– E é isso. – Disse Sebastian ao terminar de explicar á Clarissa o que ele e Mariana planejavam fazer.

– Então você quer que eu acredite que simplesmente ficou bonzinho e quer pagar por tudo o que fez de errado? Eu pareço assim tão idiota?

– Primeiro, não quero que acredite em nada. Se Mariana não estivesse me obrigando a falar com você, essa conversa ridícula nem estaria acontecendo. Segundo, eu não fiquei bonzinho de uma hora pra outra. Só... –Desviou o olhar pra Mariana rapidamente – Vi outros pontos de vista e percebi que nada do que eu queria fazia sentido. E terceiro, sim. Você parece bem idiota pra mim.

Analisou a expressão de dúvida da irmã, não esperando que ela acreditasse de fato na explicação resumida e superficial que ele acabara de dar. Queria contar uma história mais sólida, mas isso implicaria relatar detalhes de sua convivência com Mariana, e como havia se apaixonado por ela, e ele não faria isso. Não de jeito nenhum, ainda tinha orgulho.

Alguns minutos ainda se passaram até que Clarissa decidisse se pronunciar:

– Tudo bem. Vou ajudar vocês.

– Eu não pedi sua ajuda

– Eu sei. Mas mesmo assim, com a minha ajuda você vai ter uma chance a mais de ficar vivo. Não acho que se arriscaria a um julgamento com a espada mortal se estivesse mentindo e, além disso, você me parece confiável – Disse virando-se pra Mariana. Que sorriu. Em seguida falou:

– Certo, vamos pra Idris então. Clary, você quer chamar mais alguém?

– Não, acho que vocês não teriam a mesma sorte com meus amigos.

– Tudo bem. Sebastian, quanto tempo até chegarmos ao porto mais próximo?

– Menos de uma hora.

– Então agente vai arrumar tudo o que vamos precisar levar.

E saiu com Clarissa. Sebastian não entendia como Mariana aguentava ser amiga de alguém tão metida e chata, mas então lembrou-se de que ela também havia dado uma chance a ele. Talvez não fosse tão difícil assim fazer amizade quando se queria.

***

Depois de chegarem ao porto no litoral da Inglaterra, pegaram um jato e embarcaram direto pra Idris, após concluírem que não seria uma boa ideia usar um portal feito por Clarissa, pois já era tarde (ou cedo, considerando-se que eram 05h00min da manhã e dali a pouco amanheceria) e ela ao estava no melhor estado emocional.

Aterrissaram dentro dos portões, na floresta perto da praça principal, em seguida Mariana os conduziu pra “sua casa”, a mansão Silversmith, um casarão de dois andares feito de xisto, com os batentes das janelas e das portas banhados a ouro, um jardim da frente enorme, cheio de plantas, árvores de pequeno porte e arbustos, dividido por uma trilha de piso antiderrapante que dava para entrada da casa, que não possuía varanda. Na porta de ébano, havia um grande “S” de ouro em cima de uma coroa também de ouro, cravejada com rubis. Ele percebeu, lembrando-se do anel que Mariana usava, que não só a coroa era símbolo dos Silversmith, mas também o ouro e os rubis.

E então surgiu um novo problema, ele e Clarissa queriam ir sozinhos falar com o Inquisidor, porque achavam que não seria bom pra Mariana ver o tipo de tratamento que ele ia receber, mas a garota insistia que ia, e foi preciso uma eternidade e muitos argumentos exagerados pra convencê-la a ficar.

Após ele finalmente vencer Mariana em uma discussão pela primeira vez, ele e a irmã partiram em direção ao Gard.

Foram em total silêncio, ele estava com o capuz da jaqueta levantado, pra evitar ser reconhecido antes da hora, o caminho pareceu mais curto do que de fato era, e havia uma única preocupação em sua mente: Mariana.

Como ela ficaria se algo acontecesse a ele? Se fosse condenado á morte. Se aquela boba e demorada discussão na casa dela fosse a última vez que teriam estado juntos.