Greycity- Elementis Magi escrita por Selaya


Capítulo 19
Revelações


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo tem uma outra parte, de inicio seria um único mas optei por dividir.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/487576/chapter/19

Mais um dia perdido e nada de saber onde era o tal local, Tyler ao menos estava na cidade, embora Thalia ligasse toda hora dizendo-no para se apressar. Dois dias, dois curtos dias para que tudo acabasse, todo seu mundo. Eram apenas sete da manhã, o horário que começava ás visitas, mas ela estava ali desde ás cinco, com o estômago embrulhando de nervosismo, sem saber no que resultaria tal ato.

— É muito arriscado... E se você não voltar de lá? E se minha avó não voltar? E se... e se ela ficar para sempre sendo manipulada por Logan? Não podemos confiar, você não pode entrar na cabeça de alguém assim. Ok, é certo que ele bloqueou as lembranças para que Michelle não visse-as, então quem garante que você vai ver? Ainda mais quando se trata de meros sonhos. – murmurou apertando forte a mão do castanho.

Ele não disse nada e Thalia entendeu por quê, não havia respostas, só sobrava tentar e torcer para que desse certo e arriscou pensar que Isaac também estava com medo, porque diferente das outras vezes , apenas esses tempos, ele não sabia o que fazer. A balconista sorridente entregou-lhes o formulário que assinaram para confirmar que estiveram ali e encaminhou-os até a sala branca, onde sua avó mantinha-se sentada em uma cadeira, olhando para o vazio.

A morena agachou-se ao seu lado e respirou fundo, olhando para o castanho que acabou assentindo. Ele moveu ambas mãos para o rosto de Michelle e começou a murmurar estranhas palavras em latim, mas nada mudou. Thalia deu uma pedra brilhante em vermelho em sua palma e pediu para que concentrasse-se no que fazia. O acastanhado moveu a pedra para o rosto da idosa e continuou a murmurar as tais palavras, com olhos fechados e ouviu seu último grito antes que desmaiasse, apavorando-na.

Isaac viu-se num lugar esguio e íngreme, com quase nenhuma luz. Ouvira o barulho de passos e de água, mas não sabia de onde vinha. Tomou um grande susto ao ver Michelle em sua frente, pedindo socorro e acabou caindo; viu a mulher afastar-se e começou a segui-la em passos largos sem muito preocupar-se até que viu uma grande cratera no chão e a idosa a pular nela, encarando a escuridão. Isaac vacilou, mas como aquilo era apenas uma fantasia ele não poderia morrer, certo? Não sabia, porém fez questão de pelo menos tentar e pulou também, sentindo o vento balançar seus cabelos e a alta velocidade, até que sentiu a água bater em seu corpo e o mal odor: estava no esgoto.

Seguiu andando atrás da avó de Thalia, passando por inúmeros túneis e lugares jamais conhecidos, tornara um trajeto para o sul e depois leste, andando por um bom tempo até ver a idosa apontar para uma escada. Isaac subiu-na e deparou-se com a tampa do bueiro que acabou por retirar. Olhou ao redor, arqueando a sobrancelha vendo aonde fora parar: Dominium, a cidade quase-fantasma. Tudo estava em ruínas.

Dominium é sem dúvidas a cidade mais velha da região. Reza a lenda que em épocas vitorianas, fora o centro de todos os magos: o palacete da seita mantinha-se ali. Depois ocorrera uma batalha devastosa contra humanos, a qual não houve vencedor. Hoje, Dominium é considerado um município do subúrbio, onde ocorreram tantos crimes que fora isolada de Greycity com faixas e guardas nas fronteiras: a regra é clara, ninguém sai e ninguém entra. Os moradores de Dominium são considerandos “sujos, impuros”, como se não houvesse pessoas boas no lugar, mas era óbvio que haviam.

