Naive escrita por semideusabrazil


Capítulo 1
Um novo começo.


Notas iniciais do capítulo

Okay, não sei se vou continuar ou não, mas ai está...



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Com a ajuda do motorista eu tirei minhas coisas do porta-malas, não era muita coisa, apenas uma mala e duas caixas pequenas. O homem de cabelos escuros se ofereceu para me ajudar, ele pegou as duas caixas e começou a levar para a grande casa a nossa frente, eu o acompanhei levando a minha mala e a mochila que já estava nas minhas costas. O lugar era grande, bonito e o jardim era bem cuidado, eu conseguia ver a varanda e ali parecia o lugar perfeito para se sentar e ler um livro, ou simplesmente sentar e ouvir musica, havia um “sofá” de dois lugares de um lado da porta e uma rede do outro.

– Cof, cof – o homem alto de cabelos escuros e olhos claros tentava chamar minha atenção.

Eu me virei para ele, só então me lembrando de sua presença. Ele havia levado duas caixas até o sofá e estava esperando o pagamento, tirei minha mochila das costas e dei duas notas de cem dólares em sua mão, murmurei alguma coisa como “pode ficar com o troco” e ele foi embora, me deixando completamente sozinho desde que eu havia saído de casa. Nova York não era nada como aquele lugar, Nova York era cheia de gente de vários jeitos e gostos você sempre acabava conhecendo alguém, havia vários tipos de restaurantes, lanchonetes, baladas e tudo que se pode imaginar, sempre havia alguém acordado em Nova York, você sempre podia sair de casa e encontrar um lugar pra comer e ficar. Além do mais, Nova York era a minha casa, eu havia crescido naquele lugar. Aquela cidade pequena não era nada além disso: pequena. Eu tinha certeza de que não ia durar mais de duas semanas naquele lugar onde todos se conheciam e não tinham nada para fazer.

Eu havia passado algumas horas no avião e mais uma hora e alguma coisa no táxi, Susan havia me pedido desculpas mais de mil vezes por não conseguir ir me buscar no aeroporto, mas para mim aquilo não importava, eu nem conhecia ela direito, então a viajem seria exatamente como tinha sido com o taxista: sem nenhuma troca de palavras além do necessário. Ela era irmã do meu padrasto e segundo ele ela sabia lidar com adolescentes, ela tinha dois filhos e os dois já haviam saído dessa fase. A filha mais velha dela tinha 25 anos e morava em Nova York, ela havia ido conversar comigo antes de tudo ficar resolvido e disse que a mãe dela era uma pessoa incrivelmente paciente e amável, que eu iria adorá-la. O segundo filho dela tinha 18 anos e eu havia visto ele apenas uma vez há seis anos, na minha festa de dez anos. Naquela época ele parecia uma pessoa legal, educada e sorridente, mas as pessoas mudam, certo? Eu havia mudado desde aquele encontro. As pessoas dizem que depois daquela festa eu comecei a mudar, dizem que um peso muito grande foi colocado nos meus ombros e que eu amadureci rápido demais.

O menino, que por alguma razão eu não lembrava o nome, não estaria ali durante aquela semana, ele estava em uma viagem escolar e só voltaria na quinta-feira. Susan me disse que na sexta-feira ele me levaria a uma festa e que lá a gente poderia se conhecer melhor. Cheguei mais perto da porta e tive de pular para pegar a chave em cima do batente, eu era um pouco baixo então foi realmente constrangedor, depois de algumas tentativas, finalmente, aquele maldito pedaço de metal caiu no chão. Eu destranquei e abri a porta. Em Nova York as casas são pequenas, mas aquela casa era muito maior do que parecia, havia uma pequena sala logo em frente à porta, do lado esquerdo havia um armário onde você podia deixar seu casaco e sapatos, do lado direito uma pequena mesinha para colocar as chaves e um enorme espelho.

Eu tentei não me olhar no espelho, não queria ver minha cara de cansado, minhas olheiras e tudo mais, mas foi inevitável, havia um bilhete colado nele. Meu cabelo estava bagunçado e minhas olheiras estavam piores do que nunca, meu alargador quase nem aparecia em meio a tanto cabelo, talvez estivesse na hora de corta-lo. Meu padrasto, John me dizia que eu estava muito magro e precisava comer mais, mas eu estava bem, talvez pudesse perder mais um ou dois quilos, ele também dizia que eu estava muito branco, eu nem me importava mais. Finalmente peguei o bilhete.

