De uma vez por todas - Oneshot. escrita por Blue Cupcake


Capítulo 1
Único.


Notas iniciais do capítulo

aí está :Dse chegou até aqui, boa leitura pra ti >



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As folhas secas caídas ao chão ressoavam seus passos em ruídos quebrados agradáveis. O som, misturado com o tinir da chuva caindo pausadamente na calçada agradava os ouvidos de Nico diAngelo. Era um som fraco, ritmado, quase como um sussurro para seus ouvidos.

Passou as mãos nos cabelos, sacudindo as gotas de água que o tinha encharcado. Era estranho uma chuva daquelas nessa época do ano. Ele já não estava mais em Nova York, onde chovia o tempo todo. Ainda levaria tempo para se acostumar ao clima do Texas.

Suas roupas pretas e seu casaco de aviador pesado pareciam estranhos aos olhos dos Texanos. Meros caipiras, pensava ele, mas era ali que podia se esquecer das lembranças ruins que tivera em Nova York. Nada no Texas o lembrava, bem, dele.

Era calor a maior parte do tempo. As crianças brincavam na rua enquanto suas mães fofocavam com as vizinhas, se exaltando quando ele passava na frente de suas casas, com aquela sua aura sombria em plena quinta feira ensolarada.

–Fique longe das crianças, fedelho! volte para o beco de onde saiu. - uma delas gritou uma vez, em um forte sotaque sulista.

Nico apenas as ignorava. Se elas soubessem que não adiantava mandar afastá-lo... Seu pai teria aquelas crianças logo, e elas também. E não havia como impedir. A morte é algo de que simplesmente não se pode fugir.

E Nico se aproximava da sua.

Não aguentava mais. Tentara fugir, fugir dos próprios sentimentos, mas não conseguira. À noite ficava horas em claro, pensando nele e em tudo que poderia ter acontecido.

Mas ele sabia. Percy Jackson nunca pensaria nele do mesmo jeito.

E isso o desolava.

Sempre fora assim. Tudo que Nico amava era tirado de si para sempre. Aconteceu com Bianca, com sua mãe e com Percy. Aconteceu com os últimos sinais de afeto de seu pai, que agora não o deixava nem mais entrar no mundo inferior. Nico sempre acabava sozinho. Sozinho e vazio, anestesiado num torpor que se colocava para evitar a dor. Não queria chorar por Bianca, por Percy ou por sua mãe. Ele precisava continuar, precisava mostrar à eles que conseguia se virar sozinho, que conseguia ser forte o suficiente, afinal, ele era Nico diAngelo e nunca demonstrava fraqueza.

Quer dizer, desde aquela vez.

Seus pensamentos vaguearam para a época que ele ainda estava no acampamento meio-sangue. Percy acabara de voltar com a notícia de que sua irmã morrera durante a missão. Nico sentiu tanto ódio e tristeza, que não conseguia distinguir qual dos dois era o sentimento dominante. Tristeza por saber que nunca mais sentiria o afago da sua irmã nos seus cabelos, ou ouviria suas palavras de confiança. Ódio por saber que tudo aquilo era culpa de Percy Jackson, e mesmo assim, não conseguir fazer mal algum à ele. Nico não podia. Não conseguia.

Afinal de contas, ele era seu herói.

Ele fugiu logo depois de saber a notícia. Correu devastado pela floresta, e desapareceu para sempre. Não sabia exatamente por onde ia, só ouvia o ruído das folhas se quebrando aos seus pés, esse mesmo ruído que ouvia agora. E naquele dia, se envolvera nesse mesmo torpor anestésico que considerava um modo de viver agora.

Não sinta, dizia a si mesmo, de que adiantará as pessoas saberem o quanto você se sente mal, se nenhuma delas pode te ajudar?

Era assim que se sentia em relação à todos, menos à ele. Naquele dia, deixara suas emoções escaparem e abriu uma fenda no chão do acampamento, de onde esqueletos saíram. Ficou assustado com o seu poder. Poderia ter matado seu herói, mas felizmente não o fez. E então ele correu, cobrindo o rosto com as mãos, tentando esconder o medo, a tristeza e a raiva que já tinha revelado a Percy Jackson.

E pela primeira vez, alguém se importou. Ele se importou.

Nico havia se escondido na floresta nos primeiros dias, sem saber para onde ir e com medo de ser encontrado. Mas o garoto ouviu-o chamando pelo seu nome, pedindo desculpas e desesperadamente querendo conversar. Nico sentiu-se tentado a ir com ele, dizer tudo que queria ter dito e se sentir em paz pela primeira vez em semanas, enquanto estava no acampamento roendo as unhas esperando que todos voltassem são e salvos daquela missão.

Mas não foi.

E aquela foi a primeira vez que Nico começou a se controlar. Ninguém nunca sabia o que ele realmente sentia e Nico se sentia melhor assim. Se Percy soubera como ele realmente se sentia em relação à ele, teria sumido para sempre e Nico sabia que não podia suportar isso. Sustentou a história de que tivera uma queda por Annabeth e tentou se manter de boca fechada.

Mas é claro. Toda vez que Nico o via, sentia aquele frio na barriga. Suas mãos começavam a suar em expectativa e ele as escondia nos bolsos do casaco. Nico abaixava o rosto, tentando esconder qualquer defeito que houvesse em sua face, enquanto tentava manter a voz calma. Mas sabia que Percy sempre percebia aquele tom mais fino em sua voz e com certeza ele via que seus pés se mexiam sem parar quando ele estava por perto. Era assim. Nico nunca conseguia manter sua máscara quando ele estava por perto. Talvez com muito esforço, conseguia ocultar um pouco suas emoções. Às vezes o garoto agradecia por Percy ser tão lerdo às vezes.