Do nada, o mundo girou e Isaac fora parar na água, ele não conseguia mover-se, mas conseguia respirar dentro dela. Como isto seria possível? E desde quando estava tão claro assim? Fechou as pálpebras na tentativa de fugir da luz, mas então acordou vendo o rosto da idosa á sua frente, soltando rapidamente as mãos de seu rosto e derrubando a pedra com o susto. Thalia correu e colocou-se perante os olhos do castanho, verificando se ele estava bem.

— Céus, Isaac. Você preocupou todo mundo! Não foi só uma hora, você ficou fora por um dia! Eles quiseram te levar ao hospital, mas você não desgrudava da vovó, eles até tentaram tirar suas mãos dela, mas não conseguiram, foi bizarro! Então levamos ambos para sua casa... O que você viu? Temos tão pouco tempo. É uma da manhã. E eu já liguei para Tyler, ele vai pro aeroporto ás seis da manhã, eu tive que ameaçá-lo, mas tudo certo. A vovó ainda não acordou... Estou com medo!

Isaac contou tudo para Thalia enquanto comia um hambúrguer, afinal ficou muito tempo fora. A morena abismou-se ao saber que estava tão perto, enquanto eles procuravam em outros estados do país, era óbvio e por isso Logan colocou lá, sabia que jamais procurariam em um lugar abaixo de seus olhos.

Como não poderiam fazer nada enquanto Tyler não chegava, ambos dormiram e só acordaram quando o relógio apitou oito da manhã. Dirigiram-se para a cozinha e deram de cara com um delicioso café da manhã feito pelos pais de Isaac. Fora um tanto constrangedor sentar á mesa com eles, afinal eles falavam sobre seu casamento e como queriam que fosse o do filho. Thalia não pensava nessas coisas, ela só queria casar daqui a uns seis anos, numa igreja simples com vestido branco e só. Sem cavalos ou golfinhos como os pais queriam, mas optou por não dizer nada porque podia magoá-los.

Eles ofereceram sua ajuda para salvar todos aqueles humanos e Thalia confirmou com a cabeça, afinal seria melhor alguém que pudesse ajudá-los a evacuar o local. Ligou para Tyler que afirmou ter comprado a passagem, mas o voo sairia apenas quatro horas, o que preocupou a morena. Seria muito pouco tempo, mas a bomba só iria explodir quando fosse umas onze horas, certo? E depois, poderiam eleger Toby como o líder, embora achasse que não fosse uma boa idéia, regras são regras.

Quando o relógio batera exatas dezesseis horas, todos encaminharam-se para o carro dos pais do castanho. Embora Tyler só chegaria daqui a duas horas no mínimo, eles deveriam evacuar o local o mais rápido possível. A viagem até Dominium não durara muito, entretanto eles não poderiam chegar perto demais, afinal haviam guardas por perto. Na avenida 5th, eles pararam o carro e desceram, assim retirando a tampa do bueiro e encaminhando-se para lá, descendo com cuidado as escadas. Isaac desenhara uma rota em sua palma direita e na outra, uma bússola. E assim a luz sumira e a escuridão adentrou suas órbitas.

Por sorte, Thalia tinha trazido uma lanterna, junto do kit “batalha” que envolvia remédios, faixas, pilhas para a lanterna, espada e celular. Bom, o celular era para ligar para Tyler e certificar-se de que ele não fugiria. O destino fora cruel e Isaac acabou anotando o caminho errado, fazendo todos perderem-se, mas graças á Lilian, mãe de Isaac, eles pararam de andar em círculos e fizeram o caminho contrário. Thalia avistou a escada e fora a primeira a subir avistando os guardas e verificando se eles não viram-na; estava tudo certo, assentiu para que os outros fizessem.

— Dominium não é uma cidade grande, a maioria dos lugares estão em ruínas, tem uma ideia de onde devemos procurar? – perguntara olhando para o acastanhado.