“Querido Nico,

Seu quarto é o segundo à esquerda subindo as escadas, sinta-se a vontade, afinal, agora essa é sua casa também. Eu vou chegar às oito horas, então se você sentir fome peça uma pizza. Mais uma vez: desculpe-me por não estar ai.

Susan.”

Eu amacei o bilhete, aquela não era a minha casa. Coloquei as minhas coisas dentro do hall e fui conhecer o resto da casa. Logo depois do hall havia uma escada que levava ao andar de cima, do seu lado esquerdo havia uma sala de jantar muito bonita e do lado direito uma sala de TV. Resolvi subir e ver o meu quarto, peguei as duas caixas no hall e subi as escadas. Havia apenas cinco portas no andar de cima, na primeira porta a esquerda havia um escritório, com vários livros, como numa biblioteca. Talvez não fosse tão ruim assim morar ali. Na porta a direita era o quarto da Sra. Grace. O segundo quarto, à direita, era o quarto do menino, o meu “novo irmão”, como meu padrasto fazia questão de ressaltar, mas ele não era meu irmão e nem iria ser, ninguém nunca substituiria Bianca. Nunca.

A porta no final do corredor era o banheiro, que a propósito era enorme. Ele era todo decorado em preto e prata, havia uma banheira, mas também havia um chuveiro, lembrava um banheiro de hotel cinco estrelas. Nos dois lados opostos do banheiro haviam duas portas, mas eu não mexi nelas, as caixas estavam ficando pesadas. Sai do banheiro e entrei no que, dali para frente, seria meu quarto e como tudo naquela casa, ele era simples, mas bonito. Havia uma enorme cama de casal, uma escrivaninha com um computador da Apple, algumas prateleiras vazias, um armário e uma enorme janela, que dava para a rua lateral, já que a casa era em uma esquina. Coloquei as caixas em cima da cama e reparei que havia uma porta do lado da cama, provavelmente ela daria no banheiro, mas não me dei ao trabalho de abri-la.

Desci as escadas para pegar minha mala, mas antes fui conhecer o resto do andar debaixo. Do lado da escada havia uma porta, que eu descobri ser o banheiro. Fui para a sala de estar e no final dela estava a cozinha, não havia portas para separar os dois cômodos, só um balcão, o outro lado da cozinha dava na sala de jantar, mas ali havia um arco para separar os cômodos. Eu olhei para o relógio em cima do arco e reparei que ainda era quatro horas, o que me dava um bom tempo sozinho naquela casa. Voltei para o hall, peguei minha mala e fui arrumar as minhas coisas.

Depois que tudo estava em seu devido lugar eu resolvi descer a assistir um pouco de televisão e esperar Susan chegar, mas enquanto descia às escadas a porta se abriu e uma mulher de cabelos pretos e olhos castanhos entrou por ela. Qualquer um que não nos conhecesse diria que ela era minha mãe, sua pele era clara como a minha e nossas feições eram muito parecidas. A Sra. Grace carregava uma pasta e um casaco, ela guardou o casaco no armário do hall, colocou a pasta do lado da mesinha e tirou os saltos, só depois disso ela ergueu os olhos e me encontrou ao pé da escada.

– Nico, querido... – ela veio na minha direção e me deu um grande abraço.

Provavelmente ninguém disse a ela que eu não gostava de contato, eu não a abracei de volta por isso, ela logo me soltou.

– Oi – eu disse seco.

– Olha me desculpe por não...

– Está tudo bem Sra. Grace, não precisa se desculpar.

– Não precisa dessa formalidade, criança, afinal de contas eu serei sua... - Ela se forçou a parar e recomeçar. – Afinal iremos conviver muito, você pode me chamar de Susan.

– Tudo bem – respondi, ainda sem animação.

Ela começou a andar na direção da sala e eu a segui. Não podia negar, ela era uma mulher muito bonita, qualquer homem por ai iria querer ela, só que ela não era exatamente o meu tipo. A história dela não era um mar de rosas, ela havia se apaixonado por um homem e ele lhe deu dois filhos. Tudo ia bem até que ela descobriu que ele era um rico magnata, dono de uma incrível rede de hotéis e que a mulher dele não estava nada feliz em descobrir que ele tinha dois filhos com outra. Ela dizia que já havia o superado, mas meu padrasto dizia que não era bem assim, depois dele ela nunca mais teve ninguém e nunca mais saiu com ninguém. Ela se sentou no sofá, colocou os pés em cima da mesinha de centro e ligou a televisão.

