Sozinha nas Sombras escrita por Sleepyhead


Capítulo 2
Atrasada


Notas iniciais do capítulo

Bom, este é o verdadeiro começo da história, espero que gostem



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O som era alto, ecoava no pequeno cômodo, suas ondas batiam nas paredes grossas e voltavam em forma de barulho. Era interminável. Um som agudo vindo de um pequeno aparelho que poderia deixar qualquer um surdo.

O despertador já havia tocado inúmeras vezes, e Clarisse sabia que um hora ou outra teria que levantar-se daquela cama minúscula de colchões de solteiro duros que eram ao mesmo tempo... confortáveis. Venceu o sono e finalmente estava em pé. 8h 59 era o que marcava na tela azul escuro do aparelho. Estava atrasada. Havia perdido a primeira aula e a metade da segunda, não poderia se dar ao luxo de perder também a terceira.

Vestiu- se apressadamente sem olhar se o uniforme estava passado ou não, puxou a mochila fortemente, o que fez o torno tremer, quase quebrando.

Desatou em uma corrida pelo imenso corredor, seu estomago roncava, mas não daria mais tempo de comer algo, pegou um atalho pelo pátio principal e só naquele momento percebeu como aquela manhã estava fria, tinha esquecido de pegar o casaco. Alguns minutos depois ela chegou ofegante na sala quatorze, que correspondia ao segundo ano do ensino médio. Empurrou a porta com o ombro, tentando fazer o menor barulho possível, mas ao entrar a garota tropeçou em seus próprios pés e caiu de joelhos, espalhando suas coisas pelo chão úmido.

Levantou o olhar com medo. Todos estavam encarando-a, principalmente a Sra. Gretel. Poderiam ter se assustado com o barulho, ou com o fato de ela estar chegando atrasada, mas ela sabia que não era isso. No reflexo do espelho que tinha caído de sua bolsa ela podia ver que sua camiseta estava virada ao avesso, seus tênis encardidos estavam desamarrados, esquecera de colocar a gravata turquesa, estava com bolsas negras debaixo dos olhos que estavam manchados de rímel, seus cabelos estavam tão desgrenhados que mais pareciam um ninho de passarinhos. Ela sabia que aquele dia não seria bom, seu humor estava péssimo.

– Desculpe, eu...

– Ora, mas não me venha com desculpas, mocinha! – gritou a Sra. Gretel, interrompendo-a

– Mas... eu...

– Nem mais e nem menos! – voltou a gritar – Junte suas coisas, recomponha-se e vá sentar em seu devido lugar! Imediatamente!

– Sinto muito, eu...

– Quer saber! A senhorita não irá mais assistir a minha aula hoje, saia! Agora!

– Por favor...

– Vamos garota! Não atrapalhe mais ainda a minha aula, espere sentada no banco ao lado de fora desta sala. Teremos uma conversinha. Eu, você e a supervisora.

Sem mais protestos, ela juntou seus pertences e saiu da sala. Não estava de cabeça baixa, já tinha se humilhado o bastante e para que? Suas tentativas de ser educada e explicar o ocorrido só serviram para ela ser expulsa da sala – o que nunca tinha acontecido – e sabia que se insistisse mais um pouco sua punição seria cinquenta vezes pior.

Sentou no banco e ficou encarando aquela porta de ferro enferrujado. Arrumou suas coisas novamente na bolsa e subiu o zíper, fechando-a. Penteou desajeitadamente os cabelos com os dedos e com a manga da camiseta tentou limpar o rímel borrado dos olhos. Gretel não a ­­­deixaria ir no banheiro ou voltar ao seu quarto para se recompor, então fez o que pôde ali mesmo, sentada naquele banco. Ao terminar, não estava linda, mas estava melhor do que antes. A camiseta continuava virada ao avesso.

O sino tocou umas três ou quatro vezes até que a porta fosse aberta e os alunos saíssem, seguidos pela Sra. Gretel.

– Siga-me, silenciosamente, fale algo ou resmungue e eu não terei pena ao descontar pontos do seu... histórico não-mais-perfeito. Clarisse gelou.

Seguiu aquela velha gorda pelo imenso corredor. Alguns alunos olhavam para ela de canto de olho e soltavam cochichos . Agora resolveram me notar – pensou a garota um tanto alto de mais.

– O que disse? – perguntou a Sra. Gretel enfurecida

– Não disse nada, senhora

– Eu não sou surda, garota insolente

– Mas... eu...

– Eu disse que não teria pena de você, e não terei

– Não preciso que ninguém tenha pena de mim – sussurrou

– Agora chega! – aquela velha tinha ouvidos biônicos, só poderia – Eu sei qual o seu tipo, sei o que está tentando fazer

– Não estou fazendo nada

– Ora, pois eu sei muito bem

– Acho que está vendo coisas que não existem, senhora – provocou

– Está tentando me insultar, garota tola? – perguntou com os olhos soltando faíscas – Pois saiba que eu não sou a que está perdendo aqui

Tentar defender-se só iria pior, então a garota voltou a seguir aquela velha senhora. Provavelmente, Gretel estava na menopausa, ou terminando de ficar finalmente louca, aquela gorda senhora precisava estar em um asilo e não ali. Já devia ter se aposentado, ela teria o que? Uns cem anos? Clarisse achava que ela tinha visto o descobrimento do fogo, e certamente já fora casada com algum neandertal na idade da pedra.

Chegaram na sala da supervisora, pouco tempo depois do desentendimento no corredor. Os dois pequenos probleminhas daquele dia, certamente já haviam chegado ao ouvidos da supervisora já que em Golden Angels as notícias corriam rápido.

Clarisse encarou a porta por alguns segundos até ser empurrada bruscamente para dentro da sala. O clima ali dentro estava agradável, já que o aquecedor estava ligado, mas a garota não conseguia se sentir confortável, estava com medo. A supervisora estava concentrada em alguns papeis espalhados pela mesa, parecia não notar a presença das duas ali.

– Dulce? Teria um segundo? – Gretel se pronunciou

– Talvez

– Temos uma agitadora aqui

– Teria uma nome? – disse ainda olhando para os papeis

– Clarisse Price – a supervisora pareceu se assustar com o nome e levantou os olhos ligeiramente.

– Ora, Clarisse não agitaria coisa alguma, é tão calada que não fala nem com um porta

– Provavelmente queira da uma de rebelde para chamar atenção

– Meu Deus! Eu não estou querendo chamar atenção para nada, apenas cheguei atrasada – a garota finalmente falou

– Lembre-se que você me confrontou e jogou ofensas – disse Gretel

– Não joguei ofensas em ninguém, e nem confrontei a senhora, estava apenas me defendendo

– Pelo...

– As duas! Quietas! – Dulce gritou – Gretel, poderia me informar o que aconteceu?

Gretel, então, contou cada detalhe do seu ponto de vista para Dulce, não havia verdade em seu depoimento, aquela velha era um mentirosa.

– Isto é verdade senhorita?

– Não – respondeu calmamente – Eu apenas perdi a primeira aula e a metade da aula da Sra. Gretel, então saí correndo do meu dormitório para não perder também a terceira. Cheguei no fim da aula, mas tropecei ao entrar e caí. A partir desse momento, a professora...

– Enlouqueceu? – Clarisse assentiu – Pode me dizer o motivo de ter chegado atrasada?

– Eu... – fez-se uma pequena pausa – Não me lembro.


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Notas finais do capítulo

Comentem o que acharam... e leiam o resto. O começo pode estar quieto, mas... todos os mistérios são assim... reservados kkkkk



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