Corpo de Humana... Coração de Yokai escrita por Caramelkitty


Capítulo 6
Sacrifício sangrento


Notas iniciais do capítulo

Honestamente, o início deste cap não me satisfaz...
Mas eu não tenho o hábito de refazer as minhas histórias, tenho muita pouca paciência para isso. Enfim, espero que não achem ruim demais...

Nota: O monstro que descrevo logo no início foi baseado na falsa mãe de Coraline e o mundo secreto. Lembro da primeira vez que eu vi o filme, achei-a sinistra na sua forma de aranha. E também achei sinistro os botões no lugar dos olhos, mas isso já não vem ao caso.



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Um grito acordou Takara.

Ela levantou-se rapidamente, fazendo kirara rebolar do seu colo. Correu em direção ao som e deparou-se com um Yokai aracnídeo. Ele era enorme, tinha seis patas delgadas, magrelas, esbranquiçadas, dois braços com terminações em garra e uma cara magra, que não apresentava qualquer pele. Era, assim como o resto do corpo, constituída apenas por esqueleto. No lugar dos olhos duas fendas. Era pois, uma criatura que poderia causar pesadelos até nas crianças mais corajosas.

Segurava com uma das garras, a sacerdotisa de nome Kagome que não fazia mais nada senão gritar. Takara pensou, por momentos que não era assim que devia agir uma sacerdotisa, mas logo afastou esses pensamentos inúteis da sua mente e preparou as garras.

– Kagome! – Gritou Inuyasha. Desembainhou a sua Tesaiga mas antes que pudesse desferir um golpe, algo passou por ele a correr a toda a velocidade.

– Takara? O que estás a fazer? Sai da minha frente, eu preciso acabar com esse maldito antes que ele magoe a Kagome!

Takara não lhe deu ouvidos. Deu um salto além das capacidades de qualquer ser humano pronta para fincar as garras no dorso esquelético da criatura, mas logo foi repudiada por um jato de teias vindo do Yokai sinistro.

Desembaraçou-se da pegajosa substância e olhou para o Yokai com um olhar enraivecido mas ao mesmo tempo de desafio. Ante o olhar espantado de todos, Takara voltou a atacar. E desta vez o Yokai não esteve para gastar mais das suas teias. Levantou uma das suas seis patas e acertou Takara na barriga, fazendo-a voar alguns metros. Takara conteve um queixume quando sentiu o seu corpo embater num tronco de árvore.

– O que estás a fazer sua baka? Queres morrer? – Ouviu Inuyasha berrar para ela.Takara lançou-lhe um olhar irritado.

Inuyasha olhou da sua espada para o Yokai. Se usasse a ferida do vento, poderia magoar Kagome, era bem capaz do Yokai a usar como escudo. Voltou a guardar a arma e atacou o Yokai com as garras.

As teias do monstro não foram suficientemente fortes para impedir a passagem do hanyou que abriu caminho facilmente.

– Garras retalhadoras de almas!

Momentos depois, o Yokai aranha estava completamente desfeito e o seu sangue manchava o chão. Com um salto, Inuyasha agarrou Kagome antes desta cair no chão.

– Feh, este Yokai não era de nada!

Takara mordeu o lábio inferior, sentindo uma mistura de tristeza e constrangimento. Usara todas as suas capacidades e estava convicta de que desta vez venceria, mas ali estava ela, caída no chão, com o ferimento de novo em chaga e com lampejos incómodos de dor (e não só física). Para cúmulo, ali estava um hanyou que acabara de matar o Yokai com tanta naturalidade como se inspirasse uma golfada de ar. E ainda se gabava, constatando como o Yokai era fraco. Takara sentiu-se muito mal ao acabar de ser tão tremendamente ofendida. Se Inuyasha dizia que o Yokai aranha era fraco, então o que dizer de Takara que fora derrotada na maior das calmas pelo bicho de pouco cérebro?

«Estou fraca demais ainda para lutar. Preciso de mais... muito mais»

Meditou, olhando para as garras.

Ao lembrar-se da última vez, um esgar de nojo ficou estampado no rosto da garota.

«É necessário... só assim poderás tornar-te mais forte! Queres ou não ser uma Yokai?» Tentava convencer-se.

Dirigiu-se, ainda com as pernas trêmulas, aos destroços da criatura. Caiu de joelhos e com um lamento, baixou-se e cravou os dentes bem desenvolvidos no defunto, afastando pêlo, pele e outros materiais que preferia não identificar até sentir o enjoativo e desagradável sabor do sangue. Chupava e engolia com dificuldade o líquido espesso, ignorando os protestos da garganta que queimava.

Takara odiava isso! Odiava ter de se alimentar do sangue de Yokais nojentos, odiava depender daquelas carcaças a apodrecer...