– Que pizza você pediu?

Susan perguntou sem tirar os olhos da frente da tela, eu me sentei ao lado dela e respondi no mesmo tom distraído.

– Eu não pedi, não fiquei com fome.

– Como assim?! – Ela pareceu indignada. – É por isso que você está tão magrinho, você tem que comer, espera ai que eu mesma vou pedir essa pizza. Você gosta de pizza de que?

Mesmo depois que eu insisti que não estava com fome e não precisava de pizza ela pediu e depois de desligar o telefone me mandou subir e tomar um banho. Eu odiava que me dessem ordens, mas preferi não discutir para não criar um clima ruim. Subi, tomei um banho de chuveiro e desci. Susan também já havia tomado um banho e estava colocando os pratos em cima da bancada para que pudéssemos comer. Eu me aproximei e me sentei.

– Eu não sei por que nós temos aquela sala de jantar – ela disse com o rosto dentro da geladeira. – Jason e eu nunca a usamos, sempre comemos aqui.

Ela fechou a porta da geladeira e colocou uma garrafa de coca em cima da bancada.

– Você vai amar o Jason, ele é só dois anos mais velho que você e é uma gracinha. Ele teve uma fase rebelde, mas eu dei um jeito nele - ela disse rindo e se sentando do outro lado da bancada.

– Hm... – eu respondi alegremente. (n/a: sintam a ironia)

A companhia tocou impedindo que a nossa conversa continuasse, ela se levantou e foi até porta, enquanto eu reparava em coisas que não havia reparado antes, atrás das cortinas na sala havia uma porta que levava ao quintal, no raque havia um Xbox e eu não sabia o que Susan fazia para sobreviver.

Ela voltou com a caixa de pizza na mão, colocou um pedaço para mim e se serviu, era uma simples pizza de mussarela. Mais da metade do nosso jantar se passou em silêncio até que a Sra. Grace resolveu quebra-lo.

– Hm... – ela disse entre uma garfada e outra. – John não me disse exatamente por que ele queria que você morasse comigo. Ele me contou alguma coisa, mas disse que era melhor eu te perguntar. Então, afinal, o que aconteceu?

Aquela era a pergunta que eu queria evitar, eu não queria ter de lembrar o que me levara até ali, eu não queria lembrar o que tinha acontecido.

– Nada demais – eu disse, dando ombros e sem tirar os olhos da comida.

– Ele... Ele disse que você se meteu em uma briga – ela disse colocando os talheres no prato, cruzando os dedos e apoiando o queixo neles.

– Nada demais – eu repeti ainda sem a olhar.

– Nada demais?! – ela repetiu incrédula. – Ele me disse que o menino perdeu a consciência.

Eu dei ombros de novo, aquele bastardo tinha merecido. Ninguém mandou ele espalhar para escola inteira uma história que era mentira, além disso ficar me xingando todos os dias. Ninguém é de ferro, e eu havia me segurado por tempo demais.

– Olha Nico – ela disse cuidadosamente – se você vai morar aqui, eu preciso saber dessa história e preciso saber que não vai acontecer novamente. Eu sou uma boa pessoa, mas não sou que nem o John, eu não vou passar a mão na sua cabeça se fizer alguma coisa errada, eu já tive filhos adolescentes e sei bem qual punição afeta mais vocês.

Eu respirei fundo.

– Isso não vai se repetir – eu disse, levantando o olhar.

– Ótimo, que bom que nós nos entendemos. Agora, me conte, o que aconteceu?

– Nada demais – voltei a olhar a metade do pedaço de pizza que ainda estava no meu prato.

– Deve ter havido alguma coisa, ninguém bate em outra pessoa por motivo nenhum.

– Não importa agora, já aconteceu.

– Não me leve a mal, Nico. Eu preciso saber o que aconteceu.

– Não me leve a mal, Sra. Grace, eu não quero falar sobre isso.

– Eu preciso saber, quero te entender, porque o que você fez pode ser algum sintoma de psicopatia.

– Rá. Você está brincando, certo?

– Não, Nico, eu...

– Olha, Sra. Grace, aposto que a senhora deve ter uma teoria sobre isso, mas eu te garanto que foi mais do que merecido. E, hm, eu já estou satisfeito, muito obrigado.

Eu disse e me levantei, deixando ela sozinha.


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Notas finais do capítulo

E ai? Gostaram? Se sim comentem...