Acordei e percebi que estava sendo abraçada. Era Germán. Sempre dormimos assim. Abri os olhos e percebi que ele estava me observando, involuntariamente dei um sorriso.

— Bom dia flor do dia— Ele disse.

— Bom dia, meu amor—Respondi.

­— Dormiu bem?

— Sim.

Ficamos conversando um tempo na cama. Era muito bom fazer isso. Ele falava do trabalho e essas coisas. Eu também falava do Studio. Conversávamos sobre George e Maria Clara. Até mesmo sobre Violetta.

— Eu tenho uma surpresa para você hoje à noite—Germán disse.

— É mesmo? O que é?—Perguntei.

— É uma surpresa.

­—Agora fiquei curiosa.

—Era a ideia— Ele deu um sorriso e se levantou.

­Apenas o vi entrando no banheiro para tomar um banho. Surpresas. Germán fazia muitas surpresas para mim. Uma vez foi um piquenique, outra um jantar a luz de velas... Deveria ser mais um desses encontros especiais.

Quando Germán saiu do banheiro eu entrei. Enquanto a água caia sobre meu corpo me dei conta de uma coisa. Por mais que Germán sempre me fizesse surpresas, ele me falava o que era. Hoje não. Estou ficando cada vez mais curiosa.

Terminei o banho e encontrei Germán sentado na cama com um sorriso no rosto.

—Está muito curiosa, né?—Ele perguntou.

—Não­!—Exclamei— Da onde tirou isso?

—Não sei— Ele disse— Talvez porque estava falando sozinha no banho.

—Sério?— Ri.

—Sério.

—Me conta então?— Fiz beicinho e pisqueis os olhos.

­—Você fica tão fofa assim—Ele disse— Mas não vou contar nada.

Tente fingir estar brava, mas Germán não me contava nada. Então resolvi fingir que não me importava, o que eu tenho certeza que não o convenceu de nada.

Descemos para tomar café e encontramos George na mesa completamente arrumado. Encontra-lo na mesa sem termos de chama-lo já era difícil, encontra-lo na mesa arrumado? Acho que o trocaram por outra pessoa.

—Posso saber porque o senhor está todo arrumado?—Germán perguntou puxando uma cadeira para que eu sentasse e se sentou na sua cadeira em seguida.

—Ué, mamãe vai me levar na casa da Clara hoje— George respondeu pegando o jarro de suco e se servindo.

—O que? Eu não disse que iria te levar—Disse pegando uma torrada e levando a boca.

—Mas você vai, não vai?—Ele fez um biquinho, incrivelmente parecido com o que fiz para que Germán me contasse onde iriámos hoje.

—Não dá, querido—Disse e ele fechou a cara— Eu vou lá para ajuda-la com o canto, se você for, vai distrai-la— Ele apenas revirou os olhos e fechou a cara.

George parecia ter ficado bravo comigo, eu sei que não quis leva-lo, mas iria acontecer como na última vez. Ele ficou brincando com Maria Clara a manhã toda e quando finalmente pararam, já era tarde e tivemos que voltar. Dessa vez, ela precisava treinar de verdade porque realmente cantaria no próximo show.

Depois do café da manhã me despedi de Germán e de George, que ainda estava de cara fechada. Segui em direção à casa de Pablo e Jade.

Chegando lá, toquei a campainha e Jade me atendeu e disse que Pablo e Maria Clara já estavam me esperando na sala.

—Tia Angie!—Maria Clara me abraçou.

— Como está, mocinha?—Perguntei.

—Estou bem—Ela deu um sorriso— Vamos ensaiar— Ela puxou minha mão.

—No seu quarto?

—Lógico que não— Ela respondeu como se fosse a pergunta mais absurda do mundo— Vamos para a sala de música.

Sala de música? Essa era nova.

—Sala de música?— Perguntei confusa.

—É que... Eu fiz uma sala só para a Clara treinar e essas coisas aqui— Pablo disse.

—Que legal, Pablo! Eu quero ver— Disse entusiasmada.

Maria Clara me puxou até uma porta e Pablo a abriu. Era tão lindo. Instrumentos por todos os lados, violões, guitarras e o um piano próximo à janela. Me senti tão bem naquele quarto.

— Desde que ficou pronto esse é o lugar onde mais ficamos— Pablo disse.

— Aqui é maravilhoso!— Exclamei animada.