«Valerá a pena!» Afirmava tentando vencer o asco e a dor que começavam a espalhar-se pelo seu corpo. «Quando, um dia, for uma Yokai poderosa. Conviverei com os meus semelhantes, destruirei a maldita joia e deixarei os meus pais orgulhosos»

Sentiu alguém a puxá-la violentamente. Ao deixar de poder sorver o sangue, foi tão apanhada de surpresa que se engasgou. Tossiu tanto que vomitou grande parte do que tinha engolido.

– O que estás a fazer, sua louca? Sangue de Yokai é venenoso para humanos!

Outra vez aquele maldito hanyou! A dar-lhe ordens como se se importasse com ela!

– Eu sou... – A voz embargou-se-lhe por ter a garganta tão seca. – Eu sou Yokai! Pára de me tratar como se eu fosse uma humana fraca e indefesa.

– Tu não és Yokai! És apenas uma menina presunçosa e teimosa!

Takara tentou arrastar-se de novo para perto do morto, mas sentiu o pé de Inuyasha sobre as suas costas.

– Pára de te tentar matar e ouve-me! Se continuares com isso vais arrepender-te. O sangue dos Yokais é veneno para os humanos, destrói o corpo a uma velocidade alucinante, não sei como ainda consegues mexer-te. Sua baka, a cada gota que ingeres, corres mais o risco de padeceres de uma intoxicação.

Takara, tomada por uma onda de raiva, colocou-se de pé e gritou:

– Deixa-me em paz! Para ti as coisas são muito simples... como és forte podes derrotar os Yokais com facilidade, podes proteger os teus amigos e recolher os fragmentos da joia. Quanto a mim, as coisas são diferentes! Caso não saibas, eu sou perseguida por Yokais a todo o momento e não é a fugir toda a vida que vou sobreviver. Tenho que conseguir fazer-lhes frente! Tenho que tornar-me forte como eles. E eu, ao contrário de ti, não nasci forte, não tenho habilidades especiais, não tenho poder espiritual... sou apenas uma garotinha que é tão inútil, tão dezprezível que nem sequer os seus pais a quiseram!

Takara viu, com alívio, que finalmente a voz irritante de Inuyasha parara de atormentar os seus princípios, que delineara há tanto tempo. Sim, ela estava ciente dos riscos, mas ouvi-los em voz alta, fazia-a vacilar.

– Quando te sentires morrer... não digas que eu não avisei!

Sango veio juntar-se ao Inuyasha.

– O Inuyasha pode pensar assim, mas eu não! Enquanto estiveres conosco, não vamos deixar que corras risco de vida. Não voltas a fazer isso, Takara, percebeste?

Takara olhou fixamente o chão, remoendo as palavras, quando se lembrou... de que aquela gente não significava nada para ela.

– Tudo bem, eu nunca quis ficar com vocês mesmo!

Disse calmamente antes de virar costas e fugir para a floresta.

Enquanto corria, tentava negar tudo, esquecer tudo.

«Não vou morrer!»

O sangue de Yokai tornava-a mais forte! A prova eram as garras que se destacavam do corpo frágil da menina. Mas ela tinha de admitir que também sentia o veneno. A dor era excruciante mas logo passava. Passava sempre!

Relembrou a sua primeira vez. Era impossível esquecer, doera demais...

Takara sorriu para si própria. Da primeira vez fora mesmo horrível mas agora a dor tinha-se tornado suportável, tinha vindo a diminuir deixando apenas aquela sensação de ardor por onde o veneno passava. Isso só podia ser um sinal de que o veneno estava a tornar-se não letal para o seu organismo! Sendo assim, não ia deixar as palavras de Inuyasha afetarem-na. Não mesmo!

********************************************************

O Inverno é rigoroso!

Neve branca, linda, fria... e letal! A luz da manhã mostra aos olhos dos necrófagos, os corpos soterrados dos sem abrigo que morreram congelados. Eles estão geralmente com fogueiras apagadas por perto, tentavam inutilmente sobreviver a mais uma noite.

A comida escasseia, deixando as aldeias vulneráveis ás doenças. É um tempo horrível para as crianças e idosos. É ver os animais a escavarem a neve procurando qualquer verde no meio do branco incadescente. É sentir o próprio sangue gelar, a respiração a ficar cada vez mais pesada, os olhos cegos de exaustão.

É de ter dó das pobres almas que têm de dormir ao relento. Pagariam fortunas para terem uma casa, uma lareira, alguém que as aquecesse.

E se, por um milagre do destino, sobrevivessem a essa tortura logo o oposto se fazia sentir.

A Primavera é sim, o tempo de bonança, mas logo chega o Verão lançando os seus raios sobre a terra, fazendo rarear o bem mais essencial. Água!