— Algum rio, lagoa ou sei lá... Algo que tenha água, talvez. Não ficou muito claro, mas como iremos procurar esse tal lugar em uma cidade inteira? Tudo bem que é uma cidade pequena, mas... – não arriscou-se a continuar com o olhar revoltoso que Thalia mandou.

Dominium deveria ter menos de duzentos quilômetros quadrados de área. Não seria tão difícil achar, pensou Thalia. E acabou pensando mal. Numa dessas buscas, perderam mais uma hora, uma hora a menos de salvar aqueles inocentes. A cidade era cheia de drogados, perdidos, mas também tinha gente boa, como a morena mesmo vira uma senhora algemada ver a provável neta sendo levada em carros de polícia para a escola e isto fez perceber que ela teria de fazer alguma coisa para não machucar ninguém. Desesperou-se, sentando na grama e olhou para uma poça d’agua qualquer, sem saber o que fazer. Isaac sentou-se ao seu lado e avisou que tinham de continuar e ela assentiu. Olhou as horas no relógio, já passara uma hora e colocou ao seu lado na grama, levantando-se e vendo um cachorro aproximar-se. Ainda existiam animais no lugar? Acariciou a pelagem suja de cor negra ferrugem do cão e viu-o colocar seu celular na boca e sair correndo.

Ladrãozinho. Thalia correu atrás dele, óbvio, ouvindo Isaac resmungar atrás de si. Até chegar a um morrinho de grama e escorregar por não olhar pra onde anda. Infelizmente, rolou até sentir a água em seu corpo e o celular afundando. Não era muito fundo, se inclinasse-se um pouco poderia tocar os pés nas pedrinhas e acabou mergulhando para recuperar seu amado, embora tenha conseguido, o celular não saiu com vida. Thalia olhou em volta e teve certeza de ver uma pessoa perto dali, em terra. As casinhas ao fundo eram simplórias, mas todas estavam escuras.

— Isaac, eu vi alguém. E meu celular já era, ou seja, sem forma de contato para falar com Tyler. Dá pra ficar pior? – murmurou.

Não precisou de resposta já que um trovão assustou-a. Bufou, seguindo para terra firme e vendo o castanho entrar na água também para chegar ao outro lado. Thalia já estava lá, então tudo que fez fora andar um pouco antes de ser surpreendida por um maníaco segurando seu pescoço. Ela tentava gritar mas não conseguia ar e vira o castanho aproximar-se e ser detido por uma ruiva misteriosa.

Sentira tonturas e tentava livra-se das mãos do homem, mas parecia impossível. Fora um momento impulsivo, sim, entretanto ela conseguira sem saber como, fazer seu corpo tornar-se quente, sem dor ou queimação, viu-se inundar no fogo e brincar com as chamas que coloriam todo seu corpo. Vira o maníaco soltá-la lamentando as queimaduras da mão e viu o sinal em seu rosto: era um mago.

A ruiva era extremamente bonita e jovial, seus olhos eram azuis e sua boca contorcida em um sorriso. Ela tratou de soltar Isaac e elevar as mãos para o céu, como rendição, entretanto tudo que ela fizera foi fechar os punhos e virá-los, enquanto murmurava uma única frase: Seil ziehen. Imediatamente Isaac caira no chão, contorcendo-se, como se sentisse o pescoço apertando-se, ele ainda respirava, porém não parecia que manteria isto por muito tempo. Thalia desesperou-se e tentou mandar uma sequência de esferas de fogo em curto período de tempo, mas elas reverteram-se e sumiram no ar.