—É mesmo. Jade também adora ficar aqui— Olhei espantada para Pablo— Sim, ela gosta. Ela canta lírico muito bem—Ele caminhou em direção ao piano.

— Eu já tinha ouvido falar— Disse o seguindo.

—Aqui é lugar onde nós adoramos nos reunir— Pablo passou a mão sobre o piano— Eu toco violão, a Clarinha o piano e Jade canta.

—Quando Vilu vai lá em casa, geralmente fazemos isso também... Não existe momento em família melhor— Sorri ao me lembrar da cena de todos na mansão cantando.

—Então, vão continuar conversando ou vão me ajudar a ensaiar?— Maria Clara perguntou.

—Vamos ensaiar— Pablo e eu dissemos e rimos em seguido.

Começamos com a vocalização. Maria Clara foi muito bem, porém fomos interrompidos por Jade.

— Como estão indo?— Ela perguntou.

—Estamos bem— Respondi.

—É, estamos bem— Maria Clara disse em seguida. Parecia ter ficado brava com a interrupção de Jade.

—E você meu amor, como está?—Pablo perguntou se aproximando de Jade.

—É... Estou bem—Ela respondeu— Me desculpem se eu interrompi algo— Ela olhou para Maria Clara.

—Não interrompeu nada!— Pablo disse.

—Não importa... Eu vou dar uma volta por aí—Ela saiu.

Bem... Eu não entendi absolutamente nada. Maria Clara estava brava com Jade ou algo parecido? Ou é só por causa da interrupção? Não, não pode ser só por isso. Pablo me deve umas explicações.

Continuamos com o ensaio e, dessa vez, sem interrupções. Maria Clara estava cantando muito bem. Ela me lembrava de Jade na hora que cantava.

—Então, olha as horas!— Exclamei— Acho que já vou indo.

—Por quê? Fica para o almoço, Tia Angie— Maria Clara ofereceu e olhei para Pablo.

—Seria uma boa ideia se pelo menos tivéssemos algo pronto— Pablo disse.

—Então, que tal se eu chamar o Germán e o George e almoçarmos juntos?— Sugeri.

—Eu quero!— Maria Clara gritou— Vamos papai?

—Então vamos— Nós três sorrimos.

Fui para um canto mais vazio da casa e peguei meu celular para poder falar com Germán. Liguei para ele. Caixa postal. Liguei de novo. Mais uma vez, caixa postal. Liguei mais três vezes, todas deram caixa postal.

­—Germán não atende o celular.

—Tentou ligar para a mansão ou invés de ligar para o celular dele?— Pablo perguntou.

—Não... Vou tentar.

Peguei meu celular novamente e liguei para a mansão. Olga atendeu.

—Olguinha! Finalmente! O Germán não está em casa? Aconteceu algo?— Perguntei desesperada.

—Ele está em casa sim e não aconteceu nada— Ela respondeu— Por quê?

—Porque ele não atende o celular.

—Deve ser porque ele está com o George e a dona Jade no quintal.

—O que? A Jade está aí na mansão?— Perguntei um pouco surpresa, o que ela estava fazendo lá?

— Está sim. Ela chegou um tempo depois da senhora sair— Olga fez uma longa pausa— E que eu me lembre ela estava chorando.

—Eu vou para aí agora— Desliguei o telefone.

Contei para o Pablo que Jade estava na mansão e que tinha chegado lá chorando. Ele não parecia surpreso com o fato dela estar chorando. Eu preciso muito de explicações.

Fomos juntos para a mansão. Nós três. Pablo foi dirigindo. No fundo, eu estava um pouco “nervosa”. Não deveria estar, mas era inevitável. Germán e Jade. Na mansão. O que me deixava tranquila era que eles não estavam sozinhos. Não... Estou com ciúmes. Por quê? Não tem motivo. Germán e eu estamos casados. Jade é casada com Pablo. Não tenho motivos para estar com ciúmes. Não mesmo. Germán não me trairia, muito menos com a Jade, mas a ideia dela aparecer na mansão chorando não me tira da cabeça que Germán vai “consola-la”. Percebi que Pablo estava um pouco tenso. Acredito que seja o mesmo que eu, “nervosismo”.

Chegamos à mansão e abri logo a porta. Maria Clara saiu correndo na frente. Não tinha ninguém na sala. Nem na sala de jantar. Muito menos na cozinha, mas quando chegamos lá escutamos risadas vindas do jardim.