Desde a morte de Rabo, Yato vinha se perguntando se não estaria sendo egoísta; era inédito, perigoso e sem sentindo algum manter Hiyori naquelas condições, mas ele não conseguia evitar.

Não era bobo ao ponto de achar que era apenas gratidão ou algo parecido – a verdade é que havia se apegado a garota e com isso ela jamais conseguiria viver do lado de lá normalmente, junto dos vivos e como deve ser.

Tenjin o aconselhara a cortar os laços com ela, mas também não parecia ser exatamente contra o arranjo atual e Kofuku não ia muito além. No fundo, ele sabia que os dois provavelmente viam claramente aquilo que ele tentava a todo custo ocultar: Hiyori, sem se dar conta, despertava o melhor dele.

De modo algum ele estava tão forte ou destemido como já fora, mas hoje quando deitava a cabeça em algum templo alheio e fechava os olhos, não tinha inquietações ou arrependimentos. Era cada vez mais fácil encarar o passado como algo que já foi e não como algo pelo qual ele precisasse se culpar.

Pensava nela de forma divertida: suas crises, sua energia, seus gostos estranhos para alguém da idade; sobretudo sua dedicação aos amigos. Hiyori era uma boa garota e talvez merecesse mais do que aquilo – no entanto quando ela o via seus olhos brilhavam como se achasse que aquilo era mais do que poderia querer e isso acalentava o coração do deus como mais nada.

Olhou de canto para a figura compenetrada de Yukine, que estudava com afinco todos os dias; desde que ela os salvara ele nunca mais voltou a picar Yato por causa dela, mais uma prova de como Hiyori podia mudar as coisas a sua volta.

Em silêncio ele fitou suas moedas; em especial uma que ele jamais gastaria, nem que precisava trabalhar mais mil anos para ter seu templo por conta disso. Afinal, era o desejo mais especial que já recebera em sua vida.

“Eu quero ficar ao seu lado... para sempre.”