Era nesse deplorável estado que Takara se encontrava. Tanto reclamara do Inverno, agora só desejava ter toda aquela neve a cair sobre ela outra vez. O chão estava tão seco que até tinha fraturas. Era a seca que atacava com força!

Passou por um esqueleto de boi, onde vários abutres arrancavam os pedaços de carne apodrecida. As aves agoirentas miraram com cobiça o corpo extremamente magro da rapariga. Takara apressou-se a arreganhar-lhes os dentes, como se dissesse: «Não me olhem assim, como se eu fosse uma condenada!»

Entranhou na floresta e após alguns passos forçosos, ouviu o som de um ribeiro. Apurou a audição, temendo que os ouvidos a estivessem a enganar. Não estaria a alucinar?

Correu na direção do som, esquecida já toda a fraqueza, lançou-se para o chão já na margem da sua salvação e encheu as mãos de água... água vermelha.

Takara ficou a olhar a água sem querer acreditar. Olhou para o lado e percebeu a coloração do pequeno ribeiro. Um Yokai tinha sido morto recentemente e o seu corpo estava meio mergulhado no rio. Então a água estava poluída... poluída com sangue de Yokai.

Takara esmurrou uma árvore com raiva dos seres superiores que brincavam com o seu sofrimento. Quase conseguia ouvi-los a rir. Tomada pela loucura da sede, voltou a debruçar-se sobre o ribeiro e saciou-se, ingerindo junto com a água que tanto cobiçava, o sangue de Yokai.

Deu alguns goles da água contaminada e por momentos tudo ficou bem, mas passados instantes, sentiu que asfixiava. Levou as mãos à garganta de olhos muito arregalados e pensou que iria morrer. Logo outra dor veio sobrepor-se e respirar passou a ser uma coisa desnecessária aos olhos da garota. Pareciam que lhe espetavam no ventre facas, um fogo parecia espalhar-se pelo interior do seu corpo, queimando tudo: músculos, ossos, veias,...

Rebolou no chão, vítima da sua agonia, tentando desesperadamente achar algo como um caco de vidro, uma faca ou mesmo alguma pedra pontiaguda que pusesse fim ao seu sofrimento. Sim, Takara pensou em matar-se, já que estava moribunda era melhor acabar logo com a dor. Como não encontrou nada começou a arranhar-se mas os cortes não suplantaram a dor maior, a dor do veneno de Yokai que a fazia perder lentamente a noção de espaço, de tempo... até se esquecer do próprio nome.

Mas antes que pudesse enlouquecer, Takara teve outra ideia. Arrastou-se para a margem do rio. Ia tentar afogar-se. Mas ao olhar as água turvas reparou em algo de diferente nos seus olhos. Eles tinham lampejos brilhantes de roxo. Percebeu o que estava a acontecer! Ela estava a tornar-se o que ela sempre desejara ser. Yokai!

Lentamente, a dor foi desaparecendo, assim como o brilho arroxeado no olhar da menina. Desaparecido todo o sofrimento, quem passasse poderia ver o corpo cortado e magro de um indivíduo do sexo feminino, a arfar no chão, respirando com dificuldade. Como se deliciariam os Yokais ou os abutres se por ali passassem. Mas Takara estava sozinha...

Quando se recompôs, olhou para os cortes profundos que fizera e viu que não poderiam ter sido feitos pelas suas unhas macias. Deduziu que, assim como os olhos de tom violeta, foram-lhe conferidos, naquele momento inesquecível, garras de Yokai.

Analisou-se exaustivamente à procura de algo que tivesse restado, para provar que tudo aquilo não fora loucura. Mas o sangue humano voltara a circular nas suas veias, suplantando o de Yokai e apenas aqueles cortes afiados provavam a sanidade da menina.

Takara fez então um sacrifício. Durante uma semana inteira bebeu daquelas águas e só delas. No final, foi recompensada com dez garras fortes e afiadas. Takara nunca se tinha sentido tão forte... nunca se tinha sentido tão Yokai!


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Notas finais do capítulo

Eis porque Takara tem garras!
Ela está a ingerir grandes quantidades de sangue Yokai regularmente que ao ser absorvido pelo seu organismo lhe confere certas características Yokais como as garras, os saltos espetaculares e os olhos roxos (que só aparecem no momento em que ela ingere o sangue).

Esse método de se tornar Yokai foi inventado por mim, na verdade só há duas maneiras no anime de um humano se tornar Yokai: utilizando a jóia de quatro almas ou deixando os Yokais devorarem o corpo, como aconteceu com Onigumo (Naraku antes de se tornar Hanyou)

Claro que este método é arriscado, porque sangue de Yokai é venenoso. Acham que Takara é forte o bastante para sobreviver a isso, ou acham que ela devia dar ouvidos ao Inuyasha e à Sango?



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