— És poderosa, mas não tanto quanto a mim. Agradeça-me parcialmente por quem tu és. É óbvio que seria melhor se estivesse comigo, seria uma lutadora, mas seu pai sempre fora um palerma. Meus poderes são deveras inusitados, não é? Entretanto, tinham de ser mesmo, eu literalmente dei minha vida por eles. Tu amas-o tanto, não é? Você já contou-o sobre a maldição que a família carregas? Ele tem o direito de saber, afinal seu pai nunca me contara e eu precisei morrer para descobrir. Ele é uma gracinha, os olhos parecem-se com os teus, ou deveria falar os meus? Devo chamar-lhe por Thalia ou por filha? – murmurara a ruiva remexendo nos fios castanhos do rapaz.

— Papai disse que a maldição fora quebrada. Você não é minha mãe! Você deve ter minha idade... Minha mãe está morta, por causa da seita, papai me contou toda história! – dissera ainda tentando atingir a ruiva.

— E quem disse que eu não morri? Sim, a seita me matou e em seguida, fui abençoada pelos grandes sábios que deram-me uma segunda chance graças a Thomas, que oferecera um filho só para salvar-me, o único aliás, eu não culpo-o eu era a única mulher capaz de fazê-lo esquecer Elizabeth e ele me deu esses poderes, jovialidade e esta proteção. Pobre falecido... O clã dos magos caiu sem ele, mas eu ainda estou aqui, estou para servir Logan, o próximo líder da seita que fará-me sua esposa. Porém vocês estão atrapalhando-nos! Persegui vocês por todos estes dias e agora vocês chegaram perto demais, uma pena que irão morrer agora. – resmungou soltando uma risada.

— Esposa do Logan? Tu tá ligada que ele curte outra fruta, né? Que mulher louca, se entregou pros magos negros! Aposto que não entregou Thalia a eles por medo de ser descoberta, certo? – murmurara Isaac olhando para a ruiva que bufou e apertou mais o punho, fazendo ele tossir.

— Não entreguei Thalia porque ela seria um empecilho, é fraca, lida demais com os sentimentos dos outros... E além disso, poderia ser uma concorrência, afinal até Logan acha-a determinada, bobagem. Aliás por que eu não te matei ainda? Ah é, quero te ver sofrer mais um pouco.

Thalia sentiu a raiva percorrer todo seu corpo. Ela chamou-lhe de fraca? Por que diabos... Ouvira os pais de Isaac chamarem-o e passarem pelo lago, e dar de cara com o filho quase morrendo. Ela estava paralisada, sem saber o que fazer quando o pai dele, apertou seu ombro e disse-lhe para ficar preparada. Ele começara a murmurar palavras não em latim, mas em alemão, assim como sua mãe. Era uma batalha: mago manipulador contra mago manipulador. Mago negros contra mago negro. A ruiva sentira uma dor excruciante que fez-a gritar e soltar o pulso, entretanto o pai de Isaac também sentia esta mesma e ninguém parava de murmurar. A mãe de Thalia jogou-se no chão e contorceu-se, mas o adversário ainda mantinha-se de pé; Isaac recuperava o ar e sua mãe ajudava-lhe.

A morena olhou para a mãe e fez uma única pergunta com a voz já trêmula: “Quantos você já matou e quantos pretende matar?” e esperou sua resposta. A ruiva olhou-a enquanto as lágrimas dançavam por seu rosto e gemia de dor. Observou pela visão periférica o pai de Isaac também cair, sem parar de murmurar as palavras, ele era forte demais. Em voz rouca e mongólica respondeu: “ centenas de magos e humanos. Todos que entrarem no meu caminho”. Aquilo partira toda a sanidade que Thalia estava tentando manter, as íris azuladas perderam o brilho e tudo tornou-se vazio quando ela gritou e tirou a espada da bainha, acertando em cheio a garota. Deixou-se despencar no chão perto do corpo da ruiva. Enquanto chorava perguntou-lhe: “Você me amou?”e ouviu a resposta um tanto óbvia da mulher: “nunca”. Viu ela suspirar e assim morrer em seus braços.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Aguardem o próximo que é definitivamente o último, desta vez é sério. Inclusive já esta escrito.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Greycity- Elementis Magi" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.