Nico continuou caminhando pela calçada, os pensamentos vagueando pela primeira vez que conhecera o garoto por quem se apaixonou.

Fora naquela escola, junto com Bianca. Nessa época, ele ainda era fascinado por mitomagia, e naquele mesmo dia, tinha visto seus sonhos se tornarem realidade. Os deuses gregos existiam. Havia Zeus, Poseidon, Hades, seu pai, afrodite... E havia Percy Jackson. Filho de Poseidon, com poderes mágicos sobre a água. Nico ficou maravilhado e se sentiu conhecendo um super herói. No mesmo momento em que falou com ele, se sentiu imediatamente seguro e queria aquela presença por toda a sua vida. Queria um herói para protegê-lo de todos os monstros com os quais ele e Bianca sonhavam à noite.

E foi ali que tudo começou. Nico nunca tinha sentido nada daquele jeito por ninguém. Ele queria estar sempre por perto, sentir a presença dele e se sentir protegido ao seu lado. Nico queria o mesmo por Bianca, até Percy lhe dar aquela notícia. Enquanto fugia pra floresta, pensou que aquele herói deveria ter protegido-a, deveria tê-la salvado, mas não o fez. Por um momento, ficou com raiva de Percy Jackson. E mesmo assim, não conseguiu se afastar dele por muito tempo.

Um carro atravessou a rua em alta velocidade e espirrou lama dos bueiros no all star de Nico. Um homem gordo falava ao celular, discutindo com alguém e quase atropelo outro pedestre. Acelerou o carro ainda mais, praguejando.

Nico fechou os olhos. Concentrou-se e sentiu um ligeiro aperto na boca do estômago, quando uma montanha gigantesca apareceu na estrada, logo em frente ao carro daquele homem. O carro bateu e capotou. Nico pode ouvir o grito das senhoras que moravam em frente aquela rodovia. Carros buzinavam e ele ouvia o ruído de sirenes, mas manteve os olhos fechados. Os deuses não tinham misericórdia com ninguém, pensou, Porque eu deveria ter?

E realmente, aqueles deuses malditos. Afrodite fizera questão de tornar a sua vida desprezível, quando juntou o garoto que amava com a garota que odiava. Aquela loira metida. Era inteligente e estratégica, mas não passava de uma nerd carente de atenção. Sempre fora grosseira com ele e até com Percy, mas este parecia não ligar, simplesmente estava completamente atraído por ela.

Nico pensou nos últimos dias que passara com ele, enquanto entrava em uma nova rua. Eles se encontraram para comer cupcakes azuis em uma doceria de nova york, mas lá estava ela, Annabeth, sempre para atrapalhar. Nico nunca teve chance de conversar com Percy a sós, e quando foram se despedir, Nico o abraçara por muito menos tempo do que gostaria. Assim que se aproximara dele, queria ficar daquele jeito para sempre, os braços erguidos em volta de suas costas e o rosto encostado em seu peito, devido à diferença de altura entre os dois. Ainda se lembrava de seu perfume, um cheiro da maresia suave, misturado com colônia masculina. Lembrava-se como seu nariz encostou levemente na sua cabeça durante o abraço que Percy julgara fraternal. E lembrou-se também de como ele afagou a mão em suas costas levemente, um sinal para se afastar. Nico decorou tudo aquilo em apenas segundos, antes de Annabeth pigarrear atrás deles.

Annabeth.

Nico olhou para o lado, enquanto atravessava uma rodovia, quando uma luz amarela se aproximou rapidamente. Rápido demais.

Aquela luz o lembrava do cabelo dela e de como ela o sacudia irritantemente enquanto elogiava Percy. Aquele carro era cinza, a cor irritante dos olhos dela quando ela o encarava. Ouviu uma buzina, que era o tom que a voz dela atingia quando ela o chamava de cabeça-de-alga.

E então, com um baque, Nico desabou no chão.

Annabeth sempre estragou tudo.

Com um último olhar, encarou o céu azul escuro. Cor do mar à noite. Quase podia ouvir as gaivotas e o barulho das ondas. Ou seria o barulho de pessoas correndo nas folhas para ajudá-lo? Não importa. Nico visualizou pela última vez aquela cena que sempre imaginou.

Ele estava na praia, acompanhado de sua mãe, Bianca e Percy. Todos estavam sentados em uma toalha que sua mãe trouxera de casa. Percy estava ao lado de Nico, sentado, com uma mão apoiada na sua. Ele lhe lançou um olhar, sorrindo. Bianca se levantou para ir comprar um sorvete com sua mãe e os deixou sozinhos. Percy os observou ir embora, e assim que tinha certeza que ninguém estava por perto, beijou Nico secretamente, com uma mão ainda na sua. Nico o olhou com surpresa mas logo correspondeu ao beijo. Quando se afastaram, Percy encostou a testa na sua e sussurrou:

–Nico diAngelo, eu te amo.

Nico queria dizer que o amava também, que ele não imaginava o quanto, mas então a visão começou a se apagar.

E foi nesse instante que Nico fechou os olhos.

De uma vez por todas.


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Notas finais do capítulo

eeenfim, gostaram? comentários? elogios? críticas? reclamações? por favor gente, se leram, me deixem saber o que acharam :cenfim, obrigada por lerem comeeeeentem , por favore espero que tenham gostado. beijos, blue cupcake.