comemorado o seu último aniversário...
     Megu bateu na cabeça do irmão e sorriu.
     _Para com isso... Ta parecendo comigo e isso não é legal. Você é o lado positivo da célula que se dividiu e formou nós dois.
     _Agora você ta parecendo comigo... _ele olhou-a de canto de olho.
     _É, não gosto de Biologia. _e fez uma expressão de nojo.
     _Querem ajuda? _o mordomo resolveu interromper a conversa.
     _Ajuda com o quê? _Ritsu virou-se assustado.
     _Com a festa. Não era sobre isso que estavam falando?
     _Era sim. _Megu respondeu. _Mas não sabemos ainda se vamos fazer ou não, porque o nosso amigo não gosta de comemorar o aniversário dele.
     _Por falar nisso, o aniversário dele é depois do nosso... Por que não comemoramos o aniversário juntos?
     _Você lembrou o dia do aniversário do Hitaro?! _ela olhou com uma expressão assustada para o irmão.
     _Claro que lembrei! É dia... _passando a mão sobre a cabeça. _Dia... ok, não sei.
     _Então, o que vamos fazer?
     _Depois que decidirem, podem me procurar. Tenho certeza que a senhora Nana não se importará em fazer uma festa aqui. Essa casa fica muito triste sem vocês. _e o mordomo afastou-se dos dois.
     _Ahá! Somos especiais! _Megu levantou os braços, alegre.
     _Cala a boca, fedelha... _e saiu puxando a irmã pra sala.
     Sentando no chão, os dois ficaram um de frente para o outro, tentando pensar em algo legal para fazer.
     _O que acha de alugarmos um salão de jogos? _Megu tentou dar a primeira idéia. _O Hitaro não gosta de jogos?
     _É, mas já posso até ver a cara dele dizendo “aff, vocês fazem questão de me dizer isso”.
     _O pior é que ele realmente vai falar isso. Quem vai ligar pros garotos pra poder desmarcar tudo, então?
     _Pode ligar? _Ritsu pegou o telefone e fez aquela típica expressão fofa de quem quer alguma coisa.
     _Me dá logo isso aqui! _ela pegou o telefone e discou o número enquanto subia as escadas.
Depois de esperar por alguns segundos, alguém atendeu:
_Alô?
     _É o Tomo-kun?
     _Não é ele não... Mas o número dele é...
     _Hitaro? _Megu o interrompeu.
     _Agora sim, você acertou. Quem ta falando?
     _Sou eu, a... _Megu já ia se identificar, mas lembrou da festa surpresa. _A Yuki! _ela falou, em um ato de desespero, fazendo com que Ritsu a olhasse assustado.
     _Yuki-chan? Por que ta me ligando?
     _Porque... porque... _parecia que nenhuma ideia mais queria surgir.
     Nessa hora, Ritsu que já estava sentado ao lado da irmã, pegou o telefone da mão dela e tentou enrolar.
     _Hitaro?
     _Ritsu? _ele falou assustado. _O que ta fazendo com a Yuki-chan?
     _É que... _parecia mal de irmão, nenhuma ideia surgiu também. _Eu chamei ela pra sair. _e pos a mão sobre o telefone. _Pra que número você ligou?!
     _Eu não sei... _ela sussurrou, desesperada. _Mas tenho certeza de que não foi pro número do Hitaro. _e tomou o telefone do irmão. _Tive uma ideia!
     _Ritsu, você ainda ta aí?
     _Aqui é a Yuki-chan de novo, Hitaro-kun. _Megu tentava disfarçar a voz.
     _Ainda não entendi porque vocês me ligaram... E a sua voz ta muito estranha também, mas parece com a de alguém que eu conheço... _ele parou um pouco para pensar, mas pareceu não lembrar.
     _Na verdade, eu liguei porque a gente queria marcar de sair pra algum lugar, nós três.
     _FICOU DOIDA, MEGU?! _Ritsu berrou ao lado da irmã.
     _O que foi isso, Yuki-chan?
     _Nada não, Hitaro-kun. Acho que derrubaram algum prato ali na cozinha. _Megu tentou forçar um sorrisinho meigo, o que não fazia nada o seu tipo.
     _Hum... Tudo bem. Que dia, então?
     _Que dia o quê?
     _Você acabou de me chamar pra sair. Eu to perguntando o dia.
     _Ah ta! _e sorriu novamente, mas agora, porque realmente achara a situação engraçada. _O que acha de amanhã?
     _Por mim, tudo bem.
     _Então, ta combinado. Até amanhã!
     _Espera! Eu ainda quero saber de quem era a voz... Mas acho que não vou lembrar.
     _Tchau, Hitaro! _e Ritsu tomou o telefone, desligando-o.
     _Você é doida! _e baixou o rosto. _Por que escolheu justo a Yuki-chan? Por que ela? Por que não escolheu a Ayu-chan?
     _Fica calmo, Ritsu! Eu também não sei o motivo de escolher esse nome. Saiu automaticamente, eu tava desesperada! Você sabe que eu não consigo esconder nada do Hitaro! _e baixou o rosto também.
     A cena na escada parecia filme de tragédia: suas franjas lisas e alaranjadas cobriam seus rostos e o sol que entrava pela janela de vidro dava todo um ar de tristeza ao lugar. Os dois estavam sentados no décimo degrau da escada e não tinham a menor ideia do que iriam fazer. Até que Megu levantou o rosto, sorridente:
     _Já sei! Ritsu, pega o meu celular e a sua agenda do ano passado!
     _O que você quer com a minha agenda do ano passado?
     _Pega logo a agenda! _ela encarou-o com um olhar fuzilante. _A ideia é minha e eu uso o que eu quiser!
     _Tá bom, ta bom... _e foi caminhando pro quarto. Quando voltou, trazia o celular e a agenda, um em cada mão, sentou-se ao lado da irmã e entregou-lhe os dois. _O que vai fazer com a minha agenda?
     _Você tem o número da Yuki-chan, não tem?
     _E-eu?! Ficou doida, mulher?! _ele falou assustado.
     _É claro que você tem. Todo garoto inteligente tem o número da garota de quem gosta.
     _Mãe de quem? _Ritsu fingiu-se de desentendido. Ele sempre falava isso quando não entendia alguma coisa.
     _Não tem o número dela na agenda? _ela folheava as páginas, revoltada.
     _Claro que tenho... _ele falou envergonhado. _Você só errou o lugar. _e tirou o celular do bolso.
     Após dizer o número, Megu ligou e passou as coordenadas para a garota, marcando o lugar do encontro. Após terminar, limpou a tela do celular, fechou-o e olhou para o irmão com um olhar de suspense.
     _Ai, ai... _ela suspirou.
     _E então, o que ela disse?
     _Ela vai. _e sorriu.
     _O QUÊ?! _ele berrou novamente. _Não acredito! Eu vou sair com a Yuki-chan!
     _Acho bom escolher logo uma roupa decente e se arrumar bem. _ela falou enquanto apertava as bochechas do irmão. _Agora deixa eu ir terminar meus desenhos... _ela levantou-se, mas foi impedida pelo irmão.
     _Aonde você ta indo?
     _Terminar de fazer meus desenhos antes que a vovó chame a gente pra almoçar.
     _Mas eu tenho uma surpresinha pra você também. _ele a olhou com uma cara muito maquiavélica, que respondeu com uma expressão assustada nos olhos. _Você também vai com a